“O voo até a Lua não é tão longo. As distâncias maiores que devemos percorrer estão dentro de nós mesmos.”
Jeon não conseguia descrever a felicidade que sentiu ao ouvir aquelas palavras.
“Aliás, foi meu primeiro beijo.”
Essa simples frase fez o coração do alfa acelerar. Ele mesmo não entendia esses sentimentos — mas sabia que era algo bom. Jeon queria descobrir o que, exatamente, sentia por Kim. Dizem que um Lúpus puro ama apenas uma vez na vida. Chamam isso de parceiro predestinado. Soulmate.
Talvez o abominável lobo fosse seu Soulmate. Mas isso realmente existe?
Jeon queria acreditar. Talvez pela confusão dentro de si, talvez pela necessidade desesperada de construir uma família. Talvez por realmente gostar de Taehyung. Ou talvez... pelo medo de ficar sozinho.
Talvez. Talvez. Talvez... e mais talvez.
Pela primeira vez, ele não tinha uma resposta. Só o tempo poderia dizer.
Com Taehyung não era diferente. Seu maior desejo era simples: entender o que são emoções e viver. Por perder todos que amou, o lobo demônio já não sabia mais o que era rir até a barriga doer, o que era amar ou ser amado. Conhecia apenas a dor... e a solidão. Tudo o que tinha eram seus lobos. E odiaria a si mesmo se os perdesse também.
Podiam ser apenas animais selvagens, mas para Kim, nunca foi só isso. Eles o acolheram quando o mundo inteiro o tratava como uma ameaça. E, mesmo vivendo como um animal, tudo que ele desejava era parar de ser caçado. Queria apenas... paz.
— Namjoon está vindo nos buscar — disse Jeon, do lado de fora da floresta.
Kim, agora vestido (ainda que coberto de sangue), permanecia ao seu lado. Kai ainda estava desacordado em seus braços.
— Lembre-se de não dizer meu nome — alertou Taehyung.
Ele sabia que seu nome era uma chave perigosa. Algo que poderia atrair caçadores... e a morte. Jungkook apenas assentiu. A última coisa que queria era colocar o lobo demônio em perigo.
Minutos depois, o carro chegou. Namjoon dirigia. Ao lado dele, seu ômega, Kim Seokjin.
Todos seguiram em silêncio durante o trajeto até a mansão Jeon. Jin parecia um pouco inquieto com a presença de Taehyung, não exatamente pelo sangue, mas por ele ser um completo estranho — e aparentemente, não se importar nem um pouco com sua aparência ou com os olhares alheios.
Assim que entraram, os membros da matilha estavam todos reunidos. O ambiente carregava a força da presença de Jeon — mas logo, todos congelaram. Uma nova presença, intensa e avassaladora, se espalhou pela casa. Ômegas se encolheram. Alfas e betas recuaram.
Jungkook
A tensão era nítida, mas junto dela, uma certa admiração. Taehyung era assustadoramente lindo.
Ele caminhou até o centro da sala e simplesmente largou Kai no chão, como se não fosse nada. Talvez realmente não fosse.
— King, você voltou! — Jimin sorriu, empolgado. — Eu até te abraçaria, mas você está... meio sujo.
Ótimo. Não quero ninguém abraçando o Taehyung. Principalmente porque isso deixaria cheiro nele.
Acho que estou sendo um pouco possessivo com alguém que nem é meu.
— Quem é você? — questionou Jackson, em posição defensiva.
— Pessoal, esse é o King — falei, apontando para Taehyung, que como sempre mantinha a expressão neutra. — Ele me ajudou a eliminar alguns problemas... e capturar o Kai. Pra falar a verdade, ele fez tudo. Eu só segui as ordens dele.
Assim que disse isso, ouvi risadas de Hoseok e Jimin. Cochichos de outros membros da matilha.
— Então o nosso grande alfa lúpus... agora segue ordens? — disse Hoseok, debochado.
