Capítulo 18: A mãe

1186 Words
Assim que Jace saiu para viajar, trocamos algumas mensagens. Eu gostava da forma como ele me dava atenção, como se eu fosse importante para ele. Mas, depois de um tempo, ele parou de responder. Imaginei que tivesse ficado ocupado com os compromissos dele, então resolvi me distrair. O médico tinha liberado o uso de maquiagem, então decidi testar. Fui até o banheiro e espalhei os produtos sobre a bancada. Fazia tempo que não me arrumava de verdade. Peguei a base e comecei a espalhar pelo rosto, observando como a pele ficava uniforme. Depois, passei um corretivo leve, realcei os olhos com delineador e máscara de cílios e finalizei com um batom nude. Mas não fiquei só na maquiagem. Olhei para o guarda-roupa e lembrei das roupas novas que Jace tinha colocado lá. Abri as portas e toquei os tecidos macios. Ele tinha um gosto impecável. Escolhi um vestido justo, de alcinha, que modelava meu corpo e me fazia sentir… bonita. Me encarei no espelho. Era estranho me ver assim, tão arrumada. Por tanto tempo, ouvi Ryan dizer que eu era feia, que ninguém olharia para mim. Mas ali, sozinha naquele quarto, enxerguei uma versão minha que eu tinha esquecido que existia. Sorri. Talvez fosse a hora de acreditar mais em mim mesma. Me sentia tão confortável naquela casa que, sem nem pensar muito, fui até a cozinha procurar algo para comer. Abri a geladeira e peguei uma pêra bem madura, estava tão docinha que cada mordida era uma delícia. Estava ali, saboreando minha fruta, quando a campainha tocou. Carminha saiu de seus aposentos e passou por mim ajustando a roupa, me olhando de um jeito repreensivo. — Menina, quando precisar de alguma coisa pode me chamar que eu trago! — Ela disse com aquele tom cuidadoso, mas eu não gostava de incomodar. Apenas sorri e continuei onde estava, enquanto ela seguiu até a sala para atender a porta. Curiosa, fui atrás, mastigando mais um pedaço da pêra, sem pressa. Assim que cheguei, vi uma mulher lindíssima de cabelos pretos lisos sentada no sofá. Ela parecia à vontade, como se estivesse em casa, e dava ordens para Carminha como se fosse a dona do lugar. Mas assim que me viu, parou de falar e me encarou dos pés à cabeça. — E você, quem é? — Ela perguntou com um olhar inquisidor. Engoli a comida devagar e pisquei, sem saber o que responder de imediato. — Eu? — Questionei, tentando ganhar tempo. Ela ergueu a sobrancelha, esperando minha resposta. Antes que eu pudesse formular algo decente, Carminha me salvou. — Essa é a dona Isabela, ela está hospedada aqui. O menino Jace quem a trouxe faz uma semana. A mulher manteve o olhar fixo em mim, ainda me avaliando. Em seguida, caminhou firme na minha direção e estendeu a mão. — Muito prazer, sou Paula, mãe do Jace. Minha boca ainda estava ocupada com um pedaço da pêra quando estendi a mão para cumprimentar ela. Mastiguei rápido, tentando processar a informação. — Mãe? Nossa, parece tão nova... Ela riu. — Ouço isso sempre! Mesmo assim, adorei você. Mas me diga, como conheceu meu filho? Engoli em seco. Como eu responderia isso? Não podia simplesmente dizer que fui espancada pelo ex e resgatada por Jace. Então, resolvi simplificar. — Nos conhecemos em um show dele... Ela fez uma expressão de desaprovação antes mesmo de eu terminar a frase, então tratei de complementar. — ...onde eu estava trabalhando. A expressão dela mudou na hora. — Que ótimo! Conversamos por horas. Evitei contar o motivo real de estar hospedada ali, mas acabei me pegando elogiando Jace mais vezes do que deveria. Durante esses dias, percebi muitas qualidades nele que nunca imaginei que existissem. A noite chegou e Carminha preparou um jantar maravilhoso. Paula e eu jantamos juntas, conversamos mais um pouco e, quando percebi que o sono estava chegando, me despedi e fui para o quarto. Deitei na cama, sentindo uma sensação estranha... Era conforto, segurança. Algo que eu não estava acostumada a sentir. Mas eu sabia que não podia me apegar demais. Afinal, Jace era um cara livre, um cantor desejado por muitas mulheres. Ele cuidava de mim agora, mas até quando? O som insistente do despertador me tirou do sono, e por um momento fiquei ali, encarando o teto, tentando lembrar onde estava. Então, tudo veio de uma vez, o apartamento do Jace, os últimos dias ao lado dele, as mensagens que trocamos até ele desaparecer por conta dos shows. Suspirei e me espreguicei, sentindo uma estranha mistura de conforto e ansiedade. Levantei e segui para o banheiro, onde tomei uma ducha rápida. Me vesti com uma das roupas novas que ele havia comprado para mim e ajeitei os cabelos diante do espelho. Depois, segui para a sala, atraída pelo cheiro de café fresco. A mesa estava sendo posta, e Paula já estava em pé, dando ordens para Carminha. Ela paralisou ao me ver, como se não esperasse me encontrar ali tão cedo. Seus olhos me percorreram rapidamente antes de esboçar um sorriso. — Bom dia, Isabela. Dormiu bem? — ela perguntou com simpatia. — Bom dia! Sim, e a senhora? — retribuí, um pouco surpresa pela receptividade dela. — Muito bem, querida. Pode se sentar. Que bom que acordou cedo, assim não tomo café sozinha — disse, apontando para uma das cadeiras à mesa. Sentei e servi uma xícara de café, a observando com curiosidade. Paula era uma mulher linda e elegante, e seu jeito me lembrava um pouco Jace. Havia algo nela que transmitia imponência, mas sem arrogância. Conforme tomávamos café, ela mencionou casualmente que Jace já havia chegado e estava dormindo. Meu coração acelerou, e precisei me concentrar para não demonstrar tanto. Mas parece que Paula notou. Ela me observou por um instante, e um sorriso de canto surgiu em seu rosto. — Você gosta mesmo do meu filho, não é? — ela comentou, sem rodeios. Engasguei levemente com o café e precisei de um gole d’água antes de responder. — Eu... — hesitei, buscando as palavras certas. — Ele tem sido muito gentil comigo, e... bom, é difícil não gostar de alguém que te trata tão bem, né? — tentei manter um tom leve, mas sabia que não convencia ninguém. Paula riu baixinho e assentiu. — Ele precisa de alguém assim. Alguém que veja além da fama, da loucura que ele vive. Sempre me preocupei com ele, com essa vida de excessos... Assenti, entendendo exatamente o que ela queria dizer. Jace era uma mistura de intensidade e leveza, alguém acostumado a ter tudo à disposição, mas que, ao mesmo tempo, parecia cansado de tudo isso. Terminamos o café em meio a conversas mais leves, e, quando me levantei, Paula anunciou que ia acordar o filho. Meu peito apertou com a vontade de ver ele também. Um único dia longe dele já parecia uma eternidade. Mas segurei essa sensação para mim. Acompanhei Paula com o olhar enquanto ela adrentava o corredor dos quartos, e me perguntei se deveria esperar ou se teria coragem de ir até o quarto dele. No fundo, eu sabia a resposta.
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