"Ninguém disse que seria fácil, ninguém jamais disse que seria tão difícil assim." – Coldplay
Jungkook
Ainda segurava o braço de Taehyung. Meu peito estava leve… agora eu sabia quem era o homem que fazia meu coração acelerar.
— Você deve estar me confundindo. — disse ele, a voz firme.
Dava para perceber que odiava mentir, mas estava tentando me proteger. Isso só tornava tudo mais difícil.
Eu o encarei, e ele viu a tristeza no meu rosto. Por que ele está me afastando assim? Era óbvio que eu saberia... fiquei tão feliz quando descobri que ele era o Lupus Demone. Mas agora... parecia que ele não confiava em mim.
— Tudo bem, Taehyung. Eu sei que é você. Não precisa mentir. — falei, quase num sussurro.
Ele bufou e desviou o olhar.
— Sim. Sou eu. E não me chame pelo nome.
Na hora, meus olhos brilharam. Meu corpo se moveu por impulso, e o abracei. Seu cheiro me invadiu... amadeirado, intenso… alfa. Mas havia algo mais. Ômega?
Me afastei na mesma hora, confuso e com a testa franzida. Um misto de raiva e dor surgiu em meu peito.
— Você tem um ômega. — acusei, quase sem perceber.
— Não tenho. — ele respondeu, como se já soubesse exatamente do que eu estava falando.
— Então me explica esse cheiro. — minha voz já saía mais ríspida, mais intensa.
— Está com ciúmes? — ele debochou, com aquele sorriso irritante.
Por que eu estava agindo assim? Merda… a gente nem tem nada! Mas só de pensar que ele poderia estar com alguém, me consumia.
— Isso não vem ao caso. Me explica esse cheiro.
Ele me puxou em direção à cozinha do café. Fiquei confuso, mas fui.
— Seus amigos estavam ouvindo. — disse ele, olhando direto nos meus olhos. Céus… como alguém pode ser tão bonito?
Aqueles olhos azuis, cabelo acinzentado caindo pelo capuz… e os lábios... carnudos, rosados. Era difícil acreditar que era real.
— Jungkook. — ele me chamou. Sua voz... me arrepia toda vez. — Lembra quando me perguntou o que eu sou?
Assenti, engolindo em seco.
— Sou um alfa. Mas também tenho o cheiro de ômega. Uma mistura dos dois.
Suspirei, aliviado. O cheiro dele era maravilhoso, agora fazia sentido. E sinceramente... isso só o tornava ainda mais fascinante.
— Vamos voltar. Se você for embora agora, vão suspeitar de você. — ele disse. Parecia só uma desculpa para que eu ficasse mais tempo com ele. E funcionou.
— Vou te chamar de King.
— Por quê?
— Você me lembra um rei. Lindo e majestoso. Justo e sábio. Meu rei.
Ele corou. Eu juro. Corou. Fofo.
Voltamos para a mesa e meus amigos nos encararam, esperando uma explicação.
— Eu sabia que ele era familiar. King é um dos meus informantes. Já me ajudou com alguns assuntos. — menti, e eles pareceram aceitar. Odeio mentir para eles… mas faço qualquer coisa para proteger Taehyung.
— Então seu nome é King? — perguntou Jimin, visivelmente interessado. Meu rei, ok? MEU.
— Codinome. — Taehyung respondeu. Falava pouco.
— E qual o verdadeiro? — Yoongi insistiu.
— Se eu tenho um codinome, é justamente para que ninguém saiba minha identidade.
Grosseiro. Mas… é o jeito dele.
— Yoon, você perdeu o posto de mais m*l-humorado. — brincou Hoseok, rindo. Yoongi rosnou e todos caíram na gargalhada.
Taehyung ficava olhando ao redor, como se algo r**m estivesse prestes a acontecer.
— Tae. — a ômega da cozinha apareceu. Ele lançou um olhar de reprovação para ela. — Vim te dar comida de graça. Qual sua preferida?
— Cervo. — respondeu seco, como se fosse algo banal.
Meus amigos se entreolharam, chocados.
— Ele quis dizer carne. — disse a garota, tentando consertar.
— Como você quer ela? — ela insistiu.
— Crua. Com sangue.
Todo mundo parou.
— Ele quis dizer m*l passada. — ela tentou de novo.
— Jen, se for pra dar sua opinião, é melhor nem perguntar. — ele cortou.
— Nossa, que grosseria. Você devia ser mais gentil. — ela reclamou. Todos à mesa concordaram em coro: "Concordo!"
Ela se retirou rumo à cozinha. Fiquei observando ele... virou meu novo hobby, eu acho. Queria tanto ver um sorriso daquele rosto sempre sério.
