A porta se fechou atrás deles e o som do tráfego fora abafado. Dentro do estabelecimento cheirava a mofo e Harley coçou o seu nariz. Aquilo estava bem pior do que ela imaginava.
Havia estátuas de anjos e criaturas estranhas de todos os tamanhos por todas as os lados, no chão, em prateleiras expostas e dentro de prateleiras de vidro. Alguns bonecos de panos, de voodoo, Harley supôs, estavam pendurados no teto por linhas de nilon. E o lugar era iluminado pela fraca luz que emanava de velas que cercavam o cômodo.
— O que que eu 'to fazendo da minha vida? — Harley resmungou.
Michael passou por ela e parou em frente à um balcão de vidro que dentro continha vários pedaços de galhos que Harley nem imaginava porque estavam ali e claramente não gostaria de descobrir. Seu amigo tocou a campainha de balcão fazendo o som agudo tilintar pelo cômodo e um aglomerado de pó subir. Harley espirrou e Michael a olhou segurando o riso. A cortina de porta enfeitada por varias bolinhas de madeira se moveu e entre elas alguém saiu. Era uma mulher de meia idade, cabelos grisalhos presos em uma bela trança de lado. Seus olhos acizentados eram lindos e sua pele adquiria pouca rulga. Ela vestia um vestido preto e em volta de seu pescoço havia varias gargantilhas de madeira, com pingentes de sol, lua e estrelas.
— Michael — ela sorriu para o garoto — Eu estava a sua espera.
Oh, jura? - Harley quis perguntar e soltou um riso sem se conter. Madame Norah a olhou.
— Olá, Heather — disse ela e Harley olhou para Michael.
— Eu não falei o seu nome para ela — disse ele — Eu nem ao menos avisei que viriamos.
Harley alternou o seu olhar para os dois. Eles só podiam estar de brincadeira para cima dela. A garota quase ficara impressionada, mas a sua parte consciente não a dera por vencida.
— Isso é um truque barato — disse ela — Ou vocês combinaram.
Michael e Norah trocaram um olhar, como se Harley fosse uma criança a fazer birra na frente de adultos. Aquele gesto a irritara profundamente.
— Novatos — Norah disse por fim saindo de trás do balcão — Vamos para a minha mesa.
A mulher passou por eles, e os dois a seguiu, Michael logo atrás de Norah e Harley atrás de Mikey. Mais ao fundo havia uma cortina cor de vinho, Madame Norah o afastou revelando uma mesa forrada com um tecido parecido com a cortina e da mesma cor. Em cima havia uma bola de cristal linda, Harley podia jurar que havia algo como fumaças cinza dentro dela se movimentando, mas tão rapidamente como ela os vira as fumaças desapareceram. Norah sentou em um dos três bancos que Harley não havia se dado conta até o momento. Michael a seguiu e sentou-se deixando uma vaga para Harley, que ainda estava parada na entrada da cortina. Norah a olhou com curiosidade.
— Sente-se — disse a mulher. Harley suspirou. Ela chegara até ali, então o que a impedia de continuar? A garota caminhou e sentou-se na cadeira evitando contato visual com os demais. — Vamos ver o que as cartas dizem — Madame Norah disse pegando um bolo de cartas velhas de debaixo da mesa entregando à Harley que ficou sem reação — Você os pega e os embaralha.
Ela pegou e os embaralhou como fazia com cartas de baralho em um jogo de poker. Norah estendera a mão e Harley lhe devolveu as cartas reparando pela primeira vez nas unhas da mulher, eram grandes, grossas, amareladas, pontiagudas e ameaçadoras, como garras de um animal. Norah depositara todas as cartas sob a mesa, todas as vinte e duas cartas lado a lado perfeitamente alinhadas. A mulher virou somente uma carta. Harley pensara que ela faria como nos filmes, mas parecia que ela fazia diferente. A primeira carta era de um desenho de uma mulher sentada com um cetro e uma coroa.
— A Papisa — Norah disse e a olhou — Essa carta para você representa o esoterismo, você deve desenvolver a sua intuição que possui. O estudo oculto.
— Não sou intuitiva — Harley soltou, mas Norah a ignorou virando a próximo carta franzindo o cenho. Na carta havia um desenho de um homem montado em um cavalo empunhando uma espada, e mais a sua frente havia uma rainha, também com uma espada.
— A Justiça — disse Norah parecendo confusa — Existiu um problema com a justiça, você deveria ter tomado cuidado.
