Capítulo 2

1419 Words
   Eu acordei de manhã cedo e uma paz inundou todo o meu ser. Será que tinha sido um sonho? Tony Mayer, o menino loiro de olhos verdes mais lindo que eu já vira. Era tão clichê que meu estômago revirava. Me demorei na cama, pensando em como meu dia seria. Se seria somente aquilo, se tinha sido algum tipo de brincadeira ou se ele realmente gostava de mim. Eu meio que tinha minhas dúvidas sobre isso.    Ouvi meu pai chegando em casa se arrastando e resmungando como um zumbi no andar de baixo e decidi que era uma boa hora para levantar. Desde que minha mãe havia falecido há três anos por conta do câncer de mama, meu pai entrou em uma depressão profunda, da qual não consegue sair. Ele vive se arrastando, se lamuriando e sofrendo. Eu quase não o vejo, mas quando nos encontramos é deste jeito...    Ele estava tentando tirar os sapatos na entrada da sala.    - Pai? - ele me lançou um olhar assustador e nada disse. - Está tudo bem com o senhor?    - Eu estou bem. - disse apenas.    Ele finalmente se desvencilhou dos sapatos e foi em direção à cozinha, cambaleando. Abriu a geladeira e se encheu de água. Eu achei aquilo muito estranho pois normalmente ou ele vai direto para o quarto, ou vai pro banheiro vomitar.    - Pai?   - Eu já disse que estou bem! - nessa hora minha avó já vinha à passos apressados, amarrando o roupão e ajeitando os cabelos atrás das orelhas.    - Mas que gritaria é essa à essa hora em minha cozinha?    - Desculpe, vó. Vou para meu quarto me arrumar para colégio.    Enquanto eu subia as escadas, olhei de relance para a cozinha e vi minha vó sussurrando algo no ouvido de meu pai e ele caindo em lágrimas nos braços dela. Por que comigo ele não conversava? Sempre estava alto, gritando comigo ou vomitando em mim. Isso me deixava extremamente entristecida.    Quando eram 06:45 da manhã eu ouvi uma buzina suave em frente à minha casa. Fui direto para a janela avisar à Hermin que eu já descia, mas fiquei paralisada no batente ao perceber o 4x4 do Tony. Ele acenava alegremente com um sorriso de tirar o fôlego. Eu me afastei rapidamente da janela e desci quase correndo as escadas com minha bolsa na mão. Minha avó veio em minha direção secando as mãos com um pano de prato.    - Ei, ei, ei. Mas que agitação toda é essa, Katrinna?    - Desculpe, vovó.    - O que já conversamos sobre correr pelas escadas?    - É perigoso.    - Exatamente. Pra onde está indo com tanta pressa?    - Pro colégio, oras.    - Ah... e não tem nada haver com o garanhão no carro do lado de fora te esperando, não é mesmo?    Eu corei na mesma hora. É claro que ela ouviu uma buzina diferente e foi ver quem era. Ela sempre fora  super protetora.     - O nome dele é Tony. Tony Mayer.    - Estão namorando agora?    - Não! Ele só vai me dar uma carona hoje.    - Claro... por que moramos muito longe do colégio!    Eu sorri pelo sarcasmo e coloquei meu tênis.    - Estou indo, vó.    - Tenha um bom dia, querida. E juízo!     Assim que abri a porta de casa uma brisa gelada acometeu minha face e rapidamente entrei novamente para pegar o casaco no candelabro que estava do lado da porta de entrada. Ao me sentir quentinha, pude então encarar o carro do Tony, que estava ligado com um música suave que tocava no rádio. Tony não conseguia tirar os olhos de mim e eu, bom, eu também não conseguia desviar o olhar. Sorri abertamente quando ele se esticou para abrir a porta do carona para mim.    - Não me lembrava de você dizendo que me buscaria hoje. - disse já entrando e colocando o cinto de segurança.    - Não achei que era necessário. Não era óbvio que eu não queria desperdiçar nenhum minuto do meu dia sem você?    A nossa viagem de longos vinte minutos foram com apenas eu olhando pro lado de fora ruborizada e ele segurando minha mão toda vez que mudava de marcha. Mas é claro que todo mundo do colégio viu quando Tony chegou de carro e estacionou. Ele saiu rapidamente e correu até a porta no carona para me ajudar a descer. Eu não queria olhar, mas podia sentir todos aqueles olhares em minha direção.    - Pronto. - disse ele rindo e segurando minha mão, indo em direção ao colégio. - Agora todo mundo sabe que você é minha.   Eu nunca fui fã de romances assim. Eu nunca gostei da ideia de alguém me chamando de "minha", como se eu fosse sua propriedade, mas de certa forma, aquilo não me deixou com raiva, nem triste. Eu me sentia como um raio de sol, aquecida e feliz.    Ao chegar nos armário da ala leste, encontrei Hermin. Tony ainda estava ao meu lado, sorrindo e acenando para os olhares curiosos.    - Katty!    - Olá, bom dia Min.    - Bom dia? O que aconteceu de um dia pro outro? Eu fui te buscar e sua vó disse que você já tinha ido... - eu acho que foi nessa hora que ela percebeu a presença de Tony, pois ficou muda e arregalou os olhos.    - Desculpa, acho que vou roubar a Katty de agora em diante. - disse sorrindo com aqueles dentes branquinhos.    - Pode levar! Ela é toda sua!    Eu gargalhei tão alto que quem ainda não olhava pra gente, agora olhava com certeza. Eu me despedi dela e Tony me levou até a minha sala.    - Eu te vejo no almoço. Onde costuma almoçar? Eu nunca te vejo.    - Ficamos nas escadas que dão para o terraço.    - Perfeito.    Ele então me deu um selinho e foi embora para a sua turma. Eu fiquei paralisada por alguns segundos com a surpresa. Todo mundo viu ele me beijando? Com certeza. Eu só não acreditava ainda. Isso queria dizer que a gente estava namorando? Meu Deus, eu estava surtando.    Ao me sentar logo vieram algumas meninas da nossa sala que eu nunca nem tinha notado.    - Olá, Katty! - disse a mais baixinha.  - Me chamo Annie, essas são Mia e Ester. - ela indicou a menina alta e muito magra e depois a n***a com longos cabelos cacheados. Elas eram muito bonitas. Ester se aproximou de mim e estendeu a mão.    - Muito prazer. Será que podemos ser suas amigas?    - Isso é bem repentino. - eu disse simplesmente.    Ela levantou a sobrancelha e recolheu a mão estendida. Com certeza eu ia ouvir alguma besteira, mas fui salva por Peter e Ambrose que entravam na sala e iam em minha direção.    - O dia m*l começou e você já é o centro das atenções de novo, Katrinna? - perguntou Peter.    - Bom dia. De novo?   - É. Ou você não lembra do alvoroço que foi o dia que chegou parecendo aluna recém transferida da Rússia?     Isso meio que afastou as três meninas que se afastaram com certo tom de desdém.    - Elas estavam te incomodando? - perguntou Ambrose se sentando ao meu lado.    - Não muito. Acredito que vou ver muito disso o dia inteiro por causa do Tony.    - Vocês estão namorando agora? - perguntou Peter, igualmente curioso.    - Na verdade eu não sei dizer.    Eu achei que eles fossem insistir no assunto, mas me conhecendo, eles não quiseram me incomodar mais. Ambrose no início do semestre havia sido transferido, então ele não tinha muitos amigos, assim como eu. Ele por ser bem engraçadinho acabou fazer dupla com Peter para atazanar a vida alheia. Ele possuía cabelos cumpridos, batendo na altura dos ombros num tom caramelo. De início até o achava fofo, mas era tanta idiotice que a atração logo se desfez. Peter era baixinho, embora gostasse de zoar a professora de geografia. Ele tinha cabelos loiros e olhos cor de mel. Era bonito, mas como eu já disse, não chamava muito atenção por ser infantil.    Eu fiquei os observando e jogando conversa fora entre uma aula e outra, pois eu realmente não queria ver mais ninguém. Sempre tinham olhares em mim, isso estava realmente me incomodando. Quando o sinal do último sinal antes do almoço tocou, eu não via a hora de finalmente poder fugir de toda aquela gente.    Assim que eu cruzei a porta da sala, eu o vi correndo pelos corredores. Lá estava ele... Tony Mayer. O verdadeiro significado de sonho que virou realidade. 
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