Camarim...cap. 4

756 Words
VALENTINA Já no camarim, tiro a fantasia de palco e visto um roupão. Sento na frente do espelho, ainda ofegante, tentando processar o que acabou de acontecer. Se eu não estivesse usando máscara… será que ele teria me reconhecido? Fico encarando meu reflexo, tentando acalmar o coração disparado. A sensação dele me olhando, me consumindo com o olhar, ainda está grudada na pele. Sou arrancada dos pensamentos com a porta sendo aberta sem qualquer aviso. Levo um susto tão grande que quase derrubo o espelho. Quando olho, não acredito. Brian. O delegado. — O que você está... — começo a perguntar, mas ele me corta, frio e direto: — Quanto você quer pra t*****r comigo? Fico em choque. Achei que tivesse entendido errado, mas ele repete. Sem pestanejar. — Qual é o seu preço? Tô disposto a pagar caro. Só quero te comer. Meu sangue ferve. — Que p***a é essa?! — rebato, incrédula. Sem pensar, dou um tapa com toda força que tenho. O som seco ecoa pela sala. — Seu i****a! Eu mereço respeito. Dançar não me torna uma prostituta! E nem que você fosse o último homem do planeta, eu me deitaria com você. Ele apenas sorri, um sorriso torto, perigoso. Em dois passos, me empurra contra a parede. Sinto o impacto gelado nas costas e o calor dele na frente. Sua barba roça meu pescoço, provocando arrepios. Ele morde suavemente o lóbulo da minha orelha, e sua voz grave explode no meu ouvido: — Nunca nenhuma mulher teve coragem de me bater. E você, uma dançarinazinha, acha que pode? — Acho que vou ter que te ensinar a respeitar uma autoridade... Ele se aproxima mais, me pressionando com o corpo. E eu... sinto. Sinto o p*u dele, duro, colado em mim. O ar some dos meus pulmões. Estou ofegante, tremendo, mas não consigo me mover. Suas mãos deslizam pelas minhas pernas. Lentamente. Como se me decifrasse com os dedos. E isso... isso me deixa molhada. Como se meu corpo tivesse traindo a minha mente. Nunca senti algo assim antes. Mas então... Ele sobe mais. E quando sinto que vai tocar onde ninguém mais tocou desde... desde aquele dia, o pânico me domina. As lembranças explodem como bombas no meu peito. Empurro ele com força, o desespero transbordando. — Para! Por favor… para! — grito, com lágrimas caindo sem controle. Ele para. Me encara, confuso. Me afasta devagar, como se estivesse tentando entender o que aconteceu. — Saí daqui, seu i*****l! Me deixa em paz! Minha voz falha, mas a dor no olhar fala por mim. Ele dá um passo para trás, sem dizer uma palavra. Apenas me encara por um instante, e então vira as costas e sai. Caio no chão. O roupão m*l cobre minhas pernas trêmulas. Cubro o rosto com as mãos e choro. Como uma criança. Não só pelo susto. Mas por algo muito pior. Eu estava gostando. Gostando de como ele me tocava. Gostando de como ele me dominava. E, ao mesmo tempo, me odiando por isso. Mas foi só fechar os olhos... e tudo voltou. A dor. A violência. O meu ex-namorado, aquele monstro que destruiu a minha inocência. Desde aquele dia, nunca mais deixei homem algum se aproximar. Nunca mais me permiti sentir. E agora, ali naquele camarim, quase me perdi novamente. Tento me recompor. Respiro fundo. Enxugo as lágrimas. Levanto do chão. Visto-me com calma. Tiro a máscara. Pego minha bolsa e, antes de sair, olho discretamente para o salão pela fresta da porta. Ele está lá. Sentado, com uma das dançarinas da Rosa no colo, beijando os s***s dela. O whisky ainda na mesa. Sinto uma pontada no peito. Raiva? Decepção? Inveja? Não sei. Só sei que me machucou. — Tchau, Seu Carlos. Até amanhã — digo ao segurança na porta, forçando um sorriso. — Boa noite, Val. Dirija com cuidado — ele responde com gentileza. Entro no carro, jogo a bolsa no banco do passageiro e arranco dali como se pudesse fugir da noite. Quando chego em casa, é quase meia-noite. Entro em silêncio, tomando o cuidado de não acordar o Enzo. Vou direto pro quarto. Tiro a roupa. Entro no banho. Deixo a água quente escorrer sobre meu corpo, tentando lavar tudo o que ainda arde dentro de mim. Minutos depois, coloco meu pijama e me jogo na cama. Exausta. Confusa. Molhada por dentro, mas queimada por lembranças que ainda me atormentam. Fecho os olhos e só vejo um rosto. Brian Sanches. E isso me assusta mais do que qualquer coisa.
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