Capítulo 9
1426 Words
A Proposta Inesperada e o Novo Disfarce
Lúcia (Ramires) voltou para o rancho com a sacola de erva-mate e o sal mineral, mas a cabeça estava longe dali. O desprezo de Adrian era um ferrão. Ele a descartou como "peão" incapaz de usar um mouse, justo ela, que administrava as contas do rancho e estudava línguas complexas.
Ela parou o carro na frente do galpão, entregou o material a um dos peões e foi direto para o escritório improvisado do pai. Ela precisava de um plano.
💰 A Vaga de Assistente
Lúcia entrou no pequeno escritório, onde seu pai revisava as notas de pagamento.
"Chefe, o Adrian estava na cidade. Ele disse que amanhã vai contratar um assistente para o escritório," ela comunicou, mantendo a voz de Ramires neutra.
O Sr. Rodrigues suspirou. "Eu sei, Ramires. O pai dele me ligou. Disse que Adrian precisa de alguém para 'a parte burocrática' e 'coisas de cidade'."
"E ele te perguntou se eu poderia ajudar?", Lúcia questionou, sentindo a ponta de orgulho ferido.
"Ele não pensou em você, meu filho. Ele disse que você é muito bom no campo, mas que para o escritório ele precisa de alguém com 'cabeça para processos e computadores'."
Lúcia cerrou os punhos por dentro. A arrogância do playboy era inacreditável.
"Pai, eu... eu quero essa vaga," ela disse, surpreendendo o Sr. Rodrigues.
"O quê? Ramires, você é essencial aqui. Além disso, você precisa estudar para a escola. E Adrian não quer um peão no escritório dele, ele quer uma secretária bonita e com cara de 'cidade'."
"E quem disse que ele vai contratar uma secretária? Ele disse assistente," Lúcia insistiu, a mente de estrategista a todo vapor. "Pai, eu sou a única pessoa que sabe como o rancho funciona por dentro. Eu entendo de papelada, de números, e minhas habilidades de 'computador' são melhores do que as dele. Eu posso ser a assistente dele."
O Sr. Rodrigues ponderou, coçando a barba. Ele sabia o quão inteligente Lúcia era e como ela ansiava por mais do que apenas a lida.
"Mas o que você vai dizer ao Adrian? E se ele te reconhecer? Ele vai te tratar como capacho. Você é minha filha, Lúcia!"
Lúcia sorriu, um brilho nos olhos que anunciava um novo jogo.
"Eu não serei Ramires. E nem serei Lúcia. Eu serei... a assistente perfeita," ela prometeu. "Eu preciso de um dia na cidade, pai. Apenas um dia. Eu vou conseguir essa vaga e farei o serviço remoto, controlando o escritório. E assim, eu ainda terei tempo para o campo, para a escola e para o meu Tereré. E o mais importante: vou provar a Adrian Santiago que ele está totalmente errado sobre 'gente do campo'."
O pai, vendo a determinação inabalável da filha, cedeu com um sorriso. "Você tem o meu apoio, Lúcia. Mas se esse sujeito te der trabalho, você me avisa. Meu braço direito não vai virar capacho de ninguém."
💄 A Metamorfose de 'Luna'
Na manhã seguinte, Adrian estava no seu novo escritório, ligando para uma agência de empregos, quando a campainha tocou.
"Um momento," ele atendeu, frustrado. A agência demoraria um dia para enviar candidatas.
Ele abriu a porta e o ar de seu escritório recém-limpo pareceu mudar.
Diante dele não estava Lúcia, a garota caipira esbarrada, nem Ramires, o peão m*l-humorado. Estava uma mulher de aparência profissional, jovem, com um sorriso calmo e confiante, vestindo uma saia lápis preta e uma blusa branca impecável. O cabelo castanho estava preso em um coque baixo e sofisticado, e no seu rosto havia uma maquiagem discreta, mas que ressaltava a inteligência de seus olhos cor de mel.
"Bom dia, Doutor Santiago," a moça disse, com uma voz clara e educada. "Eu sou Luna. Soube que o senhor precisa de uma assistente executiva."
Adrian ficou paralisado. Era a moça da padaria! Mas o cabelo dela estava diferente, e o estilo era outro.
"Você... quem te indicou?", ele gaguejou, ainda tentando conectar a garota com o fantasma que o assombrava.
