Beatriz Demorou mais do que eu achei que conseguiria aguentar. Dias viraram nós, cartas viraram ar para não afogar, e o “eu fico” que escrevi pra ele virou colchão fino sob a coluna da minha coragem. Hoje, enfim, eu fui. Rato apareceu cedo na clínica, de boné baixo e voz que não erra o tom. — Hoje é bom — disse, sem olhar muito. — Horário morto, sem jornalista e sem barulho. Vai com documento. Sem perfume forte. E guarda o coração onde ninguém alcança. — E ele? — Inteiro. Te esperando. Coloquei calça simples, blusa fechada, cabelo preso. Nara me abraçou na porta. — Se faltar ar, pensa no que te trouxe até aqui — sussurrou. — Ele — respondi, e saí. O ônibus até o presídio é mais longo do que o mapa mostra. Gente com sacolas transparentes, papéis grampeados, olhos que já aprenderam

