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801 Words
Capítulo 4 Lorena narrando Entro em casa e a madrugada já beira o amanhecer. A luz fraca da sala revela Alexandre sentado na poltrona com um copo de uísque na mão. O olhar dele queima, mas o silêncio é o primeiro a me fuzilar. Quando ele me vê, pousa o copo sobre a mesa devagar, como se fosse controlar o próprio ódio gota por gota. — Aproveitou a noite? — ele pergunta, a voz carregada de ironia. — Foi maravilhosa — sorrio, caminhando com calma. — Você não tem ideia de quanto foi maravilhosa. Ele fecha a cara. A mandíbula trinca. — Vagabunda — ele rosna, se levantando com os punhos cerrados. — Como é que é? — pergunto, parando em frente a ele. — Vagabunda. — Ele repete, firme, como se a palavra fosse uma sentença. — Eu não sou uma das mulheres que você compra por aí, Alexandre. — Mas se comporta como uma delas — ele se aproxima, olhos em brasa. — Sou seu marido. E você me traiu. Com meu melhor amigo. Eu sorrio. Lenta. Provocativa. — O corno resolveu falar. Por que não fez escândalo? Por que não invadiu o quarto gritando? Ia ser divertido ver todo mundo te vendo pelo que você é: um fraco. — Você me deve respeito, Lorena! — ele grita, agarrando meu braço com força. Olho para a mão dele no meu corpo. Depois encaro os olhos dele. — Eu nunca vou respeitar um verme como você. Eu tenho nojo. Nojo, Alexandre. — Seis anos engolindo sua arrogância. Isso vai acabar. — Vai acabar quando você finalmente assumir o trono do papai? — pergunto. — Você realmente acredita que algum dia eu vou me curvar pra você? Dizer "amém" pras suas ordens? Que piada. Ele se cala por um instante. Hesita. Depois solta, amargo: — Então o Juan te contou. — Ele não precisou. Eu te conheço. E diferente de você, eu penso. Você casou com a mulher errada se queria uma esposa de coleira. — Você fala demais, Lorena. É revoltada demais. Se seu pai tivesse deixado, eu teria te domado. — Domar? — rio com sarcasmo. — Desde quando eu sou algum animal pra ser domado? — As coisas vão mudar dentro dessa casa. — Concordo. E já escolhi meu vestido pro seu enterro. Vermelho. Vai combinar com o alívio. Ele se aproxima, os olhos quase negros de tanto ódio. — Você tá brincando com fogo. Um dia essa sua marra vai acabar. Quando seu pai não estiver mais aqui, eu vou fazer o que quiser com você. E você não vai ter pra onde correr, sua mimada de merda. — Eu não sou mimada. Nunca fui. A mesma raiva que eu sinto de você, eu sinto dele. E não vou precisar da proteção de ninguém pra me livrar de vocês dois. Os dias desse casamento estão contados, e eu vou comemorar o dia em que não tiver mais que olhar pra essa sua cara patética. — Só se você morrer antes, Lorena. — Ele me encara. — E quer saber? Talvez isso nem seja uma ideia tão r**m. Dou um passo pra trás. Mas não por medo. — Isso é uma ameaça? — É um aviso. Continua me envergonhando com essas atitudes infantis... e você vai descobrir do que eu sou capaz. — Você deveria pensar duas vezes antes de ameaçar quem tem muito mais poder do que aparenta — sorrio, fria. — Boa noite, marido. Tiro os sapatos e jogo nos pés dele antes de subir as escadas sem olhar pra trás. Assim que tranco a porta do quarto, ligo para Marcela. Ela atende com a voz ainda sonolenta. — Lorena... você sabe que horas são? — A boate ainda tá aberta, não tá? — Sim. Mas... o que houve? Não era pra você estar dormindo? — Preciso de uma coisa. Descubra com quem o Alexandre está se envolvendo. Quero nome, endereço e histórico. — Rolou ciúmes? — Não. Rolou estratégia. Quero que você suma com ela. — Tá falando sério? — Leva ela pra aí. Mas só depois que voltarmos ao Brasil. Quero tudo milimetricamente planejado. — Certo. Eu te aviso quando tudo estiver pronto. — Obrigada, Marcela. Desligo. Alexandre tem alguém. Alguém fixa. Isso o torna vulnerável. E se tem uma coisa que eu aprendi nesse jogo... é que todo homem perigoso esconde uma fraqueza em forma de mulher. Ele me ameaçou. Achou que me intimidaria. m*l sabe ele que meu jogo já começou há muito tempo. Que cada peça foi movida com precisão. Que nem ele, nem meu pai, sairão vivos dessa. A máfia tem regras. E todas foram feitas por homens. Está na hora de mudar isso. E eu vou mudar. Quando eu me tornar a chef.
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