1 - Amigos gatos
Hyle
Olho para a longa estrada de cascalho que leva até a casa.
— Obrigado. É do meu irmão.
O taxista apenas dá de ombros. Entrego uma nota de vinte e ele fecha a janela sem nem se preocupar em me oferecer o troco.
— Babaca — resmungo enquanto ele se afasta.
Fico parada por um segundo, olhando para minha bolsa no chão. O cheiro do oceano quase me domina. Faz anos que não vou à praia, desde que era uma garotinha. Hoje em dia, moro na Filadélfia e estudo na Universidade da Pensilvânia. Estou acostumada à cidade grande, ao barulho dos carros, sirenes, moradores de rua tentando passar a mão na minha bunda... O de sempre. Mas aqui fora, o mundo parece completamente diferente.
Começo a subir a entrada da garagem em direção à casa. Ela é imensa, cercada por dunas brancas e intocadas, com uma estrutura moderna de vidro e aço. A praia fica a poucos metros de distância, e consigo ouvir as ondas quebrando na areia. O sol está forte, e preciso cobrir os olhos com a mão enquanto arrasto minha mala, tropeçando feito uma i****a.
Definitivamente, não estou vestida para isso. Estou com um short jeans curto e uma camiseta velha dos Ramones. Me sinto completamente deslocada nesse cenário de luxo.
É uma mansão. Eu sabia que meu irmão era rico, mas isso já parece exagero. Vi algumas fotos depois que ele comprou o lugar, e meus pais me contaram sobre a casa, mas ainda não a tinha visto pessoalmente.
Julian é nove anos mais velho que eu. Tenho vinte e um, e ele acabou de fazer trinta este ano. Nunca fomos muito próximos, já que basicamente crescemos em casas diferentes. Quando conversamos, ele gosta de me lembrar que eu fui um "erro de percurso" — e, honestamente, acho que é verdade. Meus pais sempre dizem que não, principalmente meu pai. Ele sorri e fala: "Você foi um presente, não um erro."
Isso é bem típico do meu pai. Meus pais são acadêmicos muito bem-educados, ou pelo menos costumavam ser. Minha mãe trabalhou na Glover por anos, e é por isso que estou estudando lá. Meu pai ensinava na St. Louis, outra universidade da cidade. Antes disso, ele era químico. Minha mãe sempre foi professora, pelo que sei, e dava aulas de artes liberais. Juntos, brincavam que cobriam todas as áreas acadêmicas.
Agora, estão aposentados. Eu queria que não estivessem. Preferia muito mais ir para casa, mas estou presa aqui. Meus pais estão em um safári, a casa deles está em reforma, então fiquei sem opção.
Julian é minha única alternativa. Fui despejada ontem... ou algo assim. Meu senhorio foi preso por fabricar metanfetamina no porão e, aparentemente, o prédio não é mais seguro para morar. Então, tive que arrumar minhas coisas e sair às pressas. Julian concordou em me deixar ficar até eu encontrar um novo lugar na cidade, mas ele não pareceu muito animado com a ideia.
Eu também não estou. Nunca imaginei que passaria minhas férias de verão em Nova Jersey, de todos os lugares.
Mas acho que poderia ser pior.
Chego à porta da frente, uma coisa colossal, e aperto a campainha. O som ecoa lá dentro, e imagino tetos altos, paredes decoradas com arte moderna, tudo branco, aço e vidro.
A porta se abre lentamente, mas não é Julian quem está ali.
Em vez disso, vejo um dos homens mais bonitos que já vi na vida. E ele não está usando camisa.
Meus olhos pousam no peito dele, surpresos, antes que eu me recomponha.
— Ah, hã... Essa é a casa do Julian?
Não sei por que estou perguntando. Sei que essa é a casa do meu irmão.
— Claro que sim. — Ele cruza os braços, me analisando. — Você é Hyle?
Assinto rapidamente.
— Sim. Sou a irmã dele.
Ele sorri.
— Bem-vinda, então. Eu sou Kyle.
Apertamos as mãos de um jeito meio estranho.
— Prazer... Hã, você é amigo do Julian?
— Claro. Aqui, deixa eu pegar isso.
Ele pega minha bolsa sem esforço e a joga no ombro musculoso. Tenho a chance de observar suas costas definidas enquanto ele se vira em direção à casa.
