As cortinas entreabertas da persiana deixavam a claridade da manhã nublada de Seattle entrar no quarto m*l iluminado. O garoto estava deitado de barriga para cima em sua cama, suas mãos entrelaçadas atrás de sua cabeça e seus pés já calçados com suas meias pretas cruzados, ao mesmo tempo em que ele os balançava.
O teto era observado por ele, como se respostas fossem cair do céu perfurando o concreto e entrando em sua mente para finalmente terminar com todas as suas dúvidas. Mas nada caía do céu e Simon sabia deste fato, infelizmente. Ele possuía uma família perfeita e unida, cursava o último ano na melhor escola da região, possuía uma bela namorada e em questões financeiras sua família herdara uma bela herança de seu tataravô. Mas por alguma razão, mesmo rodeado de tantas pessoas que o amava ele se sentia tão solitário. E esse era um dos porquês dele ter passado a noite em claro.
Tudo o que Simon fazia era para agradar os demais e nunca a si mesmo. Ele sempre colocava a felicidade alheia à frente da sua e mesmo que ele tentasse dizer "não" a palavra simplesmente se tornava um "sim". Shawn suspirou e virou a sua cabeça em direção à janela, para a claridade que entrava em tonalidades claras, que se observadas durante minutos deixariam a sua visão irritada. Branco. Por algum motivo ele não gostava daquela cor. Então com este pensamento uma onda de dor de cabeça se apossou dele e o rapaz sentou-se em sua cama assustado.
Imagens, como memórias forçaram em sua mente. Um vestido branco, sangue manchando o tecido e algo quente se aproximando. Simon pôde jurar que algo o queimara. Com o susto do calor em seu rosto ele se jogou do lado contrário da cama o fazendo cair no chão e as imagens desaparecerem tão rapidamente da mesma maneira que vieram. Ainda sob o chão frio ele olhou para todos os lados. Ele estava em seu quarto e não havia nenhum vestido branco e muito menos algo que pudesse queimá-lo. O despertador soou alto e Simon se assustou com o toque.
Ele suspirou e fechou os olhos tentando acalmar os batimentos cardíacos. Todos os dias da última semana ele vinha tendo essas imagens que pareciam como memorias, mas cada dia mais forte e sempre seguidas de dores de cabeça. No começo ele achara que fosse somente devido um m*l estar ou algo do gênero, mas eles não pararam, pelo contrário, estavam aumentando e cada vez com mais intensidade.
Ele devia estar ficando louco. Essa era a única explicação por ele estar sonhando acordado com coisas que nem ele mesmo entendia. Ninguém sabia o que estava acontecendo, pois Simon não se atrevera a contar para alguém. Sua família era perfeita demais para ter um filho louco. Shawn apoiou a sua mão sobre o chão e tomando impulso para cima se pôs a levantar. Ele tinha aula e não poderia faltar, pois seus pais não toleravam faltas escolares se os filhos não estivessem doentes em estado terminal. Poderia estar acontecendo um terremoto ou uma nevasca, mas eles teriam que ir da mesma maneira. Seus pais se chamavam Karen e Manuel Mendes. Pais amorosos e prestativos, Simon não tinha do que reclamar, eles sempre o apoiara em tudo o que fizera. Seus pais eram como amigos para ele, até certo limite. O garoto também possuía um casal de irmãos, Alyah e Cory. Alyah era a mais nova com quinze anos e Cory o mais velho com dezenove. Simon se dava muito bem com os irmãos, o que dava reforço à família perfeita que eles eram. Nunca nenhuma briga, ou discussão, ou desentendimento. Era tudo perfeito demais. Eles não eram somente aparências, eles eram realidade. E talvez fosse por esse motivo que Shawn sempre dizia sim à tudo o que seus pais queriam. Ele tinha medo de desaponta-los e ser o primeiro filho à desmanchar a imagem real da família perfeita. E deste modo ele sentia que ninguém o compreendia. Ninguém nunca via em seus olhos o desespero por detrás deles. Talvez ninguém jamais veria. Simon caminhou até seu luxuoso banheiro e banhou-se para logo em seguida colocar o seu uniforme escolar.
Os alunos de sua escola poderiam escolher entre a cor azul marinho e o preto, e obviamente ele escolhera a tonalidade preta. Simon gostava como contrastava com seu tom de pele e olhos castanhos mel.
