Voz e encanto

3827 Words
- Nay, você veio me visitar! O sorriso dela me contagiou de uma maneira inexplicável. - Pensei que você precisava de companhia.  Falei sorrindo para ela. - Não esperava ver você.   - Senti que precisava vir. Ela abriu os braços, me pedindo um abraço e eu me aproximei para abraçá-la. - Obrigada Nay, você não tem noção do quanto à sua visita me deixa feliz. Senti que sua declaração foi sincera e meu coração disparou de um jeito que eu precisei respirar fundo para acalmá-lo dentro do peito antes que ele saltasse para fora. - Tenha certeza que se fosse eu, também gostaria de receber sua visita.  Ela sorriu. E que sorriso perfeito era o dela. - Eu vou torcer pra que nada de m*l lhe aconteça. Disse rindo. - Obrigada! Confesso que prefiro que você me visite em casa! Brinquei. - Vou fazer isso. Assim que poder andar sozinha. - Como se sente após a cirurgia?  Perguntei encarando os olhos verdes dela. - Sinto algumas dores, mas estou bem, contando os minutos para sai daqui. Imaginá-la em uma sala de cirurgia fez a minha boca secar. - Que cara é essa? Ela perguntou rindo, e eu tive que confessar meu medo. - Esse ambiente me deixa tensa. Pensar em cirurgia, ferimento, cicatriz. Confessei e ela riu de mim. - Eu sou vaidosa, mas não ligo para cicatriz. Quando eu era criança cai de um balanço e me feri em alguns galhos. Minha mãe ficou irritada comigo, mas o meu pai me pegou no colo e disse que se ficasse alguma marca estava tudo bem porque as cicatrizes são necessárias pra que a gente entenda que o que nos feriu não era mais forte do que nós. Concordei com o pensamento. E pela primeira vez percebi que uma cicatriz poderia ser uma boa metáfora. Até porque muitas vezes na vida nós passamos por momentos difíceis que nos machucam e que normalmente deixam marcas que nos fazem perceber que somos fortes o bastante para continuar e ao mesmo tempo nos ensina onde não devemos mais errar. - Ainda estou muito preocupada com o Murilo. Ela disse com a voz chorosa. - A situação dele é delicada e isso me deixa muito triste. Ela começou a chorar e sem pensar muito eu segurei sua mão. - Ele vai se recuperar. Falei tentando acamá-la. - Eu não queria que nada disso tivesse acontecido. Vê-la chorando mexeu comigo e eu a abracei afagando seus cabelos e querendo confortá-la. - Não chora, por favor! Pedi com vontade de chorar também. - Você o ama? Perguntei olhando nos olhos dela. E por um minuto temi ouvir sua resposta. - Não o amo, mas gosto dele e me preocupo. Conheço o Murilo há muito tempo, recentemente a minha mãe começou a nos empurrar um para o outro. E esse é o problema? - Como assim? Perguntei sem entender. - Estávamos discutindo antes do acidente. Ele disse que estava apaixonado e que eu não demonstrava que sentia o mesmo. Ele me acusou de usá-lo, porque as nossas famílias formaram uma parceria há poucos dias e logo em seguida perdeu a direção do carro. Contou fragilizada e novamente eu a abracei. - Não se sinta culpada Paola. Foi um acidente. Acredite que ele vai ficar bem e você também. Afirmei enquanto ela chorava em meus braços. - Obrigada Nay. Eu precisava desabafar. Ninguém mais sabe disso além de você.  Olhei-a nos olhos e acariciei seus cabelos.  - Você pode confiar em mim. Eu estou com você para o que precisar! Garanti e ela sorriu mesmo ainda triste. Nossa conversa foi interrompida com a chegada da mãe dela, que chegou me olhando feio. - Eu tenho que ir agora. Só queria mesmo lhe dar um abraço e dizer que vai tudo ficar bem. Despedi-me apressada para não ser inconveniente. - Mais uma vez obrigada Nay! Sua visita me fez muito bem.  Ela sorriu e eu lhe sorri de volta. Antes de ir embora, mais uma vez nos abraçamos e desta vez ela beijou o meu rosto. Gesto que me fez ruborizar. - Espero vê-la em breve Nay! - Eu também espero Paola! Afirmei desconcertada e deixei o quarto com uma pressa que por pouco não vejo o pai dela que me chamou e cumprimentou com simpatia e ainda ofereceu-me uma carona. Sem graça, e após sua insistência eu aceitei a gentileza. O Senhor Canella tinha uma energia muito parecida com a da filha, era um homem de meia idade muito educado e distinto. - Você está em Madrid a passeio? Ele perguntou iniciando uma conversa assim que entramos no carro. - Estou estudando, conquistei uma bolsa de estudos. - Você está morando com alguém da família?  