Capítulo 38: Socão, Surpresa e Saudade

1148 Words
JACE Tava tranquilão no meu apê, só de bobeira, curtindo meu cantinho em silêncio. Às vezes o silêncio é mais barulhento que tudo, mas naquele dia ele tava até confortável. Foi aí que o Guilherme, um dos poucos que eu ainda mantinha contato da antiga fase, mandou mensagem me chamando pra inauguração de uma boate no centro. Na hora eu já soltei um: — Ah, irmão, hoje não... tô de boas, papo reto. Mas o maluco insistiu, disse que tava saindo com uma mina firmeza, a tal da Jade, e que ela tinha uma amiga que era a minha cara. Soltou aquele papinho maroto de "vai que tu se amarra, parceiro, vai se distrair". Aquele velho esquema de encontro às cegas disfarçado de rolê casual. Depois de um tempo de insistência, acabei topando. Vai saber, né? Tomei um banho rapidão, joguei uma calça jeans rasgadinha no joelho, camiseta branca colada no shape, tênis vermelho novo, uns anéis de ouro nos dedos, aquele colar que é minha marca registrada e o boné pra dar uma disfarçada básica. Porque, fala tu, meu cabelo loiro chama atenção de longe, né? Nem esse corpinho gostoso aqui não passa despercebido fácil não, risos. Chegamos na boate e logo o Gui me apresentou a Jade, uma gata, simpática até. E ela me apresentou a amiga dela, Juliana. A mina era bonita, papo bom, mas... sei lá. Não era noite pra isso. Meu coração já tava ocupado mesmo que eu fingisse que não. Mesmo assim fui educado, troquei ideia com a mina, dançamos, rimos, aquela social básica sem segundas intenções. Foi aí que ela me pediu um drink. Falei que ia buscar. Tava indo suave até o bar quando vi uma cena que travou tudo dentro de mim. Ela. A Isabela. Sentada num dos bancos altos, perna cruzada daquele jeito que sempre me fazia perder o rumo. Tava linda, véi. Cabelo preto brilhando com a luz da boate, pele branca reluzente, parecia até cena de clipe. Meu coração bateu diferente na hora. Seco. Na alma. Aí eu vi o bartender entregar o drink pra ela e, do nada, chegou um cara. Grandão, cheio de atitude, se achegando como se tivesse i********e. Eles trocaram umas palavras, e eu já fiquei ligado. Isabela virou o rosto quando ele tentou beijar ela. Já entendi que ela não queria nada. Mas o cara insistiu, colando nela de novo. Já deu, né? Porra, ela disse NÃO! Não pensei duas vezes, meu sangue subiu. — Ô, vacilão! — foi a última coisa que falei antes de enfiar o soco. PÁ! Bem no meio da cara do babaca. Ele voou pro chão. A boate parou, geral virou pra olhar, os celulares começaram a subir gravando e tirando foto. A Isabela tava ali, me olhando, chocada, estática. Eu consegui sorrir pra ela no meio da confusão, meio sem saber se ela ia rir de volta ou sair correndo. Mas meu momento de glória durou pouco. O maluco levantou puto da vida e me agarrou pelas pernas, me puxou com força e me derrubou. Caí no chão com tudo, e já virei no soco de novo. Era briga de verdade agora. Só que meus seguranças estavam por perto, logo chegaram pra apartar a p***a toda, mas confesso, eu queria mais era arrebentar aquele filho da p**a. Quem ele pensa que é? Enquanto me afastavam dele, ainda procurei a Isabela com os olhos. Queria ver se ela tava bem, se ela tava assustada ou... sei lá, impressionada? Mas a única coisa que eu senti foi saudade. Saudade da gente quando a gente ainda era a gente. E ali, mesmo com a mão doendo e o sangue subindo, o coração tava pior. Porque nada doía mais do que ver ela tão linda… e tão distante. --- Me levaram pra uma salinha nos fundos da boate. Tava suando de leve, o coração ainda acelerado pela briga, mas mantive a postura. Sentado numa cadeira de couro barato, respirei fundo, tentando não deixar a raiva dominar. Foi aí que o dono da boate entrou. — E aí, irmão, tá mais calmo? — ele falou com aquele tom meio debochado. — Tô suave, só me tira daqui logo — rebati, já de saco cheio. — Sou o Carlos, dono dessa p***a toda aqui. E o cara que tu socou... sou eu mesmo. Eu encarei ele, dei uma risadinha de lado e falei na moral: — A mina não queria te beijar, irmão. Eu conheço ela, vi que tu tava forçando a barra. Se for pra bater de novo, eu bato. Ele cruzou os braços, deu um passo à frente e mandou: — Também conheço a Isabela, tá? A gente tava se pegando ali na pista. Quem tu pensa que é pra vir meter o louco? Respirei fundo, tirei o boné devagarinho, deixando meus cabelos loiros caírem na testa. Foi aí que o olhar dele mudou. A cara de confusão deu lugar a um susto m*l disfarçado. — Caraca… tu é o Jace? O cantor de funk? — O próprio. A postura do cara mudou na hora. Foi tipo mágica. A voz mais baixa, o tom mais educado, o ego indo pra lona. — Não tinha te reconhecido, irmão… m*l aí mesmo, é que o clima ficou tenso, eu também tava bolado… — começou a se justificar, puxando um banquinho pra sentar de frente pra mim. Eu dei um sorrisinho sacana. — Relaxa. Acontece. — Mas cê conhece a Isa das baladas que ela promove, né? — ele perguntou, tentando se mostrar descolado. — Então... — falei num tom mais sério, encostando as costas na cadeira — Ela é minha ex-namorada. Mano… a bola do cara murchou na hora. Se tivesse um som de "fuééé" no fundo ia ser perfeito. Ele baixou os olhos, coçou a nuca, sem saber onde enfiar a cara. — Ah, pô… aí é outra história, né? — ele disse, quase gaguejando. — Não sabia… foi m*l aí, de coração. Não queria desrespeitar não. Fiquei olhando ele tentando se explicar, me segurando pra não rir. — Tá tranquilo. Já posso sair? — perguntei, levantando. — Pode sim, claro. Fica à vontade. E qualquer coisa que precisar… tamo junto, beleza? — Uhum — respondi seco, saindo da sala com o sangue ainda fervendo. Voltei pro salão, pro meio da muvuca, mas… ela não tava mais lá. Fui até o bar, olhei pra todos os lados, procurei no canto que ela tava, na pista, nas mesinhas... nada. Nem sombra da Isabela. A noite que podia ter sido só um rolezinho sem graça virou uma mistura de adrenalina, confusão e saudade. E agora, tava ali no meio da balada, com todo mundo curtindo como se nada tivesse acontecido… e eu me sentindo um o****o. — Que merda… — murmurei, passando a mão no rosto. Mais uma vez ela tinha sumido da minha vida. E mais uma vez… eu deixei escapar.
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