Cap. 10: E o escolhido foi voce!
Kaleu Volkov
Meu tempo de paz parece ter chegado ao fim mais uma vez. Depois que ele se enfiou no meu território, preferi não voltar para casa até que tivesse anoitecido. Só não esperava que Cassius fosse me procurar para me questionar, mas não tinha me encontrado e hoje, no meio da manhã, ele estava de volta.
Mas como explicar que eu atirei para assustar uma menina de dezesseis anos que não tem noção alguma de perigo?
— Você está dizendo que aqueles tiros foram para espantar uma menina? — Cassius perguntou como se não acreditasse, enquanto mantinha os braços cruzados, me analisando.
— Sim, aquela mesma menina que eu pedi para você esperar para levá-la. — Eu tento explicar, sentindo um estranho desconforto.
— Olha… eu nunca vi essa menina e nem sei se ela existe. Afinal, como uma menina de dezesseis anos entraria nessa floresta com a fama que você deixou? Está inventando isso apenas para ocultar mais uma de suas obras? Na minha conta já foram vinte homens mortos aqui nesses anos que você se mudou, e só foram três anos. O que você é, um serial killer agora? p***a! Sabe o quanto está sendo difícil te manter aqui? — Cassius perguntou, me repreendendo, mas sorri cético e de forma sombria, me aproximando dele. Seu pomo de adão sobe e desce, demonstrando que ele sentiu receio, mas conteve-se e manteve sua postura, pronto para me enfrentar se fosse necessário.
— Está insinuando que estou vendo fantasmas? Ela veio aqui há três anos e estava com sinais de que estava vivendo em cativeiro. Eu não estou mentindo! — Assevero, incomodado.
— Aham, e agora ela fala? A garota que era muda está falando? — Ele perguntou ainda com deboche. Deslizo as mãos pelo cabelo, demonstrando incômodo. Eu juro que Cassius me tira do sério só por respirar.
— Eu te expliquei naquele dia que ela disse que estava tomando algum remédio para perder a fala. Eles estavam dando!
— Ela falou? Mas ela não era muda? — Ele perguntou, me tirando do sério. Então respirei profundamente e preferi ficar em silêncio, o ignorando antes de puxar minha pistola, porque com certeza, eu não iria mirar no tronco como fiz com aquela menina.
— Enfim… se estiver mesmo vindo uma menina dessa idade para cá, lembre que é perigoso. Estão te observando, não só eu como a organização. Eu não mando em nada e eles acham que você é problema, ainda mais por causa do desaparecimento de todos aqueles mafiosos nesse bairro. Eles não têm certeza se foi você ou não, mas eu tenho quase certeza que sim. Ainda assim, eu tenho limpado a sua barra, mas você deve ter cuidado com meninas mais novas. Mesmo na máfia, aqui não toleramos qualquer proximidade com essas meninas mais novas, ainda mais filhas de civis. Não importa o que ela esteja passando, não é de nossa conta.
— Não importa se eles estiverem abusando de uma menina de dezesseis anos? — Perguntei, encarando Cassius nos olhos.
— Não se meta em mais problemas… — Ele desviou o olhar. — Não importa o que aconteça, só estou falando que por ser de civis as coisas podem se complicar e você pode chamar atenção da polícia. Você não vai querer ser acusado de estar se envolvendo com uma menor, certo?
— Mas eu nunca faria uma loucura dessas e em nenhum momento nem mesmo toquei nela! — asseverei complexado.
— Eu sei que você não faria isso, mas as outras pessoas não sabem. O que vão pensar quando virem um homem sozinho na floresta com uma menina menor junto com ele, não sendo filha ou parente? — Ele perguntou, me fazendo engolir em seco. — Enfim, não vim aqui para te repreender, mas para te dar um aviso. Eu tomei uma decisão importante — ele comentou com um ar de mistério.
— O que seria?
— Lembra daquela família? O pai que vendeu a própria filha?
— O que tenho a ver com isso? — Perguntei desconfiado.
— Eu tenho que encontrar alguém em nosso meio para ficar com ela. Eu fui conhecer ela hoje e achei ela muito nova, ainda assim… eu já tenho que dar uma resposta ao Don. Tenho que relatar a ele o nome da menina e a quem ela vai ser entregue. Eu… pensei em entregar ao primeiro que desse o melhor lance, mas quando a vi hoje… estive repensando. — Ele comentou pensativo, como se algo estivesse o incomodando. — Você parece a pessoa mais adequada para estar com essa menina. — Ele avisou e saquei a arma no mesmo segundo.
— Não, eu não vou ficar com ninguém. Ou você tira essa ideia da sua cabeça ou eu vou tirar eu mesmo, mas vai ser na base da bala. — Assevero pasmado.
— Ei, abaixa essa arma! Além disso… você já está com a cara bem melhor, nem vai assustar a menina como pensa, e ela não é feia, muito pelo contrário, você vai gostar dela. Além disso… eu estou te avisando agora, mas será daqui a dois anos! Dois anos! — Cassius asseverou recuando.
— Dois anos é o c****e! Você sabe que eu não quero saber de nenhuma mulher. Eu não me importo se você se importa com tudo que eu vivi ou não, mas eu quero que você entenda que eu não preciso de outra mulher, eu não quero saber de mais nenhuma mulher em minha vida!
— Você vai viver sua vida inteira aqui? Isolado como um monstro! — Ele asseverou, demonstrando irritação. — Eu sei! Você perdeu sua mulher e seu filho de poucos meses, mas… pensa bem, você não pode viver se afundando em mágoa e descontando sua raiva em tudo que respira. Você literalmente matou mais de vinte homens e isso é o que eu tenho investigado, mas sei que pode ser bem mais. E quantos mais serão mortos enquanto você estiver aqui? O que vai fazer? Matar a menina fantasma também agora que ela está de volta? Se é que ela existe?
— Você também está com essa visão de mim? Eu deveria fazer jus à fama e te matar também? — Perguntei a ele ainda com a arma apontada.
— Não, mas… eu não vou revogar minha decisão. Te disse antes porque assim você se prepara e… você deveria ir conhecê-la, mas sem que ela saiba que é você.
— Desgraçado! Eu quero que você e essa tal morra! — Digo, deferindo um disparo. Então o vejo correr como um animal assustado entre as árvores e se escondendo atrás de uma.
— A gente não vai trocar tiro, mas… ainda que você tente me matar, eu não vou revogar a decisão. Vou passar as informações para o Don e você será o futuro noivo da tal menina! Além disso, eu não tenho medo de sua arma, é o preço que se paga por estar nesse trabalho! — Ele asseverou, em seguida voltando a correr.