Perguntou. - Sim, com uma prima minha. Ela mora em Madrid há alguns anos. - Com alguém da família é mais fácil ficar em um país diferente. O que você fazia no Brasil? Sorri. Estranhando tantas perguntas. - Eu estudava. Sou fluente em inglês e agora quero ser em Espanhol. - E os seus pais estão lhe incentivando? - Meu pai faleceu quando eu era um bebê. Ele sofreu um acidente no local de trabalho. - Sinto muito. Ele disse. - Eu também, principalmente pela minha mãe que sente a ausência dele até hoje. - Sua mãe não casou novamente? A curiosidade dele me chamou atenção. - Ela é casada com a profissão. A minha mãe é uma excelente médica cardiologista. Ao falar do trabalho dela sempre sentia um orgulho. - É uma profissão e especialidade admirável.  Ele afirmou.  - É um trabalho muito difícil, que exige dedicação e estudo constante. E a minha mãe mesmo com tantas responsabilidades e com uma carga horária extensa de trabalho, seminários e tantos outros compromissos, sempre foi muito presente na minha vida. Essa é a primeira vez que estamos distantes uma da outra. Contei com saudades. - Gostei do jeito que fala da sua mãe. Ela certamente sente muito orgulho de você também. Sorri. - Quero me encontrar pra poder deixá-la ainda mais orgulhosa. - Pais sempre se orgulham quando seus filhos crescem e mostram ter bom caráter. Eu sou um pai orgulhoso, a Paola é uma moça educada, carinhosa e muito determinada. Afirmou feliz e certamente aliviado após o susto do acidente. - Você é muito gentil Nayara, percebe-se que foi bem educada. E a sua mãe certamente vai sentir sua falta agora que estão longe uma da outra. Ele concluiu quando chegamos ao apartamento da Júlia e nos despedimos. - Obrigada por ter feito uma visita a Paola, ela ficou muito contente. Ele agradeceu e eu sorri. - Sua filha também me deixa muito contente. Falei de coração e em seguida fiquei tímida. - Espero vê-la mais vezes! Ele se despediu. - Obrigada pela carona. Até a próxima. Sorrimos um para o outro. Voltar para casa depois de visitar a Paola me deixou bem disposta, tanto que eu consegui me sentar e estudar. Fiquei um longo tempo concentrada no livro indicado pela professora Helena e só desviei minha atenção dele quando a Júlia chegou. - Boa noite Nay! Vejo que se acalmou, está até lendo. Disse sorrindo. A Júlia realmente me conhecia. - Segui seu conselho e fui até o hospital ver a Paola. - Qual é a situação da sua amiga? - Ela está se recuperando, deve ter alta amanhã. Contei. Continuamos conversando por um tempo, depois pedimos uma pizza e resolvemos ver um filme juntas. Demos muitas risadas assistindo uma comédia romântica repleta de clichês. Quando o filme terminou ainda ficamos conversando bobagens e perdemos a noção do tempo. - Está tarde, melhor irmos dormir. Falei chamando a atenção dela ao ver à hora no celular. - Amanhã o Nick e eu vamos a Barcelona. Você quer ir conosco? Convidou-me. E mesmo querendo muito conhecer Barcelona, eu tinha minhas obrigações. - Adoraria, mas não posso. Amanhã vou passar o dia estudando. Falei e ela ficou rindo de mim. - Tudo bem. Não vai faltar oportunidade para você conhecer Barcelona. Vamos sair bem cedo, e só voltamos no sábado. Você dá conta de ficar sozinha? - Não dou conta, acho que você vai precisar deixar uma babá comigo. Brinquei. - Que engraçada você prima. Desculpa, ainda esqueço que você é adulta. Disse rindo. - Agora vai descansar. E se cuida sem mim por perto amanhã. Disse ao me abraçar. - Vou sobreviver Júlia. Boa viagem! Quando enfim me preparei para dormir fiquei pensando na Paola. E mais uma vez sonhei com ela. Estávamos abraçadas em minha cama no Rio. Conversávamos com os rostos bem próximos. Existia uma sintonia forte entre nós e os nossos lábios simplesmente se atraíram. Acordei suada, com calor e preocupada ao entender cada vez mais a dimensão do que estava sentindo por ela. Sonhar que a beijava e lhe tinha em meus braços deixou-me pensativa. Queria entender o que havia mudado dentro de mim já que eu nunca desejei alguém desta forma. Sempre vivi muito bem não namorando ou me apaixonando, então porque isso estava acontecendo agora e com tanta força e rapidez? Voltei a dormir sentindo-me confusa e me remexi na cama durante