— Eu e meus amigos estamos hospedados aqui. Você vai conhecer a galera. Julian disse que você estava vindo.
— Ah, desculpe por aparecer assim. Não queria atrapalhar.
— Besteira. — Ele me lança um sorriso charmoso e perfeito. Seu rosto bonito está coberto por uma barba rala, e acho que suas costas são tão quentes quanto o peito. — Estamos felizes em ter um pouco de feminilidade por aqui.
Não me sinto muito feminina com essa camiseta folgada, mas não comento. Apenas o sigo para dentro da casa.
E é exatamente como eu esperava: um mar de decoração branca minimalista, superfícies metálicas brilhantes, o típico cenário de um solteiro rico.
O corredor principal (tetos altos, um lustre moderno) leva a uma grande sala. À direita, sofás confortáveis em frente a uma tela gigante. Na parede do fundo, máquinas de fliperama retrô. À esquerda, uma cozinha impecável.
E lá dentro, quatro caras absurdamente bonitos estão espalhados pelo ambiente. Dois jogam pingue-pongue, um prepara uma bebida e outro está lendo no sofá.
Assim que entro, todos param o que estão fazendo e olham para mim.
— Ei, pessoal — diz Kyle. — Essa é a irmã do Julian, Hyle.
Os quatro se erguem quase ao mesmo tempo, fazendo eu me sentir ridiculamente exposta. A bolinha de pingue-pongue quica no chão, o cara da bebida para no meio do gole, e cinco pares de olhos agora estão cravados em mim.
Estou no centro das atenções, cercada por cinco caras lindos que me olham fixamente. E não tenho a menor ideia do que fazer.
— Uh, oi — eu digo estupidamente.
Os dois caras na mesa de pingue-pongue abaixam suas raquetes e se aproximam.
— Ei — diz o da direita. Ele é bronzeado, com cabelo loiro curto e olhos azuis brilhantes. Ele é alto e musculoso, como todos os caras na sala.
Na verdade, elas são todas incrivelmente atraentes. Tipo, sério, meu irmão deve ter conhecido eles enquanto estavam trabalhando como modelos de roupas íntimas ou algo assim.
Aperto a mão do cara.
— Eu sou Dennis — ele diz.
— Matt — o outro cara diz. Ele tem cabelo preto, um pouco de barba, e é mais rústico que os outros, mais musculoso, mas de um jeito bom. Eu aperto a mão dele também, me sentindo perdida.
— Aquele ali é o Chris — diz Kyle, apontando para o cara que está fazendo uma bebida. Ele sorri e acena para mim. Ele é mais elegante que os outros, menos musculoso, mas não menos tonificado. Seu cabelo é mais longo, preso em um coque bagunçado, e ele tem uma barba desgrenhada.
— E esse é Kevin. — O cara no sofá se levanta e acena para mim, encostando-se no encosto dele.
— Vocês são todos amigos do Julian? — pergunto, olhando para Kyle.
Ele sorri.
— É, eu sei. Você nunca nos conheceu antes. Ele não fala muito sobre você.
— Não é de surpreender — eu digo.
— É uma pena, no entanto — Matt interrompe. — Eu não sabia que a irmã dele era tão fofa.
Ele sorri para mim e eu coro.
— Uh, obrigada.
— Eu e Julian nos conhecemos na faculdade — diz Kyle. — Então conhecemos Dennis não muito tempo depois disso.
— Eu os conheci logo depois da faculdade. Jogávamos futebol americano juntos — Chris diz, se aproximando e tomando um gole de sua bebida. — Matt, quando você entrou para a equipe?
Ele dá de ombros.
— Acho que foi em alguma festa. Julian me disse que eu sou péssimo em pingue-pongue, então chutei a b***a dele e mostrei que ele não sabe de nada.
Os caras todos riem.
— Eu lembro disso — diz Kyle.
— E quanto ao Kevin? — Chris pergunta.
— Ele comprou uma das minhas pinturas — diz Kevin, juntando-se ao grupo. — Não consegui me livrar dele depois disso.
— Você é um artista? — Kyle pergunta sarcasticamente.
Kevin revira os olhos e olha para mim.
— Eles são um bando de imbecis. Não conhecem nada de arte, a cabeça de cima deles é muito sem cultura, só pensam com a de baixo.
Os caras riem de novo.
— Então vocês todos todos andam com Julian?
— Claro — diz Matt. — Seu irmão é um cara legal.
