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4003 Words
As folhas das árvores se moviam conforme o vento da primavera batia contra elas, emitindo um som reconfortante da natureza. A harpa era tocada em algum lugar do palácio e o som ecoava pelos cômodos trazendo a melodia calma até o quarto da rainha. Era amanhecer e como todos os dias ela estava apoiada na enorme janela revestida à ouro enquanto admirava as árvores que cercavam todo o palácio. Um pássaro posou em um galho e cantarolou, misturando-se com o som da harpa e das folhas que se colidiam. A rainha observou cada detalhe do que estava acontecendo ao seu redor para que ela jamais se esquecesse. Isso era algo curioso sobre ela. A mulher adorava observar tudo desde os seus nove anos de idade quando ouvira uma conversa entre as suas criadas. Uma mulher morena e rechonchuda havia dito que quando morressemos esqueceríamos de tudo. Ela se lembra que a mulher dissera que havia um paraíso para quem deitasse em seu leito de morte e que não haveria sofrimento. Então ninguém se lembraria da vida que tivera na terra. E desde então a garotinha que hoje se tornara rainha criou aquele aspecto curioso sobre si. Ela não queria se esquecer de nada. Ela não queria perder as suas memórias, e muito menos queria morrer naquele exato momento, pois ela já estava no paraíso. Onde Peter Raul estivesse seria o paraíso para ela e se esquecer dele seria o mesmo de se esquecer da própria felicidade. E como ela seria feliz em um paraíso em que não se lembraria dele? E esse era o novo e mais forte motivo dela tentar ao máximo observar tudo e nunca se esquecer de nada. — Vossa majestade! Vossa majestade! — sua ama entrara apressada em seu aposento. — Pois não, ama? — a rainha Safira virou-se com formosura e graça até a mulher baixa e rechonchuda que tinha os olhos arregalados de excitação. — O pintor chegara! — a mulher exclamou e toda a sua animação passara para Safira. O seu coração se animou com a notícia e disparou em seu peito como sempre fazia quando ela ouvia sobre ele ou simplesmente pensava nele. — Ele chegara! — disse Safira animada dando um giro no mesmo local onde estava, ela olhou para ama — Eu estou apresentável? Margareth, sua ama, pegou as duas mãos de sua rainha Safira e olhara fixamente nos olhos esverdeados da moça à sua frente. O amor deixa as pessoas muitas vezes inseguras consigo mesmas. As faz querer sempre estar bonitas aos olhos dos demais, faz querer ser alguém, que muitas vezes não são eles mesmos. Mas quem os ama de verdade sempre os achará o diamante mais precioso por quem realmente são. E Safira era linda. Seus longos cabelos castanhos e perfeitamente ondulados passavam de seu quadril e a cor escura dos cabelos contrastava com a cor pálida de sua pele. O rosto com feições finas e pequenas indicava a delicadeza da rainha. E ela era mais alta do que as outras mulheres que conhecia, já que a maioria das mulheres naquela redondeza eram de estatura baixa. — Vossa majetade está mui formosa — disse ama sorrindo. Safira enclinara a cabeça levemente de lado. Uma mania que ela sempre tivera e sorriu. — Então deste modo irei me apressar — disse Safira arrumando o seu cabelo e saindo rapidamente do quarto. Ama era a única que sabia dos encontros escondido do pintor e de Safira. Ela achava extremamente errado, pois adultério era um crime para o seu povo, mas Safira não amava o rei Harold. Eles nem ao menos trocavam uma palavra quando estavam juntos. Então com isso ama, sendo uma fiel amiga, guardava o seu segredo com a própria vida. A rainha descera as escadas de pedra, pois seu palácio era inteiramente constuido em pedras e ouros. A maior e mais linda residência de Genebra Quando ela descera o último