Beatriz O cheiro da clínica é sempre o mesmo: álcool, gaze e pressa. Eu estava trocando a bandagem de um senhor com diabetes quando a porta fez um som curto, metálico, que não é de paciente. Olhei. Rato. Boné baixo, olhar que pesa. — Fala baixo — ele disse, sem se aproximar demais. — É recado do homem lá de cima. Meu estômago virou gelo. Nara percebeu e se aproximou com a bandeja. — Tudo certo? — ela perguntou, varrendo Rato com os olhos. — Tudo — menti. — Termina aqui pra mim? Levei Rato até a salinha dos curativos, porta entreaberta. Ele ficou de lado, vigilante. — Don quer celular no parlatório — falou, seco. — “Dá teu jeito. Se não, vai se ver comigo.” O chão virou vidro sob meus pés. Tive vontade de rir — não de graça, de nervoso. Eu, que passo o dia enfaixando gente, virar mu

