prólogo | sua filha pediu, ele lhe concedeu... |

1580 Words
Reviro-me inquietantemente sobre a cama, é quase como se meus lençóis estivessem carregados de espinhos, e meu corpo não suportasse seus cutucões, poderia dizer que a ansiedade é apenas por esse dia ter finalmente chegado, mas não é. A noite anterior não foi a primeira em que m*l preguei os olhos, e que meu corpo ansiasse pôr-se para fora de entre os edredons macios de minha cama. E sendo sincera, não acreditava que seria a única, a última... embora meus sonhos, anseios estivessem a poucas horas a serem realizados, sinto como se eu estivesse indo em direção a uma forca, não só uma forca, mas a minha forca, penitência, e isso é tão confuso, tão inquietante... eu gostaria de olhar para os céus e questionar a Deus, perguntar o por que de eu me sentir assim quando tinha a maior parte do que ansiei a alguns anos diante de mim, mas certamente soaria como ofensas, ironia... afinal, eu sei o que exatamente me faz sentir como estou... claustrofóbica... sufocada... Mas embora isso quase me mate, eu não posso suportar a ideia de retroceder em minhas decisões, então estou literalmente presa, entre a culpa e minha decisão...   Suspiro profundamente, em seguida movendo minhas pernas para fora da cama, preciso me levantar, não posso mais ficar deitada, preciso me mexer ou ficarei louca. Me coloco de pé, não ouso calçar minha rasteirinha, descalça mesmo, sigo até a porta da sacada, afasto as cortinas, o dia nublado me salda através do vidro da porta, não demoro a abri-la também, assim, meus pés me levem para o exterior, o vento gélido me recebe com intensidade e eu quase sinto uma pequena proporção de minha inquietação se esvair, inspiro profundamente, querendo inalar o máximo de ar que posso... declino minha cabeça para trás, podendo examinar as poucas nuvens presentes no céu, eu posso jurar que em breve um temporal caíra sobre a região, meus lábios tremem... o dia deveria ter amanhecido quente, ensolarado, feliz, afinal, é um dia feliz, não?   É? Minha própria voz ecoa baixinha em minha cabeça, engulo seco, permito-me fechar os olhos por um instante...   Eu sinto tanto... Sussurro mentalmente... sem saber pelo que especificamente sinto. Meu peito se aperta com tanta intensidade, que me curvo para frente, para o peitoril da sacada, buscando apoio para não desabar...   — O que está fazendo? — A voz imponente de minha mãe ecoa, meu corpo solavanca para frente, meu coração acelera em muitas batidas, se o peitoril não fosse alto suficiente eu certamente teria virado uma coisa nada bonita lá em baixo, na entrada de nossa propriedade, propriedade real dos Milani...   — Mamãe... — Forcei um sorriso, virando-me para direção que a poucos minutos vim — Me assustou. — Resmunguei meio ressentida, massageando meu peito, o cenho de minha mãe franziu, eu suspirei. Desde que me entendia por gente, ela era essa mulher, desconfiada, analítica, e acima de qualquer coisa, direta, não existia as palavras meio termo em seu vocabulário... e após... tudo que nos ocorreu, ela parecia um pouco mais desconfiada, principalmente comigo, as vezes eu sentia como se ela estivesse me observando... querendo pegar minha primeira nota de imperfeição... e bom, ela achava cada pequena imperfeição minha, por que eram elas que me diferenciava de seu mundo, Kiera.   — E por que se assustaria comigo? Algo que eu não esteja sabendo? — Arqueou a sobrancelha, parando na porta da sacada, eu suspirei, maneando minha cabeça em negação.   — De forma alguma... — Sustentei seu olhar — No que posso ajudá-la? — Inquiro formalmente com o queixo brevemente arqueado, era estranho como havíamos nos tornado tão distante...embora não fosse algo novo, visando que sua atenção sobre mim sempre foi assim, distante... Não, ela não era uma mãe r**m, longe disso, ela sempre me tratou com cuidado, até mesmo amor, mas não isso não anula o fato de que seu amor era um pouco mais intenso por Kiera... — É hoje... — Disse em tom baixo, alheio, como se fosse uma confissão ou melhor, como se doesse pronunciar aquilo... e eu não entendi, ela nunca havia se oposto aquela mudanças de plano, pelo contrário, ela havia impulsionado... suspirei, forçando um novo sorriso... eu tenho que parar com isso, agir como se não estivesse a par do que me cercava, a par do por que eu estava aqui... a poucas horas de caminhar pelo tapete longo, vermelho... seguindo em direção a Aydan...    — É hoje... — Repeti suas palavras, forçando que o tom de minha voz não falhasse — Se arrumará aqui? — Questionei, um pouco ansiosa de mais, estupidamente ansiosa...   — Não — Seus lábios m*l curvaram-se em um sorriso. Eu engoli seco, por que eu me sentia decepcionada mesmo? Aquilo era o esperado, ela era a minha mãe, e eu não era minha irmã... — Tenho que ajeitar algumas coisas com o seu pai e os pais de Aydan antes da cerimônia...   — Está tudo bem? Algum problema? — Questionei preocupada, imaginando os piores cenários possíveis para complementar esse momento, minha mãe maneou a cabeça em negação, e forçou um novo sorriso.    — Nada com que deva se preocupar... — Seus dedos esguios alcançaram os meus, apertando-os brevemente em algo que poderia ser confortante, se não tivesse sido tão ligeiro, robótico — Só vim verificá-la antes da cerimônia... — Suspirei, dando de ombros. — Estou bem, apenas um pouco ansiosa, mas nada que um bom banho não resolva... — Disse, ela assentiu, então sorriu, antes de virar-se, e sem outra palavra, deixar-me para trás.   ***   A cerimônia estava marcada para meio dia em ponto, o que me permitiu ter toda a manhã para me arrumar, acalmar, e não entrar em pânico absoluto. A equipe destinada as minhas arrumações entraram a exatamente meia hora após minha mãe me deixar, então tive companhia em cada etapa. Ísis, minha assistente pessoal, como toda a minha vida, esteve me auxiliando.    — Você está magnífica — Ela murmurou. Levantei minha cabeça levemente para poder examinar a minha imagem através do grande espelho da penteadeira a minha frente, eu tentei sorrir para imagem, mas meus lábios pareciam pedras, não se moviam, então me contentei em avaliar cada parte de mim. Eu estava parecida com ela, em inúmeros sentidos, os cabelos cacheados preso parcialmente em um coque, uma maquiagem esplêndida escondendo cada pequeno poro, mas havia algo que nos diferenciava, a tonalidade de nossas peles, enquanto eu havia herdado o tom n***o retinto da pele de papai, ela havia herdado o tom n***o mediano de mamãe. Mas apesar dessa pequena diferença, eu ainda me sentia mais ela do que eu,... Principalmente estando envolta do vestido de noiva escolhido por minha mãe às pressas, eu queria muito aquilo que estava acontecendo, eu havia desejado, ansiado mais do que o ar que eu respirava, mas agora que tudo estava finalmente acontecendo, algo em mim me esmagava de dentro para fora, impedindo me de sentir complemente realizada, completamente feliz.... A culpa, ela certamente era um terço do sentimento angustiante que estava pairada em minha garganta. Eu não poderia prosseguir com aquilo, eu não poderia assumir tudo aquilo que desde meu nascimento não foi destinado a mim... A quem eu queria enganar?    — Eu... — Tentei pronunciar as palavras que se encontravam na ponta de minha língua, mas eu simplesmente travei, Isis me olhou com certa compaixão, ela estava comigo desde que me entendia por gente, mas apesar de ela ser quase vinte anos mais velha do que eu, ainda a tinha como amiga, uma amiga íntima a qual conhecia todas as facetas de mim, mais do que minha própria mãe.   — Você pode... — Murmurou ela tocando meus ombros, ela sabia o que acontecia dentro de mim, ela sabia o que me afligia... e isso fez meus olhos lacrimejarem, por que ela sabia, mas a mulher que me deu a vida não — Você desejou isso a sua vida inteira minha querida... — Ela sorriu e abaixou se até que seu rosto estivesse ao lado do meu. Ela tinha pele branquinha a famosa "branca como a neve", e não era apenas o tom de sua pele que a ligava com a animação, era tudo, desde os cabelos Chanel, estatura aos olhos gentis... em minha infância eu adorava falar que tinha a branca de neve só para mim, mesmo que minhas amigas dissessem que preferia Tiana, de a princesa e o sapo, eu sinceramente amava aquela animação também, mas o fato de ter Ísis comigo, tornava a branca de neve a minha favorita... muitos viam aquilo como uma menina mimada, que fazia de sua babá, assistente como boneca, mas de alguma forma, nunca se tratou disso, era a minha maneira de amá-la, de ser ela e eu, melhores amigas, não importava quantas categorias nos afastassem... — Deus lhe concedeu... — Virei meu rosto gradativamente em sua direção, ela sabia que apesar de todos os pesares acreditava em Deus fielmente, acreditava que Ele estava no controle de todas as situações, ela não usaria o seu nome em vão apenas para aplacar minhas incertezas.    — Ele está? — Minha voz saiu em uma pergunta contingente, insegura...   — Sua filha pediu, ele concedeu — Os lábios de Isis tocaram minha face, eu fechei os olhos e repeti suas palavras inúmeras vezes internamente. Sua filha pediu, ele concedeu. Tentando me convencer meu coração daquilo, tentando aplacar a voz que gritava por todos os lados em minha mente que aquilo seria o maior erro de minha vida.    
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