andar e entrara no salão principal os seus olhos rodearam o enorme cômodo inteiro à procura dele. O músico sentado em frente a a harpa o tocava, os seus dedos movimentando-se com profissionalismo e copetência sobre as cordas do instrumento, também revestido à ouro puro. O som que saía da harpa preenchia todo o cômodo dando leveza e graça ao ambiente, e no centro do salão havia alguém de costas. Ele era extremamente alto. Seus ombros inconfundíveis, seu corpo magro, mas másculo e suas roupas sempre em tons escuroa o entregavam. Com o coração batendo em sua garganta e ouvidos Safira aproximou-se. — Vossa excelência — disse ela e o rapaz virou-se com um sorriso radiante estampado em seu rosto. Ela amava o sorriso dele. Dentes brancos e perfeitmente alinhados. Mas Safira amava também a cor de seus cabelos castanhos dourados com leves ondulados, seus olhos mel esverdeados, a leve curva em seu queixo, as maçãs bem desenhadas de seu rosto. Ela amava cada mínimo detalhe daquele rapaz à sua frente. — Vossa majestade — Peter disse se curvando em reverência à rainha. Safira entendeu a mão para o rapaz e após se indireitar ele aproximou-se dela e seus dedos compridos tocaram os dedos frios dela, devido ao nervosismo que se apoderava dela somente quando estava perto dele. Peter tocou os seus lábios quentes e úmidos sob a costa da mão dela enviando a sensação avassaladora de arrepios por todo o seu corpo. E então algo aconteceu. Todas as imagens ao redor deles começara a desaparecer. Safira olhara assustada e era como se tudo estivesse desfocando-se e tranformando-se em borro de tintas, como quando Peter derrubara seu pincel e manchara o chão do palácio, mas dessa vez em todo os lados em que ela olhava tudo era um borrão. Ela olhou para frente e imagens passavam pelo seu subconsciente a fazendo ter fortes pontadas na cabeça. Safira fechou os olhos e depositou suas mãos em ambos os lados de sua cabeça. Imagens apareceram desconexas em sua mente, rapidamente e totalmente confusas. Memórias, lembranças. Ela vendo Peter pela primeira vez no grande salão. Uma tocha sendo acendida. Um pôr do sol sendo refletido em um lago. Olhos verdes raivosos. Chamas a se alastrar. Alguém chorando. Peter pintando um quadro. E por último uma dor em seu peito a tirando todo o ar. Safira abriu os olhos. .*. Seattle, Estados Unidos 2015 Alguém batia contra a madeira da porta de seu quarto, despertando a garota de mais um dos sonhos estranhos que ela vinha tendo nas últimas semanas. Ela suspirou sem abrir os olhos. — Acorda desgraça — Jack gritou do outro lado da porta — Vai se atrasar de novo. A garota tentou abrir os olhos, mas a forte dor de cabeça e a preguiça a impediam de se mover. — Harley! — o rapaz gritou novamente — Eu vou arrombar essa porta! A garota que estava deitada de lado com o edredom de cor azul claro apoiou-se nos próprios cotovelos ainda de olhos fechados fazendo o tecido do edredom deslizar por suas costas. — Eu já vou — ela disse alto o suficiente para Jack ouvi-la. — Anda logo! — ele disse — Você tem meia hora. Então ela ouviu os passos dele se distanciar no corredor do apartamento. Espere. Meia hora? Halsey abriu os olhos esverdeados e olhou para o relógio sob o criado mudo. Ela estava muito atrasada. — p***a — ela resmungou e levantou-se em um pulo. Seus pés descalsos com unhas pintadas de preto tocaram o chão gelado. Ela correu para o banheiro e nem se dera o trabalho de tomar um banho, ela não ligava se estava com m*l odor ou não. Harley parou em frente à pia e pegou a sua escova de dente depositando a pasta de menta. Ela odiava menta, mas Jack era quem fazia a despesa da casa, então ela nem ao menos tinha moral para reclamar. Não se sabe quanto tempo ela