Capítulo quatorze - 14:2

1171 Words
O céu m*l havia clareado quando eles se reuniu na varanda. O ar fresco soprava, enquanto o cheiro de terra se misturava com o aroma das flores do jardim. Uma manhã serena que só um lugar como aquele podia oferecer. Para o primeiro atrativo, Caio sugeriu a cachoeira. Selena já havia calçado os tênis de caminhada e prendia os cabelos louros com um laço simples. Todos haviam se animado com a ideia. E nesse embalo seguiram por um caminho estreito, ainda cercado pela neblina. O som dos passos na terra úmida se misturava com o canto distante dos pássaros. A caminhada estava tranquila, e o ar limpo e revigorante invadiam os pulmões. — Gostando da experiência? — Caio se aproximou puxando conversa. — O lugar é bonito — ela disse sem interromper os passos. — Vem muito aqui? — Uma vez outra. — Tô chocada! — Porquê chocada? — Achei que fosse um frequentador assíduo de lugares como esse. O campo tem seu charme. Mas eu sou mesmo homem da cidade. Vejo o campo como como um local de descanso, se reunir com a família, os amigos... Selena sorriu de leve, sem desviar os olhos do caminho. Conforme avançavam pela trilha, a paisagem se abria, revelando campos vastos. A imagem se espalhava à frente. O sol ainda nascente dourava as colinas ao longe. A caminhada pelo solo lamacento exigia passos cuidadosos. E o entusiasmo coletivo tornava o percurso leve e descontraído. — Isso aqui é muito melhor que compras em qualquer shopping — comentou Sara, encantada com os feixes de luz se infiltrando pelas copas. — E olha que fica apenas algumas horas de todo aquele barulho infernal da capital — Otávio apoiou. — Bom, quando quiserem os portões estarão sempre abertos — disse Caio. Minutos depois a trilha se abriu para uma clareira. Um véu cristalino despencava sobre as pedras escuras, alimentando uma piscina natural de tom esmeralda. As amigas e os amigos se preparavam para um mergulho. Selena, aos poucos perdendo a timidez, exibia o corpo coberto apenas pelo biquini azul que usava por de baixo do shortinho de sarja e a camiseta florida. Caio foi o primeiro a mergulhar soltando um grito de guerra, seguido pelos outros que aos poucos foram entrando na água, deixando a sensação gelada tomar conta do corpo. A água gelada despertava os sentidos, e entre risadas e brincadeiras, o clima de liberdade e descontração crescia. Havendo decidido que era hora de uma pausa na diversão, Selena saiu da água, aproveitando o calor do verão para relaxar na beirada da grande roxa às margens do rio. Júlia se aproximou torcendo os cabelos molhados. — Que foi Céu, ficou aí no canto. Conta, o que aconteceu? — investigou. — Não, nada, sai um segundo pra descansar, foi isso — distorceu Selena desviando o olhar. — E a tonta sou eu de entrar nessa — debateu Júlia abaixando a voz. — Tudo bem, não tem que disfarçar. — Disfarçar o que? — Sobre você e o Caio — enfatizou — E o que tem “Eu o Caio”?. — Os galanteios, os dois juntinhos nesse lugar romântico. Exatamente como se tende a agir quando se está flertando. Vai dizer que não percebeu? — Ele só quis ser gentil. E desde quando “ser gentil” quer dizer flertar? — Desde quando se nota que o interesse vai além da gentileza — disse Júlia. — Tudo bem se prefere continuar se enganando. Apenas fica esperta. O Caio não é o tipo que se declara pra qualquer uma no primeiro encontro. Fica a dica — aconselhou, deixando-a sozinha com seus pensamentos. Não por muito tempo. — Pensei que gostasse de agua. Salientou Caio aparecendo logo em seguida. — Quer dizer como uma criatura aquática? — Touché! Exclamou ele. — Vem cá. Sempre costuma agir assim? — Agir como? — Com as mulheres. — Não foi uma cantada — ele negou com veemência. — Jogou verde. Tecnicamente isso também conta. — Tá bom, tá bom. Eu admito. Me pegou nessa — disse lançando uma proposta a parte. — O que acha de fazermos um acordo. — Que tipo de acordo? — Se quiser pode tirar qualquer dúvida que possa ter formada a meu respeito e, em troca, eu garanto que respondo da melhor maneira possível. — Jura? Vai ser sincero? — Solenemente. — Tudo bem então... O que acha sobre... relacionamento? — De qual tipo de relacionamento estamos falando exatamente? — Ah, se relacionar, se envolver com alguém, se se apaixonar... — simplificou ela. — Depende — Caio inclinou levemente a cabeça. — Alguns podem encontrar dificuldade em expressar o sentimento. E isso geralmente interfere em como irão se relacionar. Mas se quer mesmo saber, particularmente, prefiro curtir sem se preocupar com o amanhã. Jamais entraria de cabeça em um relacionamento sério. Ou talvez só estivesse esperando a pessoa certa aparecer. — Foi apenas uma suposição. Não tem que levar a sério. Selena virou o rosto. Seu coração literalmente a ponto de saltar pela boca. — Melhor dizendo, eu voltar pra água. — Espera — ele segurou suavemente o pulso dela por um breve instante, o suficiente para que se olhassem frente a frente. — Antes de ir eu gostaria que ouvisse uma coisa. — Ouvisse o que? Selena sentiu o rosto corar, mantendo uma expressão neutra. — Que estou esperando por isso desde a primeira vez que nos vimos. Os olhos se fixaram por um instante eterno, e num gesto instintivo, os dois se entregaram. Não foi um beijo inesperado, e sim algo que surgiu naturalmente. O ar ao redor, pesa como nunca, como se algo novo tivesse surgido. Ou nada existisse além daquele momento. Como se selassem um acordo, trocaram um olhar cúmplice antes de novamente se ajuntar ao grupo. Apesar disso, ninguém pareceu perceber o fato, e sobre essa questão, nenhum comentário foi gerado. A noite, enquanto se revirava no colchão sem sono, ela ouviu um ruído vindo da porta. A voz baixa de Caio, quase um sussurro, fez o coração dela estremecer dentro do peito. Ela destrancou devagar a porta aparentemente em ótimo estado de conservação. E sem que precisassem de alguma desculpa, escaparam para fora da casa. A brisa da madrugada os envolvia e, sob a luz do luar, os beijos trocados as escondidas, tinha apenas as sombras das árvores como testemunha ocular. O jogo de sedução entre eles aumentava a sensação de liberdade, tornando os encontros deliciosamente intensos. Fora assim na manhã seguinte — trocas rápidas de olhares, encontros furtivos enquanto todos se distraiam. No domingo, exaustos e felizes, decidiram fechar o fim de semana com um luau a beira do lago embalado por um violão e histórias antigas. Com um gesto solene, digno de um poema lírico, Caio tomou a mão de Selena — dessa vez, assumindo-a publicamente. Os olhares surpresos logo recaíram sobre os dois. Mas, ao contrário de antes, eles não se preocupavam com o assédio. Já não tinham que esconder o sentimento. Não precisavam mais guardar segredos.
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