Renascendo

1599 Words
Capítulo-X. Renascendo " Acolhe o que o amor traz; o convite do silêncio vai exibir nos olhares. Não precisa mostrar, não precisa explicar quando o coração bate forte e o corpo queima. " Varuna Retorno para a praia Barra do Rio com uma sensação gostosa no peito e um discreto sorriso no rosto. — Ôxe, mas tu é galado mesmo, Galego. Nem precisasse ir até a menina, foi ela que veio atrás de tu. Quando eu vi, num acreditei não. — Ela é bonita, tem algo que prende a minha atenção.- revelo, reafirmo. Everaldo olha em minha direção. — E você? Conseguiu alguma evolução com a Aline?- indago. Meu primo escancara os olhos escuros. — Aquela menina é arretada, p*u no c* da gota. Vá se lascar, toda vez que a gente se encontra é faísca pra todo lado, mas ela é cheia de frescura, num pode nem tocar. Pense que peguei a Aline falando de mim pra outra menina! — Sério? O que falava?- pergunto ao fazer uma curva. — Dizia assim: "Aquele boy só anda na estica, pensa que é dono da praia. Esse boy não vale uma mariola." Mas que caraio! Balanço a cabeça em negação. — Num me chame mais pros teus rolos, Varuna, que eu num vou não. Fui te ajudar e acabei foi me lascando todinho. — Eu não te chamei, você veio porque quis. Everaldo olha pra mim espantado. — Oxe, oxe, oxe! A miséra ainda é ingrato, é? Vá se lascar, homi! Dou uma gargalhada. De repente, o dia ficou mais bonito, o clima maravilhoso e a música Always, única. — Eu fui foi porque sou teu parceiro, visse? Tô contigo e num abro nem a p*u, de rocha! — Mentira. Queria era ver a menina me dar uma bofetada. — É... poderia ter acontecido, mas não teve, não foi? — Ela me pediu pra tirar umas fotos, Everaldo. Aproveitei e consegui o contato. — E agora, Varuna? — Vou pegar essa mulher pra mim. — c***a, faz isso não, vai dar rolo. — Fica tranquilo, tenho tudo sob controle. — Tu num vai dar fim na galeguinha, né? — Não, por que pergunta isso? — Tu esqueceu que ti conheço? Sei do que tu faz. — Se falar disso pra ela, esqueço que é meu primo. — meu olhar é frio na direção dele. Everaldo persigna, fazendo o sinal da cruz três vezes. Deixar Extremoz pra trás me deixa com um aperto no peito. No entanto, não posso assustar Camila. Preciso me aproximar devagar, mesmo que isso signifique pra mim sentir dor. Isso mesmo: dói deixar os olhos dela pra trás, saber que estou indo e ela ficando. Minha vontade é manobrar, retornar, ir ao seu encontro e lhe dar o beijo que meus lábios e minha alma imploravam quando estávamos bem próximos. Uma sede insana, uma necessidade que brotou de alguma parte do meu ser. Depois de deixar Everaldo em casa, fui para a do meu pai. Conforme estacionei o carro na garagem, tomei uma lufada de ar. Não precisava necessariamente respirar, estava sob o efeito da nostalgia. Lembrava dela, do sorriso, do modo tímido como me olhava, da forma como seus dedos deslizaram pelos longos fios castanhos. Meu peito aquece tanto que arde. O coração foi à prova, sofrendo com os aumentos do ritmo cardíaco. Estar muito perto e não poder abraçá-la, beijá-la, sentir seu cheiro, foi massacrante. No entanto, me vi dividido entre o fascínio e a vontade de mais. — Camila... — sussurro seu nome, lembrando da textura aveludada da pele do seu rosto. Parecia que eu estava tocando a pétala de uma orquídea. Pego meu celular e revejo as únicas duas fotos que consegui registrar dela. Deslizo o polegar pela tela. — Me espera... só mais um pouco... — digo, sem saber por qual razão. As palavras me escapam da boca sem motivo aparente. Apenas ganham o espaço. Olho para a varanda, e minha mãe está vindo na direção do carro. Fecho a imagem, guardo o celular e desembarco. — Nossa, filho, estava preocupada. Chegou e não saiu do carro. A febre retornou? — Estou em estado febril ainda, mas nada para se preocupar. — Assim que regressarmos, vai fazer um check-up. Não é normal esse estado febril. Meu pai se aproxima e fica perto da minha mãe. Olho para os dois. São diferentes de mim, não tenho as características deles. Me pareço mais com meus avós maternos. Me pareço com ele, o Varuna do passado. — Esteve por onde, meu filho? — Kairos pergunta, abraçando Anick pelas costas. — Extremoz. Fui conhecer a região. — Que lugares chamaram sua atenção? — Anick pergunta, abrindo um sorriso. Ela sabe que meu pai está em êxtase. Kairos sempre quis que eu desenvolvesse algum interesse por essa