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2677 Words
Haile tirara sarro de Simon quando ele tivera apendicite e fora internado. Então ele já estava acostumando com a amiga sempre fazendo piadinha de mau gosto. — Mas agora o que vamos fazer? — ela perguntou. — Eu estava pensando em marcar uma consulta com um psiquiatra. Haile deu um tapa na cabeça dele o pegando desprevinido. — Mas o que...? — Você não vai passar em psiquiatra p***a nenhuma — ela o interrompeu e prosseguiu — E tira essa ideia tosca da sua mente. Simon semicerrou os olhos. — Então qual é a sua brilhante ideia, Steinforld? — Simples — ela disse — Nós vamos tentar desvendar esse mistério. — Que mistério? — Simon se exaltou — Isso se chama loucura e você deveria me dar cobertura para quando eu fosse em um médico. Haile revirou os olhos castanhos e grunhiu. — Já não te disse para tirar essa ideia i****a de psiquiatra? — Você só diz isso porque não é você quem está à beira da loucura. — Ah, eu estou sim — disse ela — Estou à beira da loucura para te esganar aqui mesmo se você não calar essa boca e me deixar falar. — Prossiga — Simon desistiu e apoiou o cotovelo contra o assento, sua mão fechada em punho apoiando a sua cabeça enquanto ele encarava Haile. — Vamos fazer um teste — disse a garota — Toda vez que você ver ou ouvir algo me fale. Seja pessoalmente, por mensagem ou por ligação. Mas me fale. — E no que isso irá me ajudar? — perguntou exasperado. Haile bateu em sua própria testa impaciente. — Você vai entender o que as imagens significam — ela encarou o vidro do carro — Você não precisa ter medo. Concentre-se no que as imagens querem dizer. — Não consigo — ele disse rapidamente. — Você nem ao menos tentou — Haile disse, sua voz afinando a cada palavra em descrença. — Você não entende, eu entro em pânico. — Simon — Hailee segurou o rosto dele de ambos os lados fazendo com que ele não desviasse o olhar — Você consegue sim. Esqueça os seus pais, eles jamais irão descobrir. Esqueça que isso não é "normal", se esqueça de tudo e concentre-se nas imagens. Simon assentiu quase hipnotizado pelas palavras da amiga. Ela o soltou. — Tudo bem — Simon disse — Quando começamos? — Agora — Haile disse dando de ombros e ligando o carro. ... Harley abriu a porta do vestiário do bar após trocar o seu uniforme pela roupa que ela viera ao trabalho, mas ela esbarrou em alguém e ao inclinar a cabeça para baixo Hayley Williams estava a sua frente. Hayley possuía os cabelos alaranjados com mechas loiras nas pontas, assim como Michael e Harley ela diariamente pintava os cabelos em cores chamativas. — Oi — ela disse sorrindo, mostrando a leve separação entre os seus dois dentes da frente. Harley achava adorável, mesmo que jamais admitisse. — Oi — ela deu um beijo no rosto da pequena garota, que mesmo com vinte e quatro anos não passava de um e sessenta de altura. — Michael me disse que vocês vão na Madame Norah — Harley revirou os olhos — Os sonhos pioraram? Hayley sabia dos sonhos, mas ao contrário de Michael ela não sabia os detalhes. Jack também sabia sobre os sonhos, mas ele dizia ser apenas cansaço da mente perturbada dela, e ela concordava com ele. Harley já até poderia ouvir os risos de deboche de Jack quando ela contasse à ele que havia passado com uma medium maluca de Seattle. — Pior que isso — disse Harley — Mas não quero falar sobre esse assunto agora. — Entendo — Hayley disse e a tocou de leve no braço — Boa sorte. — Obrigado — disse e ela pôde ver Michael caminhar até a porta principal — Eu vou nessa. Bom trabalho, até mais. — Até — Hayley disse e observou Harley e Michael saírem do bar. Michael andava