Entre garras e promessas

1230 Words
"Como pedaços de um vidro quebrado que eu não posso reverter Mais profundo, é apenas o coração que se machuca todos os dias."* — *Stigma, V Taehyung parecia calmo por fora, mas por dentro era um caos absoluto. Como poderia explicar o que aconteceu? Se arrependimento matasse, ele já estaria morto. Pensar que poderia ser "normal" nem que fosse por um momento, havia sido um erro. Uma mentira. Ele só queria um final feliz, queria ser amado, queria ter amigos... queria ser como qualquer um. Mas aberrações não têm esse direito — ao menos, era nisso que ele acreditava. Viver como um monstro destinado a um fim trágico parecia mais fácil de aceitar. — Me desculpa. — foi tudo que conseguiu dizer. Tinha duas opções: mentir ou dizer a verdade. A última estava fora de cogitação. Desde que conheceu Jeon Jungkook, mentir tornou-se quase um hábito. Não por orgulho, mas por proteção. Se mentir significava manter o garoto a salvo, então ele aceitaria ser o vilão dessa história. — Pode explicar isso? — perguntou Yoongi, furioso. Taehyung ergueu o rosto, olhando para todos à sua volta, mas seus olhos pararam em Jungkook. Jungkook estava pasmo. Admirado, até. Sabia que Taehyung era perigoso, mas... e se pudesse mudar isso? E se ele, Jeon, conseguisse entender aquele caos? — Sou de uma linhagem predatória e dominadora. Sou um alfa, como Jungkook, mas minha linhagem é mais antiga. — respirou fundo. — Ou seja... — Você é mais forte que o Jungkook. — completou Lisa, surpresa. — Sim. Quando estou com raiva, perco o controle. Meu rosnado foi tão intenso que vocês se ajoelharam. Isso não afetou os lúpus porque são mais resistentes... mas tenho certeza de que vocês também sentiram vontade de se curvar. Estou errado? — Não... mas isso é surreal. — disse Jackson, ainda atônito. — Eu sou diferente de vocês. Na verdade, nem deveria estar aqui. Sou perigoso. Me desculpem. Seu impulso era fugir. Voltar para os lobos. Para onde nunca deveria ter saído. Mas quando viu Jimin chorando, seu instinto protetor o consumiu. Quis abraçá-lo. — Jimin... me desculpa. Você está machucado? Tentou se aproximar, mas o ômega recuou. Yoongi rosnou, colocando-se à frente dele. — Calma, não precisa ser tão agressivo. — disse Jeon. — Você trouxe um desconhecido que nem revela o nome verdadeiro, fez pessoas se ajoelharem, e ainda quer que não sejamos agressivos? O que está acontecendo com você, Jungkook? Primeiro protege aquela aberração... agora esse desconhecido. — Seokjin explodiu. Aquelas palavras doeram mais do que deveriam. Taehyung já deveria estar acostumado, mas por algum motivo... doeu. Ele caminhou até a porta, e antes de sair, olhou uma última vez para eles. — Me desculpem... eu... eu não queria machucar ninguém... só... me desculpem. E então correu. Correu para sua casa, para sua verdadeira família. Seus lobos. Os únicos que nunca o rejeitaram. Jungkook tentou correr atrás, queria alcançá-lo... mas Taehyung já havia sumido na escuridão da noite. Mais uma vez, a culpa o corroía. Por que não o protegeu? Talvez fosse medo... Mas medo de quê, exatamente? De Taehyung... ou de sua própria família o odiar? Jungkook queria correr para os braços de Kim. Queria abraçá-lo. Mas ficou. Porque sua família precisava dele. Ainda assim, algo dentro dele dizia que estava tudo errado. Enquanto isso, Taehyung chegava à floresta, ofegante. — Eu voltei... eu disse que voltaria. — murmurou, com os olhos marejados. Seus lobos correram até ele, pulando em cima de si, o lambendo com alegria. E naquele gesto selvagem e puro, Taehyung sentiu paz. Aproximou-se do lobo ferido e viu que ele