quase toda a noite, estava desconfortável e ansiosa. Pela manhã levantei ainda sonolenta, vesti-me e tomei o café antes de ir ao curso. Desta vez estava determinada a prestar mais atenção e foquei na atividade que a professora passou para ser feita em grupo. O meu grupo era composto por duas norte-americanas, irmãs gêmeas, um italiano e um casal de ingleses. Interagir com eles, sempre em espanhol, era engraçado já que estávamos aprendendo juntos uns com os erros e acertos dos outros. Durante toda aula deixei meu celular no silencioso para não desviar minha atenção e assim que saí da sala notei algumas ligações perdidas da Paola. Liguei de volta e ela me atendeu com animação. - Recebi alta e estou indo para casa! Falou contente. - Que maravilha! Fico muito feliz por você! - O médico concordou em me liberar e por enquanto uma enfermeira vai ficar cuidando do meu curativo. Assim que tirarem os pontos eu vou começar minha fisioterapia. Contou com tranquilidade. - Falei que tudo iria ficar bem Paola. Tem um processo até a recuperação completa, mas você vai dar tudo certo, eu tenho certeza. - Sei que vou precisar de tempo para me recuperar e que vou ter que ficar presa em casa sozinha. Pensei que você podia me ajudar e ir me fazer companhia sempre que possível. - Se esse era o seu problema não é mais. Vou ficar sempre por perto de você.  Garanti. - Não vou atrapalhar você? - Nenhum pouco. Eu vou adorar ficar mais tempo ao seu lado Paola.  A ideia de ficar perto dela me deixava tão empolgada, que algumas vezes era difícil disfarçar.  - Sendo assim eu fico aliviada. Você pode ir até a minha casa hoje? Perguntou e eu sorri. - É só você me enviar o endereço por mensagem. - Vou enviar e ficar lhe esperando. Até mais Nay. Um beijo.  - Até daqui a pouco Paola. Beijo. Na voz da Paola a palavra beijo, que tem como definição o ato ou efeito de tocar com os lábios em algo ou alguém, significava muito mais para mim. De fato era como me sentir beijada. Procurei conter minha ansiedade e me preparar para ir até a casa dela. Passei em casa e me arrumei como se ela fosse olhar para mim e me notar de um jeito diferente e esse pensamento foi totalmente surreal. Era estranho pensar assim e esperar por coisas que não faziam sentido. Na metade da tarde segui até o endereço que ela me passou e levei um susto assim que cheguei ao local. O condomínio em que ela morava não era nenhum pouco humilde, muito pelo contrário, parecia um cenário de filme. As casas eram verdadeiras mansões e eu me senti completamente deslocada ao ser guiada por uma funcionária doméstica até o quarto da Paola. - Pensei que não fosse mais vir. Ela disse abrindo os braços e eu me aproximei para abraçá-la. Nesses momentos era inevitável segurar as batidas aceleradas do meu coração com a aproximação do corpo dela.  - Não deixaria de vir. Afirmei sorrindo. - Que bom que você veio ficar comigo. Declarou sorrindo e eu fiquei um pouco sem jeito. - Como está se sentindo? Perguntei tentando disfarçar por estar tímida perto dela. - Estou com vontade de fazer tudo que eu gosto como se não houvesse amanhã. A propósito, estou com saudade de tocar violão. Você quer me ouvir? Sorri. - Claro. - Você pode pegar pra mim? Está nessa porta branca. Ela me apontou uma grande porta, que era a do seu closet. No canto havia dois violões, um branco e outro vermelho. - Qual dos dois? Perguntei. - O vermelho. Peguei o violão e a entreguei. - Conhece a banda Coldplay? Perguntou. - Conheço sim. Gosto muito. Respondi sorrindo. - É Uma das minhas bandas favoritas. Ouço diariamente. Eu amo música, inclusive era uma das minhas aulas favoritas no instituto. Por um tempo pensei em estudar outros instrumentos, mas a minha mãe me fez perde o interesse. Ela provavelmente tinha medo que me envolvesse com pessoas erradas ou que fugisse de casa com o vocalista de uma banda de rock. Disse rindo. - E você faria isso? Meu questionamento a fez rir ainda mais. - Não mesmo. Minha profissão é outra. Mas escuta essa música, vê se você conhece. Disse antes de começar a tocar uma das minhas canções favoritas do Coldplay - The Scientist. Mesmo não sendo muito romântica, essa música sempre me emocionava. A canção se referia a relação entre um casal que mesmo se amando muito terminava se separando por escolhas