Taehyung
Jungkook me encarava demais. Isso já estava começando a me incomodar.
— É sua ômega? — perguntou o baixinho.
— Claro que não! — Jungkook respondeu rápido demais. Quase desesperado.
Os outros riram. Jungkook rosnou, e todos se calaram. Ele tinha autoridade ali.
Minha comida chegou. Jen trouxe uma montanha de carne e uma bebida estranha.
Quando ia começar a comer, Jungkook puxou meu prato. Lancei um olhar mortal pra ele.
— Calma, meu rei. Eu só vou cortar pra você. — ele falou, tranquilo.
— Ui! Jeon carinhoso? Essa é nova. — brincou Yoongi.
— Parece que alguém está apaixonado. — comentou o baixinho.
Jungkook apenas sorriu.
Me devolveu o prato e me deu algo chamado garfo. Disse que era para comer sem usar as mãos.
— Sério que não sabe o que é garfo? — murmurou o baixinho, meio divertido.
Mas então, algo mudou. Um arrepio percorreu minha espinha. Parei de comer.
— O que foi, King? — Jungkook perguntou, preocupado.
— Tem alguma coisa errada. — e, como se o universo me respondesse, uivos romperam o ar. — Merda, estão me chamando.
— Quem? — Jungkook perguntou, entrando em alerta.
— Minha alcatéia. — me levantei.
— Eu vou com você. — ele decidiu antes mesmo que eu pudesse responder. — Vocês ficam. Cuidem dos negócios.
Corremos para a floresta. Quando nos aproximamos, fiz sinal para ele parar.
— Humanos. — falei, começando a andar como uma raposa entre as sombras.
Jungkook me seguia com passos cuidadosos.
Então, ouvi uma voz familiar.
— Apareça, aberração. Está com medo? Quando matou meus amigos, não teve.
— Kai. Ele voltou. — Jungkook sussurrou ao meu lado.
— Vim acertar contas pendentes. — disse ele, e seu bando riu ao fundo. — O que acontece se eu caçar seus lobos?
A raiva ferveu dentro de mim. Meus caninos surgiram. Minhas garras também. Eu ia atacar… mas Jungkook me segurou.
— Você é mais sábio que isso. — disse, sorrindo. Aquele sorriso... me acalmou.
Observei. Eles estavam se espalhando, procurando por mim. Estavam armados.
— Se esconde. Deixa tudo comigo. — sussurrei. E subi em uma árvore.
Contei 20 homens. Foquei no mais afastado. Preciso separar o líder.
Num movimento rápido, quebrei o pescoço de um e joguei o corpo no meio deles.
— Meu Deus. — alguém murmurou. — Ele matou um sem nem mostrar o rosto!
Kai ficou furioso.
Faltam 19.
Ouvi um barulho. Olhei, e vi Jungkook esfaqueando outro.
Faltam 18.
Fui até ele. Passos leves entre as árvores.
— Cuidado. — ele alertou.
— Apareça, demônio! — Kai gritou… e então ouvi mais uivos.
— Meus filhotes… — murmurei, alarmado.
— Eu distraio o Kai. Vai até eles! — disse Jungkook, correndo. Três homens o seguiram.
Subi numa árvore. Um grande espaço separava os lados da floresta. Usei a sombra e saltei — rápido como um vulto.
Encontrei minha alcatéia.
— Ut maneat solvere. (Fiquem. Eu resolvo.) — ordenei. Eles recuaram e se esconderam.
Voltei, preocupado com Jungkook. Se algo acontecer com ele…
Cheguei ao meu ponto. Senti cheiro de sangue. Jungkook voltava, ferido, mas andando.
— Peguei três. — disse ele, se escondendo novamente.
Acariciei seu rosto, aliviado.
— Está tudo bem? — perguntei. Ele assentiu, me olhando de um jeito... especial.
Ótimo. Faltam 15.
Voltei à árvore. Um inimigo se aproximava de Jungkook. Saltei, garras à mostra. Rasguei o homem, que gritou — alertando os outros.
— Troca de posição. — ordenei. Jungkook desapareceu entre as árvores.
Faltam 14.
Mas então fui visto.
— Ali! — gritou alguém. Tiros dispararam. Um acertou minha perna.
Caí. Mas ainda não acabou.
Fingi estar inconsciente.
— Pegamos a aberração! — ouvi. Cheiro de quatro deles ao meu redor.
Dois à direita. Dois à esquerda.
Contando o tempo… saltei. Rasguei dois. Usei os corpos para pular, fazendo os outros se matarem tentando me atingir.
Faltam 10.
— Apareça, maldito! Eu vou te matar! — berrou Kai.
Minhas pernas sangravam. Minha forma humana… fraca demais.
Preciso me transformar.