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Samantha POV
Florida, mais especificamente West Palm Beach. Há dois anos desde que eu e minha família nos mudamos pra cá. Somos eu, minha mãe e meu irmão mais novo, de 15 anos. Nos mudamos de Londres com a ideia de minha mãe que precisávamos passar mais tempo com nosso pai. Eles se separaram já tem quase 12 anos. Meu pai já tem outra família aqui e por mim e meu irmão, tudo bem agora. A ideia de sair da minha cidade natal me assustava um pouco. O clima é totalmente diferente e… Eu não gosto, pra falar a verdade. Todos aqui parecem ter saído do filme Dexter ou do Miami Vice, sei lá… Garotas de biquínis e bonitões bronzeados e com cabelos lindos que não parecem se incomodar com os corpos quase nus. Sempre fui uma garota mais reservada. Adoro as obras de Shakespeare, sendo A Megera Domada um dos meus preferidos. A arte e a fotografia eram minha grande inspiração por
aqui e a escola leva-os muito a sério. Por sorte, achei uma pessoa com coração voltado para arte, meu melhor amigo Samuel. Foi meu primeiro amigo em Palm Beach e sonha em sair desse lugar tanto quanto eu. Se tivermos sorte, fugiremos pra Califórnia o quanto antes.
- Mãe, viu minha jaqueta cinza? – Eu revirava a sala – Não acho em lugar nenhum e já procurei em toda parte! – Eu me descabelava enquanto minha mãe surgiu atrás de mim com a jaqueta em sua mão e uma caneca cheia de café na outra, sorrindo irônica.
- Procurou em toda parte? – sorrindo Eu sorri sem graça.
– É… Onde estava mesmo?
- Em cima da mesa da cozinha. – Ela me entregou ainda sorrindo, piscando várias vezes.
Tudo bem, talvez eu não procurei por toda parte. Eu estava de saída para ir à escola, hoje é o primeiro dia depois das férias e Shawn já estava pra chegar para me dar uma carona.
- Está ansiosa? – Minha mãe perguntou enquanto íamos para a cozinha.
- Você está para voltar a trabalhar? – eu revirei os olhos abrindo os armários, preparando meu cereal.
- Ah, para com isso. Não deve ser tão r**m assim, Samantha.
- Mas é claro que é! Todo mundo me odeia, mãe. E eu nem sei o porquê!
- Deve ser porque você é a melhor amiga do garanhão da escola, panaca. – Meu irmão chegou na cozinha, todo intrometido abrindo a geladeira e bebendo o suco direto da garrafa.
- Primeiro, você é um porco Mike. Segundo, cala essa boca. Terceiro, isso não tem nada haver com Samuel. – Disse indo até a mesa para comer.
- Claro que tem! Todas as meninas querem dormir com ele. – Ele disse fechando o suco com a tampa, que já estava quase acabando.
- Olha o vocabulário, querido. – Minha mãe o repreendeu suavemente.
- Você sabe disso, Sam. Sabe que ele também tem essa reputação por lá. – Ele abriu a geladeira indo guardar o suco.
- Ah, você não vai guardar isso de volta não é mesmo? – minha mãe disse com um pouco de nojo, fazendo ele olhar e repensar fechando a geladeira novamente.
- Só acho que você também não é a melhor pessoa do mundo por lá, Mike. – Eu disse de boca cheia.
- E porque diz isso? – ele sorriu indo até mim, tirando a colher de minhas mãos e comendo um pouco do meu cereal, sem pedir.
- Mas que cassete, faça o seu. Morto de fome! – eu disse irritada e cuspindo.
- Olha o vocabulário! – minha mãe repreendeu.
- Desculpe. – Eu disse e minha mãe olhou seu relógio de pulso arregalando seus olhos.
- p**a merda, estou super atrasada! – Ela levantou apressada e pegando sua maleta, fazendo eu e Mike nos entreolharmos rindo – Tenho um casal para apresentar alguns imóveis hoje e eles são um pouco complicados de lhe dar. – Ela disse colocando seu blazer e ajeitando seu cabelo apressada – Acham que podem se virar sem mim até… O jantar, talvez? – Assentimos com a cabeça – Ótimo, amo vocês! – Disse indo até a porta para sair.
- Também te amamos! – dissemos juntos.
- Vai querer uma carona? Samuel está pra chegar.
- Não, vou ter que passar no Dylan e deixar umas coisas dele lá antes da aula.
- Você quem sabe!