ficou parada em frente a pia escovando os dentes de olhos fechados, quase dormindo em pé, até que ela ouviu a voz de Jack novamente vinda do corredor. — Heather, c*****o — ele gritou — Vamos logo. Harley deu um pulo e cuspiu a pasta na pia, em seguida enxaguando a sua boca. Ela penteou os cabelos, agora descoloridos em tom platinado enquanto se olhava no espelho. Harley odiava a sua aparência por vários motivos banais que ela guardava somente para si própria. Ela saiu do banheiro e correu em direção ao seu guarda roupa, que estava uma total bagunça. A garota escolheu qualquer roupa que viu pela frente, pegando uma camiseta branca curta e um macacão jeans. Ela vestiu a camiseta e pegou a sua bolsa no cabide ao ir em direção à porta abrindo-a. Ela saiu pelo corredor ao mesmo tempo em que vestia o seu macacão desajeitadamente. Quando chegou na sala do apartamento, Jack que estava sentado no sofá com uma expressão neutra, e ao perceber a sua presença ele a analisou dos pés à cabeça. — Por que não estou surpreso? — ele questionou com certa ironia ao reparar nos pés descalços dela e também que os fechos do macacão da garota não estavam abotoados. Harley revirou os olhos e fechou os botões enquanto caminhava rapidamente até o outro lado do cômodo onde sua sandália branca estilo melissa boemia plataform estava, calçando-as rapidamente. — Você não precisa me levar no bar — disse Harley se virando para o amigo que se levantava enquanto balançava as chaves ao caminhar até a porta com a mão livre que não segurava a sua mochila da faculdade da qual ele frequantaria naquela mesma manhã. — Se eu tenho uma moto, por que diabos deixaria você pegar três ônibus para chegar naquele fim de mundo que é a 2nd Ave? Harley deu de ombros. — Você não me deve nada, Jack — disse ela se aproximando dele — E eu nem ao menos estou te cobrando algo. Jack revirou os olhos castanhos. — Não acha que já passou da hora de deixar de ser tão revoltada? — ele perguntou ao abrir a porta e os dois saíram juntos de seu apartamento até o corredor. — Não — Harley disse simplesmente. Jack trancou a porta e se virou para ela. Havia momentos em que Jack se achava adulto ao lado de sua melhor amiga. Eles haviam se conhecido na sexta série. Harley era diferente e isso chamou a atenção dele. Ela não julgava as pessoas, mas ao mesmo tempo ela se auto julgava. Como se algo nela fazia com que si própria necessitasse depositar todas as dores do mundo somente para ela mesma. E isso às vezes o assustava, ele tinha medo até que ponto Harley poderia chegar. O seu nome verdadeiro é Heather Lyns Nicolette, mas desde que ele a conhecera ela usa um anagrama com seu nome, Harley, que também era o nome de uma rua do Brooklyn onde a mãe dela costumava levá-la frequentemente quando ainda era viva. Tinha um enorme significado para Harley. Ela também tinha a mania de pintar seu cabelo sempre. Jack nunca sabia qual cor estaria o cabelo dela todos os dias quando ele chegasse da faculdade. Um dia poderia ser azul, no outro rosa, no momento estava descolorido somente aguardando a próxima cor. Outro fato sobre Jack e Harley era que ao terminarem o colegial eles conseguiram a admissão na universidade de Seattle e decidiram morar juntos. Eles saíram de sua cidade natal em New Jersey e migraram em Seattle, Jack para estudar música e Halsey em belas artes. Mas a garota desistiu após o primeiro semestre, sem explicar qualquer motivo. Jack às vezes não entendia a amiga e aparentemente ela também não queria que ninguém a entendesse. — Vamos — disse Jack se virando em direção as escadas, pois o elevador estava quebrado, e por ser um apartamento de apenas dez andares e um prédio velho e barato os proprietários não se importavam em