Nicole Watson (Nike)
Estou a caminho da casa do Fernando. Não sei exatamente por quê, mas meu coração está acelerado. Talvez seja ansiedade. Talvez seja medo do que ele vai dizer. Desde o dia do casamento, não nos falamos pessoalmente.
A última mensagem que recebi dele foi dura: ele me acusou de não o amar, por não ter fugido com ele quando tive a chance.
E mesmo sabendo que essa visita é um erro, aqui estou eu.
— Oi. — falo assim que ele abre a porta.
— Oi, linda. — responde, antes de me puxar para um beijo urgente.
Fico surpresa. Achei que ele ainda estivesse bravo. Mas tudo o que sinto ali é saudade.
— Que falta eu senti do seu beijo. — ele sussurra, ainda colado a mim.
— Também senti sua falta.
— Me desculpa pelo que te disse. Eu estava com raiva.
— Não precisa pedir desculpas, Nando. Só... me beija.
Nos beijamos outra vez. Um beijo carregado de tudo o que ficou entalado entre nós.
— Vamos pro meu quarto?
— E a Babi?
— Saiu com os nossos pais. Estamos sozinhos. A casa é nossa.
— Nando... — hesito.
— Vamos, amor. Eu preciso te sentir.
— Tá... tá bom.
Subimos. Ele tranca a porta. Vem devagar, com aquele olhar que me desarma.
— Hoje... eu vou matar a saudade do meu jeito. — diz, e me beija outra vez.
Suas mãos percorrem meu corpo com pressa. Me ajuda a tirar a roupa. Eu tiro a dele. Não penso. Não racionalizo. Só quero esquecer. Só quero sentir.
E nos perdemos um no outro.
Acordo assustada. O sol já invadiu o quarto, e eu... estou ali.
Na cama do Fernando. Dormi.
Droga.
— Nike? Onde vai? — ele pergunta, ainda sonolento, ao me ver levantar de repente.
— Tenho que ir. Não devia ter dormido aqui.
— Por que não?
— Porque agora eu sou uma mulher casada, Nando.
— Casada com um homem em coma.
— Mesmo assim. Se Caterina souber... eu não faço ideia do que ela é capaz.
— Não fica assim. Vem cá. — ele tenta me puxar, mas me desvencilho.
— Nando, não posso.
— Só me promete que a gente vai se ver de novo.
— Não sei...
— Não sabe ou não quer?
— Fernando, por favor, não começa.
— Desculpa. Tá. Me avisa quando puder.
— Tá bom.
Ele me dá um beijo de despedida. Desço as escadas e dou de cara com Babi.
— Oi, cunhadinha. — ela diz, arqueando uma sobrancelha.
— Oi, Babi. Tchau, Babi.
— Já vai, Nike?
— Sim. A gente se fala depois.
Entro no carro e arranco direto de volta para a mansão dos Martinelli. Com o estômago embrulhado de culpa.
Assim que entro, dou de cara com Margarida.
— Senhorita Nicole, onde estava?
— Por quê?
— A senhora Caterina está furiosa. Não te encontrou a manhã toda.
— Disse que eu estava na casa do meu pai?
— Foi o que eu disse. Ela está no quarto do senhor Rodolfo.
— Obrigada.
Subo, tentando conter a ansiedade. Abro a porta do quarto e encontro Caterina sentada ao lado do irmão, observando-o com os olhos frios.
— Onde você estava? — pergunta, sem sequer me olhar.
— Na casa do meu pai.
— Não minta pra mim. — diz, com um tom que corta o ar.
— Não estou mentindo.
— Assim espero. — se levanta, ajeitando o paletó. — Você agora é uma Martinelli. E como tal, deve se dar o respeito. Não quero — e não vou tolerar — que se encontre com seu ex enquanto está casada com meu irmão.
— Esse casamento é só um acordo.
— Mas foi oficial. Legalizado. Com testemunhas. Tem o mesmo peso de qualquer outro.
— Eu sei disso.
— Então se comporte como uma esposa. Como uma Martinelli. Você agora é uma das mulheres mais ricas e visadas do país.
— Eu não pedi por nada disso.
— Mas aceitou. E graças a mim, seu pai está sendo tratado pelos melhores médicos do país. Não se esqueça disso. Se não fosse por mim, ele estaria... como o meu irmão. Com o tempo contado.
Engulo seco. Sinto as lágrimas querendo vir. Mas me mantenho firme.
— Mais uma coisa, senhorita Watson. Se isso se repetir, o acordo estará encerrado.
— Não vai acontecer de novo.
— Espero que não. — diz e sai, deixando um rastro de veneno no ar.
Me aproximo da cama. Rodolfo continua ali. Igual. Vazio. Olhos abertos, mas sem vida.
— Quando é que você vai morrer, hein? Eu não vou aguentar isso por muito tempo. — murmuro, e imediatamente me arrependo.
O estômago ronca. Percebo que nem tomei café. Antes de comer, decido tomar um banho.
Depois do banho, me visto e, como não tenho nada para fazer, resolvo explorar a mansão.
Cada cômodo parece ter saído de uma revista de luxo. Tudo refinado, sóbrio, elegante. Rodolfo definitivamente tem bom gosto. Ou tinha.
Ando por corredores que nunca vi antes. Até que chego a uma porta diferente: vermelha, de madeira pesada, e trancada.
Tento girar a maçaneta. Nada.
Estranho. Por que só esse cômodo está fechado?
Me viro e decido perguntar.
— Margarida! — chamo ao chegar na cozinha.
— Oi, senhorita. Estou aqui.
Ela está preparando o almoço. Me sento em uma cadeira e vou direto ao ponto.
— Margarida… por que o cômodo com a porta vermelha está trancado? Tem algo lá?
Ela para o que está fazendo e me encara com seriedade.
— O que você fazia naquela parte da casa?
— Nada demais. Só estava conhecendo o lugar.
Ela seca as mãos devagar. A expressão tensa.
— Não há nada lá.
— Então por que está trancado?
— Senhorita… não volte mais lá.
— Por quê?
— Aquele quarto era do senhor Rodolfo. Só ele entrava lá. Ninguém mais.
— Tem algo errado lá dentro?
— Não vamos falar sobre isso. Só me escute: não volte lá.
— Tá bom, Margarida.
Mas agora… eu estou ainda mais curiosa.
O que será que Rodolfo escondia ali?
Eu vou descobrir. Só preciso encontrar essa chave.