E preto combinava com tudo, até mesmo com a sua alma torturada. Após vestir o uniforme ele sentou-se em sua cama para calçar os tênis pretos de costume quando o seu celular tocou.
Ele esticara o braço até a escrivaninha ao lado de sua cama e pegara o aparelho. A foto de Ellie brilhava na tela dando-lhe a visão de sua namorada. Simon conhecera Elliot Paymo Stuart Hanter na escola quando seus pais saíram do Canadá para Seattle com destino aos Estados Unidos, ela fora a primeira pessoa que conversara com ele, sendo simpática e prestativa, na época eles estavam no nono ano escolar. Naquele mesmo ano, em uma festa de seu amigo Aaron, Elliot beijara Simon em um dos quartos vagos da casa. Eles estavam conversando e rindo sobre coisas bobas que um falava para o outro, até que o silêncio pairou entre eles e o beijo acontecera, o primeiro beijo da vida de ambos. Elliot fora o seu primeiro beijo, a sua primeira namorada e mesmo que seus pais não soubessem ela também já fora a primeira vez dele.
De acordo com as "normas" da família Mendes um beijo significava juras de amor eterno, então o garoto se via quase que obrigado a prossegguir com o relacionamento ao lado daquela garota. Elliot era uma das garotas mais lindas do colégio e a mais incrível e legal que ele já conhecera, a garota de lindos e longos cabelos ruivos como chamas, que trabalhava como modelo desde que nascera. Mas mesmo ela sendo tão perfeita parecia que faltava algo. Simon não sabia explicar.
Ele a amava, mas algo estava errado, como se alguma coisa não se encaixasse, algo fora do lugar. Simon bloqueou a tela de seu celular e ignorou a chamada de Elliot colocando o aparelho no bolso da blusa de veludo de do uniforme, não por m*l, mas ele não estava no clima de conversar no momento. Elliot o veria na escola, então não era como se ele estivesse fugindo dela. Após terminar de colocar seus tênis Simon levantou-se, pegara a sua mochila caminhando até a porta no intuito de sair do cômodo para o café da manhã que sua família participava todas as manhãs fielmente no piso térreo da casa. Mas ele parou de andar no meio de seu caminho interrompido por um som. Um som suave, uma música lenta e linda. Ele teve certeza que era som de uma harpa. Simon virou-se de lado lentamente, e encarou a janela. O brilho branco, as cortinas mexendo-se suavemente devido a leve brisa. O som parecia sair da claridade. Um arrepio percorrera o corpo dele.
— Simon? — alguém o chamou do outro lado da porta o assustando — Filho? Venha tomar o café, você não pode se atrasar.
— Já vou — ele disse, mas sua voz quase não saíra e ele pigarreou fazendo sua voz soar firme — Já estou indo, mãe.
Ele ouviu os passos dos saltos de sua mãe se distanciar. Simon passou as mãos sobre o próprio rosto e abriu a porta de seu quarto. Ele dera uma última olhada para a janela. Não havia mais som de harpa e o brilho antes branco dera lugar ao acizentado de Seattle. Talvez ele realmente estivesse ficando louco. O garoto adentrou o corredor e fechara a porta atrás de si. A grande mansão dos Mendes era localizada em Pioneer Square, um dos melhores bairros de Seattle. Os edifícios eram todos conservados desde a sua fundação em meados de 1860, então as construções mais recentes seguiam o mesmo padrão. O bairro era sofisticado e lindo aos olhos, como se estivessem na Europa ao invés de em Seattle na América.
A mansão de Shawn seguia o padrão de Pioneer Square. A enorme casa com bela arquitetura que esbanjava sofisticação era uma das recentes construções mais aclamadas por quem a visse. Simon entretanto não se importava com a casa, pois ele achava exagero demais para uma família composta por apenas cinco pessoas.
Ele apertou a alça da mochila e caminhou pelo corredor. Seus tênis pisavam contra o tapete vermelho de veludo que ocupava todo o piso do extenso corredor. Havia portas de ambos os lados de Simon, todas de quartos aparentemente para hóspedes, mas os quartos de hóspedes se alojavam no terceiro andar e aquele era o primeiro.
Então todas as portas pela qual Simon estava passando em frente possuíam quartos somente e exclusivamente dele, o corredor desde o seu começo ao fim era somente para Simon. O rapaz achava um exagero, mas pessoas bilionárias possuem tanta renda que às vezes não sabem em o que gastar. Ele apertou o botão do elevador e quando as portas se abriram ele se assustou com a pessoa por estar distraído.
