Não é ela...cap...08

638 Words
Rodolfo Martinelli Não sei onde estou. Tudo é escuridão e confusão. Só ouço vozes ao longe. Ecos abafados. Tento falar… mas nada sai. Tento me mexer… e é como se toneladas me esmagassem. Estou preso dentro do meu próprio corpo. Mais uma vez, ouço uma voz feminina. Suave. Doce. Familiar. Será que é ela...? Não… ela está morta. Só pode ser um sonho. Mas aos poucos, os sons ganham nitidez. O cheiro muda. Acordo no meu quarto. É sutil, mas está lá: o perfume feminino, a brisa pelas janelas, a sensação de que algo… mudou. Reúno cada grama de força que me resta e consigo virar o rosto. E o que vejo... me paralisa. Uma mulher. Linda. Sensual. Desconhecida. Ela está se trocando — ali, no meu quarto — como se fosse dona do espaço. Seu corpo... perfeito. E, ainda por cima, veste uma das minhas camisas. O sangue me ferve. Quem deu o direito a essa mulher de tocar nas minhas coisas? Quem permitiu que ela invadisse meu espaço? Ela se vira. Me vê. Empalidece. Fica paralisada por um segundo… e depois sai correndo, gritando por alguém chamada Margarida. Minutos depois, Caterina entra no quarto com os olhos marejados e os médicos logo atrás. Ela se aproxima com um sorriso emocionado. — Irmão… meu Deus, é tão bom te ver de volta. — Quem te deu o direito de me casar com uma estranha qualquer? — digo com esforço, mas com o veneno de sempre. — Ela não é uma estranha. Ela é sua esposa. — Esposa? Eu nunca quis uma. Isso não é da sua conta, Caterina. Você não tinha esse direito. — Você estava prestes a morrer, Rodolfo. Eu só queria que tivesse alguém ao seu lado. — Palhaçada. Quero essa mulher fora da minha casa. Agora. — rosno, mesmo com a voz fraca. — Por favor, não se altere. Você acabou de acordar. Respiro fundo, mas a raiva pulsa no peito. Minha cabeça dói. Estou fraco. Odeio me sentir fraco. Fecho os olhos e tento me organizar. A última coisa que lembro é… Minha moto. A estrada. O vento. Depois… nada. — Caterina… o que aconteceu comigo? Por que agem como se eu estivesse morto? Ela se aproxima, segura minha mão. — Você sofreu um acidente de moto. Entrou em coma. Estado vegetativo. Os médicos disseram que… você não voltaria. — Por quanto tempo eu fiquei assim? — Quatro anos. Quatro. Anos. O mundo parece parar por um segundo. — E minha empresa? — Está bem. Eu cuidei de tudo. — Você? — levanto uma sobrancelha, irritado. — Sim. Sempre estive ao seu lado, Rodolfo. Eu sabia como tocar os negócios. — Espero que não tenha ferrado nada. Trabalhei duro demais pra construir isso. — Fique tranquilo. Está tudo como você deixou. — ela diz, antes de sair do quarto. Preciso recuperar o controle. De tudo. Agora. Alguns dias depois Ainda não consigo mover as pernas. O fisioterapeuta me diz que é questão de tempo. Mas eu odeio depender de alguém. Depender me fere. Caterina entra no quarto, empurrando uma cadeira de rodas. — Aqui está, Rodolfo. — Eu não quero essa merda. Não sou um aleijado. — Você vai andar. Mas até lá… precisa colaborar. Não respondo. Apenas aceito a cadeira com o olhar cheio de veneno. Café da manhã Estou sentado à mesa de jantar. O café está servido, mas não toco em nada. E então ela entra. Minha “esposa.” Está usando minha camisa. De novo. Ela para, me encara. Nossos olhos se cruzam. Por um segundo, o tempo congela. Ela é linda. Isso é fato. Mas a audácia dela... me incomoda. Ela desvia o olhar e vai saindo. Mas então para quando vê Margarida. Sinto que ela ainda não entendeu onde se meteu. Mas vai entender. Muito em breve.
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