cidade. — As ruínas da Igreja de São Miguel Arcanjo. — Ual! E você gostou? — meu pai pergunta com os olhos brilhando. — Gostar foi pouco, eu adorei. — respondo, passando pelos dois. — Nossa, da forma que fala, parece que viu o próprio anjo no local. — Anick comenta. — Mas eu vi... realmente tinha um anjo lá... Passo pela porta e subo a escada. — Almoço em trinta minutos, Varuna! — escuto a voz da minha mãe. Entro no meu quarto. Puxo o celular do bolso depois de fechar a porta, vou até a pasta onde guardei o desenho, pego-o e comparo. São iguais. Saio da pasta de fotos, entro na agenda e procuro o contato de um pintor: Magno. Toco no ícone para iniciar a chamada. No segundo toque, ele atende. — Oi, meu amigo! Quanto tempo! — Magno me atende com empolgação. — Algum. A rotina torna tudo tão exaustivo que os fins de semana, minha casa é sagrada. Como você está? — Estou bem, Varuna. Mas me diga, a que devo essa ligação? — Preciso dos seus serviços, mas quero discrição. — Sobre? — Vou enviar três imagens pra você. Duas são fotos, uma é um esboço que fiz em grafite. Quero as três em tela. Uma delas em pintura a dedo, usando a ponta da digital. — Sabe que a pintura a dedo leva meses pra ficar pronta. — Não tenho pressa. Apenas quero as obras. O valor, depois, me envia por mensagem. — Tudo bem. Me envie as imagens. — Farei isso, Magno. As imagens são da mesma pessoa. E, por favor, não comente com ninguém sobre. — Quanto mistério, Varuna. Encontrou algum tesouro inestimável? — ele ri. Eu encontrei, mas ninguém precisa saber. Nem mesmo ele. — Conto com seu profissionalismo e ética. — falo sério, sem dar espaço para mais perguntas. — Serei, meu amigo. — Agradeço. — encerro a chamada, guardo o desenho e a pasta. Deixo o celular em cima da mesa e pego algumas roupas na cômoda. Quero um banho, relaxar. Sigo para o banheiro, me dispo. Entro embaixo da água quente, que é muito bem-vinda. Pisco, e a imagem da menina vem à minha mente. Conforme me banho, vou desenhando mentalmente os traços dela. “Já estou com saudade de ouvir a sua voz...” Termino o banho. Não aguento. Enrolo a toalha na cintura e vou em busca do meu celular. Meus pés queimam no piso frio. Pego o celular, procuro o contato dela. No impulso, toco no ícone para iniciar a chamada. Meu coração está aos pulos dentro do peito. No primeiro toque, ela atende: — Oi... — fala num sussurro doce. — Camila, é Varuna... — e de repente falamos em uníssono: — "Estava pensando em você." Nos calamos. O silêncio domina. Tudo arde em mim como gelo queimando a carne, como fogo devorando vegetação castigada. Eu sorrio. Ela também. Escuto o barulho gostoso, é uma risada tímida. — Não esqueci das suas fotos. Vou enviar. — Uhum... Outro silêncio domina a conversa. Estou mais nervoso do que nunca. Pareço um menino que não sabe se portar. Passo a mão pelo cabelo úmido. — Quero te ver outra vez. — parto com tudo, sem rodeios. — Gostei de conversar contigo... — Eu também... — ela responde. Estremeço, sendo dominado por algo maior. — Posso ir na pousada hoje à noite? Ela suspira. — Meu pai não vai gostar. Podemos marcar pra amanhã, depois do almoço? — Sim, claro. Onde posso te encontrar? — Aqui mesmo. Vou te esperar na frente da pousada. — Vai poder sair? Quero te levar a um lugar. — Posso, só não poderei chegar tarde. — Prometo te levar embora na hora que pedir. Outro silêncio domina a conversa. Fico atrapalhado quando converso com a menina. Perco a minha confiança, é inacreditável. — Posso te mandar mensagem à noite? — indago. — Sim... Minhas fotos... vai apagar do seu celular depois que me enviar? — Não sei... não vejo razão pra isso. Ela suspira. — Se for ficar com elas, me envia uma sua. O pedido me surpreende. — Por que eu faria isso? — Porque quero ter algo seu... Sorrio, abaixo brevemente o meu olhar. — Vai guardar sem ter por quê, nem razão ou coisa outra qualquer? — Explicação não requer, quando o coração guarda a voz de um desconhecido... e a minha mente te risca de um jeito somente meu... você levita dentro de mim... desculpa, estou falando besteiras demais. — Camila... Ela desliga a chamada. Estou ofegante, com um sorriso no rosto, e uma emoção genuína toma conta do meu ser. Penso em enviar uma mensagem. No entanto, dou um tempo para a menina. Volto ao banheiro para retirar a barba que começa a surgir.
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