— Bom dia — Cory disse sorrindo mostrando seus pequenos dentes.
— Bom dia — disse Simon ao entrar no elevador e deixar a sua mochila cair ao chão, deixando as suas costas contra o metal frio. Ele fechou os olhos e encostou a cabeça contra o metal do cubo do elevador, suspirando. Cory observava tudo com uma sobrancelha arqueada.
— Você 'tá bem? — ele perguntou ao irmão. Simon balançou a cabeça negativamente. Ele achava que estava louco, ele via coisas estranhas e o pior que ninguém o ajudaria, somente fariam o que qualquer família ou amigos fariam: te mandariam para um hospício. Shawn conhecia a sua família muito bem, então, não, nada estava bem e se continuasse daquela maneira ficaria ainda pior.
— Não.
— Quer conversar? — Cory disse e Simon abriu os olhos sem olhar para o irmão.
— Não é nada demais — disse dando de ombros. O elevador abrira as portas dando passagem para o térreo. Simon pegou a sua mochila e saiu em direção à sala de estar onde seus pais os esperavam. Cory acompanhou o irmão seguindo o caminho mais atrás. Ao abrirem as portas duplas de correr eles adentraram no cômodo. Seus pais e Alyah já estavam em seus respectivos lugares e levantaram o olhar ao perceber a presença dos filhos que faltavam a mesa.
— Finalmente — disse Karen, mas ela não aparentava estar irritada e sim preocupada — Vocês vão se atrasar!
— Relaxa, mãe — Cory disse e depositou um beijo em sua testa, sentando-se na cadeira ao lado da dela — Bom dia à todos.
Simon sentou-se em silêncio deixando a mochila cair ao seu lado no chão, uma mania que ele adiquirira nessas últimas semanas.
— Bom dia para você também, Simon — Manuel disse sarcastico ao tomar um gole de seu café e sem tirar os olhos do jornal local, seus óculos pendendo no meio de seu nariz.
— Bom dia — disse Simon sem demonstrar emoção. Manuel levantou o olhar, encarando o filho por cima de seus óculos. Karen, Alyah e Cory observaram em silêncio.
— Você está bem, filho? — seu pai perguntou e Simon o olhou. Todos na mesa o olhavam com curiosidade. Simon sabia que estava se comportando estranhamente. Na última semana ele quase não saía de seu quarto e tampouco conversava com alguém, mas o que ele poderia fazer? Ele não podia contar para a sua família perfeita que ele não era mais perfeito. Um filho maluco que estava vendo coisas que não existiam seria um choque para aquela família. Simon suspirou.
— As provas estão me deixando estressado — ele disse desviando o olhar para a mesa. Ele odiava mentir, mas qual outra saída ele teria? Nenhuma. Manuel sorriu.
— Relaxa, filho — disse reconfortante — Vocês sempre se saem bem.
Karen tocou a mão do marido e direcionou o olhar para Simon. — Manny está certo, Simon — ela disse — Não há necessidade em ter nervosismo. Você se sairá bem. Simon assentiu.
— É — Cory concordou ao comer uma fatia de pão — Relaxa, cara.
O garoto assentiu novamente e encarou a refeição da manhã à sua frente. As imagens que ele via o assombrava. Sua família começara uma conversa entre si, mas ele não prestava a atenção. Simon sentira que alguém o observava e ao levantar o olhar ele dera de cara com Alyah o analisando.
A garota sabia que o irmão havia mentido, mas ele apenas a ignorou como estava fazendo nos últimos dias. Após terminarem o café da manhã Cory se pôs de pé.
— Vamos? — ele disse. Cory Monteith Mendes já estava na faculdade e cursava música na universidade de Seattle. Ele possuía uma namorada, Lea, a qual ele namorava desde o colegial, assim como Simon estava fazendo, a diferença é que era evidente que o sentimento era recíproco por ambas as partes. Seu irmão era quem levava Simon e Alyah para a sua escola todos os dias, para logo em seguida seguir o seu caminho à faculdade. Shawn não possuía um carro, pois os seus pais diziam que ele só poderia pegar em um volante quando completasse dezoito anos. Ele achava uma ideia ridícula já que todos os seus amigos possuíam um automóvel.
— Sim — disse Alyah enfiando o que sobrara de seu donuts dentro da boca.