— Deveria? — Harley perguntou sem se conter.
— Você teve problemas com a justiça quando, Harley? — Michael também se pronunciou. Okay. Harley era problemática, fumava, bebia e às vezes arranjava confusão, mas ela nunca fora detida pela polícia.
— Não — disse ela. Michael olhou para Norah esperando uma continuação. Ela apenas virou a próxima carta. Nesta carta havia duas pessoas dando as mãos se cumprimentando e logo atrás deles havia um anjo em um pedestal, mas a carta estava de ponta cabeça.
— Os enamorados — a mulher disse ainda com o seu cenho franzido — Você precisará tomar uma decisão importante novamente, pois você se encontrará entre dois caminhos... — Norah hesitou — Novamente.
Harley olhou da carta para Michael que também a olhava curioso.
— Norah — Mikey disse — Queremos saber só do presente e não do futuro ou do passado.
Madame Norah o olhou e Harley pôde ter o vislumbre de confusão também nítido em seus olhos.
— Eu não controlo as cartas — disse — Estão alternando entre passado, presente e futuro por algum motivo.
Com os dois à sua frente se encarando seriamente, Harley começou a sentir certo receio.
— Prossiga — disse Michael.
— O Julgamento — disse ao desvirar a carta que continha dois anjos tocando trombetas ao lado de um homem barbudo na parte de cima, onde embaixo havia três pessoas dentro de algo que a lembrava uma tumba, olhando para cima onde o homem e os anjos estavam. Norah não disse nada. Somente ficou olhando para a carta. Harley olhou novamente para Michael perguntando com os olhos o que estava havendo. Como resposta ele somente balançou a cabeça, pois também não entendia o que estava de fato acontecendo. Madame Norah olhou para Harley. — O que você fez? — perguntou e a garota permaneceu estática sem saber sobre o que ela a questionava.
— O que isso significa? — Michael perguntou atraindo a atenção da mulher.
— Significa que alguém fez algo e deve ser julgado por Deus — disse seriamente — Uma atitude mais do que somente imprudente — e voltou a olhar para Harley. A garota não gostou daquela estranha a olhando em julgamento, mesmo que ela não tivesse feito nada de errado, aquilo a incomodou demais.
— Não sou um anjo — disse Halsey com sarcasmo — Mas não cheguei ao ponto de matar alguém para você me olhar desse jeito — ela apontou para as cartas sob a mesa — E tudo o que as suas cartas disseram não me ajudou em nada.
Norah permaneceu em silêncio por alguns segundos e então olhou para a mesa.
— Última carta — disse e virou a última daquela estúpida sessão. Havia um homem segurando um sol acima de sua cabeça, raiando os seus feixes de luz por todos os lados. — O sol — disse — Para você nesse leitura significa paixão ardente, grande cumplicidade que chega a ser doentia. Mas...
— Mas o que? — perguntou Mikey intrigado.
— Mas é um amor antigo — disse franzindo o cenho encarando a carta do sol como se todas as respostas do mundo estivessem ali — Muito antigo — ela deu ênfase na palavra muito e então ela olhou para Halsey que a encarava — Quantos anos você tem mesmo querida?
Harley queria lhe dizer que não havia possibilidade de existir um amor antigo, pois ela nunca se apaixonou, nem ao menos sabia o que era. Ela somente ficava com os rapazes por ficar, e então no dia seguinte não havia nada que a prendesse.
Harley era somente uma aventureira, sem compromisso, não pertecendo à nada e nem a nenhum homem. Ela era somente a violência da chuva que cai, ela era um furacão. Mas as palavras entalaram em sua garganta e tudo o que ela fez foi responder a pergunta que lhe foi feita.
— Vinte — disse. Norah assentiu e recolheu todas as cartas, juntando-as e as deixando de lado na mesa. — Me dê a sua mão — disse — A que você escreve.
Harley estendeu a sua mão e Norah a virou deixando de palma para cima, seus dedos gelados e unha tocando a pele de Harley. Com a mão livre Madame Norah contornou a linha da vida na mão de Harley com o seu dedo indicador. As unhas fazendo cócegas em sua pele, Harley queria coça-la. Michael percebeu uma leve brisa passar por eles, balançando levemente as cortinas e as chamas das velas junto com seus cabelos, mas Madame Norah não vacilara e Harley estava concentrada demais no dedo da mulher que percorria a pele da palma de sua mão. Norah continuou com uma expressão confusa enquanto lia a mão de Harley. Então riu, sem mais e nem menos ela riu e soltou a mão de Harley que a encarava confusa como Michael também fazia.
