2 – Uma bela surpresa

2330 Words
Anita pensou que acordaria com os carinhos da mãe, assim como ela sempre fazia. A verdade é que das duas vezes que ela veio visitar a mãe, depois da viagem para estudar, em todas Angélica sempre mimou sua menina, fazia de tudo para tê-la confortável.             Sempre teve medo de Anita esquecer como é viver ali, por isso fazia de tudo para ela se sentir bem e não ter mais vontade de voltar, o que sempre acontecia, e funcionou, pois aquele era um dos motivos de Anita querer voltar, ela quer ter aquele tipo de atenção da mãe para sempre. Aproveitar cada detalhe daqueles cuidados,             Porém, diferente dessa atenção, elas se assusta pelo barulho de motor, perfeitamente entendeu que era uma motocicleta. Abriu os olhos assustada, mas logo o barulho parou. A garota, já completamente acordada, levanta, os pés tocando o chão frio, e vai até a janela, de lá pode ver a moto azul grande, nem ela conseguiria subir nela, mas não viu quem a pilotava, a moto já estava parada ao lado do carro de Gustavo.             Ela continua encarando o automóvel, impressionada até. Mas sai dos pensamentos assim que a porta é aberta com cuidado, ao olhar, ver a mãe adentrar, sem graça.             - Essa coisa te acordou, não foi?             - Impossível não acordar.             - Eu falei para Luana, mas ela não larga esse negócio.             - A moto é dela? _ Anita fica surpresa.             - E não é? Guto e a mãe dela deram assim que ela fez dezoito anos. Tanta coisa poderia ter dado a uma filha de presente de dezoito anos, ele vai e dá essa coisa.             - Eu não reclamaria se me desse uma dessas.             - Ah, nem brinque com isso, menina. Mas já que acordou, veste alguma roupa apresentável e vamos almoçar.             - O que tem minha roupa? _ Anita olha para baixo, usava camiseta sem sutiã, mas seus s***s são pequenos, e um short bem curto, deixando a mostra suas pernas.             - Veste alguma coisa para te cobrir direito, Anita, oras, mais!             A garota revira os olhos e ver a mãe saindo do quarto. Faz o que ela disse, estava apenas irritando a mãe, ela não costuma sair vestida assim, ainda mais sabendo que seu padrasto está por lá e sua filha, que ela ainda nem conheceu, mas só por ter aquela moto já vai ser sua melhor amiga.             Sorri com o pensamento, então vai ao banheiro e troca de roupa, agora colocando um vestido florido, soltinho, e usando sutiã. Anita sai, caminha pelo corredor, mexendo no celular, respondendo as mensagens desesperadas de Lívia para saber se ela estava bem.             Quando estava entrando na cozinha, pronta para falar com sua mãe, ela esbarra em um corpo. Seu celular vai ao chão, até pensou ser Guto, devido ao tamanho, maior que o seu, porém eis sua surpresa. Parada na sua frente estava uma pessoa, que ela ainda tenta definir de qual s**o se trata. Veste camiseta larga, calça jeans, suja de graxa, boné, os olhos azuis a encaram com surpresa, mas com certeza não tão surpresa quanto Anita.             - Mãe, tem um garoto na sua cozinha.             - Anita! Angélica a repreende. Mas a verdade é que Anita não consegue parar de encarar a garota, ela sabe que é uma garota, aquele sorrisinho de lado não poderia ser tão lindo sendo de um garoto, pelo menos ela pensa assim. Porém as roupas eram bem masculinas, os s***s pequenos impediam de identificar que era de fato uma menina, mas ela estava perto, perto de mais e pôde notar agora. - Você deve ser a Anita. - Jesus amado, que voz é essa? E não parava por ali. Indiscretamente a n***a começa a percorrer o corpo da outra com o olhar de cobiça e desejo. Luana é jovem, mas não burra, ela reconhece aquele tipo de coisa. Porém não vai desrespeitar sua madrasta, nunca faria isso. - Tia, acho que Anita está passando m*l. - O que? A mulher logo chega perto da filha, tirando-a do momento de análise. Anita poderia esperar muitas coisas. Até pensou em Luana como uma garota mimada, pensamento esse que se foi quando descobriu que ela trabalhava como pai na oficina. Mas agora, olhando-a, caramba... A única coisa que ela consegue pensar é no sorriso meigo, mas ao mesmo tempo firme da garota, não, da mulher, ela é uma mulher, mesmo com menos idade, apenas dezenove anos, ela já é uma mulher. - Você está bem? - Eu... Eu