silenciosamente pela calçada, seus tênis all star quase não emitiam som a cada passada. Suas mãos estavam dentro dos bolsos de sua jaqueta jeans e ele mascava chiclete. O modo despreocupado dele estava irritando Harley, pois ela estava nervosa sem saber o motivo, ou os motivos. Talvez fosse os sonhos, ou Peter, ou essa consulta com a tal Madame Norah, ou até mesmo Michael. Harley queria bater em algo para estravasar a fúria. — Você está me irritando — Harley disse após um momento. — Tudo te irrita — Michael disse sem a olhar diretamente. — Eu não sei se é uma boa ideia ir nessa mulher. Michael parou de andar e a encarou. — Já vai desistir? — Harley deu de ombros — Está com medo, não é? A garota gargalhou. — Medo? Eu? — perguntou — Do que? — Do que a Norah te dirá. — Lógico que não tenho medo dela — esbravejou. — Não é o que parece. Maldito - Halsey pensou. Michael sabia como desafiá-la e Harley era orgulhosa demais para deixar o garoto supondo que ele tinha medo de algo. Ela nunca tinha medo. — Vamos logo nessa louca — disse e o puxou pelo braço. ... — Aonde estamos indo? — Simon perguntou ao perceber que Haile conduzia o carro a direção contrária de sua residência. — Para a minha casa — disse — Você tem um trabalho de história para fazer comigo. — Tenho? — Simon perguntou buscando em sua mente, pois não se lembrava de ter trabalho em dupla com Haile. A garota ao seu lado soltou o ar pelo nariz ao rir. — Simon, deixa de ser lerdo — disse — Você vai dar essa desculpa para passar o resto.do dia na minha casa. — Ah —Simon assentiu e pegou o seu celular mandando mensagem para Alyah e em seguida para Elliot, avisando que ficaria na casa de Haile. Sua amiga virou a esquina e entrara em seu condomínio na Brodway. A casa dela era enorme, mas não se comparava com a mansão dos pais de Simon. Os portões abriram-se e ela entrara com o carro em sua casa o estacionando de qualquer jeito como sempre fazia, mesmo com sua mãe sempre reclamando do ato. Após desliga-lo ela saiu do carro e Simon fez o mesmo a seguindo pela escadaria da residência dos Steinforlds. Quando criança eles brincavam fingindo que aquele lugar era A Casa Branca devido as cores e a arquitetura. Naquele momento Simon sentira falta de quando era feliz e não sabia. Às vezes precisamos perder algo para saber o quanto aquele insignificante detalhe na verdade significa tudo. Agora juntos eles entraram na casa de Haile, passando pelas ernormes portas brancas. O aroma já conhecido por Simon não mudara, era um aroma inconfundível que somente a casa de Haile possuía e naquele momento aquele simples fato confortara o seu coração trazendo-o um sentimento que se igualava a segurança. Jerrie, o mordomo, um homem alto e magro que beirava os sessenta anos entrara no corredor enquanto Hailee tirava o seu casaco do uniforme escolar. — Boa tarde, senhores — Disse Jerrie com sua voz de timbre grave. — Boa tarde, cabeça de bola de cristal — Haile disse ao ir até o homem depositanto um beijo em seu rosto. Eles conheciam Jerrie desde que nasceram, o homem era quase uma lenda na família. — Boa tarde, Jerrie — Simon disse ao se aproximar. — Tem alguém em casa? — Não, senhorita — disse ele — Seus pais foram para Chicago e somente voltam no final de semana e seu irmão ainda não voltou da faculdade. — Novidade — ela cantarolou — Estaremos no meu quarto — disse à Jerrie e puxou Simon pelo manga de sua blusa — Qualquer coisa não me chame. Eles subiram as escadas e no primeiro andar adentraram no quarto de Haile. O cômodo estava do mesmo jeito desde da última vez em que Simon estivera ali, há alguns meses atrás. O quarto possuía um espaço amplo. Do lado