— Do que ri? — Michael perguntou, mas Madame Norah não desviou o olhar de Harley.
— Conte-me sobre os sonhos — disse por fim.
— Contar o que exatamente? — perguntou sem conseguir desviar o olhar de Norah.
— Quero saber de tudo.
Harley hesitou. Ela não contara os mínimos detalhes para ninguém, somente Michael e Jack sabiam um pouco a mais, mas não detalhe por detalhe.
— Você consegue — Michael a encorajou. Ela engoliu em seco e por fim suspirou.
— Tem uma mulher — disse — Eu, para ser específica. Ela sempre está de vestido comprido e em um castelo, ou palácio, não sei bem, pois cada sonho eles falam alguma coisa diferente — deu uma pausa — Também tem a ama, Margareth é o seu nome, ela me trata como uma filha e também guarda meus segredos que diz ser graves.
— Quais segredos? Você sabe? — Norah pergunta e Harley assente — Que segredos são esses?
— Peter — disse — Safira, eu, possui um relacionamento extraconjugal com ele.
Norah sorriu.
— E o que acontece nos sonhos?
— Sempre muda — observou — Às vezes é no salão principal dentro do palácio, então no próximo sonho estamos no lago ou na floresta. Mas o lago é onde a maioria dos sonhos se passam.
— Agora entendo — disse Madame Norah.
— Entende o que está acontecendo com ela? — Michael questiona.
— Eu acredito que a sua amiga esteja tendo visões de uma vida passada.
— Fala sério — Michael disse sorrindo, animado com o rumo que aquele fato estava tomando. Harley o olhou pelo canto do olho, ela estava sem reação. Aquilo tudo era extremamente bizarro.
— A linha da vida na sua mão não tem começo e nem fim — disse Norah voltando a sua atenção para Harley — Isso significa um ciclo vicioso. Nunca para até que você ache uma solução.
— Como assim? — perguntou confusa.
— Vocês voltaram para terminar o que começaram.
— Vocês? — Halsey perguntou.
— Peter também voltou — disse. Michael e Harley se entreolharam. Seu amigo riu.
— Ela o viu — disse ele.
— Isso explica os sonhos — disse Norah — Pela primeira vez desde a última vida vocês estão na mesma cidade.
— Ah, conta outra — disse Harley querendo estapear alguém — Isso já virou palhaçada.
— Harley — disse Mikey — Você viu ele.
— Pode ter sido delírio da minha mente — disse.
— Como sabemos mais a fundo? — Michael direcionou a sua atenção para Norah ignorando Harley.
— Preciso do Peter — disse ela — Existe um bloqueio na sua amiga. Não consigo sentir o que ocasinou a sua volta. E o que eu vejo é só escuridão. Não sei o que essa Safira e Peter fizeram, mas não é divino, é maligno.
— Maligno como? — Harley soltou. Madame Norah a olhou fixamente nos olhos.
— Magia n***a, querida.
...
— Por que exatamente estamos fazendo isso? — Simon perguntou enquanto seguia Haile pelos corredores da loja Pretty Parlor, uma loja de roupas vintage.
— Porque eu preciso de roupa nova para ir no Neumos — ela respondeu enquanto analisava as roupas nos cabides da loja sem ao menos olhar os preços.
— E em o que isso irá ajudar no meu problema mesmo?
Haile deu de ombros sem olha-lo.
— Distração — disse e se virou até a próxima ala de calças.
— Eu não acho que seja uma boa ideia ir em uma casa noturna repleta de gente.
Sua amiga suspirou e apoiu um cotovelo sob os cabides ao olhar para Simon.
— Você precisa confrontar isso o que está acontecendo com você — disse — Você precisa controlar os seus demônios e não deixá-los te controlar.
Simon encarou os próprios pés.
— Eu não posso afogar os meus demônios — disse — Eles sabem nadar.
Haile tocou o braço dele fazendo-o olha-la.
— Eu te ajudo — disse. Simon assentiu e Haile olhou algo por cima do ombro dele. Ela passou pelo amigo e admirou o manequim que vestia um lindo vestido curto preto de pedras. — Vou levar esse — disse e virou-se para Simon — E você trate de escolher uma roupa bem bad boy, porque hoje vamos causar no Neumos.