— Alyah — Karen repreendeu — Olhe os modos.
E aquela era a família de Simon. Rigorosa e cheia de classe até para comer entre si.
— Relaxa, mãe — disse Alyah — Só têm nós aqui.
— Mesmo assim, querida — disse sua mãe ao se levantar. Alyah engoliu o donuts e sorriu de boca fechada.
— Acabou a tortura — debochou.
— Garota rebelde — Karen disse dando um beijo no rosto da filha. Simon mordeu a língua. Sua família realmente não tinha ideia do que era ter um filho rebelde. Nenhum dos três possuíam notas abaixo da média, não usavam drogas alucinógenas, nem ao menos ingeriam bebidas alcoólicas, ou qualquer outra coisa do tipo.
— Vamos, logo — disse Cory dando um beijo na testa de sua mãe — Já estamos atrasados.
Atrasados - Simon pensou com certa ironia. Se existia algo do qual os Mendes desconheciam esse algo era a palavra atraso. Eles nunca se atrasavam. O que significava que eles estavam uma hora adiantados e que Simon chegaria em sua escola antes que metade da escola inteira.
— Verdade — disse Karen — Bom estudo para vocês.
— Bom estudo — disse Manuel sorrindo para os filhos. Os três viraram-se para seguir caminho a fora, mas Karen os interrompeu.
— Simon? — ela o chamou — Não vai se despedir?
O garoto não dissera nada, apenas caminhou até a mãe dando-lhe um beijo no rosto e acenando um adeus com a mão para seus pais. Ele se virou e seguiu Cory e Alyah até a saída. Karen observou o filho se afastar e de lado ela olhara para seu marido que também a olhava intrigado. A família perfeita sabia quando algo não estava perfeito e havia algo de errado com Simon. Após entrarem no carro Simon encostara a cabeça contra o vidro do carro, abraçando a sua mochila em seu colo como se de algum modo pudesse lhe trazer alguma segurança. Cory ligou o rádio local e uma música do Maroon 5 estava em seu último refrão. Alyah que estava sentada no banco de trás cantarolava junto enquanto digitava em seu celular. Os portões abriram-se e seu irmão dera partida no carro saindo do estacionamento da família para a rua movimentada.
— Simon? — Alyah o chamou.
— Humn? — ele murmurou sem se mexer, ainda na mesma posição.
— A Ellie disse para você responder as mensagens dela.
Simon suspirou alto atraindo a atenção de Cory.
— Estou sem carga no celular — mentiu e nem ele ao menos entendia porque mentira. Alyah não disse mais nada e Simon agradeceu mentalmente, mas Cory por outro lado não deixaria a sua preocupação de lado.
— Aconteceu algo entre vocês? — ele perguntou sem tirar os olhos da estrada à sua frente. Simon desencostou-se da janela e olhou para o irmão.
— O que? — perguntou.
— Você e Elliot brigaram?
Então Simon entendeu. Cory achava que ele estava de mau humor e evitando Elliot por algo relacionado à eles, o casal, quando na verdade Shawn estava desesperado, pois achava que estava ficando louco por ver coisas que não eram reais.
— Não — disse Simon — Só não estou a fim de socializar
. — Por que?
— Porque sim.
Cory soltou o ar pelo nariz desistindo de tentar ter um diálogo com Simon. Era totalmente estranho o modo de agir de Simon, um rapaz que sempre fora passivo e amoroso de repente se comportar daquela maneira. Mas era inevitável. Ele necessitava ser perfeito e caso alguém descobrisse o que estava havendo a sua vida se tornaria um inferno na terra. Ele teria que ocultar a verdade. Finalmente, o que pareceram horas e não minutos, Cory estacionara o carro em frente à escola. Simon saiu e Aaliyah saíra junto.
— Até mais tarde — Cory disse e Aaliyah fora a única que acenara um adeus com a mão. Shawn não se virou para ver o carro do irmão dando partida. Ele somente colocara a mochila nas costas e andara em direção ao prédio da escola West Seattle High School. O prédio à sua frente era composto por apenas dois andares, mas a escola era grande. Simon conhecia cada ponto daquele prédio, pois desde que chegara em Seattle a escola passara a ser a sua segunda casa, mas no momento tudo o que queria era desaparecer. As coisas ao seu redor pareciam tão banais naquele momento. Simon andava sob a grama. Ele teria que encontrar com Elliot e seus amigos, a vontade de matar aula pela primeira vez era tão avassaladora que Simon quase tivera a sensação de que choraria em desespero a qualquer momento.