Depois que comemos, ouvimos a buzina do carro de Shawn lá fora. Peguei minha mochila azul turquesa e saí fazendo um coque simples no meio do caminho. Samuel estava sorrindo de orelha a orelha, eu estava um pouco nervosa com ele pois ele havia ignorado minhas mensagens no final de semana todo!
- Eai, Sam! – Disse sorrindo, se fingindo de sonso para variar.
- “Eai, Sam” uma ova! – eu disse entrando no carro – Onde esteve enfiado o final de semana inteiro estando ocupado demais para responder minhas mensagens, seu i****a?
Ele sorriu malicioso.
– Enfiado na Sanchez.
Eu revirei os olhos com vontade de vomitar.
– Argh, “Samuels”? Tipo Sofia Sanchez? Ela é um nojo e você odeia ela!
- Odiava, até ela dizer que me acha um gato. Tive que concordar com ela. – Ele brincou.
- Você é incrível mesmo. – Revirei os olhos – Iria te chamar para irmos ao novo restaurante mexicano que abriu sexta, o “Guaca-Chalo”.
- “Guaca-Chalo”? Sem chances – ele riu -, nenhum bom restaurante tem o nome de “Guaca-Chalo”, Sam.
- Você não vai então?
- Não.
- Tudo bem, você já me estressou demais por hoje mesmo! – Disse triste e ele aparentemente não ligou – O jeito é ir sozinha mesmo… - comecei meu drama infalível – Ir a pé ou com sorte… Arrastada… Já que não tenho altura ou habilitação pra dirigir… - Ele não ligou – Ou posso… Chamar meu irmão, né? – Ele assentiu com a cabeça sorrindo sem mostrar os dentes, já sabendo o que eu estava querendo fazer – Quem estou tentando enganar, meu irmão não iria. Não comigo. – Ele ainda estava em silencio – Acho que… Se eu tiver sorte, posso conhecer alguém hoje na aula. Alguém que queira de verdade ser meu amigo, já que… Eu não tenho ninguém…
- Tá, tá, tá! Tá legal, você venceu, Sam. Depois da aula?
- Já que você insiste tanto… Fechado! – Eu sorri comemorando fazendo-o rir.
Musica: Stressed Out – Twenty One Pilots
Samuel dirigia com seus óculos escuros e seus cabelos bagunçados, parecendo um galã de filme de ação e a essa altura, eu já havia desmanchado meu coque. A capota do carro estava rebaixada, fazendo nossos cabelos voarem com o vento. Eu erguia meus braços para sentirem melhor o vento, aquilo era muito bom.
- Aha, Aha, está sentindo? Ouço uma música chegando! – Eu disse dançando no banco da frente.
- Estou, essa é das minhas. – Ele começou a cantar – “I wish I found some better sounds no one’s ever heard. I wish I had a better voice that sang some better words, I wish I found some chords in an order that is new, I wish I didn't have to rhyme every time I sang, I was told when I get older all my fears would shrink, But now I’m insecure and I care what people think”
- “My name's Blurryface and I care what you think. – Cantei e ele sorriu - My name's Blurryface and I care what you think” – Eu continuei e então seguimos juntos
– “Wish we could turn back time, to the good old days. When our momma sang us to sleep but now we’re stressed out. Wish we could turn back time, to the good old days, When our momma sang us to sleep but now we’re stressed out!”
Temos uma amizade um pouco conturbada, pois ele me ignora muito e eu sou muito ciumenta, de um jeito não obsessivo nem nada. Mas não gosto de ser substituída. Ele é canalha, mas é o meu melhor amigo canalha. O nosso nível de amizade é ao ponto de eu chegar em uma paquera e fingir ser uma pessoa que eu não sou, quando ele não quer dar o fora em uma garota ou quando ela não sai do pé dele. Eu não ligo muito quando isso acontece, mas quando minha altura de 1,52 gera problemas com garotas mais altas, aí sim não é legal. Costumamos ficar um na casa do outro comendo besteiras e eu vendo-o jogar videogame. Eu adoro vê-lo jogar, é tão divertido quanto eu mesma jogar com ele, não sei porque! Também adoro ouvir ele cantar enquanto toca seu violão, sua voz é linda.
