Capítulo 04

1053 Words
Por ser uma tarde de sexta-feira, havia um número razoável de pessoas passeando pelo shopping. Nas lojas havia uma grande quantidade de entra e sai, e pelo que poderia perceber eles estavam vendendo bastante. Eu também estava lá para comprar. A minha busca era por lojas que vendiam mais roupas sociais, que era o que iria usar em maior quantidade. Roupas neutras. Essas eram as minhas prediletas em relação a todas as outras cores. Mesmo porque, eram os únicos tons que combinavam com tudo. No fim acabei comprando algumas calças, já que as minhas estavam bem gastas, outras saias e blusas. Por sorte o ponto de ônibus ficava a alguns metros do shopping e eu não precisaria me incomodar muito com o sol forte. Enquanto caminhava, analisava as novas lojas que surgiram no centro, faziam alguns meses que eu não aparecia ali na rua, ou seja, muitas coisas acabavam tornando-se novas aos meus olhos. Quando estava perto de chegar no ponto de ônibus eu o vi. Era o homem da quarta-feira, o qual havia passado poucas horas ao meu lado em meu apartamento. Ele estava de terno, um terno que com certeza havia sido feito especialmente para ele. Com o traje completo ficava ainda mais charmoso do que o normal. Ele estava entrando no que me parecia um prédio de advocacia. Estava explicado pelo menos o fato de ser sério, não que fosse necessário ser assim o tempo todo. Eu esperava que ele não fosse me ver, afinal estava falando ao celular e não parecia nada feliz com a ligação. Mas ao passar por ali, mesmo com a cabeça baixa, na tentativa de não ser vista, meus olhos me traíram ao olhá-lo por uma última vez. E foi no mesmo momento em que ele levantou a cabeça e seus olhos encontraram os meus. Por um segundo parou de responder quem quer que fosse ao telefone e ficou me encarando. Eu, por outro lado, do jeito que estava distraída, acabei não enxergando uma placa de PARE que estava bem a minha frente. Ou seja, a minha cabeça entrou em contato com o ferro, chamando a atenção de algumas pessoas em volta. — Machucou? — Ele já havia desligado o telefone e agora parecia estar preocupado comigo. — Não, está tudo bem. — Falei, passando a mão pela testa, onde já podia sentir o g**o.             Estava preparada para continuar o meu caminho até o ponto de ônibus, afinal, eu não ficaria parada ali para as pessoas continuarem com suas atenções todas direcionadas em mim. O problema é que fui impedida de andar por alguém que segurou o meu braço. — Venha até a minha sala, pedirei para a minha secretária arrumar um gelo para você. — Falou, indicando a porta principal do prédio.             Poderia ter negado, mas não neguei. Em vez disso acompanhei ele pelos corredores daquele prédio enorme. — Sr. Lucas Cardoso, você tem uma reunião dentro de vinte minutos. — Falou uma moça que estava sentada em uma mesa na recepção. — É muito importante? — Perguntou. — Na verdade não, é sobre aquele assunto que o senhor pediu para resolver. — Respondeu ela, enquanto me olhava da cabeça aos pés. — Então cancele. — Falou autoritário. — E pegue uma bolsa de gelos, por favor.             Não queria causar nenhum desconforto naquele local, mesmo porque era o seu lugar de trabalho e ele provavelmente tinha muito trabalho para fazer. Eu estava disposta a sair, quando o mesmo me indicou sua sala.             Não era uma sala muito grande, cores neutras faziam parte da decoração da mesa, das duas poltronas e também da estante cheia de livros. Havia somente uma janela imensa do chão ao teto, atrás de sua mesa. Não demorou muito para que a sua secretária aparecesse com uma bolsa de gelo em mãos, entregando-me logo em seguida. A princípio relutei em colocá-la sobre o hematoma, para me adaptar ao gelado. — Eu já vou indo, não quero tomar seu tempo. — Afirmei. — Agradeço pelo gelo. — Irei levá-la até em casa. — Afirmou ele, pegando a chave do carro que estava em cima da sua mesa. — Não é necessário, eu posso pegar o ônibus, além do mais o ponto é logo aqui na frente. — Expliquei. — Se eu disse que irei levá-la até em casa, então eu irei levar. — Falou autoritário, pegando as sacolas de compras da minha mão. Eu não soube responder nada. Não consegui dizer um simples "não". Ele parecia muito certo no que queria e quando decidia algo parecia não importar as opiniões alheias, principalmente se essas opiniões viessem de uma total desconhecida. Estávamos indo até o estacionamento do prédio que ficava logo atrás.  Sentia-me envergonhada, provavelmente as minhas bochechas estariam vermelhas. Imaginava como seria contar para meus melhores amigos toda essa confusão e o quão zombariam da minha cara.  — Isso melhorará logo. — Falou ao estacionar o carro em frente ao meu prédio. — É, obrigada. Mas não era necessário me trazer até em casa. — Agradeci. Levantou as sobrancelhas como se me desafiasse, como se estivesse se sentindo o homem mais "f**a" do planeta. — Vou subir um pouco. — Falou por fim, levando a mão ao cinto de segurança. — Não, você fica. — Falei, colocando a mão na maçaneta do carro. Olhou-me com dúvida. Talvez não imaginasse que eu dissesse não. Mas eu não poderia ficar obedecendo suas ordens. — Então eu quero o número do seu celular. — Falou, entregando-me o seu celular para que eu gravasse. — Para que? — Perguntei em dúvida. — Talvez eu queira te ver novamente. — Respondeu calmo. Essa com certeza não é uma das melhores maneiras de se dizer a uma mulher que você quer vê-la novamente, "talvez" me saiu um tanto sem confiança, mas acabei por digitar meu número. Não que eu esperasse que ele ligasse ou enviasse mensagens, apenas queria sair o mais rápido possível do seu carro. NOTA MENTAL: não ir desacompanhada ao shopping, para depois ter que voltar de ônibus. Parada em frente ao espelho do banheiro, analisava o pequeno hematoma roxo e inchado na ponta da minha testa, para ser mais exata, fica mais próximo do lado direito do rosto. Eu poderia ter pagado esse mico longe de qualquer pessoa que eu conheço e poderia agir normalmente.  
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