Revirei os olhos.
— Estranho isso — comentou Jimin. — Pra alguém que odeia não estar no comando...
— As técnicas de combate dele são incríveis — acrescentei. — E tinha mais inimigos do que no outro dia. Grande parte, King eliminou sozinho. Deu pra perceber, né?
Apesar da tensão, alguns tentavam puxar conversa com Kim. Tentavam. Suas respostas eram curtas. Frias.
Enquanto isso, tomávamos água na cozinha. Kai estava em um dos quartos, acorrentado. Yoongi e Hoseok tentavam obter informações.
— O que vocês são? — perguntou Lisa.
— Amigos — respondi, naturalmente.
— Amigos se beijam? — ela completou, com a expressão mais inocente possível.
Engasguei com a água no mesmo instante em que Taehyung lançou a pergunta.
Porra, Taehyung.
E o pior: todos estavam prestando atenção.
— Somos... amigos, por enquanto — reformulei.
Graças a Deus, Yoongi e Hoseok entraram no cômodo naquele exato momento.
— Ele não fala nada — disse Yoongi. — Já tentamos tortura, ameaças...
— Já era de se esperar — murmurei.
— Eu vou tentar — anunciou Taehyung.
— Não, você não vai — respondi, firme. Não queria que ele se machucasse.
— Isso não foi um pedido, muito menos uma pergunta — ele rebateu, já se afastando em direção ao quarto.
— Gostei dele — comentou Namjoon, rindo. Os outros riram junto. Rosnei. Todos se calaram.
Caralho. Ninguém nunca falou assim comigo.
Mas o pior é que... isso me deixou e******o.
O que esse garoto está fazendo comigo?
Antes que eu pudesse pensar mais, ouvi os gritos de Kai:
> — Sai de perto de mim, seu demônio!
> — Me ajudem!
Corremos até o quarto.
Taehyung
— Vou tentar ser pacífico. Me diga tudo o que sabe.
Kai riu.
— Não vou dizer nada. Quem você pensa que é?
— Seu pior pesadelo.
Levantei da cadeira e fui até ele. Um soco seco no estômago. Ouvi um estalo. Costela fraturada.
Kai cuspiu sangue.
— Você acha que isso vai me quebrar?
— Não — respondi, dando um passo para trás.
Comecei minha meia transformação.
Fechei os punhos e senti as garras surgirem. Meus caninos se alongaram. Minhas orelhas ficaram pontiagudas.
Jennie sempre dizia que eu parecia um elfo assim.
Meus olhos agora estavam em um azul surreal.
Kai ficou apavorado. Era exatamente o que eu queria.
Me aproximei. A respiração pesada, quase como um rosnado.
— Sai de perto de mim, demônio!
— Para de grita.
Voltei à forma humana ao sentir o cheiro de Jeon se aproximando. Ele abriu a porta.
— Relaxa. Não fiz nada com ele. Só dei um pouco de medo. Ah... peço que os ômegas saiam.
Jeon fez um gesto, e todos saíram, ficando apenas Lisa, Yoongi e Jackson.
— Fale. Quem mandou você atrás de mim? Tenho certeza que não foi só você — disse Jeon.
— Me solta agora! — gritou Kai, usando sua voz de alfa.
A raiva tomou conta de mim.
Quem esse verme pensa que é pra usar a voz de alfa com Jeon?
Rosnei. Um som tão forte que a casa inteira deve ter ouvido. Olhei ao redor — todos estavam paralisados. Mas o que realmente me chamou atenção foi Jeon... me olhando com admiração.
Humano estranho.
— Resolveremos isso depois — disse Jeon, se aproximando. — Ele vai continuar preso até decidir falar. E todo dia... vai ser torturado.
Seguimos até a porta. Lisa abriu.
Ficou paralisada.
Quando saímos, entendi o motivo.
Todos estavam de joelhos.