— Onde ele está, afinal?
Kevin acena para cima.
— No quarto dele. Vou buscá-lo.
— Ok. Obrigado.
Kevin sai em direção às escadas e eu me viro para os outros quatro caras bonitos. Matt e Chris vão até a mesa de pingue-pongue, me deixando com Dennis e Kyle.
— O que te traz à nossa festinha? — Kyle me pergunta.
— Fui despejada — eu digo.
Ele levanta uma sobrancelha, um pequeno sorriso no rosto.
— Sexo barulhento?
Eu o encaro boquiaberta.
— Desculpe?
— Seu sexo barulhento fez com que você fosse despejada?
— Huh, não, — eu digo, incapaz de me impedir de corar e me imaginar com ele. — Não, o senhorio estava cozinhando metanfetamina no porão.
Os dois riem.
— p**a merda — diz Dennis. — Você está falando sério?
— Muito sério. Aparentemente, a metanfetamina é realmente r**m para prédios.
— Você está na Glover, certo? — Kyle pergunta.
— Sim, como você sabia?
— Julian mencionou isso. E acho que sua mãe trabalhou lá também.
Eu aceno.
— Certo de novo.
— Kyle é um bom ouvinte — diz Dennis. — Ele é o trabalhador da construção civil mais sensível que já conheci.
Eu levanto uma sobrancelha.
— Trabalhador da construção civil? — Ele parece um modelo masculino.
— Eu tenho uma construtora — Kyle diz, cutucando Dennis. — Dennis aqui é só um babaca ciumento.
— Dificilmente. Prefiro passar fome do que trabalhar em um emprego de verdade. — Ele cruza os braços.
— O que você faz? — Eu pergunto a ele.
— Dennis é um jogador profissional de pôquer — diz Kyle.
Dennis suspira.
— Sim, eu sou.
— Uau. Isso é muito legal. Tipo, um daqueles super jogadores que ganham a bolada em torneios?
— Eu fiz isso uma vez — ele admite. — Mas principalmente em torneios menores.
— Coisas online também — acrescenta Kyle.
— O que você está estudando? — Dennis me pergunta.
— Marketing — eu digo. — Estou um ano atrasada porque troquei de literatura depois do meu primeiro ano, para grande aborrecimento da minha mãe.
— Não há nada de errado em mudar as coisas — diz Kyle.
— Fazer o que os outros querem é um saco — Dennis responde, sorrindo para ele. — f**a-se.
Kyle ri e o empurra. Eu observo os dois caras brincando um com o outro um pouco antes de minha atenção ser desviada por Julian entrando na sala.
— Aí está você — ele diz. — Desculpe, eu estava lá em cima. Ocupado com o trabalho.
— Como sempre — diz Kevin, me lançando um olhar enquanto volta para o sofá.
Dou um abraço estranho no meu irmão. Não o vejo desde o último Natal.
— Como você está? — pergunto a ele.
— Estou bem. Como foi a viagem?
— Tranquila — eu digo. — Muito obrigado por me deixar ficar aqui.
— Sem problemas. Vamos, vou mostrar o seu quarto. — Ele olha para os caras. — E todos vocês, fiquem longe da minha irmã. Ela está fora dos limites.
Fico vermelha como uma beterraba enquanto todos os caras fazem comentários. Nós corremos para fora da sala e eu tento não imaginá-los olhando para minha b***a.
— Não ligue para esses caras — Julian diz. Meu irmão é mais baixo do que eles, muito mais fora de forma, mas ele ainda parece bem, mais saudável do que eu lembrava.
Julian nem sempre foi rico. Ele começou a comprar e negociar Bitcoin e outras criptomoedas — ou seja lá o que for. Ele tentou me explicar isso no Dia de Ação de Graças, dois anos atrás, mas, para ser sincera, eu não prestei muita atenção. O que importa é que ele entrou nesse mundo desde o começo e, agora, ganhou milhões por causa disso. Ainda negocia, comprando e vendendo para lucrar, mas acho que, hoje em dia, é mais um passatempo do que uma necessidade.
— Estamos tendo um momento de rapazes aqui — diz ele. — Mas você é mais do que bem-vinda para ficar. Só estou explicando por que tem um bando de caras espalhados por aí.
— Entendi. Obrigada de novo pelo convite.
Ele acena com a mão, como se não fosse nada.