estou bem, mãe. Só então Anita percebeu uma coisa. Poderia até ser um preconceito seu, um estereótipo que vai lhe fazer ficar em maus lençóis mais para frente, mas aquela garota é lésbica, ela grita só com o andar: “Eu gosto de b****a”. Se ela falar então. A voz grossa, firme. Ela é muito lésbica, e sua mãe... Sua mãe não está nem aí para isso, na verdade nunca nem falou desse grande detalhe com ela. Sempre comentou sobre Luana, mas em todas as vezes destacando o quanto ela era maravilhosa, atenciosa, a ajudava e a seu pai. Em como fazia amizades com facilidade, mas nunca, em nenhum momento deixou escapar que ela gostava de garotas. - Bom, vão para a sala, conversem e se conheçam, quero que se deem bem, certo, Anita? _ A mulher a encara com intensidade. - Não entendi o tom de ironia, mãe. - Não estou sendo irônica, menina, andem, saiam da minha cozinha. Luana, vá logo tomar um banho, sabe como seu pai odeia que coma assim toda suja de graxa. A ruiva assente. Ela passa por Anita que m*l respira quando seus ombros se tocam. Então ela se vira e olha a garota por trás. E agora entende que não deveria fazer isso, pois ela é ainda mais linda daquela posição. - Espera. _ Anita diz ao pegar o aparelho no chão, mas assim que olha para cima novamente... Nesse momento instante Luana tira o boné, deixando seu cabelo curto solto cair um pouco por sua testa. Os fios negros já aparentes, comprovando que são pintados, fazendo uma perfeita combinação com sua pele clara, porém evidentemente bronzeada, afetada pelo sol do dia a dia. O corpo de Anita estremece. - c****e! - Ok, isso está ficando estranho. Eu sei que pode estar surpresa por meu... Estilo, mas também não precisa ficar me olhando assim. - Não, eu não estou te julgando, você só é... Diferente. - Porque me visto assim? - Não por isso, mas... Desculpa, ok? _ Anita se aproxima um pouco mais, agora é a mais nova que olha para seu corpo, mas logo desvia o olhar. - Tudo bem, estou acostumada com alguns olhares, só quero que tenhamos uma boa ralação aqui por nossos pais. Eu amo a tia Angélica, ela me recebeu tão bem, apesar do meu jeito diferente. - Você é tão bonita... _ Aquilo era para ser apenas em seus pensamentos, mas Anita inevitavelmente contextualizou. - O que? - m***a! Nada, esquece. Então ela sai de perto da outra e corre para seu quarto. Respira fundo, tentando controlar seu corpo e a vontade de voltar e continuar admirando a beleza da sua irmã. - Ah, não, com certeza não quero vê-la como irmã, nem pensar. A n***a diz ao sorrir e então senta na cama. Pega o celular e liga para sua amiga, essa que vai tirar muita onda da sua situação, confessa, mas precisa falar com alguém. - Olha só quem resolveu aparecer. - Sem gracinhas, eu tô ferrada. - O que foi? Contou para a sua mãe? - Não, você só pensa nisso? _ Anita revira os olhas ao se deixar cair de costas na cama. - Querida, eu aguardo por isso desde que te conheci. - Foco... E não é por isso. - Ok, agora fiquei preocupada. - A Luana. - Sua irmã? - Não chama ela assim, por favor, não chama. _ O corpo todo da n***a estremece. - Por quê? - Porque ela é gostosa. A ligação então fica muda. Obviamente que Lívia já escutou aquilo saindo da boca da n***a, isso porque elas transam com outras pessoas, apesar de aproveitarem o tempo juntas. Mas agora a amiga está longe, e isso implica em não ter como afastar qualquer perigo real. - Lívia, está aí? - Sim, estou, então... Ela é gostosa como? - Muito gostosa. Ela usa roupas folgadas, estilo machinho. Ai, meu Deus, e ainda tem aquele cabelo curto, vermelho, e a voz? Tenho certeza que melou minha calcinha só de escutar. - Você está exagerando. Ela não deve ser isso tudo. _ A loira tenta soar indiferente, mas está mesmo com ciúmes. - Ah, ela é, você sabe como fico com essas... Ah, eu sou louca em um “bofizinho”. - Você é maluca mesmo. _ Lívia força um sorriso. – E agora? - E agora que se eu pudesse eu pulava nela, mas aí entra a parte da irmã. E mais, eu passei a vida toda me escondendo da minha mãe, e agora ela coloca uma “sapatão” dentro de casa. Estou me sentindo tão i****a. - Eu te avisei, cabeça de vento. Mas ainda assim não entendi o que vai fazer. - Por isso eu te liguei, você é minha melhor amiga, eu preciso que me dê uma luz. Lívia suspira. Apesar de estar despertando um sentimento além de amizade