Capítulo 10

894 Words
O Primeiro Risco O sol ainda nem tinha rompido no horizonte quando Lúcia voltou a ser Ramires. O cabelo, antes preso em coque elegante, estava escondido sob um boné desbotado. A camisa larga tapava qualquer resquício da postura impecável da “Luna”. A noite m*l havia acabado, mas seu dia já começava duplo — como sempre. "Filha, você vai dar conta desse troço?", o Sr. Rodrigues perguntou, cruzando os braços enquanto ela ajustava a sela do cavalo. "Pai, eu nasci dando conta," ela respondeu, dando um tapinha carinhoso no animal. "E hoje o Adrian vai descobrir que o escritório anda sozinho. Literalmente." O pai riu, orgulhoso e apreensivo ao mesmo tempo. --- 🐴 O Encontro Perigoso Ramires estava levando o gado para a invernada quando ouviu o barulho do motor familiar. Ele congelou. Esse barulho ele reconheceria até no inferno. A caminhonete preta de Adrian. — Não, não, não — Lúcia murmurou, baixando ainda mais o chapéu lace era o disfarce. — Hoje não era dia de ele vir pro campo! A caminhonete parou do lado da cerca. Adrian desceu vestindo jeans limpos demais para quem realmente trabalha no campo. Ele caminhou na direção de Ramires com passos determinados — e irritantemente rápidos. — Ramires! — ele chamou. Lúcia respirou fundo, engrossou a voz, e virou-se calmamente. — Pois não, Doutor? Adrian apoiou os braços na cerca. — Você sabe mexer com relatórios de inspeção de pasto? Por um segundo, ela quase riu. Luna tinha feito três daqueles relatórios ontem à noite, com gráficos coloridos em dois idiomas. — Ahm… sei o básico, sim — respondeu, fingindo hesitação. — Ótimo. Precisarei desses dados para amanhã de manhã. Minha assistente vai organizar tudo no sistema. A assistente. Luna. Ele estava tão orgulhoso da eficiência dela que nem percebeu o risco gigante que estava correndo. — Certo, Doutor — Ramires disse, inclinando a cabeça. — Posso entregar mais tarde. Antes que Adrian respondesse, o telefone dele tocou. Ele atendeu imediatamente. Lúcia quase caiu do cavalo quando escutou: — Oi, Luna. Santo tereré. Era a ela. Como ele ousava falar com ela na frente de ela? Ela virou o rosto para o outro lado da cerca, disfarçando o pânico. — Sim, Luna, o relatório que você montou ficou ótimo… Não, não, Ramires não tem nada a ver com isso. Você é mil vezes mais capaz… Sim, claro, nos vemos mais tarde. Click. Lúcia estava entre rir e xingar. O atrevimento desse homem… Adrian guardou o telefone no bolso e suspirou. — Enfim. Continue seu trabalho. E foi embora. O coração dela só voltou ao ritmo normal quando a poeira assentou. --- 🧑‍💼 Luna na Sede De tarde, já como Luna, ela entrou novamente no escritório. Perfume leve, coque baixo perfeito, postura impecável. Uma executiva completa. Adrian estava inclinado sobre a mesa, frustrado. — Ah, graças a Deus, Luna. Eu preciso de você para organizar isso. Ele empurrou uma pilha de papéis para ela. Lúcia conteve a vontade de pegar tudo como se fosse uma pá de esterco. Como Luna, ela simplesmente ajeitou a blusa, sentou-se e sorriu. — Claro, Doutor. Enquanto digitava, Adrian a observava com aquela mistura irritante de admiração e um quê de fascinação silenciosa. — Luna… posso te perguntar uma coisa? Ela não levantou os olhos. — Pode. — Você não conhece ninguém do Rancho Dakota, conhece? Tipo… peões… funcionários… Ela quase bateu o rosto no teclado. — Não, Doutor — respondeu com naturalidade. — Por quê? Adrian coçou a nuca, confuso. — Ah… nada. É que você… me lembra alguém. Ela sorriu discretamente. Se você soubesse. --- 🔥 O Segundo Risco — Muito Perto Quando ela estava saindo do escritório, já no final do expediente, Adrian a alcançou: — Luna. Ela parou. Ele estava perto. Perto demais. Olhos fixos nos dela, como se tentasse decifrá-la. — Você… tem certeza que nunca foi à padaria da Dona Graça? — ele perguntou baixinho. — Eu juro que já vi seus olhos antes. O coração dela parou. Respirou. E então deixou Luna assumir. — Doutor — disse com um sorriso elegante — se o senhor está me confundindo com alguma antiga paquera, eu prometo que não fui eu. Adrian ficou vermelho na hora. Tossiu. Recuou. — N-não foi isso — tentou se recompor. — Só… pensei que você parecia familiar. — Deve ser impressão — respondeu. E seguiu andando, deixando Adrian parado, intrigado. --- 🌙 O Jogo Começa À noite, Lúcia e o pai jantavam quando ele perguntou: — E então, filha, sua identidade secreta continua firme? — Continua — ela disse, colocando mais arroz no prato. — Mas hoje quase desmoronou duas vezes. — Duas?! — o pai arregalou os olhos. — Uma como Ramires… outra como Luna. — Cristo, menina. Isso não vai prestar. Lúcia riu. — Vai, pai. A parte boa de ser três pessoas ao mesmo tempo… é que ninguém sabe qual delas vai derrubar o Adrian primeiro. E tomou um gole do seu tereré gelado. Do lado de fora do rancho, o vento soprava, leve e perigoso como o segredo que ela carregava. Porque agora não era apenas sobre trabalho. Não era apenas sobre orgulho. Era sobre o fato de que cada vez que Adrian falava com Luna… …era como se um laço invisível se apertasse. E Lúcia sabia: cedo ou tarde, alguém ia se enrolar nele.
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