Prólogo
PRÓLOGO
WINTER QUATORZE ANOS
É a espera que é mais difícil. Esperar a morte porque é tudo o que temos
pela frente. Está sempre lá, à espreita nas sombras, pronta para atacar a qualquer momento.
Os gritos da mulher atravessam o ar no sopro do vento que dança em
meu rosto, eu estremeço.
Uma mão forte alcança a minha e a segura com força e uma voz profunda sussurra com voz rouca. — Está tudo bem, Winter.
Piscando, tento me distanciar da minha realidade e imaginar uma vida diferente. Uma vida normal onde nenhum demônio espreita, tramando sua morte. Uma vida cheia de esperança e sonhos de felicidade em vez de um senso de destino dando a você a carta da morte.
Os gritos chicoteiam ao nosso redor como as almas contaminadas do Inferno, me pergunto por quanto tempo ela vai lutar. Da última vez, eles levaram horas para morrer. Os perversos, os tolos e os condenados. Um morre e outro toma seu lugar. Negócios como de costume no Inferno.
Fechando bem os olhos, tento imaginar um lugar mais feliz. Qualquer lugar menos aqui serviria, mas tudo o que posso ver é um vazio n***o esperando que eu caia de cabeça nele sem rede de segurança.
Meu passado, meu futuro e meu presente, se houver, espero não ter muito tempo.
Ela para e eu respiro pela primeira vez.
Graças a Deus ela se foi.
Se sinto alguma coisa, é surpresa por não sentir nenhuma emoção. Eu realmente a conhecia? Uma perfeita estranha que só fez uma coisa por mim, me deu a vida.
O suspiro suave ao meu lado me faz apertar sua mão um pouco mais forte, um braço envolve meus ombros e uma voz suave diz. — Eu nunca vou deixar que eles machuquem você, Winter. Você tem minha palavra nisso. Somos só você e eu agora.
Suas palavras são destinadas a oferecer conforto, mas elas apenas trazem uma nova onda de dor que me apunhala repetidamente na maioria dos dias, porque eu só o tenho enquanto meu pai permitir. Um caroço se forma na minha garganta junto com a dor no meu coração porque e se...?
— Pare de pensar. — Sua voz é curta e sombria, eu aceno, já derrotada.
— Angelo…
— Ouça-me, Winter. — Ele me interrompe porque nós dois sabemos que
sou a mais fraca e diz asperamente. — Vamos esperar, quando for a hora certa, vou libertar nós dois. Acredite em mim, nunca vou deixar ninguém te machucar.
Palavras me faltam porque como isso vai acontecer. Nós dois conhecemos a vida difícil à nossa frente e ambos sabemos que a ampulheta está correndo rápido e logo nossas vidas mudarão para sempre.
Ouvimos vozes altas e Angelo suspira pesadamente.
— Devemos ir antes que eles se lembrem de que estamos aqui.
Não quero ir embora, mas sei que devo, porque trancada na casa da
árvore com meu irmão gêmeo é o único lugar onde quero estar na vida.
Amanhã estaremos separados. Duas crianças que vão crescer rápido
porque nosso destino já está decidido. A ideia de estar longe da única pessoa que amo neste mundo é muito dolorosa de se contemplar, sei que preciso lidar com o que isso significa para nós dois. Já sei que nossa história não terá um final feliz e se de alguma coisa tenho certeza é disso.
Alguns podem achar estranho que eu não chore por minha mãe. Era apenas uma palavra, de qualquer maneira. Ela era uma estranha, um nome e um rosto borrado de uma mulher que deveria se sair melhor e eu me sinto estranhamente distante de toda a situação e aliviada por ela ter ido embora. É difícil admitir, mas minha mãe me assustava e pelo menos metade do meu problema está resolvido. Sua morte foi, sem dúvida, dolorosa. Um aviso do que acontece se você sair da linha. Uma promessa de um fim amargo se você não cumprir sua parte em uma família que não conhece o significado da palavra.
Angelo me puxa para cima e vejo a amargura em seus olhos enquanto ele
sibila. — Eu prometo que vou matá-lo um dia.
Essa declaração faz com que um breve sorriso cintile em meu rosto e quando seus olhos escuros perfuram os meus, compartilhamos um momento que escurece as almas. Duas metades da mesma moeda que serão separadas fisicamente, mas nossas almas estão unidas para sempre. Irmão e irmã até a morte, meu maior desejo é que eu morra primeiro porque sem Angelo eu não gostaria de viver mesmo.