arrumar nada, às vezes faltava água ou energia. Halsey surtava sem netflix e Jack era quem tinha que aguentar o drama dela. E garota seguiu o amigo em direção as escadas e como todos os dias eles desceram lado a lado em silêncio. Harley não tinha bom humor de manhã e na maioria das vezes em que Jack tentava puxar assunto ela o xingava. Ele desistiu na oitava série. Juntos eles chegaram no térreo onde Helena, a única faxineira daquele prédio, encerava o chão. — Bom dia crianças — ela disse sorridente. — Bom dia Hele — disse Jack dando um beijo no rosto da mulher. — Oi —Harley disse de má vontade. Após um ano e meio em que Helena conhecia Harley ela já se acostumara com o temperamento da garota. Mas ela gostava dela do mesmo jeito, sem ao menos entender o motivo. — Até mais tarde — disse Jack despedindo-se da mulher e Halsey o seguiu sem se despedir, como sempre. — Bom estudo e bom trabalho para vocês — disse Helena, sua voz ecoando pelo cômodo — Vão com Deus. Harley revirou os olhos enquanto Jack abria as portas duplas, saindo para a calçada onde o ar frio tocara as suas peles expostas. Eles andaram até a lateral do apartamento onde havia o estacionamento e caminharam em direção à moto de Jack. Harley ficou parada encarando a sua frente e Jack sentou-se no banco em seguida ligando o automóvel, e colocando o seu capacete. Ela o seguiu e colocara o capacete dela, sentando-se atrás de Jack segurando firme em sua cintura. Logo em seguida ele manobrou a moto em direção à rua principal. Harley observava os prédios passarem rapidamente. Para a maioria das pessoas morar no centro Seattle era um sonho, e para ela no começo fora uma realização de um grande sonho. Sair de New Jersey e morar em Seattle era um sonho que ela sempre tivera. De uma maneira que a própria garota não entendia, aquele lugar a atraía e a ela quisera ir para aquela cidade de qualquer maneira. Ela queria cursar a faculdade de belas artes, trabalhar e ser alguém de respeito na sua profissão. Mas ao sair pelas portas principais do aeroporto ela sentiu como se faltasse algo. Harley nunca soube explicar aquela sensação e nem sabe se algum dia conseguirá explicar, mas ela sentia que quando pisasse na calçada todas as suas dúvidas seriam esclarecidas. Nada mudou entretanto. Ela ainda sentia o vazio, como se faltasse uma parte de sua alma. Existem coisas que nós não sabemos explicar, somente sabemos senti-las. Jack parou a moto em frente ao The Whisky Bar onde Harley trabalhava. O prédio tinha apenas um andar a sua estrutura era revestida de cimento, mas o acabamento dava a ilusão de que era feito de madeira escura. A placa em neon com o nome do bar sempre estava ligado e não tinha como não chamar a atenção. O grande vidro da janela mostrava para quem estava na rua que por dentro do bar era tudo bonito e bem iluminado, até mesmo de dia. Harley trabalhava no turno da manhã, sua amiga Hayley Williams às noites e Michael Clifford trabalhava dia e noite, pois Charlie, o dono, era o seu padrasto. Mas às vezes Charlie trocava os turnos deles, ele era bem doido. Harley desceu da moto e tirou o capacete arrumando os seus cabelos recém descoloridos. — Bom trabalho, cabeça de arco íris — gritou Jack por detrás de seu capacete. Ela somente deu um pequeno sorriso e se virou no mesmo momento em que Jack saiu com sua moto pela rua em direção à faculdade. Harley não entrou pela porta da frente onde a placa estava escrito "Closed", pois a porta sempre estava trancada e os funcionários entravam pelas portas dos fundos, até mesmo o próprio Charlie. Ela entrou no beco a caminhou em direção à porta de ferro enferrujada e bateu contra ela sete vezes em um ritmo, o código para eles saberem quem era. Alguém abriu o olho