Ainda não será dessa vez... cap 03

918 Words
Angeline Müller (Angel) Já na sala, escolho um lugar mais ao fundo. Ninguém havia chegado ainda, então aproveito o silêncio para mandar uma mensagem pra minha mãe. Bom dia, mãe! Estou morrendo de saudades de vocês. Estou bem, já resolvi tudo aqui na universidade. Beijos, te amo! Dá um abraço no Thalles por mim. Aperto “enviar” e, aos poucos, a sala começa a encher. Fico só observando. Gente demais, rostos desconhecidos, e eu — a bolsista nova, deslocada, tentando me encaixar num mundo que sempre pareceu distante. Enquanto o professor não aparece, não posso deixar de ouvir a conversa de algumas garotas à minha frente. Estão falando… sobre um professor. — Ele é lindo demais, Vic. — diz a ruiva, com os olhos brilhando. — Lindo é pouco. Ele é perfeito. — responde a loira com convicção. — É verdade que ele já ficou com alunas? — pergunta a ruiva, curiosa. — Sim! Pelo que ouvi, o professor Fontinelle teve um caso com uma aluna que estava no último semestre. — Ai, será que eu tenho chance? — a ruiva sonha alto. — Você? Só se nascer de novo. O Henry gostoso não ia nem olhar pra você. — alfineta a loira, rindo. A conversa termina abruptamente quando a porta se abre e o diretor Geraldo Tompson entra. — Bom dia, turma. — Bom dia. — alguns alunos respondem, meio dispersos. — Professor Fontinelle não vem hoje? — pergunta a loira, ansiosa. — Senhorita Espinela… estou aqui justamente por isso. O professor Henry Fontinelle estará ausente esta semana por motivos pessoais. Ele retorna na próxima. — Ah, não! — a loira resmunga com cara de decepção. — Até lá, vocês seguirão o cronograma com os outros professores normalmente. Com licença. — diz o diretor antes de sair. Então é isso. Nada de conhecer o tal professor gato essa semana. Enquanto reflito sobre o assunto, outro professor entra e começa a aula. Tento me concentrar, mas a matéria é arrastada demais. Estou anotando tudo com dedicação quando a porta se abre de novo. — Luana... atrasada outra vez. — diz o professor, sem nem levantar a cabeça. — Desculpa, professor. — Vou deixar passar dessa vez. Mas se repetir, pode esquecer minha aula. — Juro que é a última vez. — diz, já indo em direção a um lugar vazio. Ela senta do meu lado e, segundos depois, já está com a cabeça afundada na carteira. Tento não reparar, mas é impossível ignorar. A aula segue. E quando me dou conta, já terminou. Começo a guardar minhas coisas e vejo que a garota ao meu lado está — pasme — dormindo mesmo. Dou uma leve cutucada. — Ei... garota, acorda. A aula acabou. — Hã? Já? Que horas são? — Onze. Você dormiu a aula toda? — Só cochilei... essa aula é um porre. Mas valeu por me acordar. — De nada. — Sou a Luana. — Prazer, Angeline. Mas pode me chamar de Angel. — Angel... gostei. Nome de mocinha que não sabe o perigo que tá correndo aqui. — ela diz rindo, e eu solto uma risada também. — Você tá bem? — Por quê? — Nada, só achei estranho você dormir assim... — Fui pra uma balada ontem, quase não dormi. Tô só o pó. — Entendi. Saímos da sala lado a lado, rindo de qualquer besteira. Ela é divertida, espontânea, daquele tipo que parece conhecer todo mundo. E, ainda assim, me trata como se fôssemos amigas há anos. Gostei da Luana. Já em casa, depois de um banho, resolvo checar se tenho alguma mensagem do Igor. Nada. Suspiro. Já mandei várias desde que cheguei em Chicago e ele sequer visualizou. Será que ele quer terminar? Conheço o Igor desde que éramos crianças — nossos pais são amigos de longa data. Quando completamos quinze anos, ele me pediu em namoro. Sempre foi doce, protetor… mas tudo mudou quando ganhei a bolsa pra estudar fora. Ele começou a agir diferente. Ciúmes? Insegurança? Não sei. Só sei que continuo gostando dele… e tenho medo de perdê-lo. Levanto e vou pra cozinha preparar algo. Não sou nenhuma chef, mas o suficiente pra sobreviver. Quando estou prestes a fritar um ovo, meu celular toca. Olho a tela. Igor. Congelo por um segundo antes de atender. Ligação on — Angel... — Igor! Tudo bem? — Tudo sim, meu amor. Liguei pra saber como foi seu primeiro dia. — Foi bom. Diferente. Mas bom. — Angel... me desculpa por não ter me despedido. Fui um i****a. — Foi sim. — Eu sei... é que... tive medo. — Medo? — De você ir pra essa cidade gigante... e encontrar alguém melhor. — Igor, para com isso. Eu sou sua namorada. A gente prometeu ficar junto. — Mesmo assim, o medo me fez agir como um babaca. — Foi mesmo. Mas eu entendo. Só não some mais assim. — Prometo. E... se tudo der certo, vou a Chicago no próximo fim de semana. — Sério?! — Meu pai tem uns negócios aí, e vou aproveitar pra te ver. Vamos passar o fim de semana juntos. — Tô contando os segundos. — Eu também. Agora preciso ir, mas... te amo, gata. — Também te amo, Igor. Tchau. — Tchau, minha linda. Ligação off Depois da ligação, termino meu lanche e vou estudar um pouco. Tento me concentrar, mas a cabeça insiste em voltar pra aquele olhar intenso no corredor da universidade... Aquele cara... Será que era ele? O tal professor Fontinelle?
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