Entre o Passado e o Acordo
Durante o restante do jantar, Blade tentou reverter o clima constrangedor deixado pela aparição de Gigi. Sorriu, fez comentários triviais, pediu vinho, mas o olhar de Melina permanecia sereno e distante — e isso o desconcertava mais do que qualquer silêncio.
Depois de alguns minutos, ela quebrou o gelo:
— É sempre assim quando você sai? As mulheres correndo atrás de você?
Blade respirou fundo antes de responder:
— Era.
— E você não se sente incomodado com isso?
Ele deu um meio sorriso, um tanto amargo.
— Antigamente, não. Eu achava divertido, talvez até me sentisse valorizado.
Melina o encarou com calma.
— Valorizado? — perguntou, num tom firme e direto. — Elas não te valorizam, Blade. Elas te querem pelo dinheiro, não por quem você é. Tudo bem, você é um homem bonito, mas se perder tudo o que tem, verá que nenhuma delas vai querer ficar ao seu lado.
Ele se surpreendeu com a franqueza dela, e por um instante apenas a observou.
Melina continuou, a voz firme, sem arrogância:
— Eu sei disso porque vi acontecer. Quando meu pai passou por dificuldades, quando o sócio dele o traiu e roubou a empresa, todos aqueles que se diziam amigos desapareceram. Viraram as costas como se ele tivesse uma doença contagiosa. Então, não me venha com esse discurso de que mulheres te valorizam. Elas valorizam o que você tem, não o que você é.
Blade ficou em silêncio por alguns segundos, digerindo cada palavra.
— Você é a segunda pessoa que me diz isso — murmurou, pensativo. — A primeira foi o meu pai.
Ela arqueou uma sobrancelha.
— Então ouça de novo, porque parece que você ainda não aprendeu.
Um sorriso leve, quase imperceptível, surgiu nos lábios de Blade.
— Você fala com uma convicção que assusta.
— Não é convicção, é experiência — respondeu, sem desviar o olhar. — Eu cresci vendo o que a falsidade faz com as pessoas. Vi o meu pai lutar para manter os empregos de centenas de famílias enquanto era humilhado pela mesma sociedade que o aplaudia antes. E agora, ironicamente, sou eu quem carrego parte desse peso, casando com você para que ele não perdesse tudo.
— Melina... — ele tentou interromper, mas ela continuou:
— Apesar de tudo, Blade, o seu pai foi o único que estendeu a mão. Isso faz dele um homem justo, não oportunista. E se ele te colocou nesse acordo, foi porque acredita que você ainda pode mudar.
Ela se recostou na cadeira e cruzou os braços.
— Mas você vai ter que provar isso pra mim.
Ele a observava em silêncio. Nunca uma mulher havia falado com ele daquela forma.
Melina, então, baixou um pouco o tom:
— Eu aceitei esse casamento porque acredito que as famílias não precisam pagar pelos erros de pessoas gananciosas. E já que há uma cláusula exigindo um filho, quero resolver isso da forma mais racional possível.
— Como assim? — perguntou ele, confuso.
— Quero uma inseminação. — respondeu simplesmente. — Não quero i********e f*****a nem gestos falsos. E quero fazer isso longe de Boston, onde ninguém possa nos expor.
Blade engoliu em seco, sem palavras.
Melina prosseguiu, olhando-o com serenidade:
— Quando essa criança nascer, ela ficará comigo. Se quiser conviver com o filho, não vou impedir, mas ele não será criado como você foi. Eu não quero que o meu filho cresça achando que o mundo se curva diante do dinheiro ou da beleza.
Ela pegou a taça de vinho e girou lentamente o líquido, antes de acrescentar:
— Então, sim, Blade. Vamos cumprir o contrato. Mas nos meus termos. E com a minha consciência limpa.
Ele não respondeu. Apenas a observou, sentindo que, pela primeira vez na vida, alguém o enxergava além da aparência — e o julgava pelo que ele realmente era.