— Você está muito estranho — disse sua irmã ao alcançá-lo. Simon não dissera nada, apenas continuou andando. Alguém chamou Aaliyah e ela correu até a tal pessoa deixando o seu irmão estressado sozinho do modo que ele queria. Mas infelizmente não durou muito tempo.
— Mendes — disse Taylor Canff passando os braços em volta do ombro do garoto — Hoje é o dia!
Taylor era amigo de Shawn desde que ele se mudara. O garoto era comunicativo e todos na escola o conheciam. Ele era uns centímetros mais baixo que Simon, seus cabelos eram castanhos claros e olhos da mesma cor. E em sua cabeça sempre havia uma bandana, naquele dia da cor azul escuro com estampa de flores em mozaico.
— O dia? — Simon o olhou confuso.
— O jogo? — disse Taylor — O basquete? Simon bufou.
— É hoje?
— Sim cara — sua voz rouca soou indignada — Falamos disso a última semana inteira. Em que mundo você está?
Simon não respondera nada, apenas continuou a andar. Ele também desejava saber em que mundo estava para poder sair dele e voltar ao mundo real, no qual ele não era um retardado.
Juntos os dois garotos entraram na escola. Elliot Paymo, Haile Steinford e Astrid Smeplass estavam conversando encostadas nos armários. Simon sentira a necessidade avassaladora de simplesmente passar reto e seguir até a sua sala de aula, mas Haile cutucara Elliot a fazendo olhar para onde Simon estava. A namorada dele sorriu lindamente e se apressou até ele, dando-lhe um abraço e um beijo no rosto, naquela escola era proibido até trocas de olhares, imagina contatos físicos.
— Eu te liguei a manhã toda — ela disse o puxando para o círculo onde estava Astrid e Haile. Astrid era uma garota loira de olhos azuis que tinha como sonho ser cantora, Haile por sua vez era morena de olhos castanhos e sonhava em ser atriz. Elas andavam com Elliot desde que se conheceram, então tecnicamente elas também eram amigas de longa data de Simon. A morena, Haile, era quem Simon tinha mais i********e, já que eles eram primos e suas famílias se encontravam em eventos das mesmas.
— E aí, cabeça de muffin — disse Haile chamando-o pelo apelido que o colocara há alguns anos atrás devido à sua obsessão pelo alimento quando mais novo. Simon sorriu minimamente, o primeiro quase sorriso que dera naquela manhã.
— Alguém está de mau humor — disse Taylor ainda ao lado de Simon.
— Percebi — Haile disse ao bagunçar os cabelos de Simon sabendo o quanto isso o irritava. Ele se desvencilhou dela.
— Não começa, Steinforld.
— Cadê o espírito, Simon? — ela disse rindo e Simon revirou os olhos — Da um sorrisinho. Ele fez uma careta e Elliot riu com a birra sem motivo de seu namorado.
— Não enche — ele tentou sair para a sua sala, mas Haile o encurralou.
— Somente um sorriso, Mendes! — ela disse praticamente dançando no meio do corredor escolar atraindo alguns olhares — Usou aquele aparelho horroroso por anos pra não mostrar o dentes? Ou andou comendo aquele doce doido que a sua avó trouxe de Portugal? Shawn não se conteve e riu com a lembrança. Em uma festa de família, há um ano e meio atrás, sua avó paterna trouxera doces para ele e seus irmãos, mas ninguém havia avisado-os que o tal doce deixava os dentes pretos. Hailee rira tanto ao tirar sarro de Simon na festa que até vomitara toda a comida que havia ingerido. — Ele riu! — Haile comemorou alto demais ao levantar as duas mãos no ar, saltitante.
— Você é uma i****a — Simon disse ao passar por ela.
— Por isso sou a sua melhor amiga — ela disse. De fato Haile era a melhor amiga dele, até mais do que a própria namorada que estava com a mão entrelaçada com a sua enquanto andavam em direção à primeira aula do dia. Eles entraram na sala de aula onde Aaron Carr e Carter Reyolds já se encontravam no lugar de sempre.
