O chão da cozinha tava frio. Eu tava sentada ali, com as costas escoradas no armário, uma almofada embaixo do quadril e o ventilador girando preguiçoso no teto. O almoço era arroz com ovo mexido, de novo, e eu tinha queimado o fundo da panela por distração. Mas o cheiro me enjoava mesmo assim. Segurei a barriga com as duas mãos, sentindo aquele peso todo que não era mais só físico. Vicente parecia estar se espreguiçando lá dentro, cutucando meu fígado com os pés. Suspirei. Era estranho como a gente se acostuma com o desconforto. Tanta coisa doía em mim ultimamente que aquela pontada mais forte na lombar parecia só mais uma parte do pacote. — Ai… — sussurrei, levando a mão pra parte baixa da barriga quando uma pressão diferente veio, firme e morna, como se o corpo quisesse se esticar int