esquerdo estava o enorme closet, igual que Simon possuía em seu quarto, as portas do de Haile estavam abertas e ele podia ver as roupas bagunçadas jogadas no chão. Haile dava trabalho para a empregada. No quarto dela também havia prateleiras com ursos de pelúcias que ela conservava desde a infância e jamais se desfizera. Os móveis eram todos de madeira em tons brancos e as paredes estavam pintadas de cor cinza claro, mas o teto era revestido com um papel de parede de constelações. Simon se lembrava de quando era criança e seus pais vinham para os Estados Unidos visitar a família de Haile e ele passava horas deitado sob o tapete felpudo dela encarando a constelação no teto. Haile jamais o tirara e estava perfeitamente intacto. Naquele momento, devido a sua vulnerabilidade, Simon tivera a certeza de como as pequenas coisas faziam falta, ele sentia falta de se sentir normal e despreocupado como naquela época. Ele jamais pensara que aquela memória o torturaria de tal maneira tão profunda. — Vai entrar ou vai ficar parado aí na porta? — Haile disse despertando Simon de seus pensamentos. Ele entrou completamente no cômodo e fechou a porta em seguida. Haile tirou os sapatos deixando-os espalhados pelo quarto e entrara em seu closet sumindo dentro dele. Simon observou o quarto e seu olhar caiu sobre a janela aberta. Ele engoliu em seco esperando por som de harpa, mas eles não vieram. — Estou com fome — a voz de Haile soou dentro do closet, logo em seguida ela saiu de dentro dele já vestida com outras vestes. O uniforme escolar sendo substituído por uma camiseta preta gola canoa e um short jeans — Vou pedir algo para a Dany. Simon assentiu e seguiu Haile com os olhos enquanto ela caminhava até a mesinha ao lado de sua cama onde estava o seu telefone para ligar para a empregada Dany que, ironicamente, estava no andar de baixo. Haile não estava com ânimo para descer as escadas, então ligaria para a própria casa. Simon balançou a cabeça com um sorriso, e ele faria alguma piada sobre isso, mas seus olhos pousaram sobre a cama de Haile reparando no móvel. A cama era de solteiro, mas espaçoso. Havia quatro colunas de madeira que subiam até o topo, quase tocando teto, um tecido cobria toda a cama dela, como um mosquiteiro, mas o tecido era liso, talvez de linho. Uma típica cama de princesa de desenhos animados de contos de fadas. Simon então sentiu aquela sensação. As imagens vieram atravessando a sua mente quase o sufocando. Ele viu uma cama, parecida com a de Haile, mas maior e a madeira escura. Então ele estava deitado por cima de alguém e ele a beijava, Simon sentiu o seu aroma adocicado. Mesmo com os olhos fechados ao beija-la ele sabia quem era. — Safira — ele sussurrou ao mesmo tempo em que o outro, Peter, sussurrou. Ele abriu os olhos e tentou ver o rosto dela, mas uma chama inundou a sua visão, fogo alastrando-se. Ele fechou os olhos devido a forte claridade alaranjada que aumentara, igualando-se ao brilho do sol. — Simon? — ele ouviu alguém o chamar — Simon! Ele abriu os olhos e a primeira coisa que viu fora as constelações no teto acima e em seguida Haile debruçada sobre ele, sua feição preocupada. E então Simon percebeu que estava caído no chão do quarto de Haile. — O que houve? Você viu algo? O que aconteceu? — ela disparou as perguntas. Simon sentou-se com a ajuda da amiga. Ele a olhou. — Sim — disse ele ainda sentado no chão, Haile estava ajoelhada ao seu lado. — E o que viu? — ela perguntou e em seus olhos um brilho de pura excitação era nítido. Simon franziu o cenho. Seria a primeira vez que ele tivera uma daquelas visões e havia alguém ao seu lado para compartilhar de sua