capítulo 3 Grego

1132 Words
GREGO Amar? Sei lá… Eu já fui esse cara, que se perdia nas palavras e nos gestos de quem dizia te amar. Mas agora? Não sou mais esse cara, não. Eu não sou mais o tipo que se entrega, que se perde, que acredita. Mulher? f**a-se. Elas não têm espaço aqui, não mais. Só a minha filha, a Karen, que é o que realmente importa. O resto… é só sujeira, é só ilusão. O meu coração? Não existe mais. Tá cheio de raiva, de dor, de um monte de merda que me fizeram engolir. Minha filha… Ela é o que me mantém vivo. Não tem como explicar direito, mas também é o que me destrói por dentro. A única coisa que é verdadeiramente minha. Eu sou tudo por ela. Quando a Laís me fodeu, com mentiras, com traição, me fez acreditar em algo que não existia, fechei minha alma. Fechei meu coração, e todo o resto morreu pra mim. Não me interessa mais nada, não me interessa mais ninguém. Só ela. Só minha filha. Os primeiros dias com a minha pequena foram difíceis, mano. Eu não sabia nada de criança. Nunca pensei que fosse ter que trocar fralda, dar mamadeira, acalmar um choro desesperado. Eu tava perdido, não sabia o que fazer. Ela chorava, eu olhava pra ela, com aquele rostinho que partia meu coração, e ao mesmo tempo, me dava uma vontade de quebrar tudo. Era tudo tão novo, tão desafiador. Cada dia parecia uma batalha, mas eu sabia que precisava estar ali, precisava ser forte por ela. Dois anos. Foram dois anos de guerra. Eu e ela, nos completando, nos entendendo. Eu, tentando ser o pai que ela merecia, e ela, aprendendo a confiar em mim. E, por mais que a raiva da Laís ainda estivesse dentro de mim, tinha momentos que… cara, tinha momentos em que eu olhava pra ela, e tudo parecia fazer sentido. Ela já tava andando. E a primeira palavra dela? "Papai". p***a… aquilo foi um golpe no meu peito. Eu quase chorei, porque… quem nem eu, que já não acreditava em mais nada, vi minha filha falar "papai", e eu não sabia o que fazer com tanta emoção. Hoje, a Jussara levou minha pequena. Eu sabia que ela precisava de um tempo de mim, de brincar com outras crianças. Eu também. Já fazia muito tempo que eu não tinha um minuto pra mim. Então, aproveitei o momento e fui tomar uma cerveja. Só pra tentar acalmar a cabeça, porque tava difícil. Eu só queria poder pensar, por um segundo, sem o peso de ser pai. Mas, claro, o Tubarão chega do jeito dele, sem aviso. Entra direto na minha casa, pega uma cerveja e se joga no sofá, como se fosse o dono. Eu olhei pra ele e senti uma vontade de mandar ele se f***r na hora. Grego: c*****o, tá achando que tá na casa da tua mãe, viado? Aqui não é teu lugar não. Ele me olhou com aquele sorriso de sempre, como se fosse da casa dele. Já sabia o que ele ia falar. Tubarão: Que casa de mãe, o que, Grego? Isso aqui é a casa do cara que manda no morro. Cê não sacou ainda? Agora tu virou paizão, é? Só cuidando da filhinha e se esquecendo do morro. E quem comanda p***a toda agora sou eu. Eu fui perdendo a paciência na hora, cara. Ele não tinha o direito de falar assim. Grego: Vai tomar no teu cu, irmão! Não é qualquer um que vai chegar aqui e sair falando merda, não. Fica esperto. Tubarão: Vai nessa, Gregório. Você sabe que eu te curto. Mas cê tá aí, todo preocupado com a filha e se esquecendo do morro. Vai ficar de boa cuidando da menininha ou vai voltar pro jogo? Tô ligado que tu ainda sofre pela vaca da Laís. Grego: Sofrer pela Laís? Nunca, viado! Vou te contar uma coisa, a Laís foi a primeira mulher que me fez acreditar que era capaz de amar de verdade. E olha no que deu: traição, mentira, ela me fez de o****o. Quando ela me disse que tava grávida, eu já sabia que tinha algo errado. Fiz o teste sem ela saber, quando a Karen nasceu.E, quando vi que a Karen era minha, senti um alívio, mas ao mesmo tempo, a raiva daquilo tudo me consumia. Tubarão: c*****o, mano! Ela tava grávida e ainda dando pra outro? v***a desgraçada. Eu não sei como você aguentou aquilo, cara. Eu, no teu lugar, teria pirado. Grego: Eu segurei, p***a. Não tinha escolha. A Karen tava ali, ela não tinha culpa. Ela precisava de mim, então eu aguentei. E, quando ela nasceu, parecia que tudo tinha um propósito. Mas depois, quando vi que a Laís ainda tava com o Pedro, foi o fim. Aí, tu sabe o que aconteceu. Agora, me responde uma coisa: quando tu jogou o caixão dela no mar, tu conferiu se ela realmente tava morta? Tubarão: Claro, p***a. Uma hora depois, eu abri o caixão e vi ela cheia de marcas, mordida pelas cobras. Não sobrou nem rato pra contar Cara cê e louco de criar essas p***a de cobra. Grego: E daí? f**a-se! Eu crio cobra, n**o cria cachorro. Cada um faz o que quer da vida. E sobre o morro... Não vou voltar, não. Eu quero mais é curtir o tempo com a minha filha. Se algum dia eu precisar de algo mais, pago uma p**a e f**a-se. Mulher, pra mim, agora é só dor. Só sofrimento. Não tem mais espaço pra nada além de mim e da Karen. Quando eu terminei de falar, a razão da minha vida entrou pela porta. A Jussara trouxe a minha filha, e ela correu até mim. Ela foi direto no meu colo, e a raiva de tudo desapareceu só na hora que ela me chamou. Grego: E aí, bonequinha do papai! Brincou com a titia? Ela riu e começou a brincar com a minha barba. Eu só fiquei ali, com o coração mais calmo. Ela é tudo que eu tenho, e quem me fodeu no passado que se f**a. Agora, é só eu e ela. Karen: Pa-pai! Grego: Isso, minha pequena. Papai aqui, sempre. Jussara: Se quiser que eu leve ela amanhã de novo, é só falar. Grego: Valeu, mas tô tranquilo. Quando precisar, te chamo. Tubarão: Tamo junto, mano. Qualquer coisa, é só chamar. E ele foi embora. Fiquei ali, sozinho com a minha filha. Ela adormeceu no meu colo, e eu fiquei admirando ela, o único anjo que não me abandonou. A Laís foi a maior filha da p**a que eu já conheci, teve coragem de dizer que ia vender minha filha, e nem ligou pra ser mãe. Agora, a minha boneca tá comigo. E a v***a tá morta.
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