erradas, tomadas principalmente por um deles que se deixava levar por crenças e acabava abandonando o outro e se arrependendo de tal escolha. Foi difícil conter minha emoção, além da música ser linda e ter uma melodia envolvente, o som da voz da Paola me invadiu e tocou meu coração me deixando com os olhos molhados. Percebendo minha emoção, assim que terminou de tocar e cantar ela segurou minha mão. - Essa música diz alguma coisa para você ou lembra alguém? Questionou e eu sorri ao responder. - Não me lembrava ninguém. Mas a partir de hoje vou sempre pensar em você. Deixei meus sentimentos falarem mais alto e vi a face dela ruborizar. Certamente ela não esperava aquela resposta. - Essa é a minha música favorita. Costumo tocá-la com frequência, mas confesso que o jeito que você me olhou agora, tornou a canção ainda mais especial. Disse ela, e notando o clima que havia entre nós duas eu fiquei sem jeito. - É uma canção emocionante. Você me surpreendeu Paola, tem muito talento. Elogiei sorrindo. - Toca mais. Pedi. E logo ela começou a tocar outras músicas. Dava para notar que era algo que lhe fazia sentir muito bem, tanto que ela parecia ainda mais linda. Ouvindo-a com atenção esforcei-me para esconder o quanto estava encantada, mas a voz dela e o sorriso no canto dos lábios ao tocar estavam me derretendo por dentro. Toda emoção em mim deixava claro que de fato eu estava apaixonada, como nunca estive ou sonhei estar antes. Uma das funcionárias da casa bateu na porta e perguntou a Paola se poderia servir o lanche. - Pode trazer, por favor. Com fome Nay? - Um pouco. A mulher logo voltou trazendo uma bandeja com fatias de torta, outro doce e suco. Certamente a Paola gostava muito daquelas comidas, porque ela ficou sorrindo toda animada. - Tudo o que eu gosto! Ela comemorou. - Nessas horas até vale a pena ter ficado no hospital. Afirmou brincando enquanto eu lhe ajudava a sentar-se na cadeira. - Nay, eu espero que você goste. Pedi pra nós duas. Disse sorrindo. Nunca gostei muito de doces, mas obviamente não disse nada a ela. - Parece delicioso. Falei colocando suco e ela riu. - Vai dizer que você faz dieta? A pergunta me fez rir. - Não, não faço. - Há sim, porque você tem um corpo lindo, não precisa mudar nada. O elogio me deixou sem graça. - Não tenho o hábito de comer doce. Mas vou provar sim, estão com uma ótima aparência. Falei rindo, enquanto ela já se deliciava com a primeira fatia de bolo. - Experimenta esse. Falou antes de colocar um pedaço na minha boca. - Delícia! Afirmei. - A Olívia é uma excelente doceira. Ela é ótima com pratos salgados também, mas eu sou apaixonada por doces, então elogio esses em especial. Ela confessou. Dava para ver o quanto ela gostava de doces, seu sorriso parecia o de uma criança. Era satisfatória só em vê-la comer. Continuamos o lanche e dessa vez a conversa foi sobre família. Ela contou que a família do pai, de sobrenome Canella, era tradicional na Espanha. O Luís era filho único e foi criado com todo conforto e um destino planejado pelos pais, só que ele não quis seguir as vontades deles. - Meu pai travou uma batalha com meus avós para pode decidir sobre o próprio futuro. - Não deve ser nada fácil enfrentar os próprios pais. - Não é fácil crescer sendo controlada. - Agora estamos falando de você? Questionei a olhando com atenção. - Melhor eu continuar contando a história do meu pai. Ela deu risada. - Continue. - Depois que os meus avós pararam de pressionar meu pai, ele foi pra universidade, começou um curso, dois, três, ficou um pouco perdido e quando ele conheceu minha mãe tudo mudou. A minha mãe colocou uma direção na vida dele e os dois encontraram um objetivo em comum. - Eles se conheceram na universidade? - Sim, mas não aqui na Espanha. Eles se conheceram no Brasil. Meu pai foi convidado por um amigo a participar de um evento com palestras e cursos gratuitos e nessa ocasião ele conheceu a minha mãe. Meu pai disse que foi amor a segundo vista, porque em primeiro momento ele gostou de uma amiga da minha mãe. - Que situação. Dei risada. - Não foi fácil para os dois ficarem juntos. Meu pai tinha convencido os meus avós a deixá-lo escolher sua profissão, mas decidir se casar com uma estrangeira, brasileira, e com um sobrenome sem brasão não era parte do