Dean conduzia lentamente rua abaixo. As lembranças penetravam em sua mente, desagradáveis, perturbadoras, bombardeando com um cumulo de emoções encontradas. Tantas coisas haviam mudado e ainda assim pareciam seguir iguais. Vinte anos deveriam ter apagado qualquer rastro de sua vida passada. Mas, então viu a tampa do bueiro da rua e lembrou que uma vez ficou grudado debaixo. Viu a arvore da esquina e não pode evitar fazer uma careta de dor ao lembrar-se da vez que caiu dela e ficou sem respiração.
E lembrou-se da sua mãe, tão linda, tão distraída, tão divertida. Sempre se ocupando de qualquer coisa, menos de seus filhos. Ria por nada, ou ao menos, nada que ele pudesse entender. Lembrou das muitas babas e governantas que haviam desfilado pela a casa, sempre trabalhando a jornada completa, e como, sempre que podia, sua mãe descontava nelas. Lembrou que seu pai normalmente não estava em casa. Trabalhando muito e quando chegava, queria relaxar. Isso significava ficar na piscina sem que os meninos os incomodassem, ou ir jogar golfe com os amigos. Sempre que seus pais estavam juntos, discutiam.
Dia após dia, sempre igual. Nem sequer o nascimento de Camile e Jaqueline havia conseguido que seus pais freassem o ritmo de vida ou se voltassem mais caseiros. Não eram felizes juntos, mas tampouco separados. Então, aconteceu o acidente de carro em que perderam a vida, e a rotina diária de Dean veio abaixo. Passando ao longo do caminho da entrada da casa, estacionou próximo e desligou o motor. Transcorreram alguns minutos: sem mover-se do assento, observou a casa em que havia vivido nove anos. Parecia à mesma. Paredes de madeira branca. Persianas verdes. Telhado cinza. Porta principal vermelha.
O jardim estava fora de moda, mas bem cuidado. Algumas árvores haviam crescido, outras tinham desaparecido. Não havia tido muitas mudanças. Então olhou com mais atenção. As tabuas do telhado pareciam um pouco gastas. A pintura das paredes estava descascando em alguns pontos. O caminho de entrada e a calçada mostravam algumas rachaduras aqui e ali. Os canos se viam oxidados. Talvez se devesse a sua experiência em reformas, mas via cada pequena falha, cada sinal que delatava abandono. Antes de dar-se conta, havia saído do carro. Com os braços cruzados e apoiados no teto do veículo, deixou que o penetrasse a visão da casa e do jardim, a sensação de estava vendo-o todo como um adulto.
Maldito fosse, era estranho estar em “casa”.
Havia jogado bola com os meninos do bairro no mesmo jardim. Tinha estado a ponto de afogar-se na piscina da parte detrás ao brincar um dia, quando estava descendo na água. Também uma vez havia perseguido a Jimmy Barker ao redor da casa até que Jimmy tinha terminado tropeçando e tinha perdido uns dos dentes da frente. Mais além da piscina do pátio traseiro, tinha uma floresta na qual ia quando queria estar sozinho.
Algumas coisas não tinham mudado; outras o tinham feito de maneira irreversível.
Que aspecto teria agora suas irmãs? Estariam tão danificadas e desbotadas como a casa? Acaso isso lhe importava?
Afastou-se do carro de aluguel, fechou a distância e guardou as chaves no bolso dos jeans. Os óculos de sol antiofuscante que usava protegiam os olhos, enquanto se enfiava no caminho rumo à porta principal. Sentia um peso no peito como se fosse chumbo e um punho invisível apertava-lhe a garganta, mas não vacilou. Podiam chamar-lhe muitas coisas, mas não covarde.
Bateu na porta e esperou.
E esperou um pouco mais.
Havia feito todo esse caminho para encontrar a casa vazia? Deveria esperar um pouco pelos arredores até que regressem ou talvez fosse melhor voltar mais tarde? Depois de alguns segundos, Dean acreditou ouvir barulho de água que vinha da parte detrás. Talvez houvesse alguém ali, desfrutando do bonito dia de verão na piscina. Com os polegares metidos nos bolsos dianteiros, desceu da varanda e rodeou a casa. Havia um monte de erva daninha, ainda que a maior parte permanecesse camuflada entre o arbusto bem cortado. A meio caminho do pátio traseiro detectou vozes femininas que conversavam animadas. Mais especificamente, detectou a voz grave de Eve.
