Humano

1311 Words
"Até mesmo o pássaro que voa mais alto uma hora tem que pousar no chão." — True Blood Taehyung Jeon Jungkook é um homem estranho. Como ele consegue me achar majestoso? Eu sou uma aberração, alguém que vive fugindo... Medo. Essa é a palavra que me define. Mesmo assim, eu me sinto feliz. De uma forma estranha, é ele quem me deixa assim. Tenho minha família — mesmo sendo lobos, eu os amo. Mas não posso negar que algo me falta. Talvez... o contato humano. Faz anos desde a última vez que me transformei. Eu odeio me tornar humano. Prefiro viver livre, na floresta, onde pertenço. Mas hoje, preciso conversar com alguém. E sei exatamente com quem. Jennie. Minha melhor amiga. A única que já me viu por completo — nas formas mais frágeis e monstruosas — e ainda assim ficou. Ela cuidou de mim, me protegeu nos momentos mais sombrios. Somos como irmãos. Eu a protejo do mundo, e ela me protege dele também — especialmente da sociedade, que adora menosprezar ômegas. Ela costumava vir todos os dias até a entrada da floresta para me ver, mas já faz meses que não aparece. O trabalho a consome. Sinto sua falta. Deito-me junto ao filhote ferido, aquecendo-o com meu corpo. Aos poucos, o sono me vence. --- Acordo cedo. Como de costume, dou uma volta pela floresta, procurando sinais de invasores e aproveito para caçar. Ao retornar, vejo que o pequeno lobo está se recuperando bem. Isso me acalma. Mas a saudade da Jennie aperta. Está na hora de visitar o território dos humanos. Dou um comando claro à minha alcateia para que não ultrapassem os limites do nosso território. Se precisarem de mim, saberão como me chamar. Caminho até a casa abandonada e começo minha transformação. É dolorosa. Ossos se quebrando, pelos virando pele, garras e caninos desaparecendo... Me olho num espelho rachado, encostado a um canto qualquer. Estou mais definido do que da última vez. Visto as roupas que Jennie me deu. Lembro de suas palavras: "Você pode até ser gostoso, mas isso não é motivo pra andar pelado por aí." Sorrio ao lembrar. Escolho uma calça preta justa, um moletom e tênis. Só preciso esconder a marca do Lupus Demone. Me viro de costas e noto que o símbolo de triskelion cresceu. Suspiro. Aquela marca só me traz lembranças ruins. Ao sair da cabana, meus lobos me reconhecem pelo cheiro. Estão acostumados. Há anos só me transformo uma vez por ano — só para não perder o costume. Ainda caminho com dificuldade. Quatro patas são mais fáceis. Dou uma última olhada no território antes de partir. --- Caminhar entre os humanos é estranho. Seus cheiros são fortes, principalmente os de ômega. Coloco o capuz do moletom — não quero chamar atenção. Chego a um café familiar. Jennie sempre disse que adorava trabalhar ali por causa da comida grátis. A vejo limpando uma mesa. Me aproximo silenciosamente. — Sentiu saudades? Ela se vira, surpresa. — Quem é você? — Você deve estar acostumada com essa aparência. — Baixo o capuz, mostrando meu rosto. — Aí meu Deus... Tae? É você? — Sim. — Ahhh, que saudade! Até que enfim resolveu me visitar! — Ela me abraça apertado. — Quer ajuda? — pergunto, ao notar que ela é a única garçonete atendendo uma lanchonete cheia. — Adoraria. E, caraca, você tá lindo... Mas Tae, seus olhos... Isso pode dar problema. Meus olhos são muito azuis. Intensos demais. Costumam chamar atenção. — Relaxa, digo que são lentes. — Lentes? — Ela pergunta, e eu apenas concordo com a cabeça. De repente, sinto um cheiro familiar. Quente, reconfortante... Me agrada de um jeito estranho. — Tae, atende aqueles clientes. Eu termino essa mesa. E, por favor, tenta ser gentil. Nada de agir como um robô. — diz ela, rindo. Não entendi muito bem, mas decido seguir o fluxo. Me aproximo da mesa