A campainha tocou por volta das quatro da tarde.
Eu sabia que era ela antes mesmo de levantar do sofá.
Letícia.
Não por alguma intuição sobrenatural, mas porque, nos últimos dias, havia silêncio. Nenhuma mensagem, nenhuma ligação, nada. Era como se o universo estivesse preso num vácuo. E então, de repente, aquele toque. Era o tipo de coisa que ela faria: aparecer.
Abri a porta devagar, esperando... qualquer coisa. Mas não esperava vê-la assim: com uma blusa branca simples, calça jeans, cabelo preso em um coque despretensioso. Sem maquiagem. Com o rosto pálido, abatido.
Mas havia algo nos olhos dela que me fez engolir em seco.
— Oi — ela disse.
— Oi — minha voz saiu mais baixa do que eu esperava.
Ela hesitou, olhando para dentro, como quem não sabia se era bem-vinda.
— Eu... posso