Cheio de curiosidade, tornou a caminhar e viu a duas mulheres tomando sol em espreguiçadeiras tombadas junto à piscina. Encontravam-se perpendiculares a ele, de cara para o sol, e pareciam muito entretidas. Uma delas usava um enorme chapéu, óculos de sol e um maiô azul de uma peça do tipo dos que usavam para natação. De alguma maneira sabia que era Camile, a julgar pelo o estilo conservador da peça. Uma sensação de saudade começou a corroer as entranhas e, durante uns segundos, não pode afastar o olhar de sua irmã.
Sua irmã... Uma mulher adulta, magra, alta e evidentemente recatada, a julgar pelo tipo de biquíni que usava. O desconhecido começou a expandir-se, mas Dean o sufocou sem piedade e seu olhar passou a outra mulher.
Eve.
Ela usava um pequeno biquíni preto que deixava a vista muito mais pele. Tinha-a dourada pelo o sol, e um atrevido piercing no umbigo reluzia baixo o resplandecente sol de verão.
—Não vai acreditar no que fiz ontem à noite.
Sem perceber a presença de Dean, Eve lançou os óculos atrás do escuro cabelo. Estava molhada, a água deslizava, sinuosa pela a garganta, o ventre e as coxas. O instinto predador se apoderou dele, fazendo que a boca curvasse em um sorriso. Conhecia aquela sensação. Era luxuria. O desejo de caça. A excitação carnal.
Conhecer suas irmãs a sós seria uma situação incomoda. A presença de Eve suavizaria o impacto. Não poderia ter planejado melhor.
—De você acredito em tudo – retrucou Camile – Conta.
—Conheci a um homem.
Cam começou a rir debaixo do pano.
—Não me diga – Moveu-se ligeiramente mudando de postura com uma de suas longas pernas – Conhece homem além aonde vai. Isso não é novidade. É um imã.
—Você também atrai um monte de olhares.
—Pode ser, mas não do mesmo tipo.
A Dean não lhe cabia dúvidas. Eve possuía uma aura de sensualidade que não havia percebido em muitas mulheres. Na noite passada havia se sentido atraído por ela em todos os sentidos. Se aquele crápula do Roger não tivesse aparecido...
Eve curvou os dedos dos pés.
—Sim, bom, mas dessa vez... Devolvi o olhar.
—De verdade?
—Bom... Fiz algo mais que olhar.
Cam ficou em alerta.
—Como o que?
Por um momento Eve cobriu o rosto e, deixando escapar um gemido, estendeu os braços de ambos os lados.
—Fui má.
—Oh-oh. Como foi má?
“Não o suficiente” pensou Dean. Mas, não disse nada. Continuou escutando. Retrasando o inevitável encontro com Cam.
Com um grande sorriso, Eve girou a cabeça rumo a sua amiga.
—De tudo, completamente.
Dean se aproximou um pouco mais, sem fazer ruído sobre o múltiplo arbusto, e sem que as mulheres se dessem conta de sua presença. Algo que pareceu justo, dado que o assunto de conversa. Deteve-se junto à grade que rodeava a varanda traseira e se dispôs a escutar. Cam estava rindo de novo, com uma risada infantil que ele lembrava, mas sim com uma risada de mulher.
—Como de tudo? Dormiu com ele?
—Não! Claro que não. Somente falei com ele – Eve vacilou um momento antes de admitir – Mas queria fazê-lo. Se Roger não nos tivesse interrompido, acredito que talvez o teria feito.
Dean sabia que o teria feito. f**a, Eve lhe havia mandado sinais que até um cego teria visto. E ao beijá-la... Ainda sentia o fogo cada vez que o lembrava. Teriam acabado na cama. Ele o sabia.
Mas, talvez não quisesse dizer a Cam.
—Então deveria se alegrar de que Roger interrompesse?