Todos achavam que nos conhecíamos desde criança por nossa forte ligação, mas não. Nos conhecemos em um típico almoço de calouros do primeiro ano do ensino médio. Uma merda. Quando dizemos coisas que podem ofender um ao outro, fazemos nosso toque de perdão, se baseia em entrelaçarmos nossos dedos mendinhos e dar um beijinho nos nossos próprios polegares, um de cada vez assim ligando nossas mãos. É estranho, mas funciona. Eu retirei minha maquina fotográfica, e mirei o foco em Samuel. Ajustei o filtro e comecei a fotografá-lo. A luz batendo contra seu rosto, seus cabelos voando e seus sorrisos espontâneos, ficaram ótimos pela magia da lente. Eu fazia parte da turma de fotografia da escola. Quero cursar fotografia… Artes na faculdade, mas minha mãe insiste que eu siga os negócios da família. Ela e meu pai são do ramo imobiliário.
- Deixa eu ver essas coisas que você chama de fotos – Ele tomou a câmera brutalmente de minhas mãos, com uma das mãos no volante.
- Ah, você é um grosso mesmo! – revirei os olhos – Você não entende dessas coisas, é muito imaturo pra saber o que é… - ele interrompeu
-… O mundo por trás da lente. É eu sei sim, você não para de falar nisso! – ele revirou os olhos e me devolveu a câmera. – A propósito, eu gosto das suas fotos. São boas.
- Obrigada, Samuel. É a primeira coisa legal na vida que diz pra mim.
- Ei, isso não é verdade! – Disse assim que entramos no estacionamento da escola.
- Não? – Eu arqueei a sobrancelha – Diga uma coisa legal que já tenha dito pra mim. Algum… Elogio ou alguma característica que você gosta em mim. Algo que já disse, não esqueça!
- Ah… Ahm... - Ele se viu pensativo.
- Viu só? Você caga pra mim.
- Eu te amo, sabe disso. – Ele disse parando o carro no estacionamento – Eu morreria sem você! E eu gosto do seu cabelo.
- Isso já vale. – Eu sorri.
Enquanto entravamos na escola, já via os olhares vindo até Samuel. Tanto de meninas, quanto de meninos. Como era ter toda aquela atenção, sem ao menos tentar tê-la? Estávamos encostados nos nossos armários rindo e conversando, enquanto eu arrumava meu armário.
- E o que seu irmão fez depois da sua mãe o encontrar de cueca e bêbado de madrugada? – rindo
- Ele tentou achar tantas desculpas, que passou m*l e vomitou na minha mãe! – eu disse dando risada
- Ela deve ter ficado uma fera!
- E ficou! E ele de castigo por um mês durante essas férias - Eu me recuperei das risadas e fomos interrompidos por uma voz aveludada e feminina.
- Oi Samuel. – Era Sofia.
- Oi, Sofi! – Eles ficaram sorrindo um para o outro alguns segundos, me deixando sobrando ali – Ah, essa é Sam.
- Muito prazer, Sofia. – Eu estendi a mão, segurando minha mochila com os braços.
- Claro, oi… - Ela apertou sorrindo com certo desdém em seu rosto. – Samuel, queria falar com você… Meus pais vão estar fora essa semana e… A casa vai estar vazia. – Ela dizia quase num sussurro cada palavra e me fazendo querer vomitar.
- Ah, é mesmo? – ele sorriu pra ela
- Se estiver interessado, me procura depois e a gente conversa melhor. – Ela sorriu dando um tchauzinho com os dedos logo antes de sair, com Samuel assentindo com a cabeça.
- “Se estiver interessado, me procura e a gente conversa melhor” – Eu imitei a voz de Sofi, fazendo Samuel rir.
Quanto senti a porta de trás da escola abrir com tudo, jogando uma corrente de vento no corredor e um perfume incrível invadir minhas narinas me fazendo flutuar. Me virei e era ele, Cody Skyler e seu batalhão do time. Ele era incrível. Esse cabelo, esse sorriso, esses olhos de cachorro pidão. Meu Deus, me segura. Ele passou por mim e Samuel, assentindo com a cabeça nos cumprimentando brevemente. O que foi suficiente para me fazer delirar em meus suspiros.
- Tá legal… Isso foi patético. – Samuel disse irritantemente devido à minha reação.
- Me poupe, Samuel. Ele é um gostoso, isso sim.
- Wow, menos. Bem menos, senhorita Samantha. – Ele disse e eu revirei os olhos – Nem é tudo isso... Porque não chama ele pra sair, se é tão incrível assim?
- Ah, e por acaso você nunca viu os filmes com um típico garoto como Cody neles?
-… Do que você está falando mesmo?