As aulas passaram e tudo o que Simon queria era sair dali logo. O jogo de basquete seria após a última aula e quando ela acabara todos saíram lado a lado até o ginásio escolar, e os alunos estavam extremamente animados, exceto Simon, claro. Ele não jogaria, mas mesmo assim possuía zero porcento de ânimo e paciência para assistir a partida onde o seu amigo Taylor Canff seria a estrela. Simon já sabia que o time de Taylor ganharia, o garoto tinha espírito competitivo e quando ele jogava era para ganhar. Simon nunca faltara em um jogo de seus amigos e ele sabia que já estava se isolando o suficiente.
Então assistir una partida de basquete escolar não mataria ninguém, não é mesmo? Elliot e Simon entraram juntos no ginásio e sentaram no alto das arquibancadas. Alguns minutos mais tarde Haile chegara, seguida de Astrid e Carter. As líderes de torcida entraram enquanto uma música popular do momento tocava, uma a******a típica de jogos de escolas. Após a música acabar e as líderes de torcida se retirarm, os jogadores entraram em cena na quadra. E então o jogo se deu início. Taylor e Aaron eram bons no basquete, agiam com perfeição contra os adversários.
Para formar os times eram feitos divisões diferentes das outras escolas. Qualquer garoto com mais de um e setenta e cinco fazia os testes, se o treinador encontrasse potencial o aluno entraria para o time, independente da idade.
Na escola de Simon havia dois times, os Widedogs de uniforme verde liderado por Aaron e os Widewolfs de uniforme vermelho tendo como lider Taylor. Ambos times com ótima liderança, mas Simon sabia que Taylor jogava para ganhar e eles estavam duas cestas a frente do time adversário. Taylor marcara mais uma cesta e todos ao redor de Simon levantaram-se e gritaram, exceto ele. Já fazia quase vinte minutos que Simon estava assistindo a partida. A torcida vibrava com cada posse de bola, mas toda aquela gritaria estava começando a deixá-lo inquieto.
Um dos jogadores driblara seu adversário, mas o mesmo roubou a bola dele e todos na arquibancada gritaram em pura excitação, e no mesmo momento um grito chamou a sua atenção o assustando. Alguém gritara "Safira", um grito de desespero. Simon olhou para todos os lados, mas cada um que ali estava prestava atenção no jogo que acontecia. Ele ouviu o grito novamente e mais alto. O garoto levantou-se assustado e para todo o lado que ele olhava somente havia pessoas chamando pelos jogadores na quadra. Simon puxou Haile de leve pelo braço.
— Você ouviu isso? — ele perguntou próximo ao ouvido dela para que a garota pudesse ouvi-lo por cima da platéia animada.
— O que exatamente? — ela perguntou em alto tom sem desviar o olhar do jogo. Com esta resposta Simon já soubera o que significava. Só ele estava ouvindo, por que somente ele estava louco ali. Uma onda de tontura bateu contra ele fazendo o garoto cambalear quase imperceptivelmente.
— Já volto — ele disse à Elliot que somente assentiu concentrada no jogo. Simon passou pelas pessoas que gritavam e comemoravam, ele desceu rapidamente as arquibancadas e correu até as portas da saída do ginásio. Ao passar pelas portas ele deixou elas baterem atrás de si, o rapaz apoiou as duas mãos contra a parede à sua frente, tentando ao máximo recuperar o ar que parecia estar preso em sua garganta teimando em sair. Simon abaixou a cabeça e reprimiu as lágrimas.
Ele não podia estar louco, isso seria o seu fim. Simon respirou a segunda, terceira, quarta vez, até que seu coração diminuira a velocidade e suas pernas bambas se estabilizaram.
O garoto desencostou-se da parede e se obrigou à ir ao banheiro que estava próximo. Ele entrou no cômodo e caminhou até a pia, abrindo a torneira e molhando o seu rosto com a àgua fria várias vezes. Quando o rapaz levantou a cabeça para fechar a torneira ele vira alguém atrás dele e no mesmo instante ele se virou pela surpresa, pois ele não ouvira alguém entrar, mas ao se virar não havia ninguém. A respiração de Simon saía àspera por seus lábios entreabertos.
— Vossa excelência viera — ele ouviu uma voz ecoando atrás de si, como se estivesse dentro de um túnel, e virou-se de volta para o espelho. Mas onde outrora era o espelho do banheiro da escola agora era um extenso lago. Simon estava em frente à um lago cristalino, o sol forte, de verão Simon supôs, raiava no céu azul sem nuvens acima de sua cabeça. Algumas árvores rondavam ele quase como se fossem uma entrada que o convidava para o lago.