—Pode ser – Fechou de novo os olhos – Mas, Cam é que era um tipo com um corpão e, além disso, era encantador. E não digo somente em seu aspecto.
—Continua.
—Somente sei. Tinha algo. Era muito viril, mas não ia de machão, compreende o que quero dizer? E, oh Deus meu, como era cheiroso.
Dean ficou um tanto perplexo ao ouvir. Ele cheirava bem?
—Dava-me vontade de... Comê-lo.
Merda. Como seguisse falando assim muito mais acabaria melado. Talvez fosse o momento de anunciar sua presença. Foi fazê-lo, mas então falou Cam.
—Diga-me que lhe deu seu número.
Eve deixou escapar um gemido.
—Esperava que pedisse o meu, mas não o fez, e apesar de que eu seja uma mulher audaciosa e o homem ser o mais lindo da minha vida, me alegro de não voltar a vê-lo.
—Por quê? Parece louca por ele.
—Desejava-o, que não é o mesmo. Flertei com ele. Beijei-o – Mordeu o lábio – Deixei-lhe bem claro que estava interessada nele. E isso é tudo. Comportei-me como uma... Descarada mulher da vida – Eve cobriu o rosto – É uma pena, mas já não posso desfazer tão desafortunada atuação.
Vendo a oportunidade de apresentar-se Dean sorriu.
—Foi somente uma atuação?
Os gritos das duas mulheres haviam assustado a qualquer um. Ambas imediatamente ficaram de pé e Cam se cobriu com uma grossa toalha.
Menos m*l que Eve não tinha nenhuma em mãos. Ficou olhando-o com uns olhos que pareciam ainda mais azuis embaixo do ardente sol do meio-dia. Tinha as bochechas vermelhas e seu peito subia e descia devido ao nervosismo.
Sim, a ele também tinha vontade de comê-la. Ainda não era o momento, mas logo seria. Dean se voltou rumo a sua irmã.
—Camille não?
—Quem é você?
Eve afogou um gemido
—Ele é... – Eve não sabia o que dizer, engolia com dificuldade e havia ficado sem ar – O cara de ontem. Do que estava te falando agora mesmo.
Imediatamente Cam se colocou diante de sua amiga.
—O que esta fazendo você aqui? Isso é uma propriedade privada – Cam havia passado de ser uma mulher doce a uma amazona em um abrir e fechar de olhos. Apesar de que os óculos escuros ocultavam boa parte de seu rosto. Dean podia ver as sobrancelhas de advertência de que fazia – Como sabia onde encontrá-la?
De que maneira se preocupava e protegia a Eve? Isso o agradou, apesar de que Eve não precisava de sua proteção. Contudo, gostou de ver sua irmã tinha determinação.
—A verdade é que vim procurar você e não a ela – Dean se voltou e acrescentou em direção a Eve – Mas, me sinto feliz de que esteja aqui.
As duas o olharam mudas. Suspirando Dean colocou a mão no bolso e tirou uma carta amassada.
—Escreveu-me. Faz vários meses, eu sei, mas estava de viagem e o correio custou me encontrar.
Cam subiu os óculos ao alto da cabeça.
—Que te escrevi?
Em vez de explicar, Dean deu um passo e estendeu a carta. A menina de um pouco mais de metro e setenta. Também era alta, ainda que ele superasse em quinze centímetros pelo menos. Tremendo, Cam pegou os amassados papeis. Segurando entre as mãos, ficou olhando-os fixamente, piscando, mordendo os lábios. Quando olhou a Dean, tinha os olhos cheios de lágrimas e daquela maldita esperança.
Merda, merda, merda. Dean se preparou. Ou ao menos pensou que o fazia. Mas, como demônio se prepara um homem para o reencontro com uma irmã a que faz anos que não vê?
—Dean? – perguntou ela com a voz chorosa demais e um tom absurdo – É... É você de verdade?
A ele não deu tempo de responder. Antes que pudesse reagir, Cam o abraçou com força veemente. Dean não se lembrava à última vez que uma mulher lhe havia apertado contra ele de forma platônica. Sua mãe nunca havia sido uma mulher carinhosa. Uma palmadinha na cabeça, cosquinhas debaixo do queixo... Mas, não aquele contato de corpo inteiro cheio de quente emoção.
O tempo que tinham vivido na casa tinham se mostrado amáveis, mas nunca haviam sido amorosos. Logo, havia tido vários professores que se haviam preocupado por ele, havia conhecido muitas mulheres quando trabalhava na construção, também as mulheres de seus companheiros, as amantes de uma noite de seu tio. Mas... Nenhuma o havia tratado como se fosse um tesouro, algo mais que um amigo. Nenhuma havia abraçado ele como se fosse seu salva-vidas.
Através do abraço, Dean percebeu varias coisas: o canto dos pássaros, a suave brisa, a fixa atenção de Eve e a suavidade de Cam e seu agradável aroma. Fechou os olhos e inalou. Seus sentimentos se rebelaram, mas de uma maneira totalmente desconhecida. Cam não era uma menina frágil, apesar de que sua força não era nada em comparação com a dele. Contudo, seu abraço resultou... Agradável. Fodidamente agradável.
Deliberadamente, Dean manteve os braços quietos a ambos os lados do corpo, enquanto lutava por bloquear a necessidade de consolo. Sendo como era, um dos melhores lutadores de artes marciais mistas do mundo, estava completamente certo de que não precisava que ninguém o consolasse. Não daquela maneira.
Não ela.
Na busca por uma rápida distração olhou a Eve.
Os óculos ocultavam sua expressão, mas Eve não contava com a mesma vantagem. Dean viu desconcerto, embaraço e algo mais dela. Olhava-o fixamente, ruborizada e com os olhos arregalados. Seus lábios se entreabriram e a respiração acelerou. Dean a examinou demoradamente, tomando seu tempo. Comparada com Cam, Eve era miúda, ao menos na altura. Mas, tinha curvas de sobra e todas em lugares preciosos. Havia-se referido a seu atrevido comportamento na noite passada como se tratasse de uma anormalidade. Não parecia uma mulher tímida, mas ainda assim, com ele havia reagido de uma maneira especial.
Não deixaria que esquecesse a química que havia entre eles. Não deixaria que a sufocasse. De uma maneira ou de outra a teria, e seria ele quem colocaria as condições. Finalmente, Cam se afastou dele, mas somente um pouco, só para olhá-lo no rosto e sorrir como se houvesse resolvido todos os seus problemas.
Respirando pelo nariz e rindo ao mesmo tempo tratou de desculpar-se.
—Sinto muito Dean. Não pretendia chorar encima de você – disse, enquanto alisava com gesto ausente a camiseta de seu irmão, como se necessitasse sentir, absorver sua essência – Havia ensaiado mil vezes esse momento em minha cabeça. Rezava por que chegasse a minha carta e voltasse para casa, mas não... – Quebrou a voz e teve que pigarrear. Duas vezes – Deus meu, é você de verdade – E começou a rir de novo.
Sentindo-se como um i*****l, Dean disse “Sim” por que não lhe ocorreu nada mais. Preferia lutar com três loucos imbatíveis, de graça, antes de enfrentar todo aquele sentimentalismo. Cam pôs as mãos nos ombros.
—Eve tem razão. É muito lindo. E grande. Acreditava que Jackie era alta, mas... Olha você.
Jackie sua irmã pequena. Era ainda mais alta que Cam? Quando a veria?
Por dentro, os instintos de Dean se revelaram. Por fora, estava rígido que poderia partir-se. Apertou os dentes e deixou que Cam seguisse com seu discurso.
—Até temos a mesma cor de cabelos - comentou absolutamente vidrada – Deu-se conta Eve?
Todavia muda, sua amiga assentiu com a cabeça.
Dean não sabia o que pensar. Cam se mostrava tão endiabradamente familiar para ele, tocando-o e segurando como se o conhecesse. Como se tivessem sido criado juntos. Como se de verdade fosse seu irmão mais velho em vez de um perfeito estranho.
—Mas, o que aconteceu com meus modos? – prosseguiu ela em voz alta e cheia de excitação, sem dirigir-se ninguém em particular – Vamos para dentro e preparar algo para beber. Temos que colocarmos em dia um monte de coisas – E dizendo pegou seu braço e o arrastou rumo a casa – Veio de muito longe? Onde estava quando recebeu a carta? Onde vive?
Muitas perguntas de uma vez. Dean olhou a Eve por cima do ombro. Essa que parecia ter-se ficado cravada no lugar sem tirar os olhos de cima, despregou de repente os pés do lugar e passou junto a eles como um raio em direção a casa.
—Irei me vestir – disse.
Em sua velocidade rápida, Dean a observou com interesse. Ele era rude e bruto, enquanto que Eve era esbelta e tinha um generoso redondo traseiro em concordância com um bonito peito. Antes que se fosse de Harmony, conheceria aquele corpo de enfartar de forma íntima. Pensar nele serviu para suavizar a realidade de ter que enfrentar seu passado.
—Sinto muito – voltou a dizer Cam – Estou fazendo muitas perguntas. Deve estar pensando que sou uma lunática.
Não a conhecia o suficiente para saber do valor de seu estado mental.
—Não é nada.
—De mais a mais, prometo-o. Assim pode... Onde estava antes de vir aqui?
Dean deixou de lado sua reserva. Se Cam podia mostrar-se tranquila ele também.
—Quando recebi sua carta estava em Las Vegas. Antes havia estado fora do país.
—Onde? – quis saber brincalhona – Em algum lugar exótico?
—Na Europa quase todo o tempo.
Cam fingiu que ia desmaiar.
—Europa! Como o invejo.
—Viajo muito. Não é para tanto.
—Para mim sim. Nunca sai de Kentucky.
—Nunca?
Eve havia entrado tão depressa na casa que tinha deixado as portas abertas, e Cam o incitou a entrar em uma fresca estância que usava para o café da manhã e como sala de estar adjacente da cozinha.
Dean olhou ao seu redor, reencontrando o lugar de sua infância.
—Diz brincando não? – perguntou-lhe a sua irmã.
Naquela sala havia visto os desenhos da televisão, naquele sofá havia se deitado de pijama. Ali havia brincado com Cam, quando essa tinha dois anos, sobre o chão carpetado. Algumas coisas haviam mudado: uns poucos móveis, as janelas, inclusive a cor dos marcos das mesmas. Mas, fundamentalmente tudo continuava igual.
—Não. Quando terminei a escola fui pra universidade local um tempo, mas... – Apressou-se a mudar de assunto com nervosismo como se lhe desse vergonha não ter obtido um diploma – O que gostaria de tomar? Um refrigerante, chá, café?
Dean a olhou.
—Tem cerveja?
Cam empalideceu.
—Sinto muito não – Lançou um olhar rápido ao relógio de parede, começou a retorcer os dedos com nervosismo.
Acaso considerava que as duas da tarde era cedo demais para beber?
—Acontece algo Cam?
—Não é somente que... – Cam se encolheu os ombros – Sinto muito, mas a tia Lorna não aprova a bebida. Nos proíbe ter álcool em casa.
Grover lhe havia contado muitas coisas sobre Lorna, entre elas o muito beata e m*l bicho que era. Por sua culpa, ele não conhecia suas irmãs. Lorna havia proibido que mantivessem contato. Chegaria logo em casa e por isso Cam havia olhado a hora?
Pouco desejoso de encontrar com problemas tão cedo, Dean encolheu os ombros e a seguiu pela cozinha.
—Chá gelado sem açúcar então, se tiver.
—Claro que sim – Cam ofereceu-lhe uma cadeira como se fosse um cavalheiro galante – Por favor, sente. Fique a vontade. Tem fome? Posso preparar um sanduíche.
—Não obrigado
—Sopa? Ficou um pouco de ontem. Ou talvez...
—Não tenho fome – interrompeu-a ele. Por Deus, Cam falava sem parar. Supôs que devia ser pela excitação do momento.
O momento de seu reencontro.
Foda.
—Uns biscoitos? São caseiros. Foram feitos essa manhã. Aveia e passas.
Protetora e com uma veia de Martha Stewart? Sua irmã era um paradoxo interessante.
—Não sou de comer doces.
A julgar pela a forma que reagiu sua irmã, foi como se tivesse dito que tinha duas cabeças. —E isso por quê?
—Para estar em forma
—Pois, já o está – retrucou ela olhando-o com um meio sorriso. Tirou o chapéu e os óculos e os deixou encima da mesa, enquanto se dirigia a geladeira – Não precisa. É puro músculo.
Dean não queria que sua irmã acreditasse que era um fanático, assim que decidiu explicar.
—Sou lutador profissional Cam. Minha dieta é uma parte importante do meu estilo de vida. Detendo-se em seco, ela se voltou e o olhou com a boca aberta.
—Lutador?
Não muito certo de se seu olhar era de repulsa ou intriga, optou por não dizer nada.
—Nada de biscoitos, mas bebe cerveja? – Cam franziu a sobrancelha com gesto de suspeita e pôs os braços cruzados – Como é isso?
Dean deu-se conta então de que sua irmã brincava e lhe sorriu.
—Em algum lugar tenho que por o limite. Não posso deixar tudo, e prefiro esquecer o doce.
Contudo, limito o álcool as épocas em que não compito e por tanto não tenho que treinar.
—Deve ter uma incrível força de vontade. Tento-o, mas me volto louca por um doce.
Pois, não se notava. Cam tinha uma fina cintura e era atlética. Dean supôs que devia de ser algo genético. Lembrava a sua mãe como uma mulher esbelta, e a seu pai como um homem magro e fibroso.
Cam não deixava de olhá-lo enquanto enchia o copo de chá gelado.
—É lutador profissional disse. Boxeador?
—Não exatamente boxeador – Em vez de seguir ocultando-se atrás dos óculos de sol, Dean os tirou e deixou encima da mesa.
Ao olhar Cam, essa se fixou em seus olhos e de imediato mudou outra vez de assunto.
—Dean! Também temos mesmos olhos. Não é assustador?
Ele não pode evitar sorrir. Divertia-lhe os resíduos de entusiasmo de Cam.
—Sempre é assim animada?
Eve entrou nesse momento com passo tranquilo.
—Sim – respondeu por Cam – Doentia não acha?
Voltando-se na cadeira Dean a olhou. Eve evitou seu olhar, mas ele não se importou. Ambos sabiam o que ela sentia, igualmente sabiam o que resultaria tudo aquilo. Tinha prendido o cabelo molhado em um coque, o qual destacava seus pronunciados pômulos e o voluntarioso queixo. Os jeans curtos que usava deixavam quase tanto de seu traseiro a vista e a marquinha do biquíni de antes. Uma camiseta de tira de um fino tecido proclamava que não usava sutiã. Tinha pernas lindas.
—Pode ser que Cam e eu compartilhemos a cor do cabelo e olhos, mas nosso caráter é visivelmente oposto – disse Dean, sem deixar de examinar detalhadamente o corpo de Eve. Cam começou a rir.
—Significa isso que é um ogro? Não acredito. Não sei como continua me aguentando.
—Eu sim acredito – Disse Eve ficando de ponta de pé para alcançar um copo em que servisse o chá – Seu apelido no tatame é Furacão – Lançou o copo na direção dele como brinde – Não te parece representativo?
Aquilo sim resultava familiar. Jogar verbalmente com uma mulher atraente, aumentar a tensão s****l. Muito, muito mais fácil que aquele... Aquele ataque de sentimentalismo que Cam se empenhava em lançar. Desfrutando com o novo jogo, Dean Assegurou-se de que Eve visse como lhe olhava os s***s antes de continuar falando.
—Chamam-me Furacão por que, a alguns, dou a sensação de que luto de forma um tanto desordenada – Lançou o olhar rumo aos olhos dela e se deu conta de sua expressão atônita e impressionada. Dean sorriu o justo para fazer-lhe saber que sabia o que sentia e pensava – A maioria dos lutadores possuem uma técnica de diferença. Os possíveis competidores estudam para fazer uma ideia do que vão enfrentar. Mas, sou imprevisível. Mudo meus movimentos de combate a outro – olhando-a com audácia declarou – Faço o que for necessário para ganhar.
Eve girou os olhos
—Acaso isso é uma advertência?
—Claro que sim.
