VALENTINA RODRIGUEZ
Depois de deixar a Cris no shopping, chegou a vez do meu amorzinho. Entro na escolinha com ele nos braços, e já percebo que o dia não vai ser fácil — ele não quer ficar de jeito nenhum.
— Mamãe, eu não quelo... Eu quelo ir com você.
— Meu amor, você precisa ficar na escolinha. A mamãe tem que ir pra faculdade e a dinda Cris tá trabalhando.
— Mas eu não quelo...
Parte meu coração deixá-lo chorando, mas não tem outro jeito. Espero ele se acalmar um pouco, e só então me despeço. Sei que vou chegar atrasada, mas meu filho sempre vem em primeiro lugar.
Depois de muito esforço, consigo convencê-lo a ficar. Saio praticamente voando dali, ainda angustiada. Chego à faculdade esbaforida, correndo pelos corredores, porque já estou mais do que atrasada para a palestra com o delegado da cidade.
Estava tão distraída que só percebi quando esbarrei em alguém, derrubando uma pilha de papéis.
— P-O-R-R-A! Vê se olha por onde anda, garota!
— D-desculpa… foi sem querer — murmuro, ainda em choque, olhando para a pessoa que acabei de atropelar.
Puta que pariu... Que homem é esse? Um verdadeiro pecado ambulante. Usa uma camisa social branca que se molda perfeitamente ao seu peitoral definido e uma calça azul escura impecável. Os olhos são claros, mas não consigo identificar a cor exata — só sei que são hipnotizantes. Cabelos bem penteados, barba feita e uma presença que desestabiliza qualquer uma.
— Da próxima vez, anda direito. Não saia correndo feito uma louca esbarrando em tudo — diz ele com frieza, enquanto pega os papéis do chão.
Não consigo responder. Só me afasto e entro direto na sala de aula. Ufa. O palestrante ainda não chegou.
— Ufa... — respiro aliviada, indo para o meu lugar.
Minutos depois, a porta se abre... e adivinha quem entra? O deus grego do esbarrão. Ele se apresenta com uma voz firme e envolvente:
— Bom dia. Sou o delegado Brian Sanches, e nesta semana estarei aqui para palestrar sobre criminalidade.
Merda. Ele é o palestrante.
Além de lindo, tem uma voz que arrepia até a alma. Nunca senti isso antes, nem sei explicar. Mas não sou a única impactada. As meninas estão literalmente babando por ele, devorando-o com os olhos.
Por duas vezes, nossos olhares se cruzam. O dele é intenso, firme... quente. Mas faço questão de desviar, fingindo indiferença.
Assim que a palestra termina, ele sai cercado por um bando de alunas sedentas, se jogando em cima dele. E o pior: ele parece gostar.
Depois que todos saem, pego minhas coisas e vou embora. Hora de buscar meu pequeno.
—
BRIAN SANCHES
Faltam poucos minutos para minha palestra. Termino de revisar alguns documentos, pego minhas chaves, carteira e celular. Decido deixar o paletó na sala e parto para a faculdade.
Ao chegar, vou direto ao setor de Direito para alinhar os horários da semana. Na saída... bum! Uma maluca me acerta em cheio, derrubando tudo que estava em minhas mãos.
— P-O-R-R-A! Vê se olha por onde anda, garota!
Falo, irritado. Ela m*l consegue se desculpar. Está vermelha feito um tomate e com os olhos arregalados. Recolho minhas anotações com calma.
— Da próxima vez, preste mais atenção — digo sério.
Ela não responde. Apenas some corredor adentro.
Respiro fundo e entro na sala. Me apresento e começo a palestra. Várias alunas estão me encarando como se eu fosse o último pedaço de carne do açougue, mas já estou acostumado. Algumas são descaradas.
Só uma parece interessada de verdade na palestra: a do esbarrão. Linda, delicada. Olhos grandes, corpo pequeno. Tem um jeito inocente, mas firme. Quando nossos olhares se encontram, ela desvia rapidamente. Gosto disso.
—
VALENTINA
Busquei meu pequeno e fomos direto pra casa. Cris ainda demoraria um pouco no trabalho. Dei banho no Enzo, o deixei assistindo TV e fui preparar o almoço.
Depois de tudo pronto, tomei um banho, vesti um vestidinho leve e me juntei a ele no sofá. Esperávamos Cris para almoçarmos juntas.
Pouco depois, a porta se abre com a gritaria de sempre.
— Miga, chegou a mulher mais gostosa do Rio de Janeiro! — grita ela, rindo.
— Tô morrendo de fome. Mas pelo cheirinho, minha amiga gata já salvou o dia, né?
— Claro, Cris. Só estávamos esperando você pra almoçarmos juntas.
Sentamos, comemos e conversamos. Contei pra ela sobre o delegado gato da palestra. O único defeito? A pose arrogante de superioridade.
— Amiga, eu juro... vou cometer uns delitos só pra ser presa por ele — brinca ela, gargalhando.
— Você é louca!
Conversamos tanto que nem vimos a noite chegar. Depois dei banho no Enzo, preparei o jantar dele e o coloquei na cama com uma historinha. Quando ele adormeceu, saí do quarto pé por pé, fui tomar meu banho... e direto pra cama.
Hoje foi intenso. E aquele delegado… vai me dar trabalho.