...
Harley abriu a porta do estabelecimento da Madame Norah e finalmente saiu do prédio. Ela sentiu uma sensação de liberdade ao respirar o ar puro e não o mofo do cômodo que outrora ela estava. A porta bateu atrás dela e Michael parou ao seu lado.
— O que vamos fazer? — ele perguntou referindo-se à sessão.
— Nada — Harley disse e começou a caminhar.
— Como nada? — ele perguntou a alcançando.
— Você ouviu o que aquela velha louca disse — ela falou enquanto eles atravessavam a faixa de pedestres.
— Precisamos achar o Peter e levá-lo até ela — Michael disse como se fosse óbvio. Halsey parou de andar.
— Você está se ouvindo? — perguntou apontando teatralmente para a sua própria orelha — Como vamos achar esse garoto? Eu nem ao menos sei se ele realmente é real, e outra coisa, mesmo se o encontrassemos, diriamos o que? — ela abriu os braços e encenou um diálogo com uma voz de deboche — "Ah, oi. Eu sou a reencarnação de uma tal de Safira e preciso que você vá comigo em uma sessão com uma medium para os meus sonhos com você pararem".
Michael suspirou desistindo.
— Então não faremos nada? — ele perguntou. Harley balançou a cabeça.
— Eu agradeço a sua ajuda, Mikey — disse — Mas não tem mais o que fazer.
...
Harley entrou em seu apartamento que ainda estava vazio. Ela jogou a sua bolsa encima do sofá junto com a sacola da drogaria na qual ela comprara duas caixas de tinta para pintar o seu cabelo novamente após se despedir de Michael. Ela estava exausta e sentou-se no chão, suas costas contra o sofá. Ela necessitava sentir o frio que emanava do chão para abafar os seus pensamentos conturbados. Cotton, o gato persa, branco e felpudo, que ela havia ganhado de Jack há dois anos, se espreguiçou em sua caminha, que ficava no canto do cômodo e caminhou até onde Harley estava, aconchegando-se ao seu lado. Ela acariciou os pêlos do animal sem prestar atenção nele de fato, pois seus pensamentos estavam em uma total batalha em seu cérebro. A porta se abriu e Jack, junto de Cameron Dalls, adentraram o cômodo entretidos em uma conversa.
— Você tinha que ter visto a cara do professor — Cameron dizia — Ele quis matar o Mendes.
Jack riu ao fechar a porta.
— O Cory é louco — disse — Já imaginou se isso chega aos ouvidos da família puritana dele?
Os dois garotos gargalharam.
— A mãe dele teria um ataque do coração e... — Cameron parou de falar ao ver Harley sentada no chão — Não seria mais lógico sentar no sofá?
Jack seguiu o olhar de Cameron reparando em Harley.
— O que houve? — Jack perguntou.
— Nada — Harley disse e levantou-se pegando a sua sacola com as tinturas e caminhando até o seu quarto sendo seguida por Cotton. Harley saiu do chuveiro após se banhar. Enrolou-se em uma toalha e caminhou até o espelho, encarando o seu reflexo contra o vidro. Os cabelos recém cor de rosa estavam molhados e pingavam contra a sua pele úmida. Mas o que mais chamava a atenção era os olhos da garota. Aqueles lindos olhos esverdeados que na verdade não possuíam brilho de esperança. Ela engoliu em seco e reprimiu as lágrimas.
Então saiu do banheiro e se sentou na ponta da cama encarando o quarto escuro. A noite já caía em Seattle e o acizentado crepuscular se apoderava da cidade deixando o quarto da garota m*l iluminado. Perdida olhando o nada na escuridão Harley fora pega pelos seus pensamentos que ela estava tentando ao máximo reprimir desde que saíra do prédio de Madame Norah. Ela realmente seria uma reencarnação de Safira? Essas coisas existiam? Peter realmente existia? Com este último pensamento seu coração acelerou o ritmo contra a sua vontade. Mesmo sendo apenas sonhos o que ele possuía ela não evitava o que sentia, pois estando no corpo de Safira ela pensava o que a rainha pensava, ela sentia o que a mulher sentia. E o problema era que mesmo acordada Halsey concordava com Safira. Peter era lindo aos seus olhos, em todos os aspectos. O rosto dele, o corpo, a voz e até a áurea que parecia emanar dele. Tudo era simplesmente atrativo e magnífico para elas, cada mínimo detalhe daquele garoto. Safira se encantava até com o modo que ele movia os cílios ao pisca-los. Harley tinha medo de que ele realmente existisse. E se ele não tivesse os sonhos como ela? E se ele nem ao menos sabia sobre Peter e Safira? A garota sentiu um desespero a inundar, ela não acreditava que estava realmente levando aquela questão de reencarnação a sério, pois no final ela se magoaria. Peter não existia e esse fato doía nela, e Harley não compreendia o porquê. O óbvio.