— Sem problema. Sei que não passamos muito tempo juntos. — Ele para no pé da escada, hesitando. — Isso é principalmente culpa minha. Mas talvez possamos mudar isso enquanto você estiver aqui?
Eu sorrio para ele.
— Claro. Seria ótimo.
— Legal. — Ele parece aliviado. — Vem, seu quarto é lá em cima.
Subo as escadas atrás dele. Assim que chegamos ao primeiro andar, uma pintura enorme me chama a atenção. É uma paisagem urbana abstrata, cheia de cores vibrantes e pinceladas expressivas. Paro no meio do caminho, hipnotizada pelo caos harmonioso das cores e do respingo de tinta.
— O Kevin fez isso — comenta Julian. — Incrível, né?
— Demais — concordo, ainda absorvendo a arte.
Dou um último olhar para a pintura antes de segui-lo. Minha cabeça gira um pouco. Não acredito que aquele cara lindo lá embaixo tenha pintado isso. Ele não tem cara de artista. Na minha cabeça, artistas são sempre caras magros, de jeans justos e cigarros mentolados, como os que vejo na cidade. Mas acho que preciso repensar isso.
A casa é gigantesca. Lá de cima, tenho uma noção melhor da grandiosidade do lugar.
— Os caras estão nesses quartos — diz Julian, apontando para algumas portas ao longo do corredor. — Mas você está na outra ala, comigo.
Ele me guia por um longo corredor, dobramos uma esquina e depois outra. Este corredor é diferente do primeiro, tem menos portas, mas parece ainda mais luxuoso.
— Aqui tem a sala de exercícios, uma cozinha, sauna... Fique à vontade para usar o que quiser — ele diz, gesticulando para algumas portas. — E este é o seu quarto.
Paro diante de uma porta preta com uma maçaneta dourada. Julian a abre, e quando entro, solto um palavrão sem pensar.
— p**a merda...
Ele ri.
— Gostou?
— Isso aqui é maior que meu apartamento na cidade. — E muito, muito melhor, penso comigo mesma.
O espaço parece um pequeno apartamento de luxo, só que sem cozinha. O banheiro é moderno e elegante, a cama é enorme, e a sala de estar tem um sofá tão confortável que parece me convidar a me jogar nele. Eu poderia passar um mês inteiro aqui sem nem sair do quarto.
— Ótimo. Bom, se precisar de alguma coisa, meu quarto é no final do corredor. Tem toalhas limpas e tudo o que você precisar no armário. Se quiser lavar suas roupas, é só deixar do lado de fora da porta.
— Vão lavar para mim? — Ergo as sobrancelhas, desconfiada.
Julian sorri.
— Tenho um pouco de ajuda por aqui.
— Julian, sério?
Ele dá de ombros, como se fosse óbvio.
— Se é pra ser rico, que seja direito, né? Além disso, eu pago bem e não exploro ninguém.
Eu balanço a cabeça, rindo baixinho.
— Isso é surreal.
— Você é minha convidada. Aproveite. Os caras definitivamente aproveitam.
Dou um sorriso.
— Obrigada, Julian.
— Claro. Fique à vontade para explorar. A praia é particular, a nossa parte fica entre dois marcadores brancos, você vai ver lá fora. Se precisar de mais alguma coisa, só me chamar.
— Acho que estou bem, obrigada.
— Ótimo. Então, relaxa e aproveita. Fico feliz que você esteja aqui.
Ele me lança um último sorriso antes de sair e fechar a porta atrás de si.
Fico parada no meio do quarto, sentindo um leve torpor. Eu sabia que Julian estava bem de vida, mas nunca parei para pensar no quanto. Isso aqui é outro nível.
E pensar que iria odiar a ideia de passar um mês aqui, esperando nossos pais voltarem do safári... Mas agora?
Agora talvez não seja tão r**m assim.
Estou morando em uma casa espetacular com cinco caras que parecem modelos de revista. Sim, meu irmão está aqui, mas isso não estraga exatamente o cenário. Tenho um mês inteiro para relaxar, aproveitar a praia e, quem sabe, me divertir um pouco.
Talvez minha sorte esteja finalmente mudando. Eu nem estou mais brava com meu senhorio por cozinhar metanfetamina.
Solto um suspiro, abro minha mala e começo a me acomodar — tentando ao máximo não imaginar como seria ficar com um daqueles caras lá embaixo.