Beatriz Acordei com o peito acelerado e a decisão já na garganta: eu ia entrar de mãos vazias. Sem atalho, sem milagre torto. Tomei banho como quem tira poeira de um dia inteiro adiantado, vesti a blusa mais simples, prendi o cabelo. Na mesa, dobrei duas cartas dele que guardo como se fossem remédio. Beijei o papel e deixei. Hoje não tem lembrança no bolso; tem coragem. O ônibus até o presídio parece mais longo quando a gente leva só o próprio nome. No banco da frente, uma senhora contava terços como quem conta degraus; atrás de mim, uma mãe prendia o laço da filha e prometia “é rápido, meu amor”, mentindo com amor. Eu fiquei olhando a janela como se o vidro pudesse me treinar para o outro vidro. Na entrada, o mundo mudou de temperatura. Portão pesado, detector, o “abre os braços” que n