estava se recuperando. Sorriu com alívio. Subiu até a pedra onde gostava de observar o horizonte. Sentou-se ali, cercado por seus lobos. Só queria dormir e sonhar com Jennie, sua melhor amiga — a única que o fazia rir, mesmo dizendo bobagens sem filtro. --- Na manhã seguinte, Taehyung acordou sentindo um calor absurdo. Estava com todos os lobos deitados em cima de si. Ele tinha uma temperatura corporal naturalmente alta — 42°C — algo que mataria um humano comum. Odiava o calor por isso. Tomou um banho na cachoeira, vestiu qualquer roupa (relutante, como sempre) e foi até o trabalho de Jennie. Assim que a viu, a abraçou. Jennie estranhou — Kim não gostava de abraços. Desde a adolescência, ela sabia que quando ele a abraçava, era porque algo estava errado. — Olá, irmãozinho. — disse, sorrindo. — Oi. Posso te ajudar? — Claro. — retribuiu o sorriso e deu um beijo na bochecha dele. Jungkook assistia a cena, com os olhos ardendo de ciúmes. Estava com seus amigos no café, um dos seus lugares favoritos — especialmente agora que sabia que Taehyung também ia lá. Jennie adorava quando Kim a ajudava no trabalho. Ela sabia que, no fundo, ele só queria estar perto dela. — Irmãozinho, vamos conversar? — disse, guiando-o até uma mesa — coincidentemente, próxima de Jungkook. Taehyung fingiu que não notou. Mas claro que notou. Como esquecer o cheiro de Jeon? Ele decidiu: era melhor fingirem que nunca se conheceram. — Lembra quando nos conhecemos? — Jennie perguntou, risonha. — Claro. Você estava na floresta, por causa de um desafio i****a que seus amigos fizeram. — Se não fosse isso, nem seríamos amigos. Lembro de um menino de olhos azuis me observando... — Eu só queria seu sanduíche. — respondeu, sorrindo. Jungkook ficou encantado. Nunca o vira sorrir daquele jeito. Queria aquele sorriso só para si. — Você estava pelado! Eu me assustei! — Jennie gargalhou. — O início de uma grande amizade. Mesmo eu sendo diferente, você continuou ao meu lado. Pensando bem... não estou realmente sozinho. — Nunca esteve. — disse ela, acariciando o cabelo dele. Nesse momento, a aura lupina de Jeon se manifestou. Estava com ciúmes. — Vamos voltar ao trabalho. Depois faço um doce para você. Jennie e Taehyung voltaram a atender os clientes. Por ironia (ou destino), Kim teve que atender a mesa de Jungkook. — O que vão querer? A voz de Taehyung fez um arrepio subir pela espinha de Jeon. — Pedir desculpas. — disse Jimin. Todos olharam para ele, inclusive Taehyung. — Sei que não queria nos machucar. Ficamos com medo, mas... sei que você é uma boa pessoa. — Eu não concordaria com isso. — respondeu Kim, frio. — Mas tudo bem. — Não gosto do nome "King". Vamos mudar isso. — sugeriu Hoseok, tentando aliviar o clima. — Chamem ele de Tae! — disse Jennie, surgindo do nada. — Isso não muda o fato de que devemos manter distância. — murmurou Taehyung. — Você ainda com isso? Já falei que quero você por perto. — disse Jeon, irritado. — Mas eu não quero. — respondeu Taehyung, seco. Jungkook não sabia se acreditava ou não. Sua expressão era sempre ilegível, mas ouvir isso o deixou triste. Será que Kim o odiava? Mesmo sabendo dos perigos, Jungkook queria ele por perto. Queria vê-lo sorrir de novo. — Mas minha promessa ainda está de pé. Como eu disse... se precisar de mim, é só chamar. Eu vou te ajudar. — finalizou Jeon. Essas palavras aqueceram o coração de Kim. Por mais que não demonstrasse, era bom saber que ainda podia contar com alguém. Mas ele ainda se perguntava... Por que Jimin disse aquilo? Será que ele via apenas pena em seus olhos? Ou... compaixão?
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD