Abri os olhos com o motorista avisando que já estávamos chegando ao nosso destino. Olhei no viso do celular e marcava 2:13 da manhã.
Respirei fundo arrumando meu cabelo e coçando os olhos, meu celular apitou pedindo carga. Não acredito nisso, ficar sem bateria logo agora.
Abaixei o brilho dele e desliguei os dados móveis afim de economizar bateria. 10%.
Desci do ônibus tendo que ligar a Internet de novo pra pedir o uber, destino? Complexo da Maré.
Peguei minhas malas esperando pelo uber, que não demorou mais que 10 minutos para chegar.
Entrei e cumprimentei o motorista, que sorriu simpático.
Motorista: viajar de madrugada é um porre, né moça?
Mari: nem me fala, tô doida pra dormir.
Motorista: você é daqui?
Mari: não, na verdade vim visitar uma amiga minha.
Motorista: entendo, olha... Eu não posso subir o morro, então vou te deixar mais perto da barreira e torce pra ter algum moto taxi.
Mari: eu ligo pra minha amiga descer pra me encontrar, obrigado.
Seguimos o caminho em silêncio, ele era um senhorzinho que aparentava ter lá para seus 60 anos.
Menos de 30 minutos ele encostou próximo a barreira e eu paguei ele agradecendo.
Desci com as duas malas olhando ao redor, um grupo de homens que conversavam entre si.
Liguei pra Lara que chamou até cair, merda. Era só o que me faltava!
Pior que eu nem sabia o caminho da casa dela, nunca vim aqui e também esses homens não deixaria eu passar.
- tá perdida? - um deles falou comigo, bonito até, dos olhos claros.
Mari: sim, vim pra ficar com minha amiga, mas agora ela não me atende e eu não sei onde é a casa dela.
- qual nome dela? - falou pegando um radinho na mão
Mari: Lara... Lara volpato!
- Ae patrão, tem uma mina aqui querendo subir pra casa da amiga dela. - qual seu nome? - falou olhando pra mim e eu respondi - Mari, patrão. Vai pra casa da Lara Volpato. - ele passou a mão pelos lábios - Jaé, fé pra nós.
- aí, Rod vai te levar no barraco dela! - falou apontando com a cabeça para o carro.
Mari: obrigado!
- tranquilo. - falou fazendo um joinha com a mão.
Andei até o carro guardando as malas no porta mala, fui no banco de trás, já que não conhecia o menino.
Ele saiu de lá subindo o morro e virando a esquerda numa rua totalmente vazia e com pouca iluminação.
- tu não é daqui, né? - disse enquanto focava na rua
Mari: não, primeira vez que venho aqui.
- pode crê, qual seu nome?
Mari: Mariana, mas pode me chamar de Mari. E o seu?
- Rodson, mas geral me chama de Rod.. é logo ali na frente!
Mari: obrigado mais uma vez, não sei o que faria se não me trouxessem, meu celular desligou e eu não sei andar por aqui.
Rod: tem que tomar cuidado, moça. Aqui tem gente boa, mas tem gente r**m também. E a gente nunca sabe quando vamos topar com um deles por aí. - falou parando o carro. - é aqui!
Desci do carro tirando minhas malas e ele me esperava na calçada.
Mari: bom, boa noite.
Rod: boa noite, Mari. Aproveita pra conhecer o morro amanhã, tu vai se amarrar.
Mari: tenho certeza disso. - disse sorrindo e ele retribuiu
Rod: bom, tô indo nessa. Qualquer coisa me aciona, Lara tem meu número.
Mari: tá bem, obrigado.
Rod: estamos aí pra isso.
Ele saiu cantando pneu e eu fiquei igual uma pateta parada em frente ao portão das escadas que dava acesso a casa Lara, minha vontade era de socar a cara dela por ter me esquecido.
Quando já ia gritar, olhei pra cima e vi ela com o cabelo todo bagunçado coçando o olho.
Lara: aí meu Deus... amiga... desculpa, eu acabei cochilando e só acordei com o barulho do carro. Desculpa, perdão mesmo.
Mari: sua sorte que não tinha ônibus de volta no mesmo horário, porque se não tinha voltado pra casa. Onde se viu esquecer da amiga assim?
Lara: eu não esqueci, juro. Só cochilei demais, vem entra. - falou abrindo o portão - como chegou aqui? Falei que te buscaria na barreira.
Mari: pelo visto eu dormiria por lá, se não fosse os meninos. Um deles que me trouxe, disse que te conhecia.
Lara: quem? Rod?
Mari: é, ele mesmo.
Lara: a gente fica, já tem um tempo.
Mari: agora tá explicado. - falei sentando no sofá e tirando o tênis - tô cheia de sono.
Lara: tem o quarto de hóspedes te esperando, mas se quiser pode dormir de conchinha comigo, eu deixo.
Mari: não vou curar minha carência agarrada nessa sua b***a grande.
Lara: a sua é maior, safada. - falou me abraçando - tava com saudade. Quer comer alguma coisa?
Mari: vim metade do caminho beliscando um biscoito, só quero cair na cama mesmo.
Lara: então tá, seu quarto é o da esquerda, já tem tudo lá te esperando.
Mari: então tô indo nessa, boa noite piranhona.
Lara: boa noite safada.
Dei um beijinho na testa dela e fui em direção ao quarto com as malas. Acendi a luz deixando as malas num canto qualquer, e passei os olhos ao redor do quarto. Que tinha uma cama de casal, uma TV pendurada na parede e um pequeno guarda-roupa escantiado na parede.
Fechei a porta ligando o ventilador de teto, deitei me cobrindo, nem troquei de roupa. Coloquei meu celular pra carregar e dormi.