loucura. Ele arqueou as sobrancelhas e com o dedo indicador coçou uma delas. — Acho que me vi com a tal da Safira em uma cama — disse. Haile escancarou a boca pela segunda vez naquele dia. — Fazendo o que? — ela perguntou e pela expressão de Simon ela já imaginou. — Nos beijando — ele disse hesitante. — Ai meu Deus — ela disse se levantando — Como eu não pensei nisso antes. Simon olhou para cima sem entender. — Nisso o que? — ele perguntou. Ela não respondeu, somente andava de um lado para o outro sussurrando coisas inaudíveis para si mesma, suas mãos em sua cintura. — Haile — disse — Você está me deixando mais nervoso do que já estou. Ela parou de andar e voltou a se ajoelhar de frente à Simon. — E se talvez você e essa tal de Safira já se conhecem? — disse com os olhos arregalados em excitação. Simon fez uma careta de incompreensão. — Nos conhecemos? — Sim — cantarolou — Tipo em vidas passadas. Simon arqueou uma sobrancelha. — Você 'tá falando sério? — ele perguntou. — Sim — disse — Tipo memórias. Simon desistiu. Ele estava louco, Haile também estava louca. Esse mundo emanava loucura. — Isso não existe, Haile — disse — Se fosse assim todos nós nos lembrariamos de vidas passadas — ele apontou para a garota — Você se lembraria da sua. Ela revirou os olhos. — Não é assim que funciona — disse Haile — Você pode estar se lembrando para cumprir alguma missão nesta vida, ou neste século. — Desde quando você se tornou tão religiosa? — Desde quando você se tornou tão chato? — rebateu — Isso não tem a ver com religião e sim com destino. — Destino em ser louco — ele se levantou e sentou na ponta da cama da garota — E você também está louca. Haile se pôs de pé. — Tudo bem — ela disse sentando-se ao lado dele — Vou te dar um tempo para pensar sobre isso, e cedo ou tarde eu vou descobrir o que está acontecendo. Eles ficaram alguns segundos sentados encarando à sua frente. Cada um com seu próprio pensamento, até que o celular de Haile apitou em cima de sua cama e ela o pegou lendo algo em silêncio. — Vamos comer algo logo — disse ela ao se levantar e caminhar em direção à porta — Pois vamos no Neumos essa noite. — Não estou no clima de festa — disse ele. Haile parou no meio do caminho e olhou para Simon entediada. — Você não quer ser normal? — ela perguntou e ele somente assentiu — Então comece a agir como tal. ... — Eu não acredito que estou realmente fazendo isso — Harley disse olhando a placa em neon apagada escrito Madame Norah acima de suas cabeças. Eles estavam parados em frente ao "consultório da Madame Norah", como dizia Michael. A vidraça não mostrava muito da parte interior, pois as luzes estavam apagadas e tudo o que Halsey conseguia ver era o seu próprio reflexo contra o vidro. — Nem eu — Michael disse e Harley o olhou. — Como você conhece essa mulher mesmo? — Longa história — disse ele passando por Harley e empurrando a porta dando passagem para ela entrar. A garota ponderou por um momento a ideia de desistir do que estava prestes a fazer, mas aquele rosto apareceu em sua mente. Aqueles lindos olhos castanhos mel, aquela voz aveludada, aquele lindo sorriso que mesmo em seus sonhos a fazia perder o ar. Aquilo não era normal, Harley queria voltar a poder dormir e não ter pesadelos. Ela não acreditava que Madame Norah fosse ajudar em algo, mas o "e se" de Michael rondava a sua mente. Ela respirou fundo e obrigou as suas pernas a funcionarem. Harley caminhou enquanto Michael a observava se aproximar. Ela o olhou, seus olhos verdes diziam o que os lábios não pronunciavam, então ambos entraram fechando a porta logo em seguida.
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