"Eu soube da sua chegada. O meio empresarial na cidade é pequeno. E eu tenho as credenciais que o senhor busca," ela respondeu, estendendo um envelope de papel timbrado. Era um currículo com um nome diferente, endereço de cidade, e experiências vagas mas impressionantes em "administração remota". Lúcia havia passado a noite criando uma nova identidade.
Adrian pegou o currículo. As qualificações eram excepcionais, o inglês fluente estava listado e, surpreendentemente, havia até a menção de noções básicas de japonês, cortesia das suas discretas aulas de negócios com o padrinho.
"Você tem experiência com a parte jurídica?", Adrian perguntou, cético, mas hipnotizado.
"Com toda a parte administrativa, de organização de prazos e fluxo de trabalho. E eu aprendo rápido. O senhor disse ao seu pai que precisava de alguém com cabeça," Luna respondeu, citando a ofensa de Adrian como um fato.
Adrian sorriu, um sorriso genuíno de satisfação profissional.
"Muito bem, Luna. Eu estou com pressa. Amanhã eu teria entrevistas com a agência, mas eu gosto da sua iniciativa. A vaga é sua. Me mostre o que você sabe fazer."
💻 A Eficiência Silenciosa
O primeiro dia de Luna como assistente de Adrian foi um m******e de eficiência.
Lúcia, vestida em sua nova identidade, não parava. Ela organizou os arquivos digitais em um sistema que Adrian nem sabia que precisava. Em poucas horas, ela mapeou o fluxo de trabalho, organizou os processos por prioridade e criou um calendário de audiências complexo em três idiomas. Ela m*l falava, apenas acenava ou fazia perguntas concisas.
Adrian, por sua vez, estava atordoado. A mulher era um gênio administrativo. Em contraste com a teimosia rústica de Ramires, Luna era a praticidade e a organização em pessoa.
"Luna, você é fantástica," Adrian admitiu, impressionado. "Você fez mais em quatro horas do que meu sócio faria em uma semana."
"Eu me dedico ao trabalho, Doutor," ela respondeu, com a voz baixa.
No final do dia, Adrian estava exausto, mas contente.
"Excelente, Luna. Você fará a maior parte do trabalho remotamente, certo? Volte amanhã para finalizarmos a organização física do escritório. Pelo jeito, com você eu posso me concentrar nos processos e esquecer a papelada."
"Sim, Doutor. E, Doutor," Luna chamou a atenção dele. "O salário que o senhor me oferece não é o suficiente. Minhas qualificações, como o senhor viu, valem o dobro. E eu só aceito se puder trabalhar do rancho, com contato diário."
Adrian, vendo o valor inestimável da assistente, concordou sem pestanejar. Ele m*l podia esperar para mostrar a Dona Margarete que ele havia encontrado uma assistente mais eficiente do que o "peãozinho" que ela tanto defendia.
Lúcia (Luna) sorriu. Ela havia vencido o primeiro round. Ela provou que era capaz, garantiu um salário melhor, e, o mais importante, Adrian Santiago não tinha a menor ideia de que estava empregando a garota que ele nem reconheceu e o peão que ele desprezava.
🌙 O Segredo Duplo
De volta ao Rancho Dakota, o sol se punha. Lúcia tirou a roupa social, o coque baixo, e o batom discreto, vestindo a camiseta de algodão e o shorts. Ela era Lúcia em casa, a filha obediente.
"E aí, filha? Como foi o dia com o Doutor Santiago?", perguntou o pai, servindo o jantar.
"Ganhei o cargo, pai. E um aumento. E vou trabalhar de casa. Amanhã cedo, vou estar no campo. O Tereré está no ponto. O Adrian achou que eu era a 'Luna', uma profissional que veio de longe," Lúcia riu, a voz cheia de triunfo.
Enquanto Lúcia desfrutava da sua vitória, na sede, Adrian falava ao celular.
"Hugo, a assistente é fantástica! O nome dela é Luna. Ela tem uma cabeça incrível. Ela vai cuidar da papelada, você nem vai se preocupar! E, a propósito, eu ainda não consegui encontrar a moça da padaria. Mas a Luna tem olhos parecidos, e é incrivelmente bonita... Ah, deixa para lá. Preciso de paz."
Adrian desligou o telefone. Ramires, o peão, era o fantasma da competência rústica que ele tentava ignorar. Luna, a assistente, era o fantasma da beleza profissional que ele queria admirar. Ele não sabia que os dois fantasmas eram apenas uma pessoa: Lúcia, a cowgirl inteligente, que, com seu segredo intacto, estava prestes a virar a vida do arrogante playboy de cabeça para baixo.
- Writer
