Capítulo 2

3054 Words
Abro os olhos, desta vez, bem devagar. Estou na minha cama, porém, o sono ainda me incomoda muito, é como se eu não tivesse dormido o suficiente. Ainda bem que tudo não passou de um sonho. Ou não? O ar continua desagradável, a minha garganta continua seca e os meus músculos, parece que se contraem sozinhos. Ah, não! Estou em um quarto de pedras, numa cama de madeira que parece que foi construída a mão e o colchão é uma sacola costurada cheia de um material macio. Onde estou? Assim que eu me levanto, vou até a porta destrancada, apenas a puxo para dentro e quando saio, dois guardas negros de olhos e cabelos de cor verde-musgo com trajes iguais ao do rapaz que me salvou se viram para mim e me fazem uma reverência. — Ai, d***a! — resmungo com os olhos arregalados. — Minha Senhora, a Rainha Matid de Metrimna deseja vê-la — diz um dos guardas. — Quem? Olha só, eu não pertenço a este lugar, eu quero ir para casa, me arrumem um telefone, por favor — digo a expressar dor. Os guardas se encaram e o outro me traz a informação: — Receio que o portal para o seu mundo somente se abrirá daqui a sete luas cheias, Minha Senhora, contando com a deste dia. — O que, portal? Ah, meu Deus — eu volto para o quarto e fico na cama, deitada, implorando para acordar logo deste sonho tão realista. *** Eu fico tanto tempo deitada que não tenho noção, a minha barriga chega a roncar, me bate uma fome fora do normal, de repente alguém bate na porta e eu me levanto assustada. Por não dizer nada, a pessoa invade o quarto e fecha a porta. É o Metrim, pelo menos eu conheço e por alguma razão me sinto mais segura com ele, posso respirar. — Olá, Rosy — saúda o rapaz a se sentar num banco. — Um dos guardas me falou que você não quis sair dos seus aposentos. — Onde estou? — digo de maneira lamuriosa, eu me deito na cama de novo e abraço o travesseiro bem forte. — Eu já disse, no Império de Metrimna, no mundo de Virell. — Quem é Virell? Por que este mundo é dela, ou dele? Isso é possível? Metrim começou a rir das minhas perguntas. — Virell é o nome da deusa que criou este mundo e os nossos ancestrais Árvos… Ouça, eu não sou muito bom em contar histórias, você tem que falar com a minha mãe. — A Rainha Matid? — Sim. — Então, isto aqui é um castelo? — Sim. Eu me levanto da cama. — O que eu tô fazendo aqui? Por que eu? — Não sei como posso te responder. — Eu sou algum tipo de escolhida… — eu arregalo os olhos como se tivesse descoberto alguma coisa. — Ou isso tudo aqui é uma pegadinha? — eu aperto a orelha pontuda e inclinada do Príncipe Metrim e ele faz uma careta de dor. — Oh, meu bem, me desculpa, eu não sou tão impulsiva — lamento. — Eu tô muito nervosa, não consigo acreditar que tudo isto aqui é real. — Tudo bem — diz Metrim ainda a fazer caretas e a esfregar a orelha. — Você não conhece absolutamente nada daqui, nem sabe quem somos nós, também não faz magia, o que é estranho, a maioria das pessoas que veio para cá é feiticeira, e também homem. A pessoa mais sábia que conheço neste Reino é a minha mãe, por isto ela quer te ver, ela quer explicar para você o que aconteceu, mas não aqui. Eu me levanto novamente da cama, não destemida, mas decidida a não me esconder para sempre do que quer que estivesse me aguardando naquele mundo. — É, vamos lá. *** Antes de irmos para a sala do trono ver a Rainha Matid, Metrim me entrega pra algumas mulheres vestidas com roupas que parecem ser de noviças, mas tinham tons de verde e acho que são feitas de folhas. Elas me dão um banho quente e relaxante, me perfumam, penteiam os meus cabelos, os deixam tão arrumados que nem eu com toda a tecnologia do Século XXI consegui deixar. Por fim me vestem com um vestido lindo com tons de verde, rosa e branco, parece uma flor. Somente depois de tudo isso é que eu observo a janela, o dia ainda está claro e o meu sono não vai embora, mas também, ele não chegaria tão cedo, porém, eu ficaria desanimada o dia inteiro. Quando Metrim me vê, ele fica tão encantado, como me conheceu naquele mesmo dia, não se permite fazer qualquer comentário. Eu sei que ele quer me dizer alguma coisa bonita, a sua expressão não n**a. — Ham… vamos lá? — chama o rapaz, bem tímido. Eu o seguro pelo braço direito e ele me conduz até à sala do trono. Está repleta de pessoas. Lá está uma mulher sentada num trono que parece o tronco de uma árvore bem grande e cheia de entalhes, atrás de uma mesa de madeira, grande e retangular. Ela usa uma coroa, com certeza é ela. Linda, pele n***a, cabelos volumosos e cacheados de cor verde-musgo. Na verdade, todo mundo que vi até agora tem os cabelos e os olhos desta cor. Nunca vi nada tão belo. Tão singular. A rainha, ao me ver, abre um sorriso a mostrar os seus caninos perfeitos e se aproxima de mim, em seguida me dá um abraço bem forte. — Seja muito bem-vinda, humana — saúda a Rainha. — Meu filho não parou de falar de você um instante, disse que te salvou de um bando de gravetanos. Eles fazem a segurança do Reino, não são criaturas más — a rainha percebe que eu fico deslumbrada a olhar para ela. — Há algum problema, querida? — Não… é que… A Senhora é muito linda, e tão jovem. Tem certeza que é mãe deste rapaz? Ele não é seu irmão mais novo? A Rainha Matid começa a rir encabulada com o meu comentário, e sou sincera. — Ele é meu filho sim, meu único filho e futuro Czar do Império de Metrimna. Vamos para outro lugar, um lugar mais tranquilo, eu tenho tanto para te contar. — E eu tenho tanto para perguntar. — Ótimo. Agora, eu não quero te assustar, mas você apareceu em um tempo sombrio, será de grande ajuda, já que é a mais forte de todos nós. E melhor ainda, é do s**o feminino, estou certa? — Sim, mas… Tempo sombrio? Grande ajuda? A mais forte? Rainha, tenho certeza que aconteceu algum engano… — Vou te explicar tudo, verá que não houve engano, que você apareceu aqui por um propósito. Virell ouviu nossas preces e o pranto dos sangues derramados em campos de batalha. Você é a solução, humana. A propósito, não me disse o seu nome. — Ah! O meu nome é Rosy. — De? — Rosy Aster. A Rainha se volta para o seu pessoal que faz silêncio para observá-la e ela fala: — Meus súditos, deem as boas-vindas à humana, Rosy de Aster. Em seguida, o pessoal aplaude, grita e vaia, estão muito felizes com a minha presença e eu não entendo absolutamente nada. Depois a Rainha me conduz para outro lugar e uns guardas nos escoltam. Ela me leva para um jardim secreto, um imenso jardim com chão de paralelepípedos, onde há uma fonte no centro qual sai água do topo de uma estátua de uma mulher como eles com um jarro sobre a cabeça segurado apenas com as mãos e um pouco inclinado para o lado direito. Caminhamos lentamente para a nossa conversa ser mais agradável. — Está perto do crepúsculo — comenta a Rainha Matid antes de falar o que tem para me dizer. — Muito bem, Rosy de Aster, você, provavelmente, é do planeta chamado Terra. — Sim, Senhora — confirmo. — Sou da Bahia, com muito orgulho. — Bahia? É o seu Reino? Pensei que fosse Aster. — Não, Aster é o meu sobrenome. Vocês não têm sobrenomes aqui? — Oh! Nós chamamos de nome de família. Aqui nós temos o costume de dizer de onde somos depois de dizer o nome, eu sou Matid de Metrimna. Somente as mulheres da realeza ou nobreza dizem de qual Reino pertencem, os homens sempre dizem o nome do seu pai e o nome do pai do seu pai. — Entendi, mas eu gostei de Rosy de Aster, tá tudo bem me chamar assim. Me explica isso de portais, estou muito confusa. — Perfeitamente, Rosy de Aster. Não sou perfeita para contar histórias, mas sou boa para aprender, então permita-me te dizer: "No seu mundo há sete portais ativos distribuídos, soube que existiram mais, porém, muitos já se fecharam, e a minha fonte justamente é as pessoas que moram ou moravam lá. A seu modo, cada portal se abre para outros mundos, cada um para um específico e meus ancestrais descobriram que um deles se abre para cá, para o Mundo de Virell. Há milhares de anos este mundo era habitado apenas pelos Elfos, ou Árvos, na nossa língua nativa. Eram grandes e belíssimas criaturas azuis-anil que viviam na ignorância até que conheceram o portal interplanetário deste mundo e como usá-lo. Atravessaram para o planeta Noldá, um lugar mágico e encantador cheio de maravilhas e curiosidades, lugares inexplorados e civilizações inteligentes com que tinham muito o que aprender. Por longos séculos, os Árvos tornaram-se melhores versões da própria espécie, contudo, por causa desta evolução, os humanos-mágicos usaram da sua magia para selarem um contrato com eles para viverem de acordo como eles princípios queriam, mas os Árvos não se sentiram tão confortáveis com isso, pois, a maioria da população de Noldá os considerava inferiores até que uma Rainha chamada Trimna, do Reino das Libélulas, o único Reino que tornou os Árvos tão iguais quanto os humanos, apaixonou-se por um deles, considerado o Regente dos Elfos e a saber das consequências, acabou deitando-se com ele e concebendo a uma filha qual deu o nome de Metrimna, uma elfo-híbrida. Metrimna não foi a primeira híbrida, mas foi a primeira da realeza, a primeira filha de uma sangue-azul, nesse caso, houve uma grande divisão no Castelo do Reino das Libélulas para decidirem se ela era digna de ser a sucessora depois da morte de Trimna. Os Árvos são imortais, assim como eram os híbridos e por ser uma híbrida não reconheceram Metrimna como herdeira legítima do trono. Houve muitos anos de lutas até Metrimna, finalmente, conseguir ser coroada a Rainha do Reino das Libélulas e se tornou um ícone em Noldá, a primeira Rainha da sua espécie. Depois de tantos eventos naquele mundo, Metrimna decidiu fazer o Grande Êxodo para este mundo qual não tinha nome e ela o batizou de Virell em concordância com os Árvos mais antigos, ela constituiu o seu Império e se tornou um marco e a sua descendência se espalhou de uma maneira impressionante pelo mundo. "Virell é o nome qual atribuímos à deusa das plantas, filha da suprema deusa da vida Modill, também mãe de Voimm, deusa dos animais. Acreditamos que Virell é a regente deste mundo, então Metrimna trouxe esta ideia. Voltando ao que interessa, Metrimna era imortal como os Elfos, ou Árvos, mas as suas características eram muito mais voltadas para os humanos, como a fragilidade, porém, um pouco mais resistente e no seu Império, os Árvos se relacionavam com humanos para gerarem mais híbridos e se multiplicaram de uma maneira descomunal. Com isso, Árvos extremistas surgiram para m***r esta geração de híbridos que conquistavam muitos espaços neste mundo, contudo, os benefícios que eles trouxeram para Virell foram muito grandes, a ciência, a arquitetura, a filosofia, a política, a tecnologia, entre outras coisas mais. Daí, surgiu uma Guerra Mundial que fez com que muitos Árvos se matassem, além de muitos terem cometido suicídio pelas perdas impactantes, são criaturas peculiares. Foi uma época sombria chamada de a Grande Mortalidade. Dois mil anos de guerra e paz se passaram e os Árvos remanescentes decidiram morar longe da humanidade, numas ilhas no meio do oceano chamadas de Arquipélago dos Árvos, e nós vivemos no único continente deste mundo chamado de Pangeia, também ideia de Metrimna. Outro dilema surgiu para este mundo, a atmosfera daqui mudou drasticamente depois que um dos extremistas, chamado de Alquimista dos Árvos, criou uma composição química que se espalhou e se multiplicou pelo ar a fim de exterminar os híbridos, contudo causou um efeito diferente nos humanos que ainda existiam, nos Árvos e nos híbridos. Os humanos ficaram bem mais fortes, mais aperfeiçoados, entre vários outros benefícios, enquanto os Árvos ficaram mais fracos, porém, igualados aos humanos, os híbridos não sofreram transformações drásticas, permaneceram os mesmos, porém, perderam a imortalidade e por causa disso, passamos a ser chamado de árvomes. "Apesar de constituirmos praticamente 90% da população intelectual, nós árvomes somos mortais como os humanos comuns, mas vivemos muito mais, por trezentos anos, a mais velha registrada neste mundo foi uma idosa que morreu aos trezentos e trinta e um anos. Falamos uma língua que é a mistura da dos Árvos com a dos humanos dorbianos chamada se virello, mas a gente se entende porque as bruxas-amarelas da antiguidade fizeram com que pudéssemos nos comunicar por magia. Enfim, em todos esses períodos de guerra e paz, o portal se abria e um humano, raça já extinta aqui, aparecia sempre na sétima lua cheia e antes que você pergunte, sim, as luas dos nossos mundos estão sincronizadas, só não sei o porquê. Rosy de Aster, os estudiosos chegaram a uma conclusão de que estas súbitas vindas de seres humanos a este mundo não são obra do mero acaso, mas sim obra da nossa deusa Virell enviando pessoas que podem nos ajudar. É a primeira vez que um humano do seu s**o aparece em Metrimna, e depois de duas décadas sem aparecer ninguém, o máximo de tempo que ficamos foi cinco anos. O que acontece é que estamos vivendo em tempos sombrios novamente, onde muitos de nós estão sendo mortos por um g***o de extremistas e não sabemos quem são, o que fazem com os mortos e qual a razão de fazerem isso. Recorremos ao Conselho dos Árvos no seu Arquipélago, mas eles disseram que não querem contato com a Pangeia e que resolvamos os nossos dilemas, porque da última vez nós quase extinguimos a sua existência, eles não procriam tão fácil como nós, eles só podem ter um bebê por casal, é como se o útero da árvo fêmea pudesse gerar apenas uma vez." Quando a Rainha Matid termina de falar, percebo que já está escurecendo e começam a acender os lampiões dos postes. — Tenho certeza que isto tudo não é um sonho, meu cérebro não seria capaz de criar tudo isso do nada. — Eu encaro a Rainha e digo: — Olha, Rainha Matid, eu não sei como posso te ajudar, vocês precisam de um detetive, sei lá… — Um o quê? — Um detetive, não sabe? Aqueles caras que fazem investigações e… — eu paro de falar ao perceber pela cara dela que ela não está entendendo nada, e solto devagar um suspiro. — Sinto muito, não sou ninguém, não tenho nada de especial a não ser o meu albinismo. — O que é isto, albinismo? — Aqui não tem pessoas albinas? Muito bem, você é n***a porque você tem muita melanina, eu nasci sem nenhuma melanina, apesar de os meus pais serem negros, e isto deixou a minha pele sensível e com este aspecto. É uma condição genética, entende? — Que interessante, você poderia nos ensinar mais sobre isto. A cor do seu cabelo é incrível, nunca vi ninguém com cabelos amarelos. E eu acho os seus olhos muito lindos. São acinzentados, impressionantes. — São esverdeados e eu nunca vi um árvome antes, nem sabia que existiam. Também nunca vi ninguém com os olhos iguais aos seus, na verdade, todo mundo aqui tem a mesma cor de olhos… E a mesma cor de cabelos. — Não, isso já é outra questão histórica. Nós, habitantes de Metrimna, o Primeiro Império denominado decabasilis*, somos os árvomes da raça Nízka, os outros Seis Impérios decabasilis têm cabelos e olhos de cores diferentes. O povo de Domna tem cabelos de cor verde-oliva, são da raça Érufa. O povo de Assermna tem cabelos de cor verde-sálvia, da raça Zórfua; O povo de Geramna, cabelos de cor verde-água, raça Ókia; O povo de Teramna, cabelos verde-menta, os que se acham os mais importantes, raça Námda; O povo de Lumna, cabelos verde-folha, raça Véria; E o povo de Kolamna, os importantes de verdade, cabelos de cor verde-escuro, raça Mákla. — Quanta coisa que eu não vou aprender — digo, apesar de não ter entendido quase nada, fico maravilhada. — Tenho tantas perguntas para fazer, mas agora estou com um pouco de frio e fome, e sono também. Depois do que falo, a Rainha Matid me leva para o salão das refeições. Lá não tem carne, somente verduras e legumes, frutas e sementes, entre outros alimentos. Também, os mais fortes comem uma espécie de carne que acho super saborosa que me faz lembrar do camarão, não tão saboroso quanto, mas depois que descubro que é carne de insetos gigantes, eu paro de comer. Não sei até quando vou aguentar ficar comendo aquelas coisas que não fazem m*l ao organismo, mas por enquanto estou levando tudo numa boa. *** No auge da noite estou com um sono pesadíssimo e vou dormir tranquila. Havia dito para a Rainha que eu era a pior pessoa que poderia ter sido escolhida para ajudar em qualquer coisa que envolvesse uma guerra, eu sou muito da paz e amor. Gosto de dançar, nunca fui de brigar. Quem saiba, eu tenha mesmo caído neste mundo por um acaso. Matid me entendeu perfeitamente, me ofereceu hospedagem e disse que eu poderia ficar no Castelo segura durante um tempo até chegar o dia da próxima sétima lua cheia que reabre o portal para a Terra e eu voltarei sã e salva. Segundo os cálculos, ficaria presa naquele mundo durante cinco meses. Alguém me acuda? *decabasilis - dez reinos.
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