Capítulo 14: Nunca chorei

1181 Words
Não aguentei. Liguei pra ela de novo. Chamava, chamava, e nada. Meu peito tava pegando fogo. Eu andava de um lado pro outro no apartamento, nervoso, impaciente, só pensando no pior. Peguei um copo, enchi de whisky e virei tudo de uma vez, sentindo a garganta queimar. Liguei de novo. Dessa vez, ela atendeu. A voz tava baixa, quase um sussurro, mas deu pra entender. — Jace... eu não tô bem. Quero sua ajuda... Finalmente, ela tava aceitando a ajuda que eu vinha oferecendo fazia dias. — Eu vou te ajudar, tá me ouvindo? Passa teu endereço por mensagem, tô indo agora. Ela concordou e desligou. Sem perder tempo, peguei um casaco, as chaves da BMW e saí voado. Cheguei na garagem e o celular vibrou. A mensagem com o endereço. Entrei no carro e meti o pé. Minha cabeça só tinha um pensamento, proteger Isabela a qualquer custo. Se aquele covarde quisesse crescer pra cima de mim, ele ia se arrepender. A Glock tava ali no porta-luvas. Se fosse preciso, ia voar bala. Quando cheguei no endereço, nem pensei duas vezes, subi direto pro andar que ela tinha mandado na mensagem. O prédio era daqueles largadões, sem porteiro, a porta da entrada escancarada, toda arregaçada. Subi os degraus no automático, coração disparado, já sentindo que ia dar r**m. Cheguei na porta do apê dela e vi que tava só encostada. Sinal de alerta. Empurrei devagar e entrei. O silêncio era sinistro, nem sala, nem cozinha, nada. Foi quando vi Isabela jogada no chão. Meu estômago revirou. O rosto dela tava todo marcado, sangue escorrendo, os lábios, que até pouco tempo atrás eu tava admirando naquela chamada de vídeo, agora tavam inchados e roxos. O desgraçado bateu nela sem pena. Ela segurava a barriga, gemendo baixinho, o corpo cheio de roxos. Aquilo me subiu um ódio que eu m*l conseguia controlar. Ajoelhei do lado dela, puxei o celular e já saí ligando, polícia, ambulância e em seguida pro Paco. Enquanto falava, minha mão foi pro cabelo dela, fazendo um carinho leve, tentando mostrar que ela tava segura agora. — Fica comigo, gata, já vai ficar tudo certo. — murmurei. A ambulância chegou primeiro, os paramédicos entraram e começaram a avaliar ela. Paco colou logo depois, a cara fechada, pronto pra tretar. Expliquei rapidão a situação e ele garantiu que ia resolver com os tiras. Eu só queria garantir que Isabela ficasse bem. Subi na ambulância com ela, segurando a mão dela firme. Não ia deixar ela sozinha nem a p*u. Quem encostou nela desse jeito ia pagar caro. Muito caro. No hospital, já tinha imprensa do lado de fora me esperando. Esses carniceiros são f**a pra c*****o, viado. Acompanhei Isabela até onde deu, mas quando ela entrou na emergência, tive que ficar esperando notícias. Enquanto isso, umas enfermeiras que deveriam estar atentas aos pacientes estavam tudo debruçadas no balcão, acenando pra mim. Bando de p*****a, pensei. Mas na minha cabeça só tinha espaço pra Isabela. Já fazia dias que ela não saía do meu pensamento, desde que a gente começou a trocar ideia. E agora, então, era só nela que eu conseguia pensar. Ela médico veio dizer que ela estava bem, porém o convênio dela não cobria uma cirurgia plástica. — A senhorita Isabela, ficará com marca do ocorrido, caso não faça a cirurgia o quanto antes. — Ele disse sério. — Tem problema não, pode fazer agora mesmo que eu vou pagar essa cirurgia, pode falar com ela e ir preparando tudo doutor. Só não diz que eu tô pagando. — Ele assentiu e entrou no quarto onde. a Isabela estava. Assim que o médico saiu, avisou que eu podia ficar no quarto com ela até a hora da cirurgia. Eu assenti e me aproximei, vendo Isabela me olhar com aqueles olhos grandes e cheios de incerteza. Me abaixei ao lado da cama e segurei a mão dela. — Vai dar tudo certo, gata. Tô aqui contigo. Ela sorriu fraquinho, ainda com os olhos brilhando de lágrimas que insistiam em cair. Meu peito apertou. Não era justo ela passar por isso. Eu queria ter chegado antes, queria ter impedido aquele covarde de tocar nela. Passei a mão nos cabelos dela com carinho, tentando trazer algum conforto. Ela respirou fundo e apertou minha mão de leve. — Obrigada, Jace. De verdade. Eu não sei o que teria feito sem você. Engoli seco. Meu olho ardeu, e eu senti a garganta fechar. Caralho, era a primeira vez que eu chorava por mulher. Nem quando eu era pivete e minha mãe me dava esporro eu chorava. Mas ali, vendo Isabela tão vulnerável e ainda assim me agradecendo, me bateu de um jeito diferente. — Para com isso, esquece essa p***a toda. Agora cê vai fazer essa cirurgia e ficar novinha em folha. E eu tô aqui, fechadão contigo, fechou? Ela assentiu, e eu não resisti. Inclinei e dei um beijo na testa dela, sentindo a pele quente contra meus lábios. Isabela fechou os olhos por um instante, como se estivesse absorvendo aquele momento. Nessa hora, os enfermeiros chegaram com a maca. Me afastei um pouco, deixando que eles fizessem o trabalho. — Te vejo já, princesa. Vai lá e arrasa. Ela riu de leve, ainda que com dor, e foi levada pelos corredores brancos do hospital. Fiquei ali, parado, acompanhando com o olhar até ela sumir pela porta. Meu punho cerrou involuntariamente. A única coisa que passava na minha cabeça era que, quando essa p***a toda passasse, aquele filho da p**a que encostou nela ia pagar. E pagar caro. Depois de algumas horas, o médico apareceu com as notícias. Eu levantei num pulo, sentindo meu coração acelerar. — A cirugia da senhorita Isabela foi um sucesso, nem vamos precisar de uma segunda intervenção. Sua namorada vai ficar perfeita como antes do incidente, senhor Jace. Eu franzi a testa, mas não corrigi. Curti o som disso. Como se fosse real, como se ela fosse minha. Mas, p***a, a real é que não era. A gente era amigo. Ou pelo menos era isso que ela queria. — Valeu, doutor. Quando eu posso ver ela? — Assim que acordar completamente da anestesia, vamos levar para o quarto. Deve demorar um pouco, mas pode aguardar. Eu assenti, passando a mão no rosto, aliviado. Meu corpo todo tava tenso desde que ela entrou naquela sala de cirurgia, mas agora parecia que eu podia respirar de novo. Peguei o celular e mandei mensagem pro Paco, avisando que tava tudo certo. Ele me respondeu na hora, dizendo que tava resolvendo um assunto e depois colava no hospital. Me joguei na cadeira da sala de espera, exausto. p***a, parecia que tinha passado um caminhão em cima de mim. Fiquei encarando o chão, os pensamentos a mil. Isabela ia ficar bem. Isso era o que importava. Mas e depois? Depois eu ia ter que trocar uma ideia séria com ela. Eu não era o****o, eu quero uma chance com ela, ainda mais agora que ela tá solteira. Sim, eu sei que é recente, mas eu sou assim. Não perco tempo com nada.
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