combinado. - Como assim? Perguntei interessada. Adorando ouvi-la falar. - Os meus avós tentaram convencer meu pai a desistir do namoro até o momento em que eles descobriram que ela estava grávida. Depois os dois ficaram felizes com a ideia de ter uma neta e também preocupados porque a gravidez da minha mãe foi de risco. Para resumir, minha mãe não podia viajar e por isso eu nasci no Brasil. Moramos no Rio por alguns meses e depois meu pai nos trouxe para morar na mansão da família. É um lugar lindo, um dia levo você pra conhecer. Vivemos nessa mansão por uns cinco anos, esse foi o tempo que meus pais se dedicaram para construir a empresa deles. Depois disso viemos para essa casa. Dois anos depois minha avó faleceu e depois meu avô em curto espaço de tempo. Eles se amavam muito. Meu pai sempre diz que um jamais viveria muito tempo sem o outro. E eu acabo de lhe contar toda história da minha família. Finalizou emocionada. - Você disse que trabalha na empresa dos seus pais, mas qual é a sua função exatamente? Perguntei demonstrando interesse. - Sou designer de moda, mas ainda estou em fase de teste na empresa dos meus pais. - Como assim? - Os meus pais são donos de uma grife de roupas. O meu pai cuida da administração, ele trabalha no escritório, onde eu também estava passando a maior parte do tempo até o acidente. E a minha mãe, ela cuida da parte criativa ela é designer da grife e gerencia o ateliê. - Você não deveria trabalhar com ela no ateliê? - Esse é o meu objetivo, mas meu pai me pediu para ir com calma. Minha mãe é territorialista. - Entendi. E você se formou há muito tempo? - Há dois anos eu terminei a minha primeira formação aqui em Madrid. Depois fiz um curso de extensão nos Estados Unidos, outro na França, onde trabalhei como assistente em um Grife famosa por uns meses, mas meu objetivo sempre foi o de voltar e trabalhar com os meus pais. - Você é impressionante Paola! Elogiei. - E você? É a primeira vez que fica longe de casa, certo? Perguntou e eu confirmei. - O que está achando? - Tem poucos dias que cheguei, mas percebi que tenho muita coisa pra aprender. E ouvindo sua história, acabo de notar que tenho muita coisa para correr atrás. Sempre me senti perdida, sem saber qual caminho escolher pra minha vida. Admiro quem tem alguma certeza. - Eu respiro moda desde pequena, mas eu tinha muitas aptidões. Acredito que ver a dedicação dos meus pais a empresa me fez querer seguir o mesmo caminho que eles. Em breve você vai encontrar o seu caminho também, só precisa ficar atenta aos sinais e as oportunidades. Você pode crescer muito aqui em Madrid e talvez até desista de voltar para o Brasil. A sua fala rir por fora e gritar por dentro ao pensar que por ela eu ficaria na Espanha. Continuamos conversando e nem percebemos o tempo passar. Já havia anoitecido quando os pais dela chegaram, e para não atrapalhar a privacidade deles eu me despedi dela apressada. - Está tarde. Eu tenho mesmo que ir. Falei declinando ao seu convite para que eu ficasse para o jantar. - Você bem que podia dormir aqui comigo hoje. Pediu me olhando nos olhos e eu senti meu coração bater forte. - Não posso. Minha prima viajou e me deixou tomando conta da casa. Usei a primeira justificativa que me veio à cabeça. - Mais um motivo pra ficar, assim não vai ter que dormir sozinha.  Argumentou sorrindo. E mesmo com ela me lançando um sorriso tentador eu preferi negar. - Eu tenho mesmo que ir. Ainda preciso terminar uma atividade pra entregar na próxima aula. Mas eu volto amanhã, prometo! Garanti e mesmo contrariada ela aceitou. - Vou pedir que o motorista leve você em casa, faço questão. Disse o senhor Canella. E sabendo que não adiantaria negar eu apenas aceitei. - Até amanhã Paola. Boa noite a todos! Despedi-me. - Me dá um abraço! A Paola quase exigiu e sem graça eu me aproximei para abraçá-la. - Até amanhã Nay. Disse em um abraço caloroso. - Até amanhã! Mesmo sendo difícil despedir-me dela, me confortava saber que no dia seguinte nos veríamos. Voltei pra casa com um sorriso no rosto sabendo que aquela tarde certamente ficaria gravada na minha memória. O sorriso da Paola, sua voz, ouvi-la tocando violão, tudo havia mexido comigo de uma forma que dificilmente eu conseguiria esquecer.
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