Capítulo 1
“Esse é o melhor dia da minha vida”, Juliana repetia mentalmente para si mesma
enquanto se olhava no grande espelho de seu quarto e observava o belo vestido
que usava.
Era seu aniversário, enfim seus 17 anos haviam chegado e ela estava mais que
animada para aquele momento. Do seu quarto, ouvia os sons da festa no andar de
baixo de sua grande casa, que estava localizada num dos melhores bairros do Rio
de Janeiro, senão o melhor, afinal, era nascida em berço de ouro e nunca conheceu
nenhuma dificuldade na vida.
Seu pai, o senhor Carlos Gonçalvez, era um dos bancários mais importantes da
cidade, todos conheciam seu nome e sabiam de sua carreira impecável de anos no
ramo. Durante todo esse tempo, ele havia acumulado uma grande fortuna que só
crescia e, assim, deu a sua esposa e sua filha vidas dignas da realeza. Além do pai
de ótima condição financeira, sua mãe, Sônia, não fazia nada além de dedicar sua
vida a sua a aproveitar dos luxos que o marido lhe dava e a dar a sua filha a melhor
das educações e tudo o que ela nunca teve.
Por isso, naquele dia, a festa era mais que luxuosa.
Juliana viu a porta de seu grande quarto se abrir e, quando se virou viu sua mãe
entrando no quarto com um enorme sorriso no rosto. Dona Sonia estava vestida
como uma rainha, usava um luxuoso e elegante vestido de seda, seus cabelos
escuros, com alguns fios brancos aqui e ali, estavam perfeitamente presos num
penteado elegante e ela exibia joias que, certamente, valiam mais que um carro de
luxo.
— Está perfeita, filha, uma princesa — Sonia falou, se aproximando da filha e pondo
as mãos nos ombros da garota.
Juliana usava um belo vestido rodado, seu b***o era justo e deixava suas curvas
amostra, mas a saia era rodada. O tecido brincava com os tons de rosa, enfeitado
com algumas espirais douradas que traziam um ar de riqueza a peça. Seus cabelos
estavam soltos e sobre eles repousava uma bela coroa, delicada e com pedrinhas
que, mesmo que a maioria acreditasse que não, se tratava de belíssimos diamantes.
— É tudo tão bonito, mamãe, eu amei tudo! — Juliana falou se virando para sua
mãe e a abraçando. — Conseguiu deixar tudo ainda melhor que o ano passado.
A festa do ano anterior foi igualmente luxuosa, mas, diferente dos 17 anos, os 16
haviam sido comemorados com uma festa na piscina num sitio de luxo que seus
pais haviam alugado para todos os amigos que a garota tinha, todos igualmente
bem de vida como ela.
— Minha menininha merece tudo e muito mais! — sua mãe falou, deixando um
beijinho em seu rosto. — Agora vamos, seu pai está esperando para a dança de
entrada!
No andar debaixo, Carlos aguardava um tanto quanto impaciente, sua filha estava
demorando mais que o previsto, no entanto, sabia que aquele era o sonho de suas
mulheres as duas pessoas quem mais amava, então, estava se esforçando. O salão
de festas da casa estava abarrotado de jovens que estavam esperando o momento
exato para tornar aquela festa uma bagunça total, mas ele havia prometido a sua
esposa que aquele seria um ambiente liberado para os jovens.
De longe observava um rapaz que tinha certeza que seria seu genro, observava
bem as relações de sua filha e achava que ele seria um pretendente à altura de sua
princesa, afinal, não a criou com tanto luxo para que ela acabasse se unindo com
um aproveitador qualquer. Sua filha deveria receber somente o melhor, que foi o
que ele deu a ela a vida inteira.
Quando a música parou e Carlos ergueu os olhos novamente, ele viu sua filhinha
descendo as escadas. Os dois eram muito parecidos, tinham os mesmo olhos
escuros e os mesmo cabelos negros, mas era inegável que seus belos traços
vinham de sua mãe, o rosto angelical e delicado, os lábios grossos e bem
desenhados, todos esses traços vinham diretamente da genética de Sônia.
Quando ela chegou ao último degrau, seu pai lhe estendeu a mão e Juliana sorriu,
estava feliz por tê-lo ali, afinal, era um homem ocupado e cheio de compromissos.
Por isso, sorriu alegremente e segurou a mão dele de forma delicada, deslizando os
olhos pelo grande salão e vendo todos os seus amigos ali, todas as pessoas que
gostava estavam presentes naquele dia que seria somente seu e perfeito.
Seu pai a conduziu com toda pompa até o meio do salão e, quando se posicionaram
a banda ao vivo trocou seus instrumentos para instrumentos clássicos e o primeiro
som que foi ouvido no local foi o belo violino, que iniciou a canção clássica e deu o
sinal positivo para a dança começar.
Era uma tradição importante para Carlos, aquela dança elegante que marcava a
passagem de sua menininha para um novo ciclo, a nova idade e o novo momento
de sua vida. Para Juliana, aquele momento era igualmente importante, seu pai
estava celebrando com ela um momento mais que feliz de sua vida.
— Você está mais que linda meu amor! — falou Carlos sorrindo para sua filha. — É
o meu maior tesouro, merece tudo isso e muito mais!
Dito isto, ele a girou, vendo o belíssimo vestido rodar num belo degrade de tons de
rosa e observando o rosto sorridente de sua filha, que seria com toda certeza, a
lembrança mais forte daquele dia, ao menos foi o que ele imaginou.
Antes mesmo que ele a trouxesse de volta para seus braços para finalizarem a
dança, a grande porta do salão de eventos da casa foi abaixo e os gritos tomaram
todo o salão.
— Polícia! Polícia! Ninguém se mexe! — os homens, que trajavam roupas escuras e
traziam armas de grosso calibre, gritaram logo entrando e cercando o salão.
Haviam cerca de 12 policiais, completamente bem armados e com expressões nada
amigáveis, expressões essas que deixaram todos ainda mais apavorados.
Os convidados estavam imóveis, a música havia parado e, no meio do salão,
Juliana observava a cena completamente chocada, não conseguia entender o que
estava acontecendo ali e nem o porquê daqueles policiais estarem invadindo sua
festa de aniversário.
“Só pode ser um engano”, ela pensou, se escondendo atrás de seu pai, com medo
do policial que caminhava em direção a ele.
Carlos estava claramente nervoso, seus ombros estavam tensos, suas mãos
suavam e ele sentia o coração acelerado. A última coisa que esperava era aquilo,
não imaginou que pudesse acontecer e muito menos ali, num momento em que
estava tão exposto.
Observou o policial caminhando de forma imponente em sua direção. O homem era
alto, tão musculoso que parecia uma muralha, sua expressão era completamente
fechada não trazia bons presságios a Carlos e quando ele já estava bem a sua
frente, o bancário conseguiu notar o crachá fixado ao seu peito.
Seu nome era Sargento Rocha.
A expressão dura combinava bem com o sobrenome.
— Senhor Carlos Gonçalvez, sou o Sargento Rocha — ele iniciou, mostrando o
distintivo. — O senhor está preso sob a acusação de desvio e lavagem de dinheiro
— ele falou, em alto e bom som, fazendo todos os presentes arregalarem os olhos.
— Como assim, Sargento? — Sonia interrompeu, parando ao lado do marido e
olhando para o policial. — Isso só pode ser um engano.
— Não há engano, senhora Gonçalvez! — o homem respondeu, recebendo de um
outro oficial um papel. — Aqui está o mandado de busca, nos acompanhe, por favor.
Dito isto, um outro policial se aproximou e, algemando Carlos, começou a caminhar
em direção a saída, sendo parado por Juliana, que segurou o braço do
desconhecido que levava seu pai.
— Vão levar meu pai preso? Ele não pode ser preso! Meu pai é inocente! — ela
falou alterando o tom e recebendo um olhar reprovador do policial. — Tirem isso do
meu pai!
— Senhora, controle sua filha por favor! — o Sargento falou impaciente. — Se o seu
pai não tem nada a temer, mocinha então não há por que se exaltar! Estamos
fazendo nosso trabalho!
Então, sem dar nenhuma outra satisfação, o homem se virou. Seguindo os demais
oficiais para fora e sendo acompanhado por Juliana e Sônia, que sequer prestavam
atenção nos demais convidados. Carlos não disse nada, não resistiu enquanto os
policiais o colocavam dentro do camburão, que estava parado na frente da grande
mansão, chamando a atenção de todos os vizinhos.
Enquanto a viatura partia, junto a outras três motos da polícia, Juliana e Sonia
observavam o homem que acreditavam ser o mais íntegro de todos sendo levado.
Sentiam-se humilhadas, indefesas e sozinhas.
Se Carlos não voltasse logo, se não fosse inocentado, o que seria delas?
Sem ele não tinham nada, Sonia sequer se lembrava como era trabalhar.
Não havia mais comemoração, não havia mais festa, mais nada. Todos os
convidados foram saindo, pouco a pouco, do lugar, mas tentavam ser rápidos,
afinal, a imprensa logo chegaria e ninguém queria ser fotografado dentro da casa do
bancário recém levado para a cadeia.
Quando todos se foram e a casa estava vazia, Sônia se permitiu entrar em
desespero silenciosamente. Seu marido estava preso? Será que perderiam tudo o
que tinham? A possibilidade a fazia tremer, o que seria dela? O que seria de sua
filha? Será que seus amigos iriam ajudá-la? Ela torcia para que as coisas dessem
certo, torcia para que todos os amigos que tinham servissem para alguma coisa
naquele momento e não só para a acompanharem até a aula de pilates.
— Mamãe... O que vai acontecer agora? — Juliana perguntou, chorosa, enquanto
olhava para o salão de festas completamente vazio.