por Anita, não pode negar que sua amiga tem esse espírito aventureiro, mesmo que se prive de algumas coisas por seu medo. Na verdade ela não tem medo que os outros saibam da sua orientação s****l, ela tem medo que as pessoas da sua cidade descubram, assim ela pode voltar a sua vida pacata e tranquila de Goiânia, coisa que ela sente saudade, no fundo nunca se acostumou à correria de São Paulo. - Vai com tudo, quem sabe assim sua mãe descobre e enfim saiba que a filha dela é uma sapatão enrustida. - Esse é o seu conselho? _ A n***a revira os olhos. - Que d***a de conselho é esse? - Bom, não é? Mas sério. _ A loira suspira. – Você está interessada nessa garota, não deixa que o medo de descobrirem te impeça de aproveitar essas férias. E olha que ainda é o primeiro dia aí. Que surpresa, em? - Ah, sim, uma bela surpresa. _ Anita dá um sorriso cafajeste ao dizer isso. – Certo, sem medo, curtir as férias e dar em cima da Luana. - O que? Espera eu não... - Obrigada, vou indo, minha mãe está me chamando para almoçar. Então desliga, jogando o celular para o lado. Apenas se lembrar de Luana, do seu sorriso, da sua voz, do seu andar, apenas isso já esquentou todo o seu corpo. Mesmo que ainda não queira que saibam da sua orientação, não pode negar, é aquele tipo de lésbica que a atrai com tanta firmeza que chega a ser loucura. - Ah, Luana, você com certeza é uma surpresa. Uma deliciosa, atraente e convidativa surpresa. Com esse pensamento ela sai do quarto e vai para a sala de jantar. Encontrando sua mãe terminando de colocar a mesa, se propõe a ajudar e Angélica aceita de bom grado. Aquelas férias prometiam, esse era o pensamento da estudante de nutrição. Já Lívia, jogada no sofá da sua sala, com os olhos fechados, suspira e começa a entender que não tem chances com Anita, pelo menos não do jeito que ela quer. Na verdade, nem se trata de ela ter medo, ou de não querer se assumir, ou coisas dela, no fundo Anita só não se apaixonou, é bem simples. Para a n***a as coisas eram bem claras. Elas tinham s**o gostoso, mas não passaria disso, chegou a hora da loira colocar essa realidade de uma vez na sua cabeça.   ..........*****..........               A hora do almoço chegou com todos sentados à mesa. Gustavo de frente para Angélica e Luana de frente para Anita, essa que a encara, mas tomando cuidado para a mãe não perceber. A mesa de quatro lugares era suficiente para eles, diferente da grande que tinha na varando do quintal, para quando tivessem convidados.             - Filha, o Samuel sempre vem aqui ter notícias suas. Acho que ele ainda tem uma queda por você.             - Mãe, ele não tem uma queda por mim. _ A garota revira os olhos. – A gente sempre foi amigos. Um dos melhores. Tenho saudade dele, depois mandarei uma mensagem avisando que cheguei, quero ir naquele lago novamente antes de voltar.             - Quando você volta? _ A voz de Luana a faz arrepiar, o que não passou despercebido pela dona do tom grave, fazendo-a sorri de lado.             - Ah, fevereiro, mas se tudo ocorrer bem volto definitivamente em maio.             - Ah, bem legal. Não vejo a hora de terminar minha faculdade.             - Você faz engenharia mecânica, não é?             - Sim, adoro mexer com isso. Aprendi tudo com o papai. _ Ela e o homem trocam um olhar cúmplice. – Se eu não tivesse conseguido passar no vestibular não importaria, continuaria lá trabalhando com ele.             - Isso é bem legal.             - Sim. Amo meu velho.             Os quatro sorriem, depois disso a conversa se voltou sobre como estava sendo a vida de Anita em São Paulo, em como as cidades eram diferentes e coisas do tipo. Quando terminaram, as duas mais novas fizeram questão de cuidar da louça, claro que quando a mais nova se ofereceu, Anita não hesitou em fazer o mesmo, ficando agora a sós com a ruiva. Aproveitando para sentir seu cheiro, admirar seu corpo e seu sorriso.             - Você nem disfarça. _ A mais velha se surpreende ao desviar o olhar do corpo da outra e então encará-la nos olhos. – Pelo que já pude notar, a tia não sabe, não é?             O corpo de Anita enrijece, mas não foi pela possibilidade de sua mãe descobrir, mas por que além de linda, Luana também é inteligente. Ah, sim, ela estava muito ferrada. 
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD