JACE
Na noite anterior, conheci Isabela. Uma garota que, de alguma forma, conseguiu me intrigar. Ela não era como as outras. Não se deslumbrou comigo, não caiu no meu charme, e ainda não tinha aceitado o pedido de "seguir" que enviei pra ela. Isso, por si só, já era algo que me deixava curioso.
Eu tinha dado uma olhada no perfil dela antes de dormir. 57 fotos, 1k de seguidores e seguindo 2k. Números modestos, especialmente se comparados aos meus: 547 fotos, 2m de seguidores e seguindo apenas 42 pessoas. Mas, de alguma forma, aquela simplicidade dela me chamou a atenção. Queria ver as fotos, saber mais sobre ela, entender o que a fazia ser tão diferente.
Naquela tarde, resolvi aumentar o engajamento. Era algo que eu fazia de vez em quando, só para manter o hype. Postei uma foto do peitoral para baixo, deitado na cama, só coberto com um lençol. A pose era calculada, claro. Deixei barriga o mais trincada possível e estufei o peito. Sabia que ia gerar reação.
E, como sempre, não demorou muito. Em questão de segundos, os comentários começaram a chover. Garotas e até alguns caras deixando elogios, convites e até fotos no direct. Era sempre assim. Eu postava, e o mundo parava pra me admirar.
Enquanto rolava os comentários, não pude evitar pensar em Isabela. Será que ela tinha visto a foto? Será que ela tinha curtido? Fui até o perfil dela de novo, mas o pedido de seguir ainda estava pendente. Aquilo me deixou um pouco frustrado.
— "Por que ela não aceita logo?" pensei, enquanto olhava para a tela do celular. — "Todo mundo quer me seguir. Todo mundo quer uma chance comigo."
Mas, no fundo, sabia que era exatamente isso que me atraía nela. Ela não era como todo mundo. Ela não estava desesperada pela minha atenção. E, de alguma forma, isso só me deixava mais interessado.
Decidi não pensar muito nisso. Afinal, eu tinha uma vida cheia de fãs, shows e garotas que fariam qualquer coisa por um pouco do meu tempo. Isabela era só mais uma, mesmo que ela não parecesse se importar com isso.
Mas, enquanto respondia alguns direct com mensagens curtas e cheias de emojis, não pude evitar lançar um último olhar para o perfil dela. — "Vai acabar cedendo," pensei, com um sorriso confiante. — "Todo mundo cede, no final."
E, com isso, voltei minha atenção para a chuva de notificações que não parava de chegar. Afinal, eu era Jace. E o mundo estava ali, aos meus pés, esperando por mim.
A noite finalmente chegou, e eu estava aguardando para entrar no palco, cercado pela energia habitual dos bastidores. O som das guitarras sendo afinadas, os gritos da plateia do lado de fora, tudo isso era parte da rotina. Mas, naquele momento, minha atenção estava completamente focada no celular.
E então, veio a notificação. ”Isabela Oliveira aceitou seu pedido para segui-la."
Imediatamente, cliquei no perfil dela, ansioso para finalmente ver as tais 57 fotos. Esperava encontrar algo que justificasse toda a curiosidade que ela tinha despertado em mim. Mas, para minha surpresa, as fotos eram... normais. Nada vulgar, nada de biquini, nada mostrando "nada". Era só ela, em momentos simples, sorrindo, com amigos, em lugares comuns.
Até que vi uma foto com um cara.
Meu sangue ferveu. Eu não entendia o que estava sentindo, mas era algo intenso, quase primitivo. Quando li a legenda cheia de corações e a palavra "namorado", algo dentro de mim estalou. Eu queria quebrar aquele cara.
Sem pensar, joguei o celular longe. O aparelho espatifou-se contra a parede, chamando a atenção de todos ao redor. Os seguranças, que estavam do lado de fora com Paco, entraram rapidamente, preocupados.
— Jace, tá tudo bem? — Paco perguntou, olhando para mim com uma expressão de preocupação genuína.
Eu não respondi. Não conseguia. Minha mente estava uma bagunça, e aquela raiva que eu não conseguia explicar estava tomando conta de mim.
— É só um celular, cara. A gente arruma outro. — Paco tentou acalmar, mas eu sabia que não era sobre o celular. Era sobre ela. Sobre aquele cara. Sobre aquele sentimento estranho que eu não conseguia controlar.
Respirei fundo, tentando me recompor. — Tá tudo bem. — menti, passando a mão pelo rosto. — Só... deixa pra lá.
Paco me olhou por um momento, como se não acreditasse em mim, mas acabou acenando com a cabeça. — Beleza, mano. Mas o show tá pra começar. Bora lá?
Eu concordei, mas minha mente ainda estava naquela foto. Por que aquilo me afetou tanto? Por que eu me importava? Isabela era só mais uma garota, certo?
Errado.
Enquanto eu subia no palco e ouvia os gritos da plateia, sabia que aquela noite seria diferente. A música, as luzes, os fãs... nada disso conseguiu tirar Isabela da minha cabeça. E, no fundo, eu sabia que aquela história ainda não tinha acabado.
Mas, por enquanto, eu tinha um show para fazer. E, como sempre, eu ia dar o meu melhor. Afinal, eu era Jace. E o mundo estava ali, me esperando.
Só que, dessa vez, eu também estava esperando por algo. Algo que, de alguma forma, tinha a ver com Isabela.
O show foi incrível, como sempre. A energia da plateia, as luzes, a música... tudo perfeito. Mas, mesmo entregando tudo no palco, minha mente não parava de voltar para ela. Para Isabela. Toda garota de cabelos negros que eu via na plateia me fazia olhar duas vezes, só para ter certeza de que não era ela.
Quando o show acabou, fui direto para o camarim. Paco já estava lá, com um novo celular na mão, transferindo meus dados. Ele sabia que eu não ficaria sem um aparelho por muito tempo. Enquanto ele trabalhava, eu me sentei, ainda com a adrenalina do show correndo nas veias, mas com a cabeça cheia de pensamentos sobre Isabela.
Assim que peguei o celular novo, fui direto para o perfil dela. Precisava saber mais sobre ela. Precisava entender por que aquela garota, que eu m*l conhecia, estava ocupando tanto espaço na minha mente.
Rolei as fotos, parando em um vídeo dela com amigos em um barzinho. Ela estava dançando, sorrindo, parecia tão... livre. Aumentei o volume e, para minha surpresa, era uma das minhas músicas que tocava ao fundo.
Eu ri. Um riso bobo, quase infantil. — Pelo menos ela ouve minhas músicas. — pensei, sentindo uma pontinha de orgulho.
Mas, ao mesmo tempo, aquilo só aumentou minha curiosidade. Quem era essa garota que conseguia me ignorar pessoalmente, mas dançava minhas músicas em um bar com os amigos? Era uma contradição que eu não conseguia entender, mas que, de alguma forma, me atraía ainda mais.
Continuei explorando o perfil dela, tentando encontrar mais pistas. Fotos com amigos, viagens, momentos simples do dia a dia. Nada extravagante, nada que chamasse atenção de forma óbvia. Mas, de alguma forma, tudo ali me fazia querer saber mais.
— Jace, você tá bem? — Paco perguntou, percebendo minha distração.
— Tô sim, só... pensando em algumas coisas. — respondi, sem tirar os olhos da tela.
Paco não fez mais perguntas, mas eu sabia que ele estava preocupado. Normalmente, depois de um show, eu estava relaxado, curtindo o momento com várias putas. Mas, naquela noite, eu estava completamente focado em uma garota que m*l conhecia.
E, enquanto fechava o perfil de Isabela e guardava o celular, sabia que aquela história ainda não tinha acabado. Na verdade, talvez estivesse apenas começando.
— Vamos embora. — disse para Paco, levantando-me.
Ele concordou, e juntos saímos do camarim. Mas, enquanto caminhávamos, minha mente continuava voltando para Isabela. Para aquele vídeo, para aquele sorriso, para aquela música que tocava ao fundo.
E, no fundo, eu sabia que aquela noite não seria a última vez que eu pensaria nela.