Beatriz A primeira sirene partiu a manhã como lâmina. Depois veio o helicóptero, esse zumbido que dobra o ar e mexe com o estômago da rua. Do meu quarto vi a ladeira se arrepiar: portas pela metade, varais tremendo, crianças puxadas para dentro. A respiração mudou de ritmo. Eu também mudei o meu. Cheguei à clínica antes do horário, destranquei com a mão firme e voz calculada. — Nara, hoje viramos posto de urgência — anunciei. — Porta aberta, triagem na recepção. Compressas, solução salina, luvas, soro, mantas. Pega a caixa de sutura e deixa a maca do corredor desobstruída. Ela assentiu, profissional, e começou a organizar em silêncio. O rádio da mercearia ao lado, sempre indiscreto, trouxe o recado: “blindado na Rua 6, equipe civil pela lateral do cemitério”. Eu não olhei pela janela.

