Capítulo Dez — Da Ruína ao Renascimento

1181 Words
“Às vezes, o que destrói não é o que nos tiram, mas o que nos obrigam a enxergar. O fim de uma ilusão pode ser o começo da nossa verdadeira história — mesmo que ela nasça da dor.” Christopher Davis Dizem que a dor ensina. Eu aprendi, mas o preço foi alto demais. Eu e Katharine Hilton éramos o casal perfeito para as colunas sociais de Nova York. Filha de um deputado influente, ela circulava entre os poderosos desde a infância. Nossos pais se conheciam, nossos sobrenomes abriam portas, e, por quatro anos, acreditei que o amor poderia ser simples, mesmo cercado de interesses e expectativas. Eu estava apaixonado, pronto para pedi-la em casamento assim que concluíssemos a faculdade de Ciências Políticas — o curso que meu pai, senador Richard Davis, fez questão que eu seguisse. Faltava um semestre para o diploma, e eu já planejava o pedido para o feriado de Ação de Graças. Mas a vida tem um talento c***l para destruir certezas. Naquele dia, fui ao Capitólio visitar meu pai. Ele estava em Washington, D.C., e eu queria compartilhar meus planos, talvez buscar sua aprovação, mesmo sabendo que ele raramente aprovava algo que não fosse ideia dele. Entrei no gabinete, sem bater — um hábito de filho que se sente em casa. O que vi congelou meu sangue. Meu pai e Katharine estavam juntos. Nus. No sofá de couro, o mesmo onde, tantas vezes, sentei para ouvir discursos sobre ética e família. Ele acariciava a barriga dela, e, naquele instante, entendi tudo: ela estava grávida. E o filho não era meu. O chão sumiu sob meus pés. Não lembro se gritei, se chorei, se apenas saí correndo. Só lembro do gosto amargo da traição, da sensação de que tudo em que eu acreditava tinha sido arrancado de mim. Fugi dali, sem rumo. Passei horas vagando por Washington, tentando entender como aquilo era possível. Meu pai, o homem que me cobrava perfeição, que planejava meu futuro político, destruíra minha vida sem o menor remorso. Katharine, a mulher que eu amava, que eu confiava, era cúmplice desse teatro c***l. Naquela noite, liguei para minha mãe, Eleanor Davis. Ela sempre foi meu porto seguro, mesmo depois do divórcio. Atendeu na primeira chamada, a voz preocupada. — Chris? Está tudo bem? — Não, mãe. Não está. Preciso falar com você. Agora. Ela não hesitou. Me encontrou em um café discreto, longe dos olhares curiosos. Quando me viu, soube que algo grave tinha acontecido. — O que foi, filho? Você está pálido. Respirei fundo, tentando organizar o caos dentro de mim. — Eu… Eu vi o papai com a Katharine. Juntos. Eles… — a voz falhou. — Eles estão juntos, mãe. E ela está grávida. O silêncio dela foi pesado, mas não de surpresa. Havia tristeza, mas também uma espécie de resignação. — Eu sinto muito, Chris. Eu já desconfiava de algumas coisas, mas nunca quis acreditar que ele seria capaz de algo assim. Principalmente com você. — Como ele pôde? Com a minha namorada? — minha voz saiu entrecortada. Ela segurou minha mão, firme. — Seu pai sempre foi movido pelo próprio ego. Ele não mede consequências quando se trata de satisfazer seus desejos. Mas isso não é culpa sua. Não é sua responsabilidade carregar os pecados dele. — E agora? O que eu faço, mãe? — Você segue em frente. Não deixa que a sujeira dele defina quem você é. Eu vou pedir o divórcio. Não posso mais viver ao lado de alguém assim. O divórcio foi inevitável. Silencioso, discreto, como convém às famílias que têm reputações a zelar. O escândalo foi abafado com dinheiro, influência e ameaças veladas. Ninguém fora do círculo íntimo soube o que realmente aconteceu. O senador mais votado dos Estados Unidos não podia ter sua imagem manchada por um escândalo s****l com a namorada do próprio filho. A família Hilton tentou reverter a situação. Jonny P. Hilton, o deputado, me procurou pessoalmente. — Christopher, precisamos conversar. O que aconteceu foi um erro, mas você e Katharine têm história. Ela está abalada, precisa de você. O bebê… Bem, seria melhor para todos se você assumisse a criança. Ninguém precisa saber de mais nada. Olhei para ele, sentindo uma mistura de raiva e pena. — O senhor quer que eu me case com a mulher que me traiu com meu próprio pai? Que eu crie meu irmão como se fosse meu filho? Não, deputado. Eu não vou participar dessa farsa. Ele tentou argumentar, falou de reputação, de futuro, de alianças políticas. Mas eu já tinha decidido. Não seria mais uma peça no tabuleiro deles. Afastei-me de tudo. Da política, da família, de Nova York. Deixei para trás o sobrenome, as festas, as promessas vazias. Fui reconstruir quem eu era, longe dos holofotes. Meus amigos foram meu alicerce. Enzo e Alex não fizeram perguntas. Apenas estiveram lá, me tirando de casa, me levando para viagens, festas, tentando me lembrar de que a vida podia ser leve, mesmo quando tudo parecia desmoronar. Mas foi Jasmine quem realmente me ajudou a reencontrar o caminho. Ela apareceu quando eu estava no fundo do poço, afundado em raiva e ressentimento. — Chris, você não é seu pai. Não é a traição que sofreu. Você é muito mais do que isso. — Ela me disse, certa noite, enquanto caminhávamos pela orla do Hudson. — Eu não sei mais quem eu sou, Jazz. Tudo o que eu planejei, tudo o que eu acreditava, foi destruído. — Então, reconstrua. Do seu jeito. Sem seguir o roteiro de ninguém. Você sempre foi bom em criar oportunidades. Por que não faz isso agora? Foi dela a ideia de investir no ramo de entretenimento. Jasmine conhecia gente, tinha visão, acreditava em mim quando nem eu acreditava. Juntos, começamos a desenhar o que viria a ser a Empire Nights. No início, era só um projeto, uma fuga. Mas, aos poucos, virou propósito. Trabalhamos dia e noite. Eu mergulhei no negócio, usei tudo o que aprendi sobre poder, influência e imagem para criar algo meu. A Empire Nights nasceu do caos, mas cresceu com autenticidade. Não era só uma casa noturna; era um império de experiências, de liberdade, de reinvenção. O tempo passou. As feridas cicatrizaram, mas as marcas ficaram. Nunca mais olhei para meu pai da mesma forma. Nunca mais confiei em promessas fáceis. Aprendi a desconfiar dos sorrisos largos e dos acordos silenciosos. Katharine tentou me procurar algumas vezes. Cartas, mensagens, recados por amigos em comum. Nunca respondi. Não havia mais nada a dizer. O passado ficou onde deveria: enterrado. Hoje, olhando para trás, vejo que aquela traição foi o ponto de ruptura de tudo o que eu era. Doeu, destruiu, mas também me libertou. Se não fosse por aquele dia no Capitólio, talvez eu estivesse preso até hoje em uma vida que não era minha. A Empire Nights é minha resposta ao mundo. Um lugar onde eu comando, onde as regras são minhas. Onde ninguém, nem mesmo o passado, pode me controlar. E, apesar de tudo, agradeço à dor. Porque foi ela que me fez renascer.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD