Capítulo- XXVI. Paixão
" O sexo é a paixão na sua forma bruta e crua, não se trata apenas do desejo da carne, é libertação da volúpia. "
Camila
A noite começa ótima, apesar da mentira que inventei para o meu pai. Dizer que estava com dor de cabeça e que escolhi me deitar cedo por essa razão, foi a única maneira que encontrei para ver Varuna. Meu pai me olhou com um misto de pena, porque na realidade estamos de férias — um presente de aniversário — e perder algum dia em da nossa viagem que foi muito planejada por mim seria, para ele, não estar executando direito seu papel de pai. No entanto, ninguém tem culpa quando o m*l-estar surge, e usei desse subterfúgio para me livrar de ir aos pontos frequentados no período noturno e não ficar sem ver Varuna.
A realidade se impõe como um fato inexplicável: apesar de pouco tempo desde que o conheci, já levo aquele homem belíssimo em meu coração.
Sim, ele é belíssimo. Cabelos de um tom loiro-escuro com fundo meio castanho-claro, olhos azuis, rosto bem construído, maxilar quadrado, nariz fino, a elegante postura de um rei. Um homem belíssimo. Um homem que não posso usar de comparativo para outros porque, para mim, ele é nada menos que a perfeição.
Estar com ele me faz bem, me sinto completa de uma forma absurda, adoro absolutamente tudo em nossos passeios. Em principal os beijos. Varuna segue deixando suas marcas em mim: o passeio na praia, a nossa conversa, a forma como me mostrou o apartamento, os beijos cheios de carinho.
Ele se mostrar ser carinhoso e paciente, contudo, não estou preparada para o depois, e é esse depois que faz minha mente entrar em desespero. Os pavores são como parafusos em mim que ora a rosca entra e sai em voltas lentas.
Dei a ele o meu primeiro beijo, foi mágico ter meus lábios virgens explorado, a minha língua que nunca conheceu outra língua sendo ensinada pela dele que ditava o ritmo. Sei perfeitamente que descobriu a minha inexperiência.
Nos braços de Varuna, seus olhos cristalinos me desperta para o paraíso. Aproveito sempre dos beijos, do toque, da troca de saliva, do calor que faz meu corpo estremecer a cada vez que nossos lábios se encontram, a cada vez que nossas peles se encostam.
No entanto, apesar do desejo gritar fortemente em minha carne, pedindo para que eu ceda, em minha cabeça vem a certeza de que o que está acontecendo é errado. Muito errado. Extremamente errado. Não poderíamos estar aqui, não deveríamos estar sobre a cama, muito menos nessa posição: ele por cima do meu corpo, eu sentindo sua rigidez masculina, e meu coração batendo fortemente contra minhas costelas, parecendo procurar um lugar para escapar se evadir do meu corpo.
Meu sangue esfria sob o olhar faminto de que sou alvo. Meus olhos se esbugalham: ele poderia facilmente segurar minhas mãos e ir em frente, fazer o que quisesse. O temor me reveste como uma segunda pele. Engulo seco, abro a boca para falar alguma coisa, e o que recebo é a língua dele caçando a minha, invadindo minha cavidade bucal, silenciando minha voz de uma forma deliciosa. Ele não segura minhas mãos, não segura meu pescoço. Em compensação, esfrega docemente a ereção entre minhas pernas. Meu sexo frágil, casto, gosta do contato. A única barreira que nos separa é apenas o tecido da calça dele contra minha carne exposta, sem proteção alguma.
Deveria me sentir envergonhada, deveria pedir para que ele parasse. Mas não faço isso. Ao contrário, tento me acomodar melhor para sentir mais. Tudo é novo. Parece que descortino os véus que foram decretados como sendo proibidos para mim, descortino as chaves que abrem os portais da luxúria. Ele intensifica a fricção enquanto me beija. Suas mãos seguram meus cabelos, o quadril dele mói contra o meu. O contato é intenso. Deslizo minhas mãos por baixo da camisa de Varuna, sentindo sua pele, tateando seu tronco. Ele é duro, extremamente musculoso. Sua boca deixa a minha e traça uma trilha de beijos pelo meu maxilar, descendo ao pescoço, perto da orelha. Ele beija, suga, morde, lambe, geme baixinho, fazendo com que os pelos da minha pele se arrepiem.
— Você não sabe o quanto esperei por isso. Você não sabe por quanto tempo estive te procurando — sussurra.
Aquelas palavras batem dentro de mim como o estalo forte de um tambor fechado dentro de um quarto escuro e silencioso. Não entendo muito bem o que ele quer dizer, porém, em meu âmago, algo se precipita, pronto para vir à tona. Deixo escapar pela boca:
— Eu estou aqui. Finalmente cheguei para ser sua.
Pode ser loucura da minha cabeça, pode ser apenas o efeito do calor do momento, mas uma necessidade desconhecida me faz sussurrar a resposta. Nossos olhos se encontram mais uma vez, e um novo beijo começa, desta vez com mais intensidade. A sensação, dentro e fora de mim, é de que conexões antigas estão sendo refeitas, realinhadas, como se elos quebrados de uma corrente recebessem agora um pingo de solda para não mais se partirem.
Varuna ergue o tronco, fica de joelhos, retira a camisa. Eu me escoro nos cotovelos, ergo a cabeça e o observo. Parece um deus diante de mim. Lindo, muito lindo. É isso que minha mente projeta. Sinto um leve arrepio. Então ele volta vagarosamente sobre mim, me deita olhando nos meus olhos. Eu me vejo espelhada na íris azul dele. Mergulho nelas. São águas mornas e tranquilas, e ali me sinto em casa, como se tivesse retornado ao antigo lar.
— Você está sentindo isso? — sussurro.
Minha pele se arrepia, embora não haja corrente de ar frio. Meu sangue ferve, minha pele transpira. Varuna apenas faz um leve movimento de afirmação com a cabeça, seus olhos pairando sobre meu rosto, inquietos, mas ao mesmo tempo ternos e doces. Vagorosamente, ele puxa a camisa do meu corpo, permito que me revele nua diante dele.
O seguinte pensamento varre minhas incertezas e medos: amar não é pecado. Permitir-se amar e ser amada também não é pecado. Pecado é ignorar as chances de viver algo bonito. Pecado é tentar diluir o que a vida oferece de melhor.
Varuna termina de retirar minha camisa e joga-a no chão. Fica de joelhos outra vez, observando meu corpo. Desta vez, não me escoro nos cotovelos. Ao contrário, fecho as pálpebras: não quero ter o desprazer de olhar para o rosto dele e perceber que o que vê em mim não é suficiente para chamar sua atenção masculina. A insegurança grita abalando meus alicerces, coroando-se rainha do meu pequeno ser. Sempre me achei estranha: sei que tenho s***s pequenos, quadril estreito, coxas finas, poucas curvas.
— Abra os olhos, Camila. Olhe para mim — ele pede.
Obedeço, completamente rubra, o carmim preenchendo as minhas bochechas. A vergonha está ali, junto com o medo de ser repelida. Varuna toca levemente meu rosto, depois desce o dedo indicador e o médio pelos meus lábios, percorre meu queixo, desce pela garganta, passeia pelo vale entre meus s***s, chega ao meu umbigo e desce até o baixo-ventre. No ponto mais sensível da minha feminilidade, ele toca suavemente, acariciando para cima e para baixo. O contato me arranca sensações nunca antes vividas.
O sentimento em meu peito explode. Inclino a cabeça para trás. Assim, sou dele naquele momento, me permito ser e sentir. Ele não me rechaça, continua com o toque cálido me fazendo dele. Não penso no depois, não penso nas consequências, não penso nos meus pais, nem em mim. Só penso em nós e no prazer prestes a ser consumado.
— Você é belíssima — ele sussurra.
Não sei o que dizer. Meu corpo clama por ele. Fecho os olhos, permitindo em silêncio que Varuna me toque de qualquer maneira. É de olhos fechados que sinto suas mãos deslizando sobre meus s***s, o polegar acariciando meus b***s em círculos. Eles se entumecem, despontando para fora, pedindo atenção. Meu coração acelera. Então sinto o contato da boca quente e úmida. Diferente da sensação gostosa que imaginei, vem uma dor aguda. A primeira sucção é como uma agulha penetrando em minha carne. Travo os dentes, seguro-me nos lençóis, desejando que a dor cesse. Varuna troca de s***s e o mesmo incômodo ocorre, não suporto e o faço saber.
— Varuna, está doendo… — sussurro, fazendo careta.
Ele logo se afasta, olha para mim, depois se deita ao meu lado. Puxa-me para seus braços, lança sua perna sobre a minha. Eu, completamente nua, e ele, seminu. Recebo um beijo na testa, outro na cabeça. Seus dedos longos se infiltram em meus cabelos, fazendo carinho. Sua pele está úmida de suor, seu coração bate descompassado. Sinto pela palma da minha mão. Ele respira com dificuldade. Eu também, embora esteja um pouco mais calma por tudo ter parado.
— Desculpa, minha menina. Não queria que sentisse dor. É que você possui s***s virgens, e quando ocorre o primeiro toque da boca masculina, certamente há dor, porque não estão acostumados — explica com voz mansa.
Fico ali, sentindo o cheiro dele, meu coração acalmando, a respiração também. Sinto-me envolvida em uma redoma de proteção, onde nenhuma dor ou tristeza pode se infiltrar para destruir o momento.
— Você quer fazer s*xo? — pergunto. Talvez não devesse, mas preciso saber se é a única vontade dele ou se me dará espaço para decidir.
Ele me encara:
— Você me atrai muito, não posso negar. Mas também não quero te forçar a nada. Gosto de ver você nua, linda, pura, casta. Meu lado masculino fica faminto, ansioso. No entanto, só faremos se for da sua vontade. Não quero que faça por curiosidade. Quero que faça porque me deseja, porque se sente atraída. Se tudo o que quer é descobrir como acontece, não faremos.
Mordo a ponta do dedo. Tenho curiosidade, sim. Já ouvi Aline falando das vezes dela com Everaldo, e ficava com água na boca. O modo como relatava tudo, até os mínimos detalhes, me deixava em choque, com vergonha, mas também com um certo fascínio. Ela falava das posições, dos tipos de sexo: oral, v*ginal, an*l. E eu me perguntava se algum dia teria ousadia para fazer o mesmo.
No entanto, Aline sempre me alertou sobre algo importante: a primeira vez dela não foi com Everaldo, mas com outro rapaz. Havia carinho entre os dois, mas não amor, apenas curiosidade que a fez optar por deixar acontecer. Ela perdeu a virgindade com um certo rapaz que dizia ser atencioso, bonito, carinho e de olhar encantador para saber o que era o s*xo. Já com Everaldo, ela dizia que era outro nível, outro patamar. Talvez fosse coisa da carne, uma química intensa. Mas, vendo os olhinhos dela brilharem ao relatar, percebia que era mais: era amor. Por diversas vezes ouvi ela falar sobre ser amor carmico:
_ Aprende Camila, muitos casais não foram feitos para ficarem juntos nessa vida. Eles se encontram vivem um sentimento fugaz e embora sejam atraídos fortemente um pelo outro, há a separação por questões que muitas das vezes eles mesmos não entendem, mas basta se reencontrarem para tudo aflorar. No entanto os destinos já foram traçados e nele está escrito que apesar do querer, do amor e da conexão, nesta vida não irão ficar juntos.
Minha mãe também falava muito disso. Tabata lia e lê livros espíritas, psicografados, sobre almas gêmeas e relações fugazes que marcam para sempre. No meu parecer leigo sobre o tema, sempre atribuí essa busca dela a um vazio no coração, por fazer escolhas desastrosas no campo afetivo. Talvez por não conseguir encontrar alguém para ser feliz no amor.
Olho para Varuna, beijo seu tórax e sussurro:
— Eu gosto de você.
Queria dizer que o amo, mas temo que não leve a sério.
Ele passa uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. Estamos deitados de frente um para o outro, sua perna sobre as minhas, uma mão em minhas costas, a outra apoiando a cabeça.
— Eu também gosto muito de você — responde.
Meus olhos brilham como a lua cheia sobre o mar escuro. A intensidade do olhar dele faz minha alma vibrar e dançar dentro de mim. Eu me aproximo, e, desta vez, quem inicia o beijo sou eu. Quem segura o rosto dele sou eu. Estou mais do que preparada, mais do que ardendo. Não é mera curiosidade. É vontade insana. Tenho certeza do passo que estou dando.Tenho certeza que quero ser dele.