capítulo 8

892 Words
O Contraste da Manhã e a Necessidade ​Adrian (A Caçada Recomeça) ​Adrian acordou na manhã seguinte com uma determinação renovada. O sono na fazenda, embora repousante, não conseguia apagar a imagem dupla que se instalara em sua mente: a competência teimosa de Ramires e a beleza inesperada da moça da padaria. ​Ele sabia qual era a prioridade do dia. Primeiro, a necessidade profissional. ​Adrian desceu até a cozinha da sede, onde seu pai lia o jornal e tomava café. ​"Bom dia, pai," Adrian disse, servindo-se. "Preciso de uma assistente. Alguém com cabeça, para organizar a base do escritório. Os processos estão virando uma torre de Babel." ​O pai, um homem de poucas palavras e muita observação, abaixou o jornal. "Assistente, filho? Você não consegue nem manter um peãozinho... O Ramires, por exemplo, ele não está te servindo?" ​Adrian fez uma careta. "Ramires é peão, pai. Um bom peão, teimoso, mas peão. Eu preciso de alguém para a parte jurídica, para o computador, para as datas de audiência. Ramires m*l deve saber usar um mouse. E, honestamente, a presença dele me irrita." ​"Ele é excelente em tudo que faz," o pai rebateu, sério. "Mas faça como quiser. Dinheiro não é problema. Contrate quem precisar. Só me garanta que o escritório funcione." ​"Garantido," Adrian respondeu, já pegando as chaves do carro. Ele iria direto para a cidade. Mas antes de ir à agência de empregos, ele faria um desvio. ​A padaria. ​Era o único lugar onde ele tinha visto aquela moça. Ele não sabia o nome, não sabia onde ela morava, mas a imagem dos olhos cor de mel era uma promessa que ele precisava cumprir. Ele queria ver se a sorte o favoreceria duas vezes seguidas. ​Lúcia (O Disfarce Quase Perfeito) ​Lúcia acordou com o cheiro de café e curral. Olhou para a peruca Lace de Ramires pendurada, completamente seca e limpa, e sorriu com a eficácia de seu disfarce. ​Hoje, ela não teria escola, mas tinha tarefas no rancho. Contudo, ela precisava ir à cidade para um motivo menos nobre, porém urgente: o Tereré estava acabando. ​Ela vestiu as roupas de Ramires. O chapéu desabado, a camisa xadrez folgada, a bota surrada. Ela não usava maquiagem, e o cabelo, cuidadosamente escondido sob a Lace curtinha, dava-lhe a aparência de um jovem magro e forte. ​O pai a olhou antes de sair. "Vai à cidade, Ramires?" ​"Vou, Chefe. Preciso de mais erva-mate. E vou aproveitar e dar uma checada no depósito do Tonho, para pegar o sal mineral novo." ​"Tudo bem. E Ramires," o pai a chamou de volta. "Ontem você foi um herói. O boi está bem. Bom trabalho." ​Lúcia (como Ramires) assentiu, um calor no peito. O reconhecimento do pai era seu verdadeiro salário. ​Na cidade, ela parou em um empório que vendia as melhores cuias e erva-mate da região. Enquanto enchia a sacola com o seu precioso vício gelado, ela pegou a chipa e o café na padaria. ​O movimento era grande. O sino da porta tocou novamente, e Lúcia, de costas, ouviu a voz imponente: "Bom dia, um café e pão de queijo, por favor." ​Era Adrian Santiago. ​O Encontro no Limite ​Adrian estava impaciente. Ele olhava para todas as mulheres que entravam e saíam. Nenhuma tinha o cabelo longo, muito menos os olhos cor de mel. Ele estava prestes a desistir quando percebeu um jovem peão desajeitado, apoiado no balcão, pagando a conta. ​Era Ramires. ​"Ramires? O que faz na cidade em plena manhã?" Adrian perguntou, irritado por ver o "peãozinho" de seu pai onde ele esperava encontrar a moça de seus sonhos. ​Lúcia (Ramires) virou-se lentamente. Seu coração deu um salto. Ela tinha acabado de esbarrar nele ontem, sem ser reconhecida. Agora, ele a reconhecia em seu disfarce mais completo. ​"Bom dia, Doutor," ela respondeu, com a voz ligeiramente mais grave e arrastada de Ramires. "Tive que vir buscar umas coisas para o Chefe. Erva-mate e sal mineral." ​Adrian revirou os olhos. "Claro. Erva-mate. Você tem um vício por essa bebida." ​"Me mantém pensando, Doutor. E mantém a gente no campo. O Tereré é a vida." ​Adrian o ignorou e voltou a escanear o lugar. "Olha, amanhã eu estarei no escritório. Meu pai concordou em eu contratar um assistente. Não se preocupe em aparecer por lá, vou ter gente competente para organizar a bagunça." ​Lúcia sentiu um misto de satisfação e ofensa. Satisfação porque o plano estava dando certo; ofensa porque ele duvidava tanto de sua competência. ​"É o jeito," Ramires respondeu, encolhendo os ombros. "Melhor eu ir. O Chefe precisa de mim." ​Lúcia saiu apressadamente, respirando fundo ao cruzar a porta. O desespero de Adrian em encontrar "a moça" e a forma como ele desdenhava de "Ramires" era o limite tênue que ela estava prestes a explorar. ​Adrian, por sua vez, continuou ali, frustrado. A beleza de seus sonhos não estava ali, e em seu lugar, estava Ramires, o peão que ele tanto desprezava, com seu Tereré e sua competência de rancho. ​No dia seguinte, Adrian irá entrevistar assistentes. O que Lúcia fará ao saber que o escritório de Adrian terá uma vaga que ela, como Lúcia, poderia preencher perfeitamente?
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