— Harley? — Jack bateu contra a porta, mas ela não respondeu — Você está bem?
Jack abriu a porta e procurou o interruptor na parede acendendo a luz e supreendendo-se ao deparar com sua amiga sentada na ponta da cama, somente de toalha, encarando o nada a sua frente. A última vez que ele a vira daquele jeito foi quando ele a levou pela primeira vez ao túmulo de sua mãe. Então algo naquele momento estava nitidamente errado.
— O que aconteceu com você? — perguntou sentando ao seu lado.
— Você não vai acreditar.
— Teste me — disse. Ela o olhou.
— Eu vi o Peter.
Jack demorou um momento até entender de quem ela estava falando.
— O Peter dos seus sonhos? — perguntou indignado. Ela assentiu.
— Acordada — continuou — Ao ar livre, andando pelas calçadas de Seattle como uma pessoa normal.
— Wow — foi tudo o que ele disse de imediato — E por isso você está assim?
— Não — ela disse devagar e Jack percebera a hesitação em seu timbre. — Então porquê?
Harley encarou as próprias mãos.
— Michael me convenceu a ir em uma medium — Jack arqueou uma sobrancelha e ela prosseguiu — E eu fui.
Seu amigo a olhou incrédulo.
— Sério? — perguntou sem acreditar.
— Sim — ela disse soando triste.
— Por essa eu não esperava.
— Pode rir de mim — disse ela dando de ombros ainda sem o encarar.
— Por que eu riria?
— Por que sou uma louca.
Jack suspirou e pegou em uma das mãos dela, lhe passando conforto.
— Eu jamais te julgaria — ele disse e ela o olhou, a expressão de Jack coincidia com suas palavras — Eu não aconselharia você ir em uma velha que quer ler a sua mão, mas eu sei o quanto essa última semana você está sobrecarregada em busca de respostas. Não importando de onde elas venham, contanto que elas venham — ele soltou a sua mão e tocou a ponta do queixo dela — Só não deixe essas ladainhas esotericas mexer com você.
Harley somente assentiu.
— Obrigado — disse por fim. Jack deu um beijo no topo de sua cabeça úmida e levantou-se. — Vamos sair — disse ele — Eu, Cameron e os caras da faculdade vamos no Neumos. Vem junto.
— Acho que multidão não me ajudaria no momento.
— Eu discordo — disse ele — Você precisa se divertir. Dançar, beber até cair — ambos riram — Amanhã é seu dia de folga, não acha que uma ressaca ajudaria um pouco?
Harley franziu o cenho ao pensar. Ressaca seguida de uma forte dor de cabeça seria perfeito para tirar todos os seus problemas, mesmo que temporariamente.
— Você me convenceu — ela disse e se levantou — Me espere na sala.
...
Simon aguardava Haile na sala da casa dela quando a sua amiga desceu correndo as escadas fazendo o som de seus saltos ecoarem pelo cômodo. Ela trajava o vestido preto do qual comprara na tarde daquele mesmo dia.
— Como estou? — ela perguntou dando um giro no ar.
— Está deslumbrante — ele disse ao se por de pé.
— Você também — disse ela o analisando. Por insistência de Haile Simon acabara comprando uma nova jaqueta preta com botões dourados que no momento se encontravam abotoados, estilo soldado inglês, e calças pretas de veludo que lhe caíram perfeitamente. As botas pretas completavam o charme em seu estilo. — Agora vamos logo, porque a nossa carona chegou — ela disse ao passar sua bolsa de alça fina pelo ombro. Simon a seguiu até a porta onde Jerrie estava. Ele abriu a porta para os jovens.
— Divirtam-se — disse.
— Até mais tarde, cabeça de bola de cristal — Haile deu um soquinho no braço dele e saiu.
— Até, Jerrie — Simon disse e ao olhar para o homem percebeu que ele o analisava.