5ª part

1551 Words
Mayla... Entender os fatos acontecidos durante todo o dia até aqui, não era algo assim tão simples para mim. Por mais que me dissessem ao contrário, me recusava a aceitar que aquela mulher estava atrás de mim, tão pouco que seu único objetivo se resumia em tirar a minha vida. Não conseguia associar uma ação tão pesada para alguém como eu, para alguém tão sem importância para o mundo. Aos olhos alheios, eu era apenas uma aspirante a fase adulta da minha vida sem muito a oferecer, uma jovem sem família, sem ninguém para recorrer em certas situações. Um ser praticamente inexistente. No momento em que deixamos o carro logo após o falecimento de Xavier, foi quando percebi que muita coisa do que estava acontecendo não era uma simples brincadeira. Ouvi e compreendi a frase que vagou por entre os lábios de Carlos, mas por um breve momento, não quis sair dali. Por um breve momento, queria estar frente a mulher responsável por tirar aquela vida. No entanto, observar o responsável por nos ceder alguma vantagem cair sem vida pelo chão, me tirou toda uma reação. Para ela, aquilo não era nada. Com um simples conjunto de movimentos, Carlos perdeu a vida assim como um inocente animal no caminho para o abatedouro. Para mim, era insano presenciar uma ação tão fria. Afinal, ele era um ser humano, estava apenas fazendo se cumprir o seu trabalho. Ao fim de tudo, todos eles estavam. E mesmo que não conseguisse entender os seus motivos, muito menos estando preparada para ao menos tentar. Agradecia o que estavam fazendo por mim, o empenho em me manter viva a todo custo. Quando seus olhos se encontraram com os meus, não soube decifrar o que senti. Estava perdida em meus próprios passos enquanto me virava para deixar aquele lugar o mais rápido que fosse possível. Saber para onde deveria seguir não era algo dentro dos meus conhecimentos. Pois apesar de ser alguém com o QI elevado, ainda não havia sequer me imaginado em um filme de ação. Nunca pensei que em um dia a mais presa dentro de uma rotina comum, tudo de novo desmoronaria sobre a minha cabeça como se pertencesse a normalidade da minha vida. Então cabia a mim, apenas me deixar ser guiada pela agente B. Ela sabia o que deveria ser feito durante essa situação, sabia como agir para não termos o mesmo destino que seus companheiros de equipe. Mas confesso que em momento algum cogitei a ideia de ser detida pela embaixada americana, aquele plano era uma grande porcaria. Em anos indo e vindo pelas ruas de Berlim, entre uma leve infração e outra, nem mesmo uma advertência chegou até mim. Pelos roubos não identificados, por breves atos de vandalismo, por ações contra um governo devedor, e entre muitas outras ações. Nunca chegaram nem perto, jamais ameaçaram agir contra tudo aquilo que era feito por mim. Em outras palavras, os danos causados não eram uma grande preocupação, não havia ninguém para se importar. E mesmo que fosse difícil relatar toda a lista que me perseguia, em momento algum ela me deixou em situações de risco, em momento algum ela me levou a prisão. Algo que vejo como uma grande ironia, e até mesmo injustiça. Pois acabar sendo detida quando querem me m***r, não faz sentido algum. Queria ter dito isso para os soldados que nos guiavam para alguma sala, mas o olhar e o silêncio da mulher ao meu lado deixava tão claro quanto a água, que abrir a boca não era uma jogada para o momento, então respirei fundo e me mantive calada em relação a isso. Esperava ao menos que estivéssemos seguras, afinal, aquele era um dos prédios mais bem protegido de toda Berlim. Não deveria haver motivos para que minha preocupação com quem nos caçava continuasse tão alta. No entanto, nunca gostei de estar errada. Considerando seriamente a possibilidade de poder respirar com calma e tranquilidade, aceitei fazer todo o percurso da mesma forma em que a agente Ruschel. As algemas impediam a maior mobilidade das minhas mãos, mas até aquele momento não era algo que me incomodasse. Porém, dentro da sala escolhida para nos manter a espera de algum interrogatório, não pude mais evitar a minha enorme necessidade em obter algumas respostas. Queria saber o porquê por trás de tudo aquilo, o porquê de alguém se preocupar tanto em me proteger. Mas não era algo que estivesse ao meu alcance, não teria as respostas que procurava. E apenas para completar toda a minha frustração, o alarme de segurança do prédio soou alto. Não