Prólogo
Universidade de Oxford - maio de 2019
A semana de provas finais ainda estava pela metade, mas o ânimo dos garotos para os estudos já havia esvaecido antes mesmo de seu início.
- Sinceramente não sei o que me deu! - Archie coçou a cabeça de forma desordenada, bagunçando ainda mais os cabelos castanhos claro. Irritado, moveu a peça do tabuleiro de Tafl e logo se deu conta do erro.
- Tire sua mão daí! - Hurg o advertiu com os olhos de águia fixos no tabuleiro.
- Pô cara, releva, não soltei a peça - choramingou com seu sotaque australiano.
- Sem chance! - Hurg falou entediado - já está me devendo oitocentas pratas.
- Eu te avisei que perderia! - Jafari caiu nas risadas, contrastando os saldáveis dentes brancos com a pele preta genuína.
- Eu não vou mais jogar essa porcaria! - Archie praguejou.
- Então desocupa a vaga - Fritz se jogou no sofá de couro marrom, arrumando o tabuleiro.
- Preciso revisar umas coisas, não posso me sair m*l na prova de amanhã! - Hurg se levantou, seguindo até o bar, onde alcançou uma cerveja gelada.
- Desculpa esfarrapada, não quer ser humilhado de novo! - Fritz provocou insistindo em arrumar o tabuleiro.
- Você só quer jogar, quando já estou sem cabeça! - Hurg ligou a televisão e Chang ocupou seu lugar.
O grupo de estudos estava formado com todos os garotos no apartamento de Hurg, mas não havia um único livro ou caderno aberto, estavam todos entediados. Hurg ligou o videogame. '' trinta minutos de jogo e retomaria os estudos'' - prometeu tentando desenterrar qualquer faísca de ânimo para abrir seus resumos. Era enlouquecedor ter que gastar seus preciosos últimos dias na Inglaterra com estudos, quando tudo que queria era aproveitar sua liberdade com os amigos, pois logo retornaria para Luxemburgo, onde tudo mudaria, levando consigo apenas lembranças.
O interfone tocou. Foi Archie quem abriu a porta para Anastácia, que a atravessou em passadas largas, seguida por Valéria, que aparentava ainda mais nervosa.
Atordoada e pálida, com as mãos trêmulas, Anastácia seguiu até Hurg, que confuso deu pausa no jogo e olhou para a noiva, que tremia em uma fúria m*l contida.
- O que aconteceu Anastácia? - ele perguntou tenso, nunca a havia visto naquele estado.
- tenho certeza de que sabe melhor do que eu! - ela cuspiu as palavras com uma frieza imperial. Erguendo o queixo e apertando o caderno de capa de couro, que trazia nas mãos, o atirou no noivo, acertando o rosto do rapaz que não esperava pela atitude brusca da garota.
O caderno, que mais parecia uma agenda, caiu no chão entreaberto. O silencio pesou intocado, todos olhavam para o casal, ninguém jamais os viram discutir, nem mesmo levantar a voz um com o outro. Anastácia apesar de não ter nenhum título, vinha de uma família nobre e possuía uma educação rigorosamente trabalhada.
Hurg fitou a noiva com frieza, o maxilar rígido, o rosto congelado, sem mostrar qualquer emoção, apesar de sua raiva e confusão. Ele não tinha ideia do que havia acontecido, mas nada, nada justificava uma atitude como aquela.
- Nosso noivado terminou aqui! - ela falou tentando manter a voz firme e fria.
- Está certo! - Hurg concordou sem hesitar, sem demonstrar qualquer intensão de convencê-la do contrário, deixando a situação ainda mais tensa.
Anastácia olhou para Hurg confusa, ainda trêmula, sem compreender a reação do rapaz. Ela merecia pelo menos uma explicação, um pedido de desculpas, uma mentira que fosse, mas o silencio do rapaz ,deixou claro que ele não pretendia discutir sobre o assunto. Confusa, ela fechou e abriu as mãos, tentando encontrar uma forma de falar mais alguma coisa, mas os olhos de Hurg estavam friamente cravados nos dela, deixando claro que ele não tinha nenhum interesse em prolongar aquele momento.
Relutante, Anastácia olhou para os outros garotos agora terrivelmente constrangida, completamente despida da certeza com que entrara naquele lugar. Seu subconsciente gritou que talvez ela houvesse sido precipitada. A garota engoliu em seco, era tarde demais. Aflita, ela deixou o apartamento, acompanhada pela amiga, que por todo o tempo se manteve em silêncio.
- Não se preocupe, depois ele vai ligar para você! - Valeria tentou confortar a amiga enquanto as duas seguiam para o elevador. Anastácia machucava as cutículas dos dedos com as próprias unhas, tentando segurar as lágrimas. Não se permitiria chorar na frente de ninguém, nem mesmo de Valeria. Com um esforço surreal, ela forneceu um sorriso amarelo para a amiga. Hurg não ligaria. Apesar de ser ele o errado, ela estava consciente que ele jamais a perdoaria por sua conduta inadequada.
“... Não existia nada que se igualasse a língua quente dele em meus s***s. Sua boca me acariciando em chupadas exigentes. Era impossível resisti-lo...” -Hurg franziu o cenho, lendo a pagina aberta do diário.
“mas que merda é essa?” – perguntou-se passando as páginas, sem acreditar nos próprios olhos.