Termino...cap...07

816 Words
Nicole Watson (Nike) Tomei a decisão que estava tentando adiar há semanas: me despedir do Fernando. De verdade. Nos encontramos uma última vez. Sem beijos. Sem carícias. Sem desculpas. Apenas a dolorosa verdade. — Não fica assim, linda… eu vou te esperar. — ele disse, com a voz embargada, acariciando meu rosto como se quisesse guardar meu toque. — Não posso te pedir isso, Nando… Eu nem sei por quanto tempo ainda vou estar casada com ele. — Eu não me importo. Espero o tempo que for preciso. As lágrimas desceram antes que eu pudesse conter. Nunca imaginei que um dia me separaria do Fernando. Mas a vida... não pergunta se estamos prontos. (***) Um mês depois Já faz um mês desde o casamento. Um mês vivendo ao lado de um homem imóvel. Um mês sem ver Fernando. Um mês fingindo normalidade num mundo que me engole viva. Só ouço falar dele quando a Babi comenta casualmente. Disse que ele agora está trabalhando com o pai, em São Paulo. Aceitou o cargo para se afastar. Para não me atrapalhar. Entro na mansão Martinelli e, como sempre, o silêncio é quase um soco. Um eco que me lembra o quão artificial é tudo isso. Subo, entro no quarto e encaro o mesmo cenário de sempre: Rodolfo Martinelli. Imóvel. Frio. Vazio. Peço, em silêncio, que isso acabe logo. Meu pai já começou o tratamento contra o câncer — e só por isso não me arrependo do que fiz. De resto? É um pesadelo. Vou até o closet e procuro meu pijama do Mickey. Juro que trouxe ele na mala. Reviro tudo… nada. Minhas roupas dividem espaço com as dele. Os ternos caros, as camisas alinhadas, o perfume discreto. Sempre se vestiu bem, aparentemente. E aí, como num impulso... pego uma das camisas dele. — Você não se importa, né, senhor Martinelli? — murmuro com um sorriso irônico. Passo meu hidratante, visto a camisa, como sempre sem me importar de trocar de roupa na frente dele. Ele não vê nada mesmo. Não sente. Não reage. Mas quando me viro… o mundo desaba. O rosto de Rodolfo está virado pra mim. Me olhando. Congelo. O sangue some do meu rosto. O coração para. Não. Não. Não pode ser. — Mar… Margarida?! Margarida! — grito, saindo em disparada pelo corredor. Ela surge na escada, assustada. — O que houve, minha querida?! Por que está tão pálida? — O... O Rodolfo… ele… ele me olhou. Ele virou o rosto e… me encarou. Margarida empalidece também. — Isso não pode ser… — Mas é! Eu vi! Ele está acordado! Sem hesitar, ela sobe correndo. Eu vou atrás. Ao entrarmos no quarto, Rodolfo parece do mesmo jeito. Mas Margarida não hesita: se aproxima, levanta a mão e acena lentamente. Os olhos dele acompanham o movimento. — Senhorita… é verdade. O senhor Rodolfo… voltou. — ela diz, emocionada. Eu continuo estática, muda. Meus pensamentos são um borrão. Isso não podia acontecer. E então, a porta se escancara. Caterina entra com dois médicos atrás. O caos se instala. — Irmão… meu Deus, que bom te ver de volta. — diz ela, com os olhos marejados. Os médicos o examinam. Depois de longos minutos, se viram para nós, espantados. — É um milagre. Tínhamos certeza que ele não resistiria por muito mais tempo. — Ainda bem que estavam errados. — diz Caterina, com firmeza. — Vamos iniciar o protocolo de reabilitação imediatamente. Com sorte, em poucas semanas ele estará andando. Falando. Lúcido. E é aí que ele fala. A voz é rouca, fraca… mas assustadoramente firme. Ele me olha de cima a baixo, e pergunta: — Quem é ela? Eu engulo seco. Caterina responde, tentando soar leve: — É… uma longa história. Mas, resumidamente, sua esposa. Ele franze o cenho. — Esposa? — Sim. Eu achei que você não merecia morrer sozinho. Quis garantir que tivesse alguém ao seu lado. O olhar dele muda. Fica sombrio. — Eu não tenho esposa. Nunca quis uma. Tirem ela daqui. Agora. — diz, a voz agora cortante. Eu travo. Não consigo reagir. Só sinto Margarida segurar minha mão e me puxar pra fora. — Vamos, querida. Vou te preparar um chá. Você precisa se acalmar. — Ele… ele acordou. — murmuro, ainda em choque. — Sim. É maravilhoso, não é? — Não. Não é. — Ele só está confuso. O senhor Rodolfo nunca teve outra mulher… desde… — ela para de falar. — Desde o quê, Margarida? — Nada, querida. Só… lembre-se que, apesar de tudo, ele é um bom homem. Mesmo que não pareça agora. — Acho que ele não vai aceitar isso tão facilmente. — Pode ser. Mas talvez… seja só o começo. Eu não sei o que pensar. Parte de mim está apavorada. A outra… quase aliviada. Se ele voltou, esse acordo pode finalmente acabar. Mas algo dentro de mim diz: Nada será tão simples quanto parece.
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