com quatro clientes. — O que vão querer? — Bom dia pra você também — diz um garoto baixinho, claramente um ômega. — O que vão querer? — repito, já irritado. Paciência não é meu forte. Ainda com o olhar no bloquinho, escuto um rosnado. Ergo os olhos e encaro... Jungkook. Merda. Justo ele. Espero que não tenha me reconhecido. Mas por que está me encarando tanto? — Seja mais educado com meu ômega — rosna um alfa. — Deixa pra lá, Yoongi. Então... Como se chama? — pergunta o ômega. — Isso importa? Vão fazer o pedido ou não? — Nossa, que grosso. Aposto que é um alfa. — comenta ele. Não respondo. Sim, sou um alfa, mas há um detalhe... Meu cheiro é uma mistura de alfa com ômega. Isso sempre causou estranheza. — Vou querer um expresso duplo, por favor. — diz Jungkook, me encarando fundo. — Você me parece familiar... Qual seu nome? — Não é da sua conta. — Língua afiada... gostei de você. — comenta o baixinho. --- Jungkook Combinei com Jimin, Hoseok e Yoongi de irmos ao nosso café preferido. Assim que chegamos, um garoto veio nos atender. Sua voz... grave, rouca... Me causou um arrepio. Familiar. — Você me parece familiar... Qual seu nome? — perguntei. Quando ele me encarou, quase perdi o ar. Aqueles olhos absurdamente azuis... — Isso não te interessa. — respondeu ele, com a mesma voz que me causou calafrios. Ele era grosso, e Jimin pareceu gostar disso. Quando ele foi para a cozinha, Jimin não parava de comentar sobre ele. Yoongi e Hoseok ficaram até com ciúmes. Quase cômico. Ele voltou com os pedidos e os colocou na mesa sem dizer uma palavra. Quando ia sair, Jimin o chamou: — Ei, anônimo. Senta com a gente. Você parece legal. — Me recuso. — respondeu de imediato, se virando. — Nós insistimos. — completei. Ele revirou os olhos e sentou. Silêncio. Todos o observavam. Sua beleza era... surreal. Quase irreal. Meus pensamentos foram interrompidos quando ouvimos algo nojento: — Ômega inútil, venha nos servir. — disse um alfa. — Quero ser servido de várias formas. O garoto dos olhos azuis virou-se com o semblante alterado. Quando a ômega chegou, um deles apertou sua b***a. Eu já ia me levantar, mas ele foi mais rápido. — Não toque nela, humano nojento. — sua voz, ainda mais grave. Jimin recuou, assustado. — Ou o quê? — debochou o cara. — Vai ficar com ciúmes? Posso brincar com você também. O garoto puxou a ômega para si. Todos observaram. Até nós. "Humano." Ele usou esse termo... Só conheço uma pessoa que fala assim. Kim Taehyung. Não é possível... — Solta essa c****a. Ela vai me servir. — Chame ela assim de novo, e vou adorar beber seu sangue no seu próprio crânio. — rosnou. O grupo foi pra cima dele. Segundos depois, estavam todos no chão. Ele era rápido. Preciso. Feroz. Fiquei impressionado. Quero alguém assim no meu bando. Ele caminhou até o líder deles, que estava apavorado. — Sinto o cheiro do seu medo — disse, os caninos à mostra. — Tae... por favor... você pode se meter em encrenca. — sussurrou a ômega, com os olhos marejados. Ele suspirou, voltando a si. — Qualquer um que desrespeitar alguém aqui vai ter que lidar comigo. E posso garantir: não terei piedade. — disse, ainda segurando o alfa pelo colarinho. — Dez segundos. Sumam. Até os desmaiados levantaram e correram cambaleando. Ele nos olhou. Seu olhar carregava dor, fúria... e algo quebrado. — Me desculpe, não queria te assustar. — disse a Jimin, que chorava. — Isso me deixou irritado. Odeio esse tipo de gente. — Nós entendemos. — disse Hoseok. — Obrigada, irmãozinho. — disse a ômega, beijando sua bochecha antes de se afastar. Ele já ia embora quando me levantei e segurei seu braço. — Taehyung. — falei, e ele arregalou os olhos. — Eu sei que é você.
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