precisava ser um gênio para saber a razão pra isso. Não era comum que a segurança da embaixada americana fosse rompida, e sendo algo que aconteceu logo quando aquela mulher se fez presente, é possível ter alguma noção de tudo o que ela pode ser capaz. A minha situação não poderia ficar ainda pior, foi o que pensei. Mas não havia imaginado que a agente B fosse agir com base na violência logo nos limites deste prédio, e ainda sim foi o que aconteceu. Com suas mãos livres após um feito que eu não faria em momento algum, ela não teve problemas em deixar o guarda caído ao chão já sem consciência. Tomando todo um cuidado com quem quer que pudesse aparecer e, sem se importar com nada do que eu pudesse dizer, apenas seguiu com seus passos a frente não se esquecendo de manter a cautela. E devido a velocidade em que já nos encontrávamos do lado de fora, a estratégia usada para deixar o prédio parecia ter sido montada há algum tempo. Foi algo que notei ao perceber toda a sua facilidade em se desviar dos soldados que seguiam pelos corredores. O que não esperava, era que a mesma tivesse roubado as chaves do carro do pobre homem deixado na sala em que estávamos. Onde estava a sua moral para vir me criticar quando me encontrou mais cedo? O seu roubo era muito mais elevado do que o meu, considerado algo qualificado pelas autoridades máximas. Diante as suas ações, eu estava limpa. Dizer qualquer coisa que servisse de sermão, não cabia mais em si. Após o meu questionamento sobre o que foi feito, tudo o que recebi foi um ultimato para adentrar o veículo o quanto antes. Não queria o fazer, mas ir contra as suas decisões não me parecia ser algo a ser feito naquele momento. Mesmo que de forma contrária ao que eu teria feito, ela estava se empenhando em manter nossas vidas a salvo, em nos manter distantes da mulher responsável por causar enormes dores de cabeça para os líderes da embaixada. Seguir com o que me foi pedido, era tudo o que eu poderia fazer. Algo devia ter sido planejado, então ouvir e acatar cada uma das suas instruções, seria a decisão mais correta que poderia fazer parte de um dia tão movimentado como este. Não havia outra para ser tomada, estava certa disso. - Para onde iremos agora? - conhecia as grandes probabilidades de novamente ficar sem as respostas que desejava, mas havia presente em mim a enorme necessidade de perguntar uma vez mais. Mesmo que fosse do meu desejo, ficar em silêncio não era nada fácil pra mim, a minha curiosidade não permitia. - Me passaram um ponto de encontro, para onde deveria levar você assim que a resgatasse. Esse é o nosso destino no momento - indo contra as minhas teorias, disse sem perder o foco da rodovia e de tudo o que se passava ao seu redor. Ainda existia uma possibilidade de estarmos sendo seguidas, sua ação me dizia isso. Mas como alguém como eu conseguia fazer tal leitura, era a questão que se fazia presente em minha mente - No momento em que estiver sob os cuidados das pessoas que me contrataram, não terá mais com o que se preocupar. Ninguém mais poderá encostar em você. - Se eu não tivesse uma vida para viver, possívelmente teria visto nessa ideologia uma grande oportunidade. Mas como não é o caso, por quanto tempo acha que terei de me manter escondida ou algo assim? - talvez não fosse algo que devesse ter deixado as minhas cordas vocais, mas quando me dei conta, já havia saído. Não queria ter que me limitar dentro de algum ambiente subjugado, tão pouco queria me ver longe das aventuras que minhas ações sempre me reservavam. Viver em uma espécie de c*******o não era aquilo com o qual já tive o prazer de sonhar, estava longe de qualquer idealização que tenha passado pela minha mente. No entanto, como pensei que fosse acontecer na primeira tentativa, dessa vez a resposta não se fez presente. Talvez ela possuísse o conhecimento e não quisesse me dizer, ou talvez nem mesmo soubesse o que me aguardava depois de concluir a sua missão. Eram muitas perguntas para poucas respostas, pouca luz para uma escuridão extensa. O que me aguardava depois de todo esse ocorrido, era um mistério para mim. Ao menos ainda continuava respirando o ar puro pelo qual meus pulmões agradecia. Mas diferente deles, meu coração pareceu querer sair pela boca no momento em que vi os estilhaços do vidro ao meu lado cair, assim como a agente B gemeu de dor pelo disparo que a atingiu. 
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