mágico fazendo um barulho agudo que sempre causava arrepio em Harley. Ela viu um par de íris verdes e mesmo vendo somente os olhos da pessoa ela sabia que ele estava sorrindo. Quando ele abriu a porta ela pôde ver o sorriso inconfundível de Michael. Mikey tinha os cabelos pintados de vermelho fogo, e isso era um dos motivos pelo qual ela se dava bem com ele. O rapaz entendia a vontade dela em sempre querer pintar o cabelo de colorido. Hayley também tinha os cabelos coloridos e tanto ela quanto ele eram pessoas que Harley gosta de conversar, mesmo que ela odiasse conversar. — Bom dia, princesa — Mikey disse e Harley passou por ele sem dizer nada, como sempre. Michael fechou a porta trancando-a e os dois andaram em direção aos seus destinos, Michael que já estava com o uniforme foi para o balcão e Harley se dirigiu até o minúsculo vestiário para colocar o próprio uniforme. Ao entrar ela fechou a porta atrás de si, aquele cômodo era do tamanho do banheiro dela, se não menor, então era um pouco desconfortável para se locomover. Ela tirou a sua roupa rapidamente e colocou o uniforme vermelho ridiculo do bar, o crachá em seu peito escrito Heather a irritava. Heather a lembrava de quem ela costumava ser, de quem ela queria voltar a ser, antes de sua mãe morrer. Harley suspirou alto e fechou os olhos. Não, não pense sobre isso, não agora, não hoje e nem amanhã - ela pensava tentando acalmar o coração acelerado que insistia em querer arrancar lágrimas dela. Nicole, sua mãe, falecera quando a garota tinha quase treze anos, dias antes de seu aniversário. As duas moravam no Brooklyn e se davam muito bem, eram como melhores amigas, e o fato de que a sua mãe era muito jovem também ajudava na relação de ambas. Mas Nicole tivera cancer e quando descobriram já era tarde demais. Então Harley fora obrigada a morar com a família perfeita de seu pai, Chris Frangipane, em New Jersey, que ironicamente era a cidade natal de Harley. Ela não suportava o seu pai. Ele havia abandonado Nicole quando soubera que ela estava grávida de Harley e somente assumiu a criança quando a mãe dela o ameaçou de que entraria em contato com um advogado. Então Harley cresceu dentro de uma casa do qual ela nunca conseguira chamar de lar, que ironia. Stephanie, esposa de seu pai era uma mulher atenciosa e tentava ao máximo fazê-la sentir-se em casa, mas Harley sabia que aquele ambiente jamais seria o seu lar. Também morava com eles os seus dois meio irmãos mais novos, Sevian e Dante, duas pestes que ela só não queimava por questões de lei. No mesmo ano ela em que ela se mudara para a casa de seu pai ela conhecera Jack Grinn e então o vazio em seu peito diminuiu. Ela ainda se lembra do primeiro dia de aula na escola, Jack a seguindo por todos os lados. m*l ela sabia que eles se tornariam melhores amigos e ele cuidaria dela. Mas Harley não havia superado a morte de sua mãe até hoje, tanto que em todas as suas folgas do trabalho Jack demorava horas em sua moto somente para levá-la à New Jersey para ela visitar o túmulo de sua mãe. Harley odiava o fato óbvio sobre a morte e ela era obcecada em se torurar com isso, mesmo antes de sua mãe falecer. A morte precoce a assustava de uma maneira que a afetava mais do que nas outras pessoas. Após guardar a sua roupa no armário e trancar com o cadeado Halsey saiu do vestiário indo em direção ao bar. O The Whisky Bar era bem frequentado, na parte da manhã os clientes iam à procura de café e às noites à procura de bebidas alcoólicas. Tecnicamente eles só serviam isso naquele estabelecimento. Halsey caminhou até o balcão e posicionou-se ao lado de Michael, onde ele estava com os cotovelos apoiados sob a madeira do balcão, Harley fez como ele. — Hoje você está com