Alheia a troca de indiretas de caráter s****l entre os dois, ou desejosa de passar por cima, Cam pegou uma cadeira e sentou-se na frente do seu irmão.
—Ganha muitas vezes?
—Sim – f**a, não tinha motivo algum para mostrar-se tão orgulhoso ao falar daquilo. O que Cam pensara dele não deveria importar nenhum um pouco. Ainda assim continuou - O suficiente como que ter sido o prato forte do programa de combates da SBC nas últimas quatro ocasiões.
—O que significa SBC?
—Desafio de Luta Extrema dois
—Parece algo confuso
—Não é, os participantes podem golpear com as mãos, pés, os joelhos e cotovelos. Trata-se de forçar para submeter seu concorrente, com chaves de pescoço, truques, chutes, demolição, patadas ou alavancas. Nenhuma disciplina predomina mais que a outra.
Eve se uniu a eles e se sentou a direita de Dean.
—Sei. E se é tão bom como é que te deram essa surra? – provocou ela.
Cam pareceu ofender-se com a pergunta de Eve, mas Dean não lhe importou explicar.
—Não luto contra fracos, por isso. Somente os melhores competidores ganham o direito de me retalhar. Além disso, alguns machucados não se podem considerar uma surra. Não quando o outro terminou muito pior.
Cam fez uma careta de dor.
—O que pode ser pior? Não é que duvide de você – apressou-se em dizer – Mas, parece como se algo muito pesado te tivesse atropelado. Não pensava em dizer nada, não queria parecer descortês, mas já que está no tema...
Dean esteve a ponto de soltar uma gargalhada ao pensar em Cam tentando ignorar as feridas, os hematomas e os pontos que brilhavam... E o fato em si o pegou de surpresa.
—A maior parte do que tenho é superficial. Mas, as feridas que sangram tanto como para impedir a visão ou que podem supor uma ameaça para a saúde do lutador, essas são as que dão a vitória. Ossos fraturados, deslocações e lesões musculares podem manter qualquer um longe das competições por meses.
—Ossos fraturados?
Dean fez girar os ombros.
—Não tem as lesões graves, mas as viu todas – E muitas as haviam sofrido na própria pele, apesar de que não pensava em contar isso a sua irmã – Ganhei meu último combate graças a uma alavanca de joelho.
—O que é uma alavanca de joelhos?
—Uma técnica de subjugação do jiu-jítsu brasileiro. É uma das que utilizam para ganhar, apesar de que a maioria dos lutadores da SBC conhece uma dúzia ou mais delas.
—E como se faz uma alavanca de joelhos?
Ao imaginar o encontro com sua irmã, não havia ocorrido pensar que terminariam falando da SBC. O interesse de Cam resultava surpreendente, e, ainda que lhe gostasse negar, teve que admitir para si mesmo que lhe agradava.
—O conceito básico em toda chave de subjugação executada com a perna e fazer pressão sobre as articulações do adversário para imobilizá-lo – Estirando a perna Dean mostrou como seria o movimento – Bloqueia a articulação e com a quantidade de pressão adequada, pode se submeter qualquer um.
Cam olhou com os olhos arregalados.
—Por que se não se submete, poderia romper ou deslocar algo – quase sussurrou.
—Isso mesmo
—Fascinante – Eve passou um dedo pela a condensação que tinha formado em seu copo – A mim soa como uma briga de bar. De verdade, os homens pagam para ver isso?
Dean a olhou analisando. Sabichona e descarada que era. E tudo por que sabia que a havia ouvido dizer que estava louca por ele. Isso estava bem. Gostava das mulheres ardentes. Reclinando-se em sua cadeira, Dean enlaçou as mãos no abdômen. Eve seguiu o movimento com o olhar, mas em seguida afastou.
—Ao contrário que uma briga de bar, nesse caso se trata de um só homem brigando contra o outro. Sem armas. E nos combates tem um juiz. À hora de brigar, se faz segundo regras aprovadas por uma comissão esportiva. Os combates têm lugar certo, diante de um monte de pessoas, em Nevada, Califórnia, New Jersey, Massachusetts e Florida. A SBC representa lutadores com grande experiência, muitos deles campeões olímpicos.