Blade apoiou os cotovelos sobre a mesa, o olhar firme, mas a voz agora mais serena e controlada.
— Quero que tenha consciência de uma coisa, Melina — disse com calma, articulando cada palavra como se pesasse o valor delas. — Durante este um ano, se eu conseguir te conquistar, haverá um novo casamento. Mas, dessa vez, será por d****o mútuo, não por obrigação. E nesse recomeço… teremos um filho.
As palavras dele pairaram entre os dois, carregadas de promessas e incertezas.
Melina manteve o olhar fixo, os dedos entrelaçados sobre o guardanapo.
— Você mencionou que o meu comportamento é reflexo da criação que recebi — continuou ele, desviando os olhos por um instante. — Mas a verdade é que meus pais sempre foram rígidos, corretos. A rebeldia veio quando entrei na universidade. Fui seduzido pelo aplauso fácil, pelo brilho de um nome estampado em manchetes. Iludi-me com a falsa sensação de poder.
Passou uma das mãos pelos cabelos, suspirando.
— A beleza… — murmurou. — Hoje a vejo como um fardo, tanto quanto o dinheiro. Ambos atraem quem quer possuir, não quem quer permanecer. Acredite, Melina, até homens tentaram se aproximar, mas não era por mim — era pelo que represento. Noventa e nove por cento das pessoas que cruzaram o meu caminho o fizeram por interesse.
A sinceridade o deixava vulnerável, e essa vulnerabilidade, paradoxalmente, o tornava mais humano.
Melina, ainda silenciosa, avaliava cada gesto dele — o modo como evitava se justificar, mas se expunha.
— Reconheço que é hora de mudar — prosseguiu, num tom baixo, firme. — Não por você, nem pelos meus pais. Preciso provar a mim mesmo que ainda há um homem decente dentro deste nome que carrego.
Fez uma pausa e a encarou diretamente. — Essa é uma promessa pessoal, e você será testemunha dela.
Melina respirou fundo antes de responder.
— Muito bem, Blade. Amanhã peça aos advogados para reverem o contrato e incluírem as cláusulas do novo acordo. Se tudo estiver de acordo, assinamos juntos.
Ele assentiu, e o silêncio entre os dois tornou-se quase confortável.
— Há outro ponto — acrescentou Blade. — E quanto ao serviço doméstico?
Melina endireitou-se na cadeira, o tom firme e elegante.
— d****o que venha apenas uma funcionária, encarregada dos serviços mais pesados. Quanto à alimentação, roupas e organização da casa, cuidarei pessoalmente. Não quero pessoas estranhas convivendo conosco todos os dias. Três vezes por semana será o suficiente.
Ele pareceu surpreso. — Por que limitar tanto?
— Porque estamos sob observação, Blade. — respondeu com calma. — E quando se vive em meio à curiosidade dos outros, qualquer descuido pode se transformar em rumor. Se vamos cumprir esse acordo, precisamos proteger nossa privacidade. Pessoas curiosas têm o hábito de transformar pequenos gestos em manchetes. E eu me recuso a ver nossa convivência comentada por estranhos.
Blade a observou por longos segundos. Havia algo magnético naquela mulher — o equilíbrio entre doçura e autoridade, o modo como conseguia ditar regras com naturalidade, sem elevar o tom de voz.
— Concordo com o seu ponto de vista — respondeu por fim, inclinando-se levemente para frente. — A partir de agora, faremos ambas as partes por merecer. E no que depender de mim, pode ter certeza… não medirei esforços para provar que posso ser o homem que você merece ter ao lado.
Melina manteve o semblante sereno, mas um brilho imperceptível atravessou seus olhos.
— Veremos, senhor Schneider. O tempo é o melhor juiz das intenções.
Um leve sorriso desenhou-se nos lábios dele.
— Então deixemos que o tempo decida — murmurou, erguendo a taça de vinho. — Às novas regras do contrato… e à esperança de que este seja o primeiro acordo que o destino realmente aprove.
Ela tocou a taça dele com elegância.
O som do cristal ecoou pelo apartamento — um brinde sutil, simbólico, que soou mais como o início de um pacto do que de uma simples convivência.
Um Jantar, Duas Promessas
Melina recolheu os pratos com a mesma serenidade com que conduzia as palavras. O som da porcelana, o toque da água corrente e o perfume discreto do sabão preencheram o silêncio agradável que restara entre os dois. Blade permaneceu sentado por alguns instantes, observando-a — o modo natural como se movia, a leveza com que enxugava uma taça, a delicadeza dos gestos.
Levantou-se e se aproximou do balcão, arregaçando as mangas da camisa.
— Eu nunca lavei louça — confessou, com um meio sorriso, quase envergonhado. — Mas se me ensinar como enxugar, prometo que não quebro nada. E guardar, pelo menos isso eu sei.
Melina ergueu o olhar e não conteve o riso.
— É um bom começo. — respondeu, entregando-lhe um pano de prato. — Vamos ter que dividir as tarefas daqui pra frente.
— Sem problemas — disse ele, pegando um dos copos cuidadosamente. — Já que você não quer outras pessoas convivendo conosco, está decidido.
— Exatamente. — afirmou com firmeza. — Quero paz, discrição e rotina. Nada de empregados curiosos, nada de olhos observando a nossa vida.
— Perfeito — respondeu Blade, enxugando o copo com cuidado exagerado, como se estivesse segurando uma joia.
Ela riu novamente, e o som suave fez com que algo dentro dele se aquietasse. Naquele instante, Blade teve certeza: iria se apaixonar por Melina.
Havia nela uma elegância despretensiosa, uma firmeza que contrastava com a delicadeza dos gestos. Era tão diferente de todas as mulheres que passaram por sua vida… tão autêntica.
Pensou no que o pai havia dito certa vez: “Um homem pode conquistar o mundo, mas só uma mulher de caráter o mantém em pé.”
Sorriu consigo mesmo. Ela é o meu ponto de equilíbrio, pensou.
Quando terminaram, Melina enxugou as mãos na toalha e se virou para ele.
— Agora eu vou subir. — disse com um sorriso discreto. — Passei o dia organizando o seu apartamento…
— Nosso. — corrigiu Blade, olhando-a com ternura.
— Certo, o nosso apartamento. — admitiu, arqueando as sobrancelhas. — Fiz compras, arrumei a despensa, a geladeira, preparei o jantar… e, sinceramente, estou exausta. Amanhã preciso acordar cedo pra preparar o seu café.
— Não precisa. — respondeu ele, rápido, como se quisesse poupá-la.
— Precisa, sim. — retrucou, com um brilho nos olhos. — Essa é a minha função. Só quero saber se você não se incomoda se eu continuar meus estudos online.
— Em hipótese alguma. — disse Blade, sem hesitar. — Pode fazer o que quiser.
Melina assentiu, satisfeita.
— Obrigada. — murmurou. — Boa noite, senhor Schneider.
Ele se aproximou, parou diante dela e, num gesto contido, mas cheio de respeito, inclinou-se e beijou-lhe a testa.
— Boa noite, meu anjo.
Ela subiu as escadas lentamente, e ele ficou ali, encostado no balcão, observando o vazio onde o perfume dela ainda permanecia.
Pela primeira vez em muitos anos, Blade Schneider sentiu o lar não como um lugar — mas como uma presença.