uma cara pior do que ontem — Michael disse. — Mesma cara de sempre — disse ela sem olhá-lo. — Pesadelos de novo? — ele perguntou. Halsey o olhou pelo canto do olho e deu de ombros. — O que aconteceu dessa vez? — O mesmo de sempre — disse ela semicerrando os olhos e lembrando do sonho — Eu estava em um salão e ele estava lá, e então a minha mente ficava sobrecarregada e várias imagens desconexas apareceram. Michael batucou os dedos sob a madeira do balcão, seguindo o ritmo de alguma melodia que tocava em sua mente. — Eu ainda acho que você deveria consultar um profissional — disse ele. Harley revirou os olhos. Lá vem o Clifford com as suas superstições de gente maluca - ela pensou. — Não vou consultar uma medium, Mikey — ela disse irritada. Sonhos eram somente sonhos. Não existia um motivo místico por tê-los. Sonhos são apenas uma imaginação do nosso inconsciente quando dormimos e era somente isso e nada além disso. — Você que sabe — disse Michael ao olhar em seu relógio de pulso e caminhar até a porta de vidro. O rapaz virou a placa de "Closed" para "Open" e voltou para o balcão. O sino da porta sendo aberta soou. O trabalho estava apenas começando. ... — Vou almoçar — disse Harley à Michael que entregava um café expresso para viagem à um homem de cabelos grisalhos que todos os dias no mesmo horário comprava café. — Obrigado, tenha um bom dia e volte sempre — disse ao homem e em seguida virou-se para Harley — Pode ir. Ela deu meia volta e correu até os fundos para pegar a sua bolsa no armário. Após sair ela caminhou em direção à porta principal e saiu do prédio. Do lado de fora o ambiente estava nublado, as nuvens acizentadas cobriam todo o céu e o brilho do sol quase não era visível. Por algum motivo ela adorava observar o céu. Harley colocou a sua bolsa em um lado de seu ombro e com as mãos dentro dos bolsos de seu uniforme ela continuou a andar. Nos almoços ela comia no Skillet Capitol Hill, Jack e ela adoravam a comida de lá e desde que chegaram em Seattle eles frequentavam aquela Lanchonete fielmente. Halsey caminhou até o grupo de pessoas que esperavam o sinal do semáforo fechar e parou ao lado deles. Os carros passavam rapidamente pela rua e a garota os observava, sua mente vagando. Mas algo, ou melhor, alguém chamou a sua atenção. Do outro lado da rua, andando rapidamente pela calçada, ele não passara despercebido pelos olhos de Halsey, mesmo que várias outras pessoas também estivessem andando ao redor. Seu cabelo castanho, sua pele translucida, seu gosto por roupas escuras. Era ele, Peter, o garoto que ela vinha sonhando nas últimas semanas. O sinal fechou e Harley saiu na frente correndo para atravessar a rua, atrás do garoto. Ele já estava longe, mas ela ainda podia vê-lo, ela desviava das pessoas que vinham em direção contrária à ela, mas a cada passo que dava o garoto se distanciava mais. Harley precisava alcançá-lo, ela não sabia o porquê, mas precisava. Ao longe ele virou a esquina e ela o perdeu de vista. Não, não, não - Harley pensou e correu mais rápido sem se importar se estava sendo m*l educada ao trombar nas pessoas. Ela correu mais e ao virar a esquina ela olhou freneticamente para todos os lados a procura dele. Várias pessoas passavam de um lado para o outro, algumas a lançavam olhares curiosas, mas nenhum deles era o rosto do qual ela procurava. Ele havia desaparecido. Harley passou as mãos tremulas por seu cabelo descolorido, seu coração disparado pela correria e pela cena que presenciara. Ele fora apenas uma imaginação? Ou ela realmente o vira? A garota olhou novamente ao redor, procurando o garoto pálido vestido com trajes escuros, mas ele realmente não estava mais lá.
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