- Dos filmes clichês, Samuel. – Eu fechei meu armário e começamos a andar para sala – Os filmes com os jogadores populares, as lindas lideres vadias de torcida e eu, a excluída e poética da turma.
- Estou começando a entender seu ponto de vista, fala aí. Está interessante.
-… A excluída é apaixonada pelo capitão do time de futebol e ele nem a enxerga. Ela o chama pra sair e ele a despreza antes de humilhá-la na frente da escola toda, pra depois ficar com a sua linda namorada líder v***a de torcida.
- Incrível, tenho que assistir mais filmes adolescentes assim - ele riu e revirou os olhos -… Continue, quero saber como termina.
- Ah, geralmente nesses filmes, a excluída descobre que o seu verdadeiro amor é o seu melhor amigo… - Ele me olha sorrindo – O que está bem errado na nossa situação.
- Eu sou uma pessoa bem errada, Samantha. – Disse sorrindo e aparentemente brincando comigo.
- Isso está errado. – eu ri – Se bem que, tem filmes que a excluída se transforma em uma incrível gata e o líder do time acaba se apaixonando por ela, ficando juntos depois de algumas reviravoltas e dramas de adolescentes.
- Isso pode funcionar, mas não é meio machista? – Ele perguntou e paramos na porta da nossa sala de química.
- Aparentemente sim, mas… Desde quando se importa com machismo?
- Desde que aconteça com você.
- Ah, que fofo Samuel! - Ah, que seja. – Ele revirou os olhos me empurrando dentro da sala.
**
- Bom dia, classe. Bem vindos ao último ano! Sou a professora Andrea Parker e aplicarei as aulas de química esse semestre. Por favor, formem as duplas conforme eu vou chamando os nomes. – Ela se inclinou para ler sua ficha em cima da mesa – Joan e Norman… - Ela começou a citar os nomes na lista e alguns foram mudando de lugar.
- Psss… Pssss! – ouvi um ser irritante
- O que foi? – sussurrei para Samuel, que me chamava do outro lado da sala.
- Nós vamos ser uma dupla. – Ele estendeu o mindinho como nosso sinal e eu estendi o meu de longe.
-… Samuel e Amanda… Ele me olhou com beicinho antes de olhar para Amanda e na mesma hora me olhou de volta, fazendo sua típica cara de quem vai tirar proveito disso. Amanda era muito bonita.
-… Cody e Samantha… - Ela disse e minha garganta deu um nó na mesma hora. Ele se levantou com um olhar de quem estava me procurando e eu dei sinal com a mão. Ele sorriu e veio até mim segurando seus cadernos, se sentando em minha bancada.
- Eai. – Ele me entreolhou sorrindo, logo olhando de volta para a professora.
- …Janel e Noah… - uma garota de cabelos escuros e com os olhos levemente puxados, não muito alta se levantou e se sentou com um alto garoto de cabelos ondulados, Cody a cerrou com os olhos durante seus movimentos. Eu o observava e um dos meus pensamentos escapou
– Gosta dela?
- O que? – Ele me olhou rapidamente abrindo seus cadernos, fiz merda
- Ah, me desculpe. Fui um tanto indiscreta. – Eu ri pelas narinas, sentindo minhas bochechas esquentarem com a vergonha.
- Não… Tudo bem. Relaxa. Janel é… Uma ex namorada.
- Não terminou bem? – Disse tentando puxar assunto. Ele me olhou e riu abafado
– Você faz muitas perguntas.
- Desculpe! – Eu olhei para a lousa.
- Digamos que… Janel prefere não ter algo sério.
- Sinto muito por isso.
- Pelo o que mesmo? – Ele franziu a sobrancelha sorrindo.
- Parece que… Não acabou bem e que você… Que você gosta dela apesar disso.
Ele ficou me analisando sorrindo, o que me deixou um pouco desconfortável. Quando eu achei que ele iria dizer algo, ele simplesmente virou pra frente pegando sua caneta e a batendo contra o caderno com seus dedos. Eu virei minha cabeça e vi Samuel me olhando com as sobrancelhas franzidas, quase na primeira bancada.
- O que foi? – Eu sussurrei, para que Cody não ouvisse.
- Chama ele pra sair! – Ele gesticulou exageradamente, fazendo Amanda o olhar estranhada.
- NÃO! – Eu quase não fiz movimentos.
- CHAMA ELE PRA SAIR! – Ele repetiu os gestos escandalosos. Eu dei o dedo disfarçadamente pra